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O TABU FRENTE AO PROBLEMA DA MORTE

Wilma da Costa Torres (1979)

Disciplina:
Clínica do Luto e Educação para Morte
Professora:
Júlia Cabral Mazini

Alunas:
Daniely Ramos
Eveline Baldiotti
Rosiane Morais
Vídeo: Pesquisa mostra que, para brasileiros, a morte ainda é um tabu (TV Brasil, 2018)
Introdução:
• Perspectiva histórica antropológica e psicológica do tabu da morte;

• Característica estrutural do século XX

• As ciências humanas e a psicologia coloca a morte como tabu?


Sexo e Morte: fascínio e angústia
• “Os organismo vivos morrem e se reproduzem e esses são dois
aspectos da vida que exercem sobre nós um fascínio...” (Flugel, s.d).
Sexo e Morte: fascínio e angústia
• Estratégias para lidar com a angústia:

• Fuga;

• Repressão;

• Tabu;

• Simbolismo.
Tabu da morte substitui o tabu do sexo:
• Passado: Familiaridade com a morte e o
sexo (sentido reprodução) como tabu;

• Hoje: Sexo sem tabu e a morte é ocultada.

Filme: Sexto sentido, 1999


Se a única certeza que temos na vida é que
vamos morrer, que as pessoas amadas vão
morrer, porque negar a morte?
Estudo antropológico sobre o tabu frente a
morte:
• Período neolítico (10.000 a.C) até o século XIII:

• Familiaridade com a morte;

• Uso de rituais;

• Morte Domada.
• Século XIII:

• A morte se transforma em drama pessoal e solitário;

• As pessoas morriam sozinhas ou com a presença de um padre.


• Do século XVII ao XIX:

• O medo da morte pessoal é substituído pelo medo da morte do outro;

• Espetaculização da morte: roupas de luto, tristeza exacerbada, cortejos funerais.


• No século XX:

• No ocidente, a morte é ocultada no


discurso, assim como os rituais;

• Empobrecimento da elaboração do luto;

• Tristeza prolongada se torna uma


patologia.
• Como compreender essas transformações?

• Como se estabelece um tabu na sociedade?


• Tabu da morte surge a partir do século XIII, quando se perde a
familiaridade com a morte;

• Morte = destino e perda da individualidade;

• Como lidar: “violento apego a vida”;

• Toda perda ou insucesso é percebido como morte;

• Apesar da continuidade dos ritos a morte se problematizou


• Hoje, a crise da morte é uma crise da individualidade;

• Característica da sociedade moderna: hedonista (prazer e felicidade);

• Não se abre espaço para o sofrimento e o luto;

• Relação entre hedonismo e tabu da morte não é evidente;

• Ariés busca compreensão na história da família.


Compreensão do tabu da morte na história da família. (Ariés, 1977)

• Século XVII:

• Na morte havia a participação da família e


da pessoa que estava para morrer;

• Século XX:

• A família priva a liberdade da pessoa em


participar da própria morte;
Fatores para a família privar a liberdade da pessoa em participar da
própria morte:

Surge o sentimento de família;

O avanço da medicina: a morte é substituída pela

doença;

O hospital torna-se o lugar para se morrer;

Há o poder médico que estabelece o tratamento, o

que fazer para evitar a morte, prevê a hora da morte,

declara a morte – chamada de morte aceitável


Fatores para a família privar a liberdade da pessoa em participar da
própria morte:
Cuidados Paliativos não são sobre morte, mas sobre
• Caso a pessoa, o paciente, não concorde com como escolher viver (Dr. Leandro Camargo, s.d)
esse poder médico, ocorre uma crise;

• Chamada de morte embaraçosa;

• Por exemplo, a pessoa se nega a realizar um

tratamento ou permanecer no hospital, em

realizar inúmeras reanimações

cardiorrespiratórias, transfusões de sangue, etc.


Substituição da família pelo médico:

• “Hoje, a morte é mais solitária,

mecanizada, desumanizada e impessoal,

porque o paciente é retirado do seu

meio familiar, é dopado, para não

protestar de participar do seu

tratamento.” (Kubler-Ross, 1969)


O morrer na sociedade moderna:

• Proíbe a pessoa de participar da própria

morte;

• Dos vivos em vivenciarem o luto;

• Exclui rituais e celebração nos

cemitérios;

• Aceitação da cremação.
Será que nossos ancestrais seriam mais “modernos” ao ter mais familiaridade
com a morte, mais sensíveis ao sofrimento?

Será que a patologia social de hoje não teria suas origens na negação da morte?

(Ariés & Goes, 1977)


Áries (1977) e Koestler (1969) disseram que sim. A
agressividade associada com a inadequação da
morte;

Domenach (1976): o ser humano moderno fala da


morte do outro: Deus, família, dos povos, da
língua, do meio ambiente e planeta, mas não fala
da própria morte.

Margaret Mead: Conspiração do silêncio em que


não só a morte é ocultada, mas a velhice também,
passa a ser evitada.
Como as ciências humanas, especialmente, a psicologia lidam com a morte?
Ao contrário das ciências humanas que se silenciou frente a morte, a filosofia e a
literatura nunca deixaram de falar sobre a morte (Morin, 1951).

A filosofia e a literatura são duas áreas do conhecimento que conseguem diminuir a


angústia e o distanciamento entre a individualidade do ser e o mundo caótico (Morin,
1951).
Crítica a Nietzsche: super-homem, o retorno da biologia, niilismo,
negação da morte e apego do viver.

Nietzsche: Não existe o biológico, mas uma força de potência e


assim não haveria diferença entre a vida e a morte.

Duas maneiras opostas para lidar com a morte: 1. A morte


covarde; 2. Morte voluntária;

Super-humano: É aquela pessoa vai além do humano (do que é


imposto socialmente) que vence o niilismo, supera a cultura, e
valores morais criados socialmente (que são valores cristãos).
FILOSOFIA EXISTENCIAL

•A filosofia existencial vive a crise da

individualidade: que é a angústia.

• Para os filósofos existencialistas a angústia é o

que orienta o ser ao seu próprio destino e a sua

própria morte;

• Porque a angústia revela a experiência do nada,

da impermanência, revelando assim a finitude

da vida.
PSICANÁLISE FRENTE A MORTE
• Freud: O medo da morte seria na verdade uma cobertura

para outros medos;

• A origem estaria no período edipiano como produto

simbólico do medo da castração.

• Essa teoria é refutada por outra psicanalista, Melanie Klein,

que afirmou que o maior dos medos é o medo da morte, que

seria o medo do aniquilamento da vida (instinto de

conservação) e os outros medos derivam do medo da morte.

• Toda perda é sentida como morte.


Conclusão:
• Autora afirma que há um tabu da morte, também, na psicologia;

• A cultura rompe com mitos e ritos;

• Sem significado para a morte, sem fé, sem heroísmo, sem medos, cria-se tabus para
lidar com angústia do desconhecido;

• A negação da morte, também, dificulta na elaboração do luto, ele torna-se incompleto.

• Cabe a nós, dar abertura para que a morte e luto sejam falados e vivenciados de
alguma forma: literatura, arte, rituais, entre outros.
Livro: A menina que roubava livros, 2005

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