Você está na página 1de 5

Tropicalismo, um

movimento de revolução
contra a Ditadura Militar

“Caminhando contra o vento


Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou”
Alegria, alegria de Caetano Veloso
A música Alegria, Alegria, de autoria de Caetano Veloso, que fala sobre liberdade, é um dos marcos
iniciais do movimento tropicalista da década de 1960. Datada de 1967,

Embora seja intitulada de Alegria, Alegria, sua letra nada tem de alegria, apenas reflete a repressão do
período militar no Brasil, ou melhor, os “anos de chumbo”.

O Tropicalismo foi um movimento cultural

de vanguarda que ocorreu no Brasil nos

anos de 1967 e 1968 nas artes plásticas,

teatro, cinema, e principalmente na música.

Caracterizado como um movimento

libertário e revolucionário, buscava se

afastar um pouco do intelectualismo da

Bossa Nova, a fim de aproximar a música

brasileira dos aspectos da cultura popular,

do samba, do pop, e do rock, psicodélico.

Com sua proposta revolucionária de aliar correntes artísticas de vanguarda à cultura


popular, o tropicalismo mudou e influenciou toda a música brasileira.
A partir deles, é possível dizer que os tropicalistas inauguraram a chamada arte pós-
moderna no Brasil.

No momento, o Brasil passava por


momentos de conflito como o
Golpe de 64, a censura, as greves,
os movimentos estudantis, que
culminaram num regime ditatorial
no país.

O movimento Tropicalista,,
despertou nos artistas determinada
consciência política sobre suas
produções e sua arte.
Como o movimento tropicalista tinha idéias revolucionárias, protestando a
favor da liberdade artística e de expressão, não demorou muito para que os
artistas envolvidos passassem a ser perseguidos pela ditadura.

Merecem destaques os
compositores: Caetano veloso,
Gilberto Gil, que lideraram o
movimento, além de Nara
Leão, Tom Zé, Gal Costa, Os
Mutantes (Rita Lee, Arnaldo
Baptista e Sérgio Dias),
Torquato Neto, Rogério
Duprat, Capinam, Jorge Bem,
Maria Bethânia.

Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política,
mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi
assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente
coloridas

Não obstante, uma das principais características que, em grande medida, pode
sintetizar esses propósitos consiste em uma tentativa de reinterpretar o Brasil, ou seja:
redescobrir o país, seus valores, símbolos nacionais outrora esquecidos, heróis
inimagináveis, temas negligenciados. Ao mesmo tempo, havia também uma ideia de
atualização, de incorporar elementos que vinham de fora, no teor da dinâmica recente
da indústria cultural e, de forma antropofágica, devolver ao exterior uma versão
“genuinamente brasileira”
Curiosidades…

Em 1967 houve, por exemplo, houve uma Manifestação Contra a Guitarra Elétrica, em
que integrantes da MPB questionavam o uso desse instrumento entre os artistas da
nascente música tropicalista. Como símbolo estrangeiro, o instrumento em certa medida
macularia a originalidade da tradição musical brasileira. Contudo, o uso de instrumentos e
influências externas dava-se, como mencionado, de forma antropofágica, crítica,
colocando em perspectiva a cultura brasileira e seus referenciais no seio do debate sobre a
Indústria Cultural, ao mesmo tempo, incorporava-se fortemente as influências da
Bossa Nova, Baião, Samba, Bolero,Pop,Rock, Indie e diversas musicalidades evidenciando a
relação do Tropicalismo o movimento Antropofágico que surge nos anos 20 com o modernismo
brasileiro, mais especificamente, com Oswald de Andrade.

Fim do Tropicalismo
Apesar dos recursos alegóricos e do grande
impacto da Tropicália na música brasileira,
após o acirramento da repressão da Ditadura
Militar, com a promulgação do
Ato Institucional nº 5 ainda em 1968, as
perseguições políticas acentuaram-se no país e
o clima de tensão aumentou. Em 22 de
dezembro de 1968, Gilberto
Gil e Caetano Veloso são presos e, posteriormente, exilados, após se apresentarem
em uma boate do Rio de Janeiro ao lado de Os Mutantes.
O exílio desses dois principais representantes do movimento acabou marcando o
fim de um momento da música brasileira e, consequentemente, da efervescência
cultural da Tropicália.

Durante um show de Caetano e Gil, em 1968, uma


obra de Hélio Oiticica incomodou os militares:
tratava-se de uma bandeira com a imagem de um
traficante assassinado pela polícia, com a inscrição
Seja Marginal, Seja Herói.

O movimento, libertário por excelência, durou


pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo
governo militar. Seu fim começou com a prisão de
Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do
País, porém, já estava marcada para sempre pela
descoberta da modernidade e dos trópicos.
Para exercitar…

Pai, afasta de mim esse cálice, pai Esse silêncio todo me atordoa

Afasta de mim esse cálice, pai Atordoado eu permaneço atento

Afasta de mim esse cálice Na arquibancada pra qualquer momento

De vinho tinto de sangue Ver emergir o monstro da lagoa

Como beber dessa bebida amarga Pai (pai)

Tragar a dor, engolir a labuta Afasta de mim esse cálice (pai)

Mesmo calada a boca, resta o peito Afasta de mim esse cálice (pai)

Silêncio na cidade não se escuta Afasta de mim esse cálice

De que me vale ser filho da santa De vinho tinto de sangue

Melhor seria ser filho da outra De muito gorda a porca já não anda
(cálice)
Outra realidade menos morta
De muito usada a faca já não corta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil, pai (pai), abrir a porta
Como é difícil acordar calado
(cálice)
Se na calada da noite eu me dano
Essa palavra presa na garganta
Quero lançar um grito desumano
Esse pileque homérico no mundo
Que é uma maneira de ser escutado
De que adianta ter boa vontade
(,,,)
Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade (,,,)

Exercício

O trecho da música acima, 'Cálice', composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, escrita
em 1973 e lançada apenas em 1978, (apesar de ter sido produzida após o fim do
Tropicalismo) tem em sua composição a presença de explícitas metáforas, metalinguagens
e jogos de palavras para denunciar e criticar o regime militar, muito utilizadas pelos
artistas do Tropicalismo, para falar sobre os tormentos sofridos durante a ditadura,
driblando a censura do governo. Observando a letra identifique ao menos duas ou mais
metáforas e jogos de palavras que os autores utilizam para dizer, de forma implícita, as
experiências das quais estavam vivendo durante a ditadura militar.

Você também pode gostar