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AULA SISTEMATIZADA

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ESTE T E XTO ESTÁ NA BIBLIOTECA VIRTUAL "NOSSA BIBL IOT E CA"
ROCHA, JOSÉ MANUEL SACADURA.  SOCIOLOGIA JUR ÍDICA , 5ª
EDIÇÃ O .. [MINHA BIBLIOTECA].
O PLURALISMO JURÍDICO
Contudo, o Direito Positivo incorporou mais ou menos todas as
grandes orientações disponíveis ao jurista do século XIX e a partir daí
desenvolveu, tanto no plano do direito material (leis) e no direito
processual (exercício da jurisdição), um vasto arcabouço legislativo e
teórico a orientar a Justiça.
É devido a esta grandiosa consolidação doutrinária e conceitual que
o Direito adquire sua complexidade e pluralidade de visões,
interpretações e aplicações, sem poder descorar de sua função em
consonância com as demandas dos agentes sociais.
DIMENSÕES DA PLURALIDADE JURÍDICA
A partir daqui a Pluralidade Jurídica pode ser entendida pelo menos
em três dimensões:
Dimensão A – quanto às doutrinas filosóficas que permeiam as
visões de Direito;
Dimensão B – quanto às fontes constitutivas do Direito;
Dimensão C – quanto aos sistemas de Direito em uso dentro de um
determinado Ordenamento Jurídico.
DIMENSÃO A
Em relação à Dimensão A, que diz respeito às doutrinas filosóficas,
pode-se destacar pelo menos quatro Escolas que intervêm na
moderna orientação jurídica e que se incorporaram formalmente ao
desenvolvimento do Direito Positivo:
DIMENSÃO A
1. O Utilitarismo (David Hume) preconiza um Direito socioempírico
onde as normas jurídicas, como a Moral, só têm validade se
estiverem de acordo com uma necessidade concreta e bem real da
sociedade – neste sentido a ideia preconcebida de valores [morais] a
orientar as condutas humanas deve ser desconsiderada e o mesmo
acontece com as leis cujo fundamento é a utilidade que possuem em
ajudar a sociedade a alcançar seu bem estar, o máximo possível de
bem estar para o maior número de pessoas;
DIMENSÃO A
2. O Contratualismo (Jean-Jacques Rousseau) afirma que a validade
do Direito se dá pela elaboração de um grande pacto social –
Contrato Social – onde os indivíduos concordam em dispensar parte
de seus direitos de liberdade em troca de um benefício maior para
todos, pois a somatória de uma pequena parte de muitos que a
dispensam gera um poder forte o suficiente para criar a igualdade na
sociedade civil – daqui decorre o correlato Contrato Jurídico
formalizado entre sujeitos de direito como base para a resolução de
conflitos e execução da justiça;
DIMENSÃO A
3. O Fundamentalismo (Immanuel Kant) moral defende a ideia que a
sociedade se orienta previamente por “máximas morais” e que as
leis devem seguir a mesma orientação, pois sua função é auxiliar os
indivíduos para o bem comum e vida coletiva; neste sentido nem a
utilidade e nem o contrato podem fazer a real harmonia e
pacificação da sociedade se não estivem antes orientadas por
princípios éticos – um contrato entre particulares não garante a
justiça se não forem observados princípios éticos, por isso a lei serve
antes para auxiliar na educação e corretude do espírito humano;
DIMENSÃO A
4. O Jusnaturalismo (Samuel Pufendorf) recuperado a partir da
filosofia da Antiguidade volta-se para a ideia que os homens
possuem direitos inalienáveis devido à sua distinção especial e
universal como seres naturais que possuem inteligência e de tal
forma podem elaborar normas jurídicas para resguardar esses
direitos, mas que nenhuma lei pode violar ou extinguir um direito de
sua “condição humana” – os direitos naturais que se consolidam nas
tradições e nos valores morais incorporados aos costumes são
suficientes, e assim o foram por milênios, para assegurar o
desenvolvimento da vida em sociedade;
DIMENSÃO A
(...) existe também o chamado Jusnaturalismo empírico social (John
Locke) que coloca os direitos naturais como elaborados pelos
homens no “estado de natureza” e que quando esses direitos foram
ameaçados os homens efetuaram um pacto social (Contratualismo)
para salvaguardá-los – daqui decorre a original ideia que a sociedade
civil pode desobedecer às leis do Estado se este vier a alterar,
degradar ou suprimir algum desses direitos.
DIMENSÃO B
Em relação à Dimensão B, que diz respeito às Fontes do Direito, a
pluralidade jurídica também é acentuada, haja vista que o Direito Positivo
contempla vários elementos a partir dos quais o sistema de Direito
procura atender às demandas e litígios prementes da sociedade.
As Fontes do Direito são a Lei, a Jurisprudência, a Doutrina, os Costumes,
os Valores e alguns autores ainda consideram a Analogia como tal
(Venosa). Isto significa que a decisão sentencial da Justiça pode se basear
em uma destas fontes ou em várias ao mesmo tempo, desde que a
concorrência em uma dada demanda não oponha uma fonte à outra.
DIMENSÃO C
A pluralidade jurídica quanto à Dimensão C, remete à possibilidade
de em determinado Ordenamento Jurídico de uma sociedade
coexistirem sistemas de Direito, tanto na simultaneidade de
princípios como de práticas jurídicas.
DIMENSÃO C
De forma realista, uma multiplicidade de sistemas de Direito é
bastante difícil de existir uma vez que o Direito Positivo é
hegemônico e sua formatação visa, desde o início, à unificação e
universalização de doutrinas e práticas – o objetivo jurisfilosófico do
Direito Positivo do Estado-nação é exatamente homogeneizar por
vias da formalização das leis a multiplicidade e diversidade social, e
nunca foi seu interesse genuíno ser flexível e plural no convívio com
outros sistemas, como o Direito Natural. 

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