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MODERNISMO - SEGUNDA GERAÇÃO - POESIA - Edição 2021
MODERNISMO - SEGUNDA GERAÇÃO - POESIA - Edição 2021
Carlos Drummond Mario Quintana Murilo Mendes Cecília Meireles Jorge de Lima Vinicius de Moraes
(1902-1987) (1906-1994) (1901-1975) (1901-964) (1895-1953) (1913-1980)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação
poética à margem das convenções usuais.
Segue a libertação proposta por Mário de Andrade; com a instituição do verso livre,
acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo.
1. a poesia irônica
2. a poesia social
3. a poesia metafísica
4. a poesia retrospectiva
Poesia de Drummond
Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias
modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato, herda a liberdade
linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas.
Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto
Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da história, levando
o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo
Bosi (1994). Affonso Romano de Sant'ana costuma estabelecer a poesia de Carlos Drummond a partir
da dialética "eu x mundo", desdobrando-se em três atitudes:
• Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica
• Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social
• Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica
Sobre a poesia política, algo incipiente até então, deve-se notar o contexto em que Drummond escreve.
A civilização que se forma a partir da Guerra Fria está fortemente amarrada ao neocapitalismo,
à tecnocracia, às ditaduras de toda sorte, e ressoou dura e secamente no eu artístico do último Drummond,
que volta, com frequência, à aridez desenganada dos primeiros versos: A poesia é incomunicável / Fique
quieto no seu canto. / Não ame. Muito a propósito da sua posição política, Drummond diz, curiosamente, na
página 82 da sua obra "O Observador no Escritório", Rio de Janeiro, Editora Record, 1985, que "Mietta
Santiago, a escritora, expõe-me sua posição filosófica: Do pescoço para baixo sou marxista, porém do
pescoço para cima sou espiritualista e creio em Deus." No final da década de 1980, o erotismo ganha
espaço na sua poesia até seu último livro.
A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poesia Antologia poética
Espectros, 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais..., 1923
Poema dos Poemas, 1923
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, samba e Macumba, 1933
O Menino Atrasado, 1966
Vaga Música, 1942
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Poemas Escritos na Índia, 1953
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Giroflê, Giroflá, 1956
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
Antologia Poética, 1963 Obra principal de Cecília Meireles: Olhinhos de Gato. Olhinhos
Ou Isto ou Aquilo, 1964 de Gato é um livro que foi baseado na vida de Cecília, contando
Obra Poética,1958 sua infância depois que perdeu sua mãe e como foi criada por sua
Viagem, 1939 avó.
Ou isto ou aquilo é um exemplar da poesia voltada para o
público infantil (vale lembrar que Cecília foi professora de
escola, por isso esteve bastante familiarizada com o universo
das crianças).
O poema acima é tão importante que chega a dar nome
ao livro que reúne 57 poemas. Lançado em 1964, a obra Ou
isto ou aquilo é um clássico que vem percorrendo gerações.
Nos versos do poema encontramos a questão da dúvida,
da incerteza, o eu-lírico se identifica com a condição indecisa
da criança. O poema ensina o imperativo da escolha: escolher
é sempre perder, ter um algo significa necessariamente não
poder ter outra coisa.
Os exemplos cotidianos, práticos e ilustrativos (como o do
anel e da luva) servem para ensinar uma lição essencial para o
resto da vida: infelizmente muitas vezes é necessário sacrificar
uma coisa em nome de outra.
Cecília brinca com as palavras de uma maneira lúdica e
natural e pretende se aproximar ao máximo do universo da
infância.
MOTIVO Motivo é o primeiro poema do livro Viagem, publicado em 1939, época do
Modernismo. A composição se trata de um metapoema, isto é, um texto que se
Eu canto porque o instante existe volta sobre o seu próprio processo de construção. A metalinguagem na poesia
e a minha vida está completa. é relativamente frequente na lírica de Cecília Meireles.
Não sou alegre nem sou triste: A respeito do título, Motivo, convém dizer que para Cecília escrever e viver
sou poeta. eram verbos que se misturavam: viver era ser poeta e ser poeta era viver.
Escrever fazia parte da sua identidade e era uma condição essencial para
Irmão das coisas fugidias, a vida da escritora, é o que se constata especialmente no verso: "Não sou
não sinto gozo nem tormento. alegre nem sou triste: sou poeta".
Atravesso noites e dias O poema é existencialista e trata da transitoriedade da vida, muitas vezes
no vento. com certo grau de melancolia, apesar da extrema delicadeza. Os versos são
construídos a partir de antíteses, ideias opostas (alegre e triste; noites e dias;
Se desmorono ou se edifico, desmorono e edifico; permaneço e desfaço; fico e passo).
se permaneço ou me desfaço, Uma outra característica marcante é a musicalidade da escrita - a lírica
— não sei, não sei. Não sei se fico contém rimas, mas não com o rigor da métrica como no parnasianismo (existe
ou passo. e triste; fugidias e dias; edifico e fico; tudo e mudo).
É de se sublinhar também que praticamente todos os verbos do poema
Sei que canto. E a canção é tudo. estão no tempo presente do indicativo, o que demonstra que Cecília pretendia
Tem sangue eterno a asa ritmada. evocar o aqui e o agora.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
O título do poema (Retrato) evoca uma imagem congelada,
Retrato cristalizada, parada no tempo e no espaço. Os versos se referem
Eu não tinha este rosto de hoje, tanto à aparência física (as feições do rosto e do corpo), como
Assim calmo, assim triste, assim magro, também à angústia existencial interior, motivada pela noção da
Nem estes olhos tão vazios, passagem do tempo.
Nem o lábio amargo. Observamos ao longo dos versos os sentimentos de melancolia,
angústia e solidão já característicos da poética de Cecília. Vemos
também a tristeza manifestada pela consciência tardia da
Eu não tinha estas mãos sem força,
transitoriedade da vida ("Eu não me dei por essa mudança").
Tão paradas e frias e mortas; A velhice se nota também a partir da degeneração do corpo. O eu-
Eu não tinha este coração lírico olha para si mesmo, para aspectos internos e externos. O
Que nem se mostra. movimento apresentado nos versos acompanha o decorrer dos dias,
no sentido da vida para a morte (a mão que perde a força, se torna
Eu não dei por esta mudança, fria e morta).
Tão simples, tão certa, tão fácil: O último verso, poderosíssimo, sintetiza uma reflexão existencial
— Em que espelho ficou perdida profunda: onde foi que a essência do eu-lírico se perdeu?
a minha face?
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
Lua
tenho outras de ser sozinha.
adversa
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Marcha - Cecília Meireles
“QUANDO PENSO EM VOCÊ…”: CONHEÇA A POLÊMICA Gosto da minha palavra
DE PLÁGIO QUE ENVOLVE CECÍLIA MEIRELES E As ordens da madrugada pelo sabor que lhe deste:
RAIMUNDO FAGNER
romperam por sobre os montes: mesmo quando é linda, amarga
nosso caminho se alarga como qualquer fruto agreste.
sem campos verdes nem fontes. Mesmo assim amarga,
Apenas o sol redondo é tudo que tenho,
e alguma esmola de vento entre o sol e o vento:
quebraram as formas do sono meu vestido, minha musica,
com a ideia do movimento. meu sonho, meu alimento.
No Centro de
Preparação de Oficiais
da Reserva (CPOR),
em 1933, fumando
Vinicius com a família. Manuel Bandeira e
Vinicius.
Com Tom e Toquinho
Poesia:
•O Caminho Para a Distância (1933)
•Forma e Exegese (1935)
•Ariana, a Mulher (1936)
•Novos Poemas (1938)
•Cinco Elegias (1943)
•Poemas, Sonetos e Baladas (1946)
•Pátria Minha (1949)
•Antologia Poética (1955)
•Livro de Sonetos (1956)
•O Mergulhador (1965)
•A Arca de Noé (1970)
Teatro:
•Orfeu da Conceição (1954)
•Cordélia e o Peregrino (1965)
•Pobre Menina Rica (1962)
Prosa:
•O Amor dos Homens (1960)
•Para Viver Um Grande Amor (1962)
•Para Uma Menina Com Uma Flor (1966)
Caracterização
A linguagem que Quintana utiliza em seus textos é simples, fluida, introspectiva e, muitas vezes,
irônica. Temas como o amor, o tempo, a natureza são os preferidos do poeta. Ávido leitor e escritor,
Mário Quintana escreveu obras poéticas, além de obras infanto-juvenis, sendo que as principais são:
1893 - Nasce Jorge de Lima, 23 de abril, em União dos Palmares, Alagoas, filho de um rico comerciante;
1899/1900 - Por volta dos seis ou sete anos, é acometido de uma asma alérgica que o obriga a ficar isolado em
casa, com crises agudas de dispneia;
1902 - Muda-se para Maceió com a mãe e os irmãos, permanecendo o pai em União dos Palmares. Em Maceió,
começa a frequentar o Instituto Alagoano dos irmãos Aristeu e Goulart de Andrade;
1903 - Transfere-se para o Colégio Diocesano, dos Irmãos Maristas. Publica os primeiros versos no jornal do
colégio, intitulado O Corifeu;
1907 - Seus poemas, em geral sonetos, começam a aparecer nos jornais locais. É dessa época a composição de O
Acendedor de Lampiões;
1908 - Muda-se para Salvador e ingressa na Faculdade de Medicina. Data dessa a época a composição do poema
Bahia de Todos os Santos, primeiro de uma voga moderna de textos dedicados à Bahia;
1911 - Transfere-se para o Rio de Janeiro;
Jorge de Lima,
Jorgepor
deCândido
Lima, porPortinari
(...) (1939)
1914 - Forma-se em medicina e defende a tese O Destino Higiênico do Lixo no Rio de Janeiro. Publica seu primeiro
livro de poemas, XIV Alexandrinos;
1915 - Volta para Maceió e abre um consultório;
1919 - É eleito deputado à Assembleia Estadual em Maceió. Ocupa o cargo até 1922;
1925 - Casa-se com Ádila Alves de Lima, de tradicional família gaúcha. Rompe com a estética parnasiana e adere
ao Modernismo, causando surpresa e decepção para aqueles que o consideram "Príncipe dos Poetas Alagoanos".
Publica o folheto O Mundo do Menino Impossível, em que recolhe alguns poemas de adesão à nova estética, a ser
depois incluído em Poemas;
1927 - Faz concurso de Literatura Brasileira e Línguas Latinas, no Ginásio do Estado, tornando-se professor
catedrático. Apresenta uma tese de concurso intitulada Dois Ensaios, em que aborda, um, a obra do escritor francês
Marcel Proust (1871-1922) e, outro, o Modernismo Brasileiro;
1930 - Muda-se para o Rio de Janeiro, após perseguição política, passando a clinicar em consultório na Cinelândia,
centro da cidade. O consultório era também ateliê e ponto de encontro de intelectuais;
1931 - Torna-se membro da Comissão de Literatura Infantil do Ministério da Educação;
1934 - Publica O Anjo, tentativa de ficção surrealista em meio à voga do romance social. Publica também uma
biografia do Padre José de Anchieta em comemoração do 4º centenário de seu nascimento, lançada no Correio da
Manhã;
1935 - Recebe o Prêmio de Literatura da Fundação Graça Aranha. Converte-se ao catolicismo e publica Tempo e
Eternidade em parceria com Murilo Mendes (1901 - 1975). Publica também o romance Calunga;
1936 - Recebe prêmio de romance da Revista Americana, de Buenos Aires. Candidata-se à vaga de Goulart de
Andrade na Academia Brasileira de Letras - ABL e é derrotado por Barbosa Lima Sobrinho;
1937 - Assume o cargo de professor de Literatura Luso-Brasileira na Universidade do Distrito Federal. Escreve, a
pedido do ministro Gustavo Capanema, a biografia de dom Vital, bispo de São Paulo, que lê em sessão realizada na
Escola Nacional de Música;
1940 - Recebe o Grande Prêmio de Poesia da ABL. Torna-se professor de Literatura Brasileira na Universidade do
Brasil, depois de ter sido assistente de Literatura Portuguesa do crítico e historiador português Fidelino de
Figueiredo (1889-1967);
1942 - Publica dois livros infantis, um sobre a vida de São Francisco de Assis e, outro, sobre as Aventuras de
Malasarte (traduzido do alemão em parceria com o irmão, Mateus de Lima). Fere-se em desastre de automóvel na
Avenida Beira-Mar, no Rio;
1943 - Publica um álbum de fotomontagens, A Pintura em Pânico. Escreve Mira-Celi, só é incluída na Obra
Poética, publicada em 1950;
1944 - Candidata-se sem êxito à vaga de Pereira da Silva na ABL;
945 - Publica o estudo sobre D. Vidal. Com a redemocratização do país, tenta outra vez a política, ingressando
na União Democrática Nacional (UDN);
1947 - É eleito vereador no Rio de Janeiro, pela UDN;
1948 - É escolhido presidente da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro;
1950 - Sai a edição argentina de Mira-Celi. É lançada sua Obra Poética, organizada pelo ensaísta Otto Maria
Carpeaux (1900 - 1978);
1951 - Participa da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, com a tela Penteado;
1952 - Com a fundação da Sociedade Carioca de Escritores (SOCE), Jorge de Lima torna-se presidente
provisório;
1953 - Morre em 15 de novembro, no Rio de Janeiro.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA LITERÁRIA DE JORGE DE LIMA:
OBRAS LITERÁRIAS:
Poesia
•XIV alexandrinos (1914)
•Poemas (1927)
•Essa negra fulô (1928)
•Novos poemas (1929)
•A túnica inconsútil (1938)
•Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
•Poemas negros (1947)
•Livro de sonetos (1949)
•Vinte sonetos (1949)
•Invenção de Orfeu (1952)
•Castro Alves. Vidinha (1952)
Romances
•Salomão e as mulheres (1927)
•O anjo (1934)
•Calunga (1935)
•A mulher obscura (1939)
•Guerra dentro do beco (1950)
ANALISANDO A OBRA “POEMAS NEGROS”
Esta seleção permite um olhar panorâmico sobre a
diversificada obra de Jorge de Lima, poeta que
percorreu de forma única os caminhos da poesia
brasileira do início parnasiano, passando pelo
verso livre, as experimentações com o soneto, até
a épica-lírica de Invenção de Orfeu. O ritmo e a
capacidade de evocar imagens são marcantes na
obra do poeta. Mas não se pode esquecer seu
profundo senso de responsabilidade humana- o
olhar atento para a realidade do povo, do negro e
da desigualdade social. Outro aspecto importante
é a densidade mística, resultante de uma forte
religiosidade. Por trás da complexidade de seus
versos, revela-se uma poesia absolutamente
singular e sedutora.
O famoso poema já havia sido musicado antes por
Oswaldo Santiago, e gravado nessa versão em 1941 por
Dorival Caymmi. Este registro de Jorge Fernandes, com
melodia de Waldemar Henrique, foi lançado pela Sinter
em 1955, em, LP de 10 polegadas com o mesmo título.
Clique ao lado em “ouvir” para conhecer o poema por
completo.
O PINTOR - OBRAS:
COM A PUBLICAÇÃO DE POEMAS (prêmio da FUNDAÇÃO GRAÇA ARANHA), INICIA UM MOMENTO, MAIS
VOLTADO AO DESENVOLVIMENTO DE SUAS IDÉIAS.
Em pleno Primeiro Tempo Modernista, o poema abaixo tem o perfeito ideário da época: além dos versos brancos e
livres, a paródia à tradição romântica, pois o poema inverte o tom de sua matriz, o “Canção do Exílio” de Gonçalves
Dias.
CANÇÃO DO EXÍLIO
“ Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.”
TAMBÉM DEU CONTRIBUIÇÕES PRÓPRIAS, NUMA TENDÊNCIA INTELECTUAL INOVADORA DO TEXTO, NA
SENSUALIDADE EXPLOSIVA, UMA DAS BASES DE SEU FAZER POÉTICO. É o que percebemos no poema abaixo:
AQUARELA
”Mulheres sólidas passeiam no jardim molhado de chuva,
o mundo parece que nasceu agora,
mulheres grandes, de coxas largas, de ancas largas,
talhadas para se unirem a homens fortes.”
(...)
A quarta foi para os turcos,
Em HISTÓRIA DO BRASIL, de 1932, feito no espírito dos poemas- Pra vender chitas, miçangas,
piadas, todo o nosso passado “célebre” vai ser olhado de maneira Na porta das mamelucas.
humorística. Observe-se no poema abaixo transcrito esses aspectos: Compraram a capitania
Em diversas prestações.
DIVISÃO DAS CAPITANIAS
A quinta aos italianos,
Ajudam a lavrar a terra,
A primeira pros londrinos, Engraxam as botas da gente;
Pra assentarem telefones, Nas sacolas de emigrante
Bondes, puxados a burros Trouxeram discos de canto
Naturais deste país; Que amenizam a nossa vida
Cruzados nos emprestaram Na hora do inglês chegar.
A cinco por cento ao mês.
A sexta aos americanos,
Trazem fitas de cowboy.
A segunda aos holandeses,
Os colonos veem a fita,
Pra ensinarem a fazer queijo,
Ficam logo entusiasmados,
Lidar direito com moinhos Fazem negócios com eles.
E algumas regras de asseio.
A sétima, aos alemães,
A terceira pros franceses, Trouxeram cerveja loura,
Que trouxeram nas fragatas Fazem grande concorrência
Muitos vidros de perfume, A cachaça nacional.
Mulheres muito excitantes, As outras cinco fazendas,
Maneiras finas, distintas Pra fazer conta redonda,
E romances de adultério. Entregaram aos lisboetas
Quem falou francês foi nós. Que fornecem mantimento
Às capitanias restantes.
2ª FASE - O SURREALISTA
METADE PÁSSARO
“A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio...”
(...)
3ª FASE - O MÍSTICO
. ESSA OBSESSÃO PELO ABSOLUTO RESULTARÁ NA TERCEIRA FASE, A POESIA
MÍSTICA DE TEMPO E ETERNIDADE (1934), ESCRITO EM PARCERIA COM JORGE DE
LIMA. Murilo Mendes sai de seu momento anterior ao fazer da busca religiosa nada mais do
que algo mais ousado: a sondagem da linguagem mística e de seu aspecto mágico e poético:
NOVÍSSIMO JOB
“Eu fui criado à tua imagem e semelhança.
Mas não me deixaste o poder de multiplicar o pão do pobre,
Nem a neta de Madalena para me amar,
O segredo que faz andar o morto e faz o cego ver.”
O ESPELHO