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História da América Latina

Contemporânea.
 Ensino Híbrido 

Prof. Dr. Elton O. S. Medeiros


elton.medeiros@sumare.edu.br
Independência da América hispânica

Aula 5:

GUERRA, Francois-Xavier. Modernidad e Independencias.


Madrid: Editorial Mafre, 1992, p. 115 - 148.
Independências da América hispânica
• O processo de independência da América espanhola segue momentos diferentes
(e pela historiografia tradicional, causas diferentes).

• Caráter extremamente nacionalista das abordagens historiográficas –


especialmente para o momento pós 1810: todos os países surgidos a partir da
antiga monarquia espanhola (mesmo a Espanha) se dedicam a elementos nacionais
para explicar tal fenômeno.
 Espanha: as independências como resultado da revolução liberal na Europa.
 Nas Américas: a necessidade de criar um imaginário nacional para os novos
países independentes levou os historiadores a uma visão na qual as causas
internas e particulares ocupavam lugar de destaque; o resto da América
espanhola e, principalmente, a Península Ibérica serviam de mero pano de fundo.
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• Império espanhol no século XIX:

 Controles estabelecidos com as reformas bourbônicas ao longo do séc.


XVIII, para melhorar a administração e o desenvolvimento econômico e
fiscal.
 Limitar os poderes dos crioulos e assegurar o poder espanhol.
 Privilégios peninsulares: altos postos na administração, exército e Igreja.
 Militares com foro privilegiado aos oficiais.
 Igreja extraordinariamente rica: propriedades rurais e urbanas, dízimos
(cobrados pela Coroa, serviam para a construção de Igrejas e hospitais e
pagamento de padres) e censo eclesiástico (cessão de terras em troca de
uma renda anual).
Independências da América hispânica

• Cenário europeu (sec. XIX):

Guerras Napoleônicas (1803 – 1815).


Em 1806 Napoleão decreta o Bloqueio Continental.
5 de maio de 1808, abdicação de Carlos IV de Espanha.
6 de maio de 1808, seu filho, Fernando VII também abdica
– e José Napoleão é nomeado rei de Nápoles e da Espanha.
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• Apesar das diferenças entre os grupos sociais na estrutura do Antigo Regime, isso
gera uma reação de resistência à ocupação napoleônica em todo o império
espanhol: todos apelam a elementos em comum como lealdade ao rei, defesa da
religião, aos costumes e à pátria.
 Na Espanha: Formação de juntas provinciais (guerra de guerrilhas).
 Nas Américas: Juntas provinciais juravam fidelidade a Fernando VII (preso) –
reclamando soberania da pátria em nome do rei.
• Grande hostilidade à Revolução Francesa: vista como regicida, ímpia e
perseguidora da religião não havia sido apenas um tema de propaganda oficial, mas
também era algo profundamente enraizado na opinião pública – ainda que elementos
da revolução já inspirassem alguns indivíduos à ideia de independência.
• Relações sociais de poder: os vínculos pessoais de vassalagem para com o rei e a
identificação do catolicismo com o “ser espanhol”, que tinha sido durante séculos um
dos elementos essenciais da unidade da monarquia, continuavam atuantes.
Fernando VII, “o
Desejado”
(1808 – 1833)
•1814 – 1815, derrota de Napoleão e
restauração do trono a Fernando VII.
• Aboliu a Constituição liberal de 1814.
• Ignora conquistas de Cádiz e as juntas
americanas.
• Tentar impor um governo absolutista na
Espanha (com apoio da França, com a
restauração dos Bourbon no país) e
reprimir os liberais.
• Se vê obrigado a restabelecer a
Constituição em 1820.
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• Resistência e Restauração: desde o início, a resistência ao invasor, o apoio
ao rei, assim como a formação de muitas das juntas provinciais, haviam sido
absolutamente espontâneas.
 Problema desde o início: quem governa de fato e em nome de quem?
 O vocabulário nas fontes é variado sobre a questão da soberania das
juntas provinciais: ora em prol do povo (alegando a ausência de um
governo legítimo), ora em prol do rei em cativeiro.
 Antigo vs. Moderno: a interpretação retórica de que na ausência da
autoridade régia, o poder retornaria às mãos do povo.
 Enfraquecimento da ideia do poder divino dos reis vs. ideia de
governo estabelecido por pacto político.
 O que a Revolução Francesa tinha obtido contra seu rei, se obtém em
seu nome e sem combate na monarquia espanhola.
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• Independências & Independências: nas Américas, assim como na Península


Ibérica, se organizam então novas formas de governo com a ausência do
poder legitimo do governo espanhol – em função da invasão francesa.
 As independências de 1808 ocorrem por uma razão “patriótica” e não de
secessão: Pelo não reconhecimento da autoridade de ocupação francesa e da
abdicação de Fernando VII.
 Nas Américas, o mesmo espírito impera e a sensação de que a Espanha
estava perdida: levando a colônia a se reorganizar politicamente e
administrativamente.
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• Junta Central: criação de um órgão central que resolveria o problema da


unidade do poder; sendo reconhecida tanto pelo poder da Espanha quanto da
América.
 Problemas de representação:
 Quais seriam as relações entre a Espanha e a América?
 Onde reside a soberania?
 São constituídas por indivíduos iguais ou por privilegiados?
 A representatividade de espanhóis e americanos seria igual?
 Estranhamento/desconhecimento por parte da Espanha do cenário
político americano.
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• A partir de 1809 um novo cenário político começa a surgir: o mesmo


debate ocorrido na França de 1788 – 1789 passa a ocorrer na América.
• Ideais de inspiração iluminista e da Revolução Francesa começam a se
propagar na América.
• Lideranças: homens portadores do ideário liberal burguês, aprendido na
Europa ou nos livros “franceses” contrabandeados.
 Liberdade e Igualdade Jurídica, legitimidade da propriedade privada, educação
(cidadania), necessidade de leis, PROGRESSO E FELICIDADE.
 Surgimento de um novo inimigo: Espanha, símbolo de um reino do
despotismo e da opressão.
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Estados recém independentes:

• Destruir a velha ordem colonial: conforme os interesses criollos.


• Abolição dos foros privilegiados: Exército e Igreja (lutas com a Igreja
variaram muito de país para país).

• Ordem social e subordinação dos trabalhadores.

• Revoltas de índios, camponeses e escravos tiveram resposta autoritária


do Estado (elite se alia).

• Vitórias, com o fim do tributo indígena, fim da escravidão (somente


permaneceu no Brasil, Cuba e Porto Rico domínios espanhóis)
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• Processos de Independência da América


Hispânica e revolução Liberal espanhola são
resultados do mesmo fenômeno: crise do Antigo
Regime.

• Revolução: radical transformação nas estruturas de


poder e mudança da classe social dirigente

• América: Revolução política X continuidade


econômica.
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• A consciência de mudança que os atores tinham: nova


sociedade com novo contrato.

• Criação de um espaço público: sistemas de referências de poder


deixam o espaço privado, nova legitimidade, soberania popular,
conquista de nova legitimidade.

• Novos atores não pertencem necessariamente à mesma classe


social, mas pertenciam ao mesmo mundo cultural.
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• Revolução Francesa vs. revoluções hispânicas: separação


temporal de 20 anos.
 Identificação da França como moderna.
 Identificação da Espanha como tradicional.

• Ironia espanhola: justamente aqueles que eram entusiastas da


Revolução Francesa lutaram contra seu herdeiro ombro a ombro
com absolutistas.
• América: revolucionários reivindicaram filiação francesa.
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• Compreender separadamente: independências e construção de


novas repúblicas.
 Independências: crise política que destruiu a unidade política
do Império absolutista.

• Americanos: falta assumir papel das heranças hispânicas em suas


ações.
• Espanhóis: reconhecer a relação entre a revolução liberal e a
francesa.
• XVIII – mudanças políticas, sociais e culturais.

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