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MARCHA PATOLÓGICA

PROFª DAIANE C. MARTINS RONCHI


CICLO DA MARCHA

 Intervalo de tempo ou
sequência de movimentos
que ocorrem entre dois
contatos iniciais
consecutivos do mesmo pé
CICLO DA MARCHA
% DO MEMBRO
PERÍODO FUNÇÃO
CICLO CONTRALATERAL

Descarga e preparo para o


Apoio duplo inicial 0-12 Carga, transferência de peso
balanço (pré-balanço)

Suporte de todo peso corporal;


Apoio sobre um só
12-15 centro de gravidade movendo- Balanço
membro
se para a frente

Segundo apoio Descarga e preparo para o Carga, transferência de


50-62
duplo balanço (pré-balanço) peso
Apoio sobre um único
Balanço inicial 62-75 Elevação do pé
membro

O membro inferior avança na Apoio sobre um único


Balanço médio 75-85
frente do corpo membro

Desaceleração do membro
Apoio sobre um único
Balanço terminal 85-100 inferior, preparação para a
membro
transferência de peso
FASE DE APOIO

 Quando o pé encontra-se em contato com o solo e sustenta peso


 Permite que o MI suporte o peso do corpo e, ao mesmo tempo, possibilita
o avanço do corpo sobre o membro que o está sustentando
 Representa 60% do ciclo da marcha
 Estágios da fase de apoio:
 Contato inicial: toque do calcanhar
 Resposta à carga: pé plano
 Apoio médio: apoio sobre apenas um MI
 Apoio terminal: calcanhar desviado lateralmente
 Pré-balanço: pododáctilos desviados lateralmente
FASE DE APOIO

 1º ROLAMENTO  2º ROLAMENTO  3º ROLAMENTO


FASE DE BALANÇO

 Ocorre quando o pé não está mais sustentando o peso e move-se para a


frente
 Permite que os pododáctilos do membro na fase de balanço saiam do solo e
que ocorram ajustes do comprimento do membro
 Permite que o MI na fase de balanço avance para a frente
 Representa 40% do ciclo da marcha
 Subfases da fase de balanço:
 Balanço inicial: aceleração
 Balanço médio
 Balanço terminal: desaceleração
APOIO SOBRE OS MMII
 Ambos os pés encontram-se em contato com o solo
 Ocorre duas vezes durante o ciclo
 Representa, aproximadamente, 25% do ciclo
 Aumenta quando a marcha é mais lenta
 Diminui quando a marcha é mais rápida
 Desaparece na corrida
 Ocorre quando somente um MI encontra-se em contato com o
solo
 Ocorre duas vezes durante o ciclo normal da marcha
 Aproximadamente, 30% do ciclo
APOIO SOBRE OS MMII
PARÂMETROS NORMAIS DA MARCHA
 Largura da base:
 Distância entre os dois pés
 Varia de 5 a 10cm
 Comprimento do passo:
 Distância entre dois pontos de contato sucessivo em pés
opostos
 35 a 41 cm
 Deve ser igual para ambos os membros
 Comprimento da passada:
 Distância linear no plano de progressão entre pontos
sucessivos de contato pé-solo do mesmo pé
 Aproximadamente, 70 a 82cm
 Representa um ciclo da marcha
PARÂMETROS NORMAIS DA
MARCHA
 Desvio pélvico lateral ou inclinação
pélvica:
 Movimento de lado a lado da pelve
durante a marcha
 Necessário para centrar o peso do corpo
sobre o MI de apoio para o equilíbrio
 2,5 a 5cm
 Aumenta quando os pés estão mais
afastados
 Ocorre adução relativa do membro que
está suportando o peso, facilitando a ação
dos adutores de quadril
PARÂMETROS NORMAIS DA
MARCHA

 Desvio pélvico vertical


 Impede que o CG se mova
mais de 5cm para cima e
para baixo
 Ponto alto do desvio:
 Subfase de apoio médio

 Ponto baixo do desvio:


 Subfase de contato inicial
PARÂMETROS NORMAIS DA
MARCHA
 Rotação pélvica:
 Reduz o ângulo entre o fêmur e o
solo
 Reduz a descida do CG
 É, aproximadamente, 8º:
 4º para frente do MI em balanço
 4º para trás no MI de apoio

 Para manter o equilíbrio, o tórax


roda na direção oposta
 Ajuda a regular a velocidade da
marcha
PARÂMETROS NORMAIS DA
MARCHA
 Centro de gravidade (CG):
 Em pé, o CG está localizado 5cm na frente da segunda vértebra sacral

 Cadência normal:
 90 a 120 passos/minuto
 Mulheres 6 a 9 passos/minuto a mais que homens
PRÉ-REQUISITOS PARA A MARCHA

 1.Estabilidade no apoio
 2.Passagem livre do pé no balanço
 3.Pré‐posicionamento adequado do pé no balanço inicial
 4.Comprimento do passo adequado
 5.Conservação de energia
TIPOS DE MARCHA PATOLÓGICA
PACIENTE NEUROLÓGICO
MARCHA CEIFANTE OU HELICOIDAL

 Padrão espástico de marcha do paciente hemiplégico


 Incapacidade de aumentar a velocidade de locomoção ou adaptar-
se às irregularidades nas condições do solo
 Dificuldade em elevar o pé durante a fase de oscilação da marcha
 Causas: doenças neurovasculares (AVC que afeta os hemisférios
cerebrais)
MARCHA CEIFANTE OU HELICOIDAL

 MI em extensão
 Pé equino (padrão adotado ou fixo)
 Pododáctilos flexionados
 Assimetria entre o período de balanço e de apoio
 Há aumento do tônus muscular durante a marcha
 Movimento de circundunção ao redor da articulação
coxofemural do MI espástico na fase de oscilação
 Redução do período de apoio e do comprimento do passo do MI
afetado
 Contato inicial feito com o antepé devido ao padrão plantiflexor
do tornozelo do lado plégico
 Aumento do gasto energético
 Movimentos compensatórios: alteram o CG
MARCHA CEIFANTE OU HELICOIDAL
 Desvios da marcha hemiplégica:
 Anormalidades biomecânicas e cinesiológica
 Perda de mecanismos de controle motor
 Padrão patológico:
 Flexão plantar no contato do calcâneo
 Perda da combinação dos padrões de movimento no
final do apoio:
 Extensão de quadril
 Flexão de joelho
 Extensão do tornozelo
 Final do balanço:
 Flexão do quadril com extensão do joelho
MARCHA CEIFANTE OU HELICOIDAL

 Músculos afetados na  Fraqueza:


hemiplegia espástica  Tibial anterior
 Espasticidade:  Fibular curto e longo
 Flexor dos pododáctilos  Tríceps
 Gastrocnêmio e sóleo  Extensores do punho
 Isquiotibiais  Encurtamento:
 Flexor dos quirodáctilos  Ileopsoas
 Bíceps braquial  Adutores de quadril
MARCHA DO ÉBRIO OU ATÁXICA

 Afeta o controle postural e a coordenação dos movimentos das


articulações
 Falta de equilíbrio na posição bípede ou durante a marcha e a base de
apoio é aumentada
 Melhora na posição sentada ou deitada
 Compensações – reações associadas
 A marcha é irregular, espasmódica e ondulante
 Tipos:
 Ataxia sensorial
 Ataxia vestibular
 Ataxia cerebelar
MARCHA DO ÉBRIO OU ATÁXICA

 Ataxia sensorial
 Causas: neuropatia diabética ou alcóolica; tumor na medula espinhal
que afeta a coluna dorsal
 Interrompe o input proprioceptivo aferente do SNC
 Input proprioceptivo das pernas é essencial para iniciar e regular os ajustes
corporais na posição em pé
 Características:
 Marcha de bater o pé – déficit sensorial
 Base de apoio ampla
 Olhos fixos no chão para feedback visual
MARCHA DO ÉBRIO OU ATÁXICA

 Ataxia vestibular
 Causas: distúrbios vestibulares periféricos ou centrais
 Função do sistema vestibular: ajustes posturais e estabilização do olhar
 Características:
 Distúrbios de equilíbrio em pé e sentado
 O paciente tende a cambalear quando caminha
 Base de apoio ampla
 Pode inclinar-se para trás ou para o lado da lesão
 Movimentos da cabeça, tronco e braços diminuídos

 Podem apresentar também: vertigem, visão embaçada e nistagmo


MARCHA DO ÉBRIO OU ATÁXICA

 Ataxia Cerebelar
 Causas: lesões no cerebelo ou suas conexões aferentes ou eferentes
 Lesão no lobo anterior:
 Maior oscilação postural em direção antero-posterior – aumentada ao fechar os olhos
 Perda de coordenação principalmente nos membros inferiores

 Lesão no vestíbulo cerebelo (lobo floculonodular):


 Oscilação postural maior em todas as direções
 Perda da coordenação dos músculos axiais

 As anormalidades da marcha com ataxia cerebelar incluem dificuldade com a


localização precisa dos pés – base de apoio aumentada – e instabilidade e
movimentos exagerados
MARCHA ESCARVANTE OU DO PÉ CAÍDO

 Ocorre em afecções do neurônio motor periférico


 Comprometimento do nervo fibular (peronial comum ou ciáticopopliteo
externo):
 Flacidez da perna
 Déficit dos músculos dorsiflexores do pé
 Paciente caminha levantando excessivamente a perna, à custa de enérgica
flexão da coxa sobre a pelve
 Fraqueza ou paralisia de dorsiflexores (pé caído):
 Aumento da tríplice flexão – evita o arrastamento dos pododáctilos no solo
 No contato inicial o pé bate contra o solo
MARCHA EQUINA

 Marcha infantil
 Característica de pacientes que apresentam talipes equinovarus (pé
torto)
 Características:
 Descarga de peso sobre a borda dorsolateral ou lateral do pé
 Fase de sustentação sobre o pé afetado é diminuída
 Caudicação
 Pelve e fêmur em rotação externa para compensar a torção medial da
tíbia e do pé
MARCHA NA PARALISIA CEREBRAL
DIPLÉGICA

 Equino verdadeiro
 Jump gait
 Equino aparente
 Crouch Gait
 Marcha em tesoura

Graham, et al, 2004


MARCHA NA PARALISIA CEREBRAL
DIPLÉGICA
EQUINO VERDADEIRO

 Versão pélvica preservada


 Quadril preservado
 Joelho preservado ou
recurvado
 Tornozelo equino
JUMP GAIT
 Redução da flexão do quadril e do joelho entre o
contato inicial e o apoio terminal, associado a
flexão plantar no AT
 Essas alterações causam a impressão de que o
paciente está saltando e caindo
 O joelho e quadril excessivamente fletidos no
apoio inicial e entram em extensão no apoio
terminal, sem atingir a extensão completa
 A pelve pode estar com movimento normal ou
antevertida
 Tornozelo em equino, principalmente no apoio
terminal
EQUINO APARENTE

 Tornozelo com movimento normal


 Quadril e joelho excessivamente
fletido
 Pelve normal ou antevertida
CROUCH GAIT

 Tornozelo dorsiflexão
excessiva durante
todo o apoio
 Joelhos e quadris
excessivamente
fletidos
 Pelve normal ou
retrovertida
MARCHA EM TESOURA

 Paralisia cerebral – diplegia ou paraplegia espástica


 Características:
 Paralisia espástica dos músculos adutores do quadril
 Joelhos se movem em conjunto, provocando grande gasto energético
pelo grande esforço para mover o MI para frente
 Joelhos em valgo
 Plantiflexão de tornozelo
 Pode apresentar pé equino
MARCHA FESTINADA (FESTINANTE)

 Doença de Parkinson
 Características:
 Pescoço, tronco e joelhos flexionados
 CG anteriorizado devido à projeção da cabeça e tronco para frente
 Arrasta os pés e a base de apoio é diminuída
 Padrão estereotipado com movimentos pobres
 Passos curtos e rápidos (marche à petits pas)
 Perda da oscilação de MMSS e dissociação de cinturas
 Festinação = incapacidade de parar
MARCHA ANSERINA

 Miopatias, principalmente distrofia muscular de


Duchenne
 Características:
 Déficit motor de cintura pélvica – fraqueza de
glúteos máximo, médio e mínimo
 Inclinação pélvica em bipedestação
 Aumento da lordose lombar
 Progressivamente déficit motor da cintura escapular
 Encurtamento dos músculos dorsiflexores do
tornozelo
 Base de sustentação alargada
MARCHA ANSERINA

 Distrofia muscular de Duchenne


 A progressão da DMD pode ser determinada com 91% de
acurácia por 3 variáveis:
 Cadência
 Dorsiflexão do balanço
 Inclinação anterior da pelve
Sutherland, 1981
REFERÊNCIAS

 O’Sullivan, S.B.; Schmitz, T. J. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 4 ed.


Manole, São Paulo, 2004.
 Magee, D.J. Avaliação musculoesquelética. 4 ed. Manole, São Paulo, 2005.
 Ramalho Jr, A. A marcha na paralisia cerebral: uma visão geral. I Congresso da
Sociedade Brasileira de Análise Clínica da Marcha, 2017.
 Tanaka, M.S.; Luppi, A.; Morya, E.; Fávero, F.M.; Fontes, S.V.; Oliveira, A.S.B.
Principais instrumentos para a análise da marcha de pacientes com distrofia
muscular de Duchenne. Rev Neurocienc, vol. 15, nº2, 2007.

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