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MODERNISMO

1922 - 1930 (1º GERAÇÃO)


CONTEXTO HISTÓRICO
 TENSÕES SOCIAIS E REVOLTAS NO FINAL
DO SÉCULO XIX E INICIO DO SÉCULO XX.
 INÍCIO DA DÉCADA DE 20 - A REPÚBLICA
VELHA DÁ SINAIS DE DESGASTE
 INSATISFAÇÃO DO EXÉRCITO
BRASILEIRO (TENENTISMO)
 SURGIMENTO DA COLUNA PRESTES
 ECONOMIA FRAGILIZADA COM A QUEDA
DA BOLSA DE NOVA YORK EM 1929.
 1930 – Rompimento da política “café-com-leite”
 1912 – Oswald de Andrade retorna da Europa trazendo ideias Cubistas e
Futuristas. Afirmou: “Estamos atrasados cinqüenta anos em cultura,
chafurdados ainda em Pleno Parnasianismo.”

 1913 – Exposição de pintura Expressionista de Lasar Segall. Mário de


Andrade afirma: “Primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso
país.”
 1917 – Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os dois grandes líderes da
primeira geração do Modernismo brasileiro, se tornam amigos.
 1917 – II Exposição de Anitta Malfatti
Crítica de Monteiro Lobato ao estilo da pintora através do texto: Paranoia ou
mistificação?
 1917 - Publicação de A cinza das horas, de Manuel Bandeira.
 1921 – Processo de maturação
 1922 – Semana de Arte Moderna
Obras de Anita Malfatti
Uma Estudante 1915/16 “Mário de Andrade” – 1921/22

“A boba” 1915/16
Anita Malfatti
*1889 +1964

“O Farol” - 1915
“A onda” – 1915/17

“Há duas espécies de artistas. Uma


composta daqueles que vêem
normalmente as coisas. (...) A outra
espécie é formada pelos que vêem
anormalmente a natureza e interpretam-
na a luz de teorias efêmeras, sob a
sugestão estrábica de escolas rebeldes,
surgidas cá e lá como furúnculos da
cultura excessiva. (...) Monteiro Lobato.
Semana de Arte Moderna
 1922 – Teatro Municipal de São Paulo
 Dias 13, 15 e 17 de fevereiro
 O evento marcou o início do Modernismo no Brasil
 Representou uma renovação na linguagem de
produção e criação artística.
 Ruptura com o passado;
 Apresentação de novas ideias e conceitos artísticos:
 POESIA através da declamação
 MÚSICA por meio de concertos
 ARTES PLÁSTICAS , PINTURAS,
ESCULTURAS, maquetes de ARQUITETURA
 Alvo de críticas, ignorada e pouco compreendida.
 Forte reação do público

 Teve como objetivo fundamental renovar o


ambiente artístico e cultural através da
demonstração da arte em um ponto de vista
rigorosamente atual.
 O autor Graça Aranha aderiu ao movimento jovem
e participou da Semana.
 Desdobrou-se em diversos movimentos diferentes,
todos eles declarando levar adiante a sua herança.
 Principais nomes:
 Mário de Andrade - Oswald de Andrade -
Guilherme de Almeida - Menotti del Picchia - Paulo
Prado - Guiomar Novais - Ronald Carvalho
OS SAPOS – MANUEL BANDEIRA

Enfunando os papos, O meu verso é bom


Saem da penumbra, Frumento sem joio.
Aos pulos, os sapos. Faço rimas com
A luz os deslumbra. Consoantes de apoio.

Em ronco que aterra, Vai por cinquenta anos


Berra o sapo-boi: Que lhes dei a norma:
- "Meu pai foi à guerra!" Reduzi sem danos
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". A fôrmas a forma.

O sapo-tanoeiro, Clame a saparia


Parnasiano aguado, Em críticas céticas:
Diz: - "Meu cancioneiro Não há mais poesia,
É bem martelado. Mas há artes poéticas..."

Vede como primo Urra o sapo-boi:


Em comer os hiatos! - "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
Que arte! E nunca rimo - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Os termos cognatos. [...]
Qual a importância da Semana
de Arte Moderna?
Desintegração do passado;
Atualização intelectual;

Pesquisa;

Criação Estética;

Consciência criadora nacional;


1º GERAÇÃO MODERNISTA –
1922 /1930 (FASE HEROICA)
CARACTERÍSTICAS:
 RIDICULARIZAÇÃO DO PARNASIANISMO
 TENTATIVA DE SOLIDIFICAÇÃO DO MOVIMENTO
 RUPTURA DEFINITIVA COM A ARTE TRADICIONAL
 RECONSTRUÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA:
 Revisão crítica do nosso passado histórico
 Eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados
 Ênfase em nossas tradições culturais (folclore)
 LANÇAMENTO DE 4 MOVIMENTOS CULTURAIS:
 PAU-BRASIL
 VERDE-AMARELISMO
 ANTROPOFAGIA
MOVIMENTOS
CULTURAIS
 PAU-BRASIL – Criação de uma poesia primitivista. (1924)
 ANTROPOFAGIA – Devorar, simbolicamente, a cultura europeia,
sem perder nossa identidade cultural. (1928)

X
 VERDE-AMARELISMO – Defesa de um nacionalismo ufanista com
tendências nazifacistas. O grupo também era conhecido por “Grupo
da Anta”.
Abaporu
(1928)

“Aquele que
come gente”
Tarsila do Amaral
*1886 + 1973
1º GERAÇÃO MODERNISTA
 ESPÍRITO DESTRUTIVO / ICONOCLASTA / RADICAL /
ANÁRQUICO / BUSCA DA LIBERDADE / “MORRAS” À
ACADEMIA
 PREVALECEU A POESIA:
 Liberdade formal e temática
 Versos brancos e assimétricos
 Predileção: O cotidiano / o poema minuto / o poema piada / o
apoético / a paródia / ironia / bom humor
 Valorização da linguagem coloquial
 Valorização do índio, não como herói nacional mas em suas
feições primitivas e antropofágicas.
PRINCIPAIS MODERNISTAS
DA 1º GERAÇÃO

Oswald de Mário de Manuel


Andrade Andrade Bandeira
MÁRIO DE ANDRADE
 Estudou música / Professor de piano / compositor / pesquisador
 Um dos líderes da 1º geração modernista
 1917 – “Há uma gota de sangue em cada poema” (Mário Sobral)
 1922 – “Paulicéia Desvairada” (Adesão ao Modernismo)
 Apaixonado pela linguagem (Neologismos / Estrangeirismos / Termos
indígenas)
 Versos livres, linguagem solta e lírica, Nacionalismo
 Paixão pela sua cidade “São Paulo”
 Pesquisador dos elementos característicos da identidade nacional
(FOLCLORE – MÚSICAS – LENDAS – DITOS POPULARES)
 1927 – “O Clã do Jabuti”
 Tentativa de desvendar a essência da cultura brasileira.
 1928 – “Macunaíma” – Herói sem nenhum caráter
Macunaíma – Herói sem
nenhum caráter
 Características:
 Rapsódia
 Aproximação ao gênero épico (Herói – símbolo de uma
nação)
 Narrativa de caráter mítico (Abandono da verossimilhança
realista)
 Nacionalismo
 Fusão de várias vertentes culturais / tradições / expressões
linguísticas
 Aproximação da linguagem oral
“No fundo do mato-virgem
nasceu Macunaíma, herói de nossa
gente. Era preto retinto e filho do
medo da noite. Houve um momento
em que o silêncio foi tão grande
escutando o murmurejo do
Uraricoera, que a índia tapanhumas
pariu uma criança feia. Essa criança é
que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de
sarapantar. De primeiro passou mais
de seis anos não falando. Si o
incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça!...”
OSWALD DE ANDRADE
 Paulista / rico / viagens à Europa / Direito / Comunista
 Debochado / agitador / a voz mais corrosiva dos modernistas
 Estreia modernista: “Os Condenados” (1922)
 Salto revolucionário: “Memórias sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”
 Características:
 Fusão: prosa-poesia
 Capítulos relâmpagos
 Linguagem coloquial / irônica / crítica / nacionalista / simples / ágil
 Neologismos
 Releitura de textos e eventos do período colonial no Brasil (paródias)
 Influências cubistas
 “Antigramatiquisse”
 Mentor intelectual dos movimentos: Pau-Brasil e Antropofagia
POESIAS
Pronominais Vício na fala
Dê-me um cigarro
Para dizerem milho dizem mio
Diz a gramática
Para melhor dizem mió
Do professor e do aluno Para pior pió
E do mulato sabido Para telha dizem teia
Mas o bom negro e o bom branco Para telhado dizem teiado
Da Nação Brasileira E vão fazendo telhados.
Dizem todos os dias Relicário 
Deixa disso camarada
No baile da Corte 
Me dá um cigarro Foi o Conde d'Eu quem
disse 
Pra Dona Benvinda 
Que farinha de Suruí 
Pinga de Parati 
Fumo de Baependi 
É comê bebê pitá e caí 
Poesias
Verbo Crackar *Azula : gíria da época,
Eu empobreço de repente significa FUGIR
Tu enriqueces por minha causa
*Escafedem: falência
Ele azula para o sertão fraudulenta
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência *Pala: fuga
Eles escafedem a massa
* Oxalá: tomara ou Deus
Sê pirata queira
Sede trouxas
Abrindo o pala
Pessoal sarado
Oxalá que eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.
Canto de regresso à pátria
Minha terra tem palmares  
onde gorjeia o mar   
Os passarinhos daqui   
Não cantam como os de lá 
Minha terra tem mais rosas  
E quase que mais amores  
Minha terra tem mais ouro  
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas  
Eu quero tudo de lá   
Não permita Deus que eu morra 
Sem que volte para lá  
Não permita Deus que eu morra 
Sem que volte pra São Paulo  
Sem que veja a Rua 15  
E o progresso de São Paulo  
 
Memórias Sentimentais
de João Miramar
 João Miramar – Escritor, intelectual provinciano e filho de ricos
cafeicultores.
 Relata a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice de João
Miramar.
 Análise da sociedade brasileira através do humor.
 Crítica às relações familiares e sociais: Casamento / Paternidade /
Divórcio
 Composto de 163 fragmentos.
 Presença de diferentes gêneros textuais - PROSA / POESIA/ PIADA
/CARTAS / DIÁRIOS / DISCURSOS / TRECHOS DE CRÔNICAS
JORNALÍSTICAS;
 Também pode ser chamado de mosaico;
 Sequência de fatos indireta;
Tiro ao álvaro – Adoniran
Barbosa
 De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
Táubua de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Táuba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
 Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno e estriquinina
que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais que atropelamento de
automóver
Mata mais que bala de revórver
MANUEL BANDEIRA
 Recife, 1886.
 Professor / Poeta / Cronista / Crítico /
Historiador literário;
 Tuberculose
 Incerteza quanto à vida.
 POESIA = saída para o desconsolo.
 Mestre do Verso livre no Brasil
 Temas:
 A vida e A morte / Paixão pela vida / Memórias de menino / Cenas do
cotidiano / Erotismo / Angústia / Humildade / Cultura Popular
 Sua poesia se caracterizou pela variedade criadora;
 OBRAS: A Cinza das horas (1917) - Características Parnasianas e
Simbolistas
 Libertinagem (1930) – Adesão ao Modernismo
 Estrela da vida inteira (1966)
Testamento
Gosto muito de crianças:
O que não tenho e desejo
Não tive um filho de meu.
É que melhor me enriquece.
Um filho!... Não foi de jeito...
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Mas trago dentro do peito
Tive amores — esqueci-os.
Meu filho que não nasceu.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece. Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Vi terras da minha terra.
Foi-se-me um dia a saúde...
Por outras terras andei.
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Mas o que ficou marcado
Sou poeta menor, perdoai!
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei. Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:


- Diga trinta e três.
- Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
Respire.
.......................................................................
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Irene no céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:


-Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
-Entre, Irene. Você não precisa pedir licença.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo


Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do
corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto
do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus a se mover sobre a face das águas.
Estou farto do lirismo comedido
Poética
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação .
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo
Lá sou amigo do rei É outra civilização
Lá tenho a mulher que eu quero Tem um processo seguro
Na cama que escolherei! De impedir a concepção
Vou-me embora pra Pasárgada. Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Vou-me embora pra Pasárgada Tem prostitutas bonitas
Aqui eu não sou feliz Para a gente namorar.
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente E quando eu estiver mais triste
Que Joana a Louca de Espanha Mas triste de não ter jeito
Rainha e falsa demente Quando de noite me der
Vem a ser contraparente Vontade de me matar
Da nora que nunca tive. - Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
E como farei ginástica Na cama que escolherei
Andarei de bicicleta Vou-me embora pra Pasárgada.
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar.
Vou-me embora pra Pasárgada.
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto. 

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .


Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração. 

E nestes versos de angústia rouca,


Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca. 

- Eu faço versos como quem morre. 


Saudades de Pernambuco – Luiz Gonzaga
Ai que saudade lá de Pernambuco
De Iputinga, Arruda, Encruzilhada
De Água Fria, Torre, Dois Irmãos
A saudade tá danada, num resisto não
Se me aperta mais o peito, pego o avião
Vou comer sarapaté, carne de charque com feijão
Vou tomar uma Pitú ou Chica Boa com limão
Quando eu lembro do Recife, ai que dor no coração
Da sanfona do Sivuca, do Sherlock a conversar
Da peixada da lagosta, do siri com camarão
Da praia de Rio doce, tudo é belo meu irmão
Do caju, do abacaxi e das tarde de verão
Ai, ai meu Deus eu vou voltar
Não posso mais, quando eu me lembro,
dá vontade de chorar
Daquelas pontes do Capibaribe
Das caçadas em Beberibe
E das noites de luar
Dos valentões com peixeira na cinta
E um punhado em sobreaviso
E a rasteira a vadiar
Em Pernambuco tudo é diferente
Como é boa aquela gente quem vai lá num quer voltar

Te aquieta, coração véio! 


Tais numa peinha de nada, hein?!

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