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Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente

27/08/18
O CONSELHO DE DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
É fruto da mudança de paradigma promovida a
partir do contido no art. 227, da CF:
Art. 227, caput, da CF: “É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.”
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DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL
Incorporada pela Constituição Federal de 1.988 e prevista no
art. 1º do ECA.
De acordo com esta doutrina, crianças e adolescentes devem
ter assegurada a plena efetivação dos seus direitos
fundamentais com a mais absoluta prioridade, por meio de
políticas públicas intersetoriais específicas.
“Leis internas e o direito de cada sistema nacional devem
garantir a satisfação de todas as necessidades das pessoas de
até 18 anos, não incluindo apenas o aspecto penal do ato
praticado pela ou contra a criança, mas o seu direito à vida,
saúde, educação, convivência, lazer, profissionalização,
liberdade e outros.” (João Gilberto Lucas Coelho, Criança e
Adolescente: a Convenção da ONU e a Constituição Brasileira,
UNICEF, p. 3)
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- A função de membro do Conselho de Direitos da Criança e do
Adolescente é considerada de “interesse público relevante” (art.
89 do ECA);

- Os membros do Conselho de Direitos exercem um mandato, seja


na condição de representantes do Governo (quando o mandato
estará vinculado ao do “chefe” do Executivo - ou enquanto
permanecerem na função), seja como representantes da
sociedade (caso em que a duração do mandato deverá ser
prevista na Lei Municipal local, com renovação periódica dos
seus membros);

- O exercício do mandato exige empenho, dedicação e senso de


responsabilidade, dada extrema relevância de suas atribuições;

- Embora não sejam remunerados, os membros do Conselho de


Direitos são considerados “agentes públicos” para fins de
incidência da Lei nº 8.429/92 (L.I.A.) e “funcionários públicos”
para fins penais, respondendo tanto por ação quanto por
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omissão;
É UMA EXPRESSÃO DA
CHAMADA “DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA”

“Todo poder emana do povo, que o exerce


por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta
Constituição”.
(art. 1º, par. único da Constituição Federal)

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DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E OS
CONSELHOS DE DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
Art. 227, §7º, da CF:
“No atendimento dos direitos da criança e do
adolescente, levar-se-á em consideração o disposto no
art. 204” .

Art. 204, da CF:


“II - participação da população, por meio de
organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis”.

OBS: Embora abram espaço para participação popular, os


Conselhos de Direitos são órgãos públicos que integram
a estrutura administrativa - e decisória - do governo.
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POLÍTICA DE ATENDIMENTO
Art. 86, do Estatuto da Criança e do
Adolescente:
“A política de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente far-se-á através de
um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios”.
- OBS: A política da criança e do adolescente é de
cunho eminentemente intersetorial, e não um
mero “ramo” ou “apêndice” da política de
assistência social 7
DIRETRIZES DA POLÍTICA
DE ATENDIMENTO
 Municipalização do atendimento - art. 88, inciso I,
ECA - c/c art. 86;

 Criação dos Conselhos de Direitos - art. 88, inciso II


ECA - v. art. 261, par. único;

 Descentralização político-administrativa - art. 88,


inciso III ECA e art. 227, §7º, c/c art. 204, I, da CF;

 Manutenção de Fundos Especiais vinculados aos


respectivos Conselhos de Direitos da Criança e
do Adolescente - art. 88, inciso IV, do ECA;
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CONSELHOS DE DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 Conceito: Órgão deliberativo e controlador das
ações relativas à política de atendimento dos direitos
da criança e do adolescente (art. 88, inciso II, do ECA),
que também se constituiu em sua atribuição básica.
 Características (art. 88, II, do ECA):
- Paridade (entre governo e sociedade);
- Participação popular na gestão do poder público
(“controle social” e exercício da “democracia
participativa”).
- Tem por objetivo a instituição de uma “política de
Estado” (lato sensu - e não apenas “de governo”) que,
como tal, sobreviva ao mandato dos governantes,
assegurando sua continuidade independentemente de
quem estiver no poder 9
IMPORTANTE:
Quando o Conselho de Direitos delibera, considera-se que é o
Ente Federado (Município, Estado ou União) que delibera,
devendo tal deliberação ser cumprida pelo respectivo gestor:
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA ATO
ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO: NOVA VISÃO.
1. Na atualidade, o império da lei e o seu controle, a cargo do Judiciário,
autoriza que se examinem, inclusive, as razões de conveniência e
oportunidade do administrador.
2. Legitimidade do Ministério Público para exigir do Município a execução
de política específica, a qual se tornou obrigatória por meio de resolução
do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
3. Tutela específica para que seja incluída verba no próximo orçamento, a
fim de atender a propostas políticas certas e determinadas.
4. Recurso especial provido.
(STJ. 2ª T. RESP. nº 493811. Rel. Min. Eliana Calmon. J. 11/11/03).
ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS
DOS CONSELHOS
MUNICIPAIS DE DIREITOS
 Inscrição de programas desenvolvidos pelas
entidades de atendimento (governamentais e não
governamentais) - art. 90, §1º, do ECA;
 Registro de entidades não-governamentais (art.
91, caput, do ECA);
 Revisão periódica de tais registros (arts. 90, §3º e
91, §2º, do ECA);
 Condução do processo de escolha dos membros
do Conselho Tutelar (art. 139, do ECA). 11
ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO
DE DIREITOS
 Mapeamento das necessidades locais (com a coleta de
dados relativos às principais demandas de atendimento);
 Elaboração dos Planos de Atendimento (socioeducativo,
decenal de direitos humanos, de enfrentamento à
violência etc.), com sua avaliação e revisão periódicas;
 Formalização e articulação da “rede de proteção” à
criança e ao adolescente, zelando pela sua eficácia;
 Gestão política do Fundo Especial da Infância e da
Adolescência - FIA;
 Realização das Conferências de Direitos da Criança e do
Adolescente.
OBS: Não confundir as atribuições do CMDCA com as
atribuições do Conselho Tutelar (embora este deva
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colaborar com aquele - art. 136, inciso IX, do ECA).
IMPORTANTE:
Para o adequado desempenho de suas atribuições, é
fundamental que o Conselho de Direitos disponha de uma
estrutura administrativa de apoio, que compreenda secretaria
e assessoria técnica (inclusive jurídica), mantendo em arquivo
todas as suas deliberações (que são atos administrativos e,
como tal, precisam ser publicados nos órgãos oficiais), atas de
reuniões e tudo o mais que represente a “memória” do órgão;
É também preciso que elabore um regimento interno, que
discipline seu funcionamento e a forma como as reuniões
serão conduzidas, com a previsão de mecanismos que
permitam a participação popular, inclusive por meio de
entidades que não componham oficialmente o órgão;
Deve também elaborar um calendário para suas reuniões
ordinárias e critérios para convocação das extraordinárias.
IMPORTANTE:
É salutar que a “presidência” do Conselho de Direitos se
alterne entre representantes do governo e da sociedade,
enaltecendo o caráter paritário o órgão;

Ainda que não integrem o órgão como representantes do


governo, é fundamental que participem das reuniões
integrantes das Secretarias/Departamentos responsáveis pelos
setores de planejamento e finanças do Ente Federado, pois as
deliberações do Conselho de Direitos (a exemplo dos Planos
Decenais de Atendimento) devem integrar seu planejamento
estratégico e ser incorporadas ao orçamento dos órgãos
públicos encarregados da execução das ações respectivas,
sendo previstas nas respectivas Leis Orçamentárias (PPA, LDO
e LOA).
IMPORTANTE:
Art. 260-I (ECA).  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente
nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão amplamente à
comunidade: 
I - o calendário de suas reuniões; 
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendimento à
criança e ao adolescente; 
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem beneficiados
com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
nacional, estaduais, distrital ou municipais; 
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário e o valor dos
recursos previstos para implementação das ações, por projeto; 
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por projeto
atendido, inclusive com cadastramento na base de dados do Sistema de
Informações sobre a Infância e a Adolescência; e 
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com recursos dos
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais,
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distrital e municipais.
4º Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude

RELACIONAMENTO DO CONSELHO
DE DIREITOS COM OS DEMAIS
ÓRGÃOS
 Com o Conselho Tutelar;
 Com os demais Conselhos Deliberativos de
Políticas Públicas;
 Com a rede de serviços públicos em geral;
 Com o Ministério Público;
 Com o Poder Judiciário;
 Com o Poder Legislativo. 16
FUNDO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
 Natureza jurídica: Fundo Especial;
 Conceito jurídico: “o produto de receitas específicas
que, por lei, se vinculam à realização de
determinados objetos ou serviços, facultada a
adoção de normas peculiares de aplicação” (art. 71
da Lei Federal nº 4.320/64).
 Exceção ao princípio da unidade de tesouraria (os
recursos captados pelo Fundo, caso não utilizados,
ao final de um exercício permanecem no Fundo para
serem utilizados no exercício seguinte, não
revertendo ao caixa único do Tesouro). 17
FUNDO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
 Conceito: Facilita a captação de recursos destinados
ao atendimento das políticas, programas e ações
voltados para a garantia dos direitos de crianças e
adolescentes, mediante deliberação do CMDCA.
 Importante lembrar, no entanto, que o Fundo
Especial serve de complemento, e não para
“substituir” o orçamento dos diversos órgãos públicos
corresponsáveis pela execução da política de
atendimento à criança e ao adolescente (que, para
tanto, devem destinar recursos de forma prioritária -
art. 4º, par. único, “c” e “d” do ECA e art. 227, caput
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da CF).
FUNDO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
 Criado por Lei Municipal;

 Art. 167, inciso IX, CF - veda instituição de fundos


sem prévia autorização legislativa;
 Não tem personalidade jurídica (embora deva ter
CNPJ próprio - Cf. art. 4º, inciso X, da Instrução
Normativa nº 1634/2016, da RFB);
 Regulamentado por Decreto Municipal (facultativo).

 Normas gerais dos arts. 71 a 74 da Lei Federal nº


4.320/64; 19
FUNDO DOS DIREITOS DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE

 Vinculado ao Conselho de Direitos (sob o ponto


de vista político-decisório - art. 88, inciso IV,
ECA);

 Vinculado ao Poder Executivo (sob o ponto de


vista contábil);

 Vinculado ao Poder Executivo (sob o ponto de


vista administrativo).
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GESTÃO DO FUNDO
DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
 Plano de Ação - LDO;
 Plano de Aplicação - LOA;
 Conselho de Direitos delibera;
Órgão Público ao qual o Conselho de Direitos está
administrativamente vinculado libera (com a
“prioridade absoluta” preconizada pelo art. 4º,
caput e par. único, alínea “d” do ECA).

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ORIGEM E CAPTAÇÃO DE
RECURSOS PARA O FUNDO
 Dotação orçamentária do Poder Executivo;
 Transferência intergovernamental;
 Doações de pessoas físicas ou jurídicas (com
possibilidade de dedução do IR);
 Multas decorrentes de infrações administrativas e
de ações civis públicas - art. 214, do ECA;
 Aplicações no mercado financeiro;
 Outras fontes previstas na Lei que cria o Fundo.

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DESTINAÇÃO DAS VERBAS DO
FUNDO
DEVE PROCURAR CONTEMPLAR ALGUMAS DAS
LINHAS DE AÇÃO DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO
(art. 87, do ECA):
- Políticas de proteção especial;
- Política socioeducativas;
- Políticas de enfrentamento às violências;
- etc.
OBS: A seleção dos projetos a serem contemplados
com recursos captados pelo FIA deve ser pública,
com observância dos princípios do art. 37, da CF23
DESTINAÇÃO DAS VERBAS DO
FUNDO
IMPORTANTE 1: Cabe ao Conselho de Direitos a
prerrogativa da definição das modalidades de
projetos que serão contemplados com recursos do
FIA, estabelecendo os requisitos mínimos a serem
preenchidos e os critérios de seleção.
IMPORTANTE 2: Os recursos do FIA não podem
ser utilizados para manutenção das entidades de
atendimento (art. 90, do ECA), mas sim apenas para
o custeio dos projetos por elas desenvolvidos, de
acordo com os Planos de Ação e de Aplicação de
recursos previamente apresentados e aprovados. 24
4º Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude

IMPORTANTE:
Art. 260-G (ECA).  Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: 
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente a
gerir os recursos do Fundo; 
II - manter controle das doações recebidas; e 
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os
seguintes dados por doador: 
a) nome, CNPJ ou CPF; 
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em
bens.
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O Sistema de Garantia de Direitos é
mais amplo e o Conselho de Direitos
possui diversas interseções políticas

Assistência
Cultura, esporte
Social
e lazer
(SUAS)

Conselhos de Direitos
(articulam e integram)

Segurança
Educação
(SINASE)
Saúde
(SUS)
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Adaptado por Murillo José Digiácomo a partir
do material originalmente elaborado por:

Clisânger Ferreira Gonçalves


Promotora de Justiça do Rio de Janeiro

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