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PROCESSO: 4572/09.6YYPRT-AP2.

S1
7ª SECÇÃO
RELATOR: ORLANDO AFONSO

Identificação da questão jurídica:


• Estamos perante um problema jurídico de interpretação da declaração negocial, violação
do princípio do dispositivo, matéria de direito (decisão surpresa, contrato de patrocínio,
interpretação da declaração, exigibilidade da obrigação, condição suspensiva).
EXPOSIÇÃO DA FACTUALIDADE DO CASO

• Sabendo que no 1º juízo do Tribunal Judicial da comarca do Porto ocorreu um processo de oposição
á execução AA e BB (réu ou executado), contra CC (exequente ou autor).
• Foi inverificada a condição suspensiva de exigibilidade desse crédito, visto que (sem que o clausulado se
reportasse á época desportiva de 2005) foi pago o montante em causa por contrato de patrocínio ajustado no ano
2006.

• Foi invocada a ocorrência de uma nulidade concluindo não ter sido aposta (promessa
mutua) qualquer condição quanto ao pagamento de honorários.
• No despacho saneador (art.º 596 CPC) “Identificação do objeto do litígio e enunciação dos temas da prova – nº1 o juiz profere despacho
destinado a identificar o objeto do litígio e a enunciar os temas da prova.”

• Foram feitas diligencias de prova, que tinham como finalidade a prestação dos depoimentos.

• Os termos destas diligencias foram determinados pelo acórdão do Tribunal da Relação do Porto de acordo com o 396º do cc
“Força probatória”.
• Foi julgada improcedente o recurso á arguida nulidade processual.

• AA e BB inconformados interpuseram recurso, desta vez para o Supremo Tribunal da Justiça alegando que nos presentes
autos estava em causa o seguinte:

-Interpretação do clausulado

-Interpretação da declaração negocial


EXPOSIÇÃO DA QUESTÃO JURÍDICA

• Na contestação o exequente refuta e invoca nulidade, referindo em 2.4 da sua clausula


2ª, teria de ser relativo a 2005.
• No despacho saneador entendeu-se que dependia de produção de prova, dispensando-
se ao abrigo de prova pelo 787º do CPC, a elaboração de base instrutória.
• As partes divergem na sua interpretação do 2.4 clausulado.
A INTERPRETAÇÃO DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL ESTÁ NO DOMÍNIO DO ART.º 236 Nº 1 E Nº2 DO
CC. REFERENTE A ESTE ÚLTIMO, O ENTENDIMENTO CASO O DECLARATÁRIO ENTENDESSE A
DECLARAÇÃO DIFERENTE DO QUE O DECLARANTE QUERIA SIGNIFICAR COM ELA.

• «Os Professores Pires de Lima e Antunes Varela, no “Código Civil Anotado”, vol. 1º, pág. 233, em
nota ao art.º 236º do Código Civil ensinam:
“ [...] A regra estabelecida no nº 1, para o problema básico da interpretação das declarações de
vontade, é esta: o sentido decisivo da declaração negocial é aquele que seria apreendido por um
declaratário normal, ou seja, medianamente instruído e diligente, colocado na posição do
declaratário real, em face do comportamento do declarante. Excetuam-se apenas os casos de não
poder ser imputado ao declarante, razoavelmente, aquele sentido (nº 1), ou o de o declaratário
conhecer a vontade real do declarante (nº 2).
(...) O objetivo da solução aceite na lei é o de proteger o declaratário, conferindo à declaração o
sentido que seria razoável presumir em face do comportamento do declarante, e não o sentido
que este lhe quis efetivamente atribuir.
• O Tribunal da relação proferiu uma decisão surpresa e está constitucionalmente vedado,
ao faze-lo feriu de nulidade a decisão proferida.

• Por violação do nº3 do art. 3º do CPC, tal decisão é nula, nos termos do 201º, 615º ess do
CPC, aplicável por via da alínea c) do nº1 do artigo 674ºCPC.
ANÁLISE CRITICA

• Perante toda a fundamentação do acórdão, entendi que duas são as questões colocadas pelo recorrente á
apreciação do STJ, tais como, a violação dos princípios do dispositivo e do contraditório com o proferimento de
uma decisão surpresa e ilegal interpretação do contrato proferido nos autos sendo nula a decisão.
• A interpretação do contrato efetuado entre os recorridos e o estado, não foi tema discutido e deveria ser dos
temas abordados desde a 1ª instância, ou ate mesmo desde a petição inicial.
• Sabendo que estamos em torno do princípio do dispositivo (segundo o qual ás partes cabe iniciar o processo,
dar-lhe conteúdo que entendam (formulando o pedido e a causa de pedir), suspendendo-o ou pôr-lhe termo, por
desistência, transação ou confissão. Poderíamos ter outra sentença proferida, se fosse projetado desde início
de forma diferente.
• “O tribunal só pode, em princípio, resolver o conflito de interesse subjacente á ação se a respetiva resolução lhe
for solicitada (pedida) por uma das partes e se a contraparte for devidamente chamada a deduzir oposição...”
• O voto vencido de hoje pode ser a
jurisprudência de amanhã.

Obrigada

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