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Geossintéticos aplicados

à Drenagem Urbana
Palestrante: Paula Peroba ​
Geóloga (UFRN) e Mestranda em Engenharia Civil (PEC/UFRN)​
Contato: paula.peroba@ufrn.br​

Disciplina:  Tópicos Especiais em Geotecnia (CIV0460)​
Curso: Graduaçaõ em Engenharia Civil - UFRN​
Sumário

Conceitos Introdutórios
Drenagem Urbana
Aplicações de Geossintéticos em Drenagem
Propriedades Relevantes
Dimensionamento e Especificação
Cuidados e Recomendações Gerais
Referências Bibliográficas
Conceitos Introdutórios

Ciclo Hidrológico
Fenômeno global de circulação de água
entre a superfície terrestre e a atmosfera,
impulsionado fundamentalmente pela
energia solar, que envolve tanto processos
de transferência entre os reservatórios,
como de transformação entre os estados
líquido gasoso e sólido.

Fonte: CESAMA
Conceitos Introdutórios
Bacia Hidrográfica
Área de captação da água de precipitação, demarcada por divisores topográficos, onde toda água captada converge
para um único ponto de saída, o exutório.

Fonte: Canal Trecos de Engenharia


Conceitos Introdutórios
Aumento da Urbanização versus Problemas de Drenagem
Impermeabilização Escoamento
do solo Superficial Tempo de Inundações e
Urbanização = = = Concentração = Alagamentos
Taxa de Infiltração Vazão de Pico

Fonte: Canal Trecos de Engenharia


Conceitos Introdutórios
Diferença entre Enchente, Inundação e Alagamento?

Fonte: Semasa (2015)


Drenagem Urbana
É imprescindível a implantação de um Sistema de Drenagem Urbana.

 Definição: Obras de afastamento das águas pluviais do lote e das vias públicas
de modo a garantir o acesso das edificações, o tráfego e a segurança dos
pedestres.
 Objetivos: garantir o escoamento das águas a partir das edificações até os
macrodrenos, para períodos de retorno compatíveis com o uso das vias públicas
(tipicamente de 2 a 10 anos).
 Benefícios indiretos: redução do custo de construção e manutenção de vias;
melhoria do tráfego durante as chuvas; benefícios à saúde e segurança públicas;
recuperação de terras inaproveitadas; menor custo de implantação de núcleos
habitacionais; rebaixamento do lençol freático e saneamento das baixadas.
Drenagem Urbana
Áreas inferiores a 2 km² = microdrenagem (ex.: pequenos loteamentos):

 Meio-fio
 Sarjetas
 Bocas de lobo
 Tubos de ligação
 Poços de visita
 Galerias
 Estações Elevatórias
 Condutos forçados

Fonte: Elias et. Al (2021)


Drenagem Urbana
Áreas > 2 km² = macrodrenagem, que tendem a possuir elementos
maiores de drenagem:

Canalizações e retificações
de canal
Bacias de retenção ou
detenção (piscinões)
Soleiras
Diques de contenção
Obra de macrodrenagem no Rio Jaguaribe, em Salvador/BA.

Piscinão de Inhumas, em São Paulo/S


P
.
Drenagem urbana
•Grandezas a serem consideradas num dimensionamento de
microdrenagem:

Vazão máxima (Q): em m³/S C = Coeficiente de escoamento ou run-off


i = Intensidade das chuvas (mm/h)
Q= a = Área da bacia (km2)

Coeficiente de escoamento (C ):
C=

 Intensidade das chuvas (i): em mm/h


i== TR = Tempo de retorno (anos)
T = Duração da chuva (minutos)
A,B,C,D = Parâmetros locais (de acordo com
pluviometria)
Drenagem urbana
• Grandezas a serem consideradas num dimensionamento de
microdrenagem:

Tempo de Concentração: Tempo necessário para que a água precipitada no ponto


mais distante da bacia escoe até o ponto de controle, exutório, ou local de medição.
Duração (T): O parâmetro de duração é estimado de forma a ser suficiente para que
toda a área da bacia esteja contribuindo para a vazão que sai no exutório.

Fonte: Canal Trecos de Engenharia


Drenagem urbana
• Grandezas a serem consideradas num dimensionamento de
microdrenagem:

Tempo de retorno (TR): intervalo estimado entre ocorrências de igual magnitude de


um fenômeno natural, neste caso, chuva. Em geral, quanto maior for a magnitude do
evento, maior o TR.

Fonte: Canal Trecos de Engenharia


Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
•Drenagem por geossintéticos (NBR ISO 10318): coleta e transmissão de um
fluido pelo corpo de um geossintético (não confundir com filtração).

Porque utilizar?
Escassez de materiais granulares naturais;
Aumento do custo da mão de obra;
Necessidade de diminuição dos cronogramas construtivos;
Crescentes custos de transporte e disposição dos materiais: quanto menor a
movimentação de terra e agregados na execução de um dreno, menor será o seu custo
total;
Do ponto de vista técnico, eles garantem igual ou melhor comportamento que os
materiais naturais, desde que projetados e aplicados adequadamente nas obras.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
•Produtos utilizados:
Geotêxteis espessos: camada única de geotêxtil não tecido agulhado, espessura
milimétrica, que filtra e conduz fluidos em seu plano, concomitantemente.

Geoespaçadores, georredes, geomantas e geoexpandidos: utilizados como núcleo


drenante, para criar grande volume de vazios, em substituição a materiais granulares
(brita, areia, argila expandida, etc). Os dois primeiros são relativamente pouco
compressíveis; os dois últimos são mais compressíveis.

Geocompostos drenantes: combinação de um geotêxtil filtrante com um núcleo


drenante e/ou com um GDP. São empregados em substituição aos tubos
convencionais de cerâmica perfurada, concreto perfurado ou concreto poroso.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
a) Geocomposto drenante com núcleo geoespaçador de pata simples
b) Esquema de núcleo geoespaçador de pata dupla;
c) Geocomposto drenante produzido com geoespaçador de pata simples mais geotêxtil
filtrante em camada única (utilizado para captar fluido por apenas uma das faces)
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
a) Geocomposto com núcleo de
a) b)
geomanta e geotêxtil filtrante em
ambas as faces;
b) Geocomposto com núcleo de
georrede e geotêxtil filtrante em
ambas as faces;
c) Geocomposto com núcleo de
c) d) geoexpandido poroso, com
geotêxtil filtrante na face direita e
geoexpandido impermeável na
face esquerda;
d) Geotubo (GDP) corrugado,
dotado de grande área aberta
perfurada, distribuída ao longo de
todo o seu perímetro.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
Drenagem vertical em muros de arrimo, cortinas de concreto ou encontro de pontes;
Sob a geomembrana em lagoas de efluentes e valas de resíduos;
Sob a impermeabilização de canais de irrigação;
Drenagem profunda e superficial sob gramados e pavimentos;
De líquidos e gases em aterros sanitários e de resíduos industriais;
Em taludes;
Em sistemas de impermeabilização de túneis;
Em jardins suspensos;
Aprimora o desempenho dos sistemas de impermeabilização, reprimindo as
indesejáveis infiltrações.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Valas e canais

Figura acima: Geocomposto drenante e GDP aplicados


em drenagem sob impermeabilização e revestimento de
canal.
Figura à esquerda: Dreno longitudinal profundo, esbelto,
com largura de 15 cm, utilizando geocomposto drenante
acoplado a um GDP, com a vala preenchida com areia (B)
e selada com argila (A).
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Drenagem predial

Sistema drenante em subsolo


de edifício, em que são
utilizados um geocomposto
drenante e um GDP para
drenar as cortinas de concreto.
As águas são lançadas em um
dreno longitudinal profundo,
localizado sob a laje,
constituído de geotêxtil
filtrante, pedra britada e GDP.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Trincheiras e colchões drenantes

Sistema drenante sobre laje, em um


campo poliesportivo. Geocomposto
atua como colchão drenante,
acoplado a uma malha de drenos
verticais, construídos com geotêxtil
não tecido, espesso, enrolado na
forma de "rocambole“.

Sistema drenante subsuperficial,


em campo poliesportivo, com
geocomposto atuando como
colchão drenante, acoplado a
GDPs condutores.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Sistema de drenos “espinha de peixe”: utilizado em campos para eventos
esportivos

Estádio Bezerrão (Distrito Federal) com alagamentos devi


do ao sistema de drenagem ineficiente, cerca de 2 meses a
Fonte: Canal Inova Civil ntes da Copa 2014.
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Galerias profundas:
1) Escavação da trincheira drenante 2) Aplicação da manta geotêxtil e 3) Colocação dos geotubos e
espalhamento da camada forro preenchimento com brita (drenante)

4) Adensamento 5) A manta geotêxtil é fechada Colchão drenante pode ser utilizado em


alguns casos, para proteger pavimento

Fonte: Canal Inova Civil


Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
 Galerias profundas:
Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
Sequência de instalação dos geossintéticos:
1) Corte do geossintético em painéis, na dimensão desejada;
2) Posicionamento e fixação do painel por meio de ripas, pregos, fita adesiva, cola,
ou sistema "Hilti“;

Diferentes modos de fixação de geocompostos drenantes em paredes verticais.


Aplicação de Geossintéticos em Drenagem
3) União entre painéis, por sobreposição, grampos
U, cabos ou solda com jato de ar quente, quando
aplicável;
4) Recobrimento das bordas do geocomposto que
estejam em contato com o solo com geotêxtil
filtrante;
5) Fixação por colagem ou grampeamento nas
bordas (quando o núcleo drenante é fornecido sem o
geotêxtil incorporado), para permitir uma perfeita União mecânica de geocompostos drenantes por de cabos plásticos.
instalação;
6) Conexão apropriada do GDP, ou outro sistema
coletor, ao geocomposto drenante

OBSERVAÇÕES:
Não andar sobre o geossintético ou sobre o núcleo
drenante para não danificar sua estrutura;
Cortar o geossintético/núcleo com estilete,
seccionando, primeiro, o geotêxtil e, em seguida o
núcleo Soldagem de geocompostos drenantes com jato de ar quente.
Propriedades relevantes
• Propriedades físicas: ???
Densidade espessura, entre outras características, definem o formato, constituição e posição do
elemento filtrante.
• Propriedades mecânicas:
 Resistência a tração: ???
São anisotrópicos e, portanto, apresentam variações em suas propriedades quando tracionados
como, por exemplo, sua espessura.
 Resistência a compressão: ???
Uma das principais propriedades, nesta aplicação, já que sua capacidade de transmissão de
líquidos e gases depende de sua espessura.
 Resistência a cisalhamento: ???
Nos geocompostos drenantes, a aderência entre o núcleo drenante e o geotêxtil filtrante é de
suma importância, para suas superfícies de contato não se constituírem num plano preferencial
de ruptura em situações com a atuação de tensões cisalhantes opostas
Propriedades relevantes

Redução no volume de vazios (e da transmissividade), de um geocomposto, quando


submetido a esforços de compressão, com deformação do filtro geotêxtil.
Propriedades relevantes
• Propriedades hidráulicas: ???
A transmissividade é a capacidade de escoamento de fluidos ao longo do plano do geossintético.
Define a sua capacidade em transportar rapidamente elevados volumes de líquidos, sendo,
portanto, sua principal característica relativa à função drenante.
• Propriedades de durabilidade: ???
É a manutenção de suas principais propriedades ao longo do tempo, a qual depende da matéria-
prima, sua fluência sob tensões permanentes, e a possibilidade de penetração do solo adjacente nos
espaços vazios do núcleo drenante.
• Propriedades ambientais: ???
Consistem nas alterações do geossintético por efeito da temperatura, ao longo do tempo (interior de aterros
sanitários); pela natureza e viscosidade do líquido transportado; e pela possibilidade de desenvolvimento de
microrganismos no núcleo drenante (diminuição da transmissividade no longo prazo).

OBS: Embora alguns geocompostos possuam uma geomembrana acoplada em uma das faces, a
impermeabilidade só é garantida se a união dos painéis consecutivos for feita por um sistema de estanque
(colagem, soldagem, aplicação de mastique elastométrico).
Dimensionamento e especificação
• Permissividade (Ψ) :
ψreq = Levando em consideração fatores de redução (FR), a Ψ do
geotêxtil a ser especificado é:
 A permissividade requerida (ψreq ) para uma camada de
Ψ = Ψreq FRCC FRFLC FRIN FRCQ FRCB
geotêxtil pode ser obtida a partir da equação de
continuidade sob condições de fluxo laminar:
Em que:
q = i A = ψreq A FRCC = consideração de cegamento (filme de
partículas de solo sobre o geotêxtil) ou
Ψreq = colmatação do dreno;
FRFLC = redução de vazios do dreno decorrente
de fluência sob compressão;
Em que: FRIN = intrusão do geotêxtil filtrante no núcleo
Kn = o coef. de permeabilidade normal ao plano do geotêxtil;
drenante;
tGT = a espessura do geotêxtil; FRCQ = colmatação química;
i = o gradiente hidráulico (direção normal ao geotêxtil); FRCB = colmatação biológica
A = a área do geotêxtil atravessada pela água;
ΔHGT = a perda de carga hidráulica no geotêxtil.
Dimensionamento e especificação
• Transmissividade (θ) :
Em que:
 Capacidade de vazão planar ou longitudinal: • qdisp = vazão longitudinal disponível;
Geotêxteis Georredes • qmax, vazão longitudinal máxima
• qcalc = vazão longitudinal unitária (teórica)
qdisp = • FRDE = deformações elásticas ou intrusão
do geossintético adjacente nos vazios da
Aplica-se para ambos um fator de segurança, levando em conta as georrede
imperfeições do cálculo: • C = o comprimento total do sistema
drenante captado pelo GDP
qmax= FS · FRIN FRFL FRCQ FRCB qcalc • QGPD = vazão longitudinal do GPD
• FRCC = cegamento (filme de partículas de
Geotubos ou Tubo Dreno Geossintético (GDP) solo sobre o geotêxtil) ou colmatação do
dreno;
A capacidade de vazão planar de um GPD Pode ser calculada pela
• FRFLC = redução de vazios do dreno
fórmula de Manning, levando-se em conta o coeficiente de rugosidade
de suas paredes internas, seu diâmetro interno e sua declividade decorrente de fluência sob compressão;
longitudinal. Com fator de segurança: • FRIN = intrusão do geotêxtil filtrante no
núcleo drenante;
QGDP = FS qcalc C • FRCQ = colmatação química;
• FR = colmatação biológica
Dimensionamento e especificação

Formulada por Berkhout (1994). Fonte: Manual de Geossintéticos.


Cuidados e recomendações gerais

1) Durante a instalação 2) Proibir a passagem de


do geossintético, devem veículos de construção
ser evitados fatores que sobre o filtro geotêxtil,
possam comprometer
seu desempenho como por exemplo.
elemento de drenagem
e/ou filtro.

3) Deve-se evitar a contaminação do filtro ou do núcleo drenante granular.


Caso ocorra, a camada deve ser devidamente lavada ou até substituída.
Cuidados e recomendações gerais

4) Deve ser evitados materiais graúdos com elementos 5) Na instalação de filtro geotêxtil em vala drenante,
perfurantes (enrocamento, galhos, tronchos, etc) sobre o deve-se garantir o perfeito contato entre o filtro e as
paredes internas da vala, pois espaços vazios entre eles
filtro geotêxtil instalado. Além de poderem danificar o facilitam a migração de finos do solo em suspensão em
filtro, podem, posteriormente, provocar sua colmatação direção ao filtro, podendo colmatá-lo.
por cegamento ou atividade biológica.
Cuidados e recomendações gerais
6) Em colchões drenantes, bem como em outros tipos de 7) O emprego de produtos geotêxteis diferentes deve ser
dreno, não se deve fechar o colchão com o filtro geotêxtil evitado, a menos que possuam as mesmas propriedades
externamente, pois, nesse caso, inverte-se a sequência hidráulicas e de filtração requeridas para os solos em
correta de camadas de um filtro. contato, pois geotêxteis parecidos não necessariamente
possuem as mesmas propriedades.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=9n08MaMzvF8&t=283s
Referências Bibliográficas
Canal Trecos de Engenharia. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=tdE4fQ1m1cY&t=269s>
Canal Inova Civil. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vNYU-q-PPFY>
ELIAS, B.; MENDONÇA, L.; Fassina, C.; Lima Moretto, R. (2021). Sistema de Microdrenagem.
DOI: 10.22533/at.ed.99821130415.
PALMEIRA, E. M. Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente. 1 ed. São Paulo: Oficina de
Textos, 2018. v. 1, p. 294
TEIXEIRA, WILSON (ORGS.) ET AL. Decifrando a Terra. 2.ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2009. 623 p.
VERTEMATTI, J. C. Manual Brasileiro de Geossintéticos, Edgard Blucher, São Paulo, 2004.

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