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CESÁRIO VERDE

Cânticos do Realismo
O Livro de Cesário Verde
O Livro de Cesário Verde ● Síntese de unidade ● Retoma de conteúdos

Contextualização histórico-literária

Representação da cidade e dos tipos sociais


Deambulação e imaginação: o observador acidental

Perceção sensorial e transfiguração poética do real

O imaginário épico (em “O Sentimento dum Ocidental”)

Linguagem, estilo e estrutura

Em síntese
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Friso cronológico
IDADE Séc. XV-XVI Séc. XVII Séc. XIX
MÉDIA RENASCIMENTO BARROCO ROMANTISMO REALISMO

Cesário Verde (1855-1886)


Cânticos do Realismo
(O Livro de Cesário Verde)
1887
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Poeta da 2ª geração realista.


Cesário Verde
Nasceu numa família de comerciantes abastados,
(1855-1886) oriunda, por linha masculina, de Génova e estabelecida
em Lisboa desde a primeira metade do século XVIII, com
um negócio de ferragens.

Por ocasião da peste que assolou Lisboa no começo da


segunda metade do século (“em dois verões,
seguidamente”: a cólera-morbo em 1856 e a febre-
amarela em 1857), a família “fugiu da capital” e foi
refugiar-se na quinta de um parente em Linda-a-Pastora,
a pouco mais de uma dezena de quilómetros do “foco da
epidemia”.

Dos seus estudos sabe-se apenas que em 1865 concluiu a


instrução primária e que frequentou o Curso Superior de
Letras (três ou quatro meses, apenas) no ano letivo de
1873-1874.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

O facto é que em 1873 começou a escrever poesia e


Cesário Verde decidiu matricular-se no Curso Superior de Letras. Não
(1855-1886) teve, porém, êxito nos estudos, abandonando-os alguns
meses depois, sem chegar a fazer exames […].

Tanto como no Curso Superior de Letras, porém, Cesário


também não teria êxito na vida literária. Alguns amigos
reconheceram-lhe talento, mas não faltou quem, de
entre o vulgo intelectual do tempo, abominasse os seus
versos prosaicos, exacerbadamente realistas.

Em 1885 acentuava-se a debilidade do seu estado e no ano


seguinte, pelo começo de março, iria adoecer gravemente
dos pulmões.

Um mês depois já tinha, “sobre a banca de trabalho,


todos os poemas que [entrariam] no Livro de Cesário
Verde”.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses,
Voltar Vol. II, Lisboa, 1990 [com supressões,
apud Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas, em linha]
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Contexto histórico Contexto literário


Segunda metade do século XIX REALISMO
• Clima de paz e de progresso. • Escola literária surgida na segunda metade
• Regeneração. do século XIX como reação aos excessos do
• Ascensão da burguesia. formalismo romântico.
• Crescimento das cidades. • Forma de expressão artística que procura
reproduzir, de forma mais ou menos
evidente e naturalista, o mundo e os objetos
da realidade envolvente (representação da
vida burguesa e/ou urbana; denúncia e
análise crítica dos vícios da sociedade
contemporânea).

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REPRESENTAÇÃO DA CIDADE E DOS TIPOS SOCIAIS
DEAMBULAÇÃO E IMAGINAÇÃO: O OBSERVADOR ACIDENTAL

Espaço confinador Representação minuciosa


e destrutivo, e realista, segundo a
marcado pela perceção sensorial e a
ausência ou reflexão/análise do sujeito
perversão do amor. poético.

Representação Captação de exteriores e


da cidade interiores e de pequenos
episódios do quotidiano,
Espaço oposto ao decorrentes da
campo (vitalidade, deambulação do sujeito
energia, ânimo, poético pela cidade e da
expressão observação acidental.
idílica do amor).

Deambulação e
imaginação: o
observador acidental
Representação da cidade

Tipos sociais

Povo/classes Marginais que


Burguesia
trabalhadoras vivem na cidade
Produtividade, Ociosidade, inércia, Degradação social e
vitalidade, autenticidade. artificialidade. moral.
Ex.: vendedora de Ex.: criado do bairro Ex.: ladrões,
legumes, calafates, burguês, dentistas, bêbedos, jogadores,
obreiras, varinas… arlequins, lojistas… prostitutas…

Alvo de simpatia e Alvo de crítica e Alvo de crítica por


solidariedade por parte ironia por parte do parte do sujeito
do sujeito poético. sujeito poético. poético.

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PERCEÇÃO SENSORIAL E TRANSFIGURAÇÃO POÉTICA DO REAL

PERCEÇÃO TRANSFIGURAÇÃO
SENSORIAL POÉTICA DO REAL

Primado das Conceção de uma nova realidade, a partir


sensações (visuais, de elementos reais, através da visão
auditivas, olfativas, transfiguradora do sujeito poético.
gustativas, tácteis).
Ex.: “Num bairro moderno”
Ex.: “De tarde” (criação, pelo sujeito
(predomínio de poético, de uma figura
sensações visuais, antropomórfica,
complementadas com a partir dos legumes
sensações gustativas). e dos frutos da giga:
melancia – cabeça;
repolhos – seios;
azeitonas – tranças…).

Voltar Giuseppe Arcimboldo,


O Verão, 1573 [pormenor]
O IMAGINÁRIO ÉPICO EM “O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL”

Poema longo Estruturação do poema

• Constituído por 44 quadras, • Poema com uma estrutura narrativa:


divididas em quatro partes  Progressão narrativa na noite, encadeada
(de onze estrofes cada). pelas quatro partes (Ave-Marias  Noite
• Versos alexandrinos (com doze Fechada  Ao Gás  Horas Mortas);
sílabas métricas) e  Relato de pequenos episódios; rapidez da
decassilábicos (com dez sílabas narrativa; inesperado da aventura.
métricas) no início de cada
estrofe.

Tris/te/ ci/da/de! Eu/ te/mo/ que/ me a/vi[ves]


→ Decassílabo

U/ma/ pai/xão/ de/fun/ta! Aos/ lam/pi/ões/ dis/tan[tes]


→ Alexandrino
Relações com o poema épico
“O Sentimento dum Ocidental” Os Lusíadas
Cesário Verde Luís de Camões
Espírito antiépico (atitude face à Espírito épico – Também está
realidade observada: descrença nas exaltação das presente o
capacidades humanas no capacidades espírito antiépico.
universo citadino). humanas.

Viagem pela cidade (representação da Viagem marítima (epopeia dos


degradação social e moral da cidade). Descobrimentos).

Personagens antiépicas: Personagem coletiva épica: povo


Também há
• marginais (ladrões, português (representado
exaltação das
bêbedos, jogadores, por Vasco da Gama e
personagens
prostitutas); pelos marinheiros
“épicas”
• ociosas, artificiais que com
(classes
(dentistas, arlequins, ele percorrem
trabalhadoras).
lojistas). o caminho marítimo
para a Índia).
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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA
Conjunto de versos que, geralmente, apresentam um sentido completo.
Estrofe
As estrofes têm designações diferentes consoante o número de versos
que as constituem.
Ex.: Quadra (“A débil”), quintilha (“Cristalizações”).

Semelhança de sons que, normalmente, ocorre no final dos versos.


Rima
Estamos perante rima consoante, quando existe correspondência total
de sons (consonânticos e vocálicos) a partir da última sílaba tónica. Pode
ser cruzada (ABAB), emparelhada (AABB) ou interpolada (ABBA, ABBCA).
Ex.: Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes, Emparelhada
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes, Interpolada
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.

Dá-se o nome de sílaba métrica à sílaba contada no verso tal como é


Metro ouvida. Os versos têm designações diferentes consoante o número de
sílabas métricas.
Ex.: Nas/ no/ssas/ ru/as,/ ao/ a/noi/te/cer → Decassílabo
Há/ tal/ so/tur/ni/da/de, há/ tal/ me/lan/co/li[a] → Alexandrino
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Metáfora Uso expressivo do adjetiv


o
Comparação
Uso expressivo do advérbi
Enumeração o

Hipérbole

Sinestesia

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Metáfora
Utilização de um termo para designar algo diferente
daquilo que designa habitualmente, a partir de
elementos que são comuns a esse termo e ao que ele
refere.
Com esta metáfora
“Assim as bestas vão curvadas!” reforça-se a natureza
(“Num Bairro Moderno”) animalesca dos
trabalhadores e os
sacrifícios por eles
feitos.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Comparação
Relação de analogia entre dois termos com o objetivo de
assinalar as suas diferenças ou semelhanças, recorrendo
a uma palavra ou expressão comparativa.
Com esta comparação
“Dos teus dois seios realça-se a beleza e a
como duas rolas” forma dos seios da figura
(“De Tarde”) feminina descrita.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Enumeração
Apresentação ou listagem sucessiva de elementos
relacionados entre si e, geralmente, da mesma classe
gramatical, de forma a intensificar uma ideia.

“Madeiras, águas, Com esta enumeração


realça-se a quantidade e
multidões, telhados!” diversidade de elementos
(“Num Bairro Moderno”) que dão vida à cidade.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Hipérbole
Exagero de uma realidade com a finalidade de acentuar
determinado aspeto.

“E os rapagões, morosos,
duros, baços, / Com esta hipérbole
acentua-se o
Cuja coluna nunca se trabalho árduo dos
endireita!” calceteiros.
(“Num Bairro Moderno”)

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Sinestesia
Associação de sensações resultantes da perceção sensorial
de sentidos diferentes (isto é, de sensações que pertencem
a sentidos diferentes).
Com esta sinestesia (em que
“Com choques se associam sensações tácteis
rijos, ásperos e cantantes” e auditivas) acentuam-se as
(“Num Bairro Moderno”) impressões causadas no
sujeito poético pelo impacto
do metal na pedra.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Uso expressivo do adjetivo


Emprego do adjetivo com o intuito de conferir
beleza/expressividade ao texto e de realçar a
característica por ele expressa. O uso expressivo do
adjetivo pode resultar da associação de um nome que
designa uma qualidade física e um adjetivo de carácter
afetivo/emocional. O adjetivo pode ainda ser utilizado
para criar a metáfora, a sinestesia, a ironia…
Com os adjetivos “terrosos”
“Com lentidão, e “grosseiros” enfatiza-se a
terrosos e grosseiros” natureza objetiva dos
(“Num Bairro Moderno”) trabalhadores
no seu contacto com o
meio envolvente.
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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA – RECURSOS EXPRESSIVOS

Uso expressivo do advérbio


Emprego do advérbio com o intuito de conferir
beleza/expressividade ao texto e de realçar determinado
valor semântico. O uso expressivo do advérbio pode
contribuir para a construção da ironia.
Com o advérbio “brutamente”
“Encaram-na sanguínea, foca-se o desejo instintivo,
brutamente” animal dos trabalhadores ao
(“Num Bairro Moderno”) observarem a mulher que
passa.

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EM SÍNTESE
Cesário Verde, Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde)
 A representação da cidade e dos tipos sociais.
 Deambulação e imaginação: o observador acidental.
 Perceção sensorial e transfiguração poética do real.
 O imaginário épico (em “O Sentimento dum Ocidental”):
– o poema longo;
– a estruturação do poema;
– subversão da memória épica: o Poeta, a viagem e as personagens.
 Linguagem, estilo e estrutura:
– estrofe, metro e rima;
– recursos expressivos: a comparação,
a enumeração, a hipérbole,
a metáfora, a sinestesia,
o uso expressivo do adjetivo
e do advérbio.
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