Foi fundador do Departamento de Sociologia da Faculdade de Economia e Ciências Sociais da Universidade Agrária de La Molina, criada em 1902, considerado como o primeiro a estabelecer a profissão de Sociólogo no Peru; Foi professor da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, fundada em 1551, a mais antiga do nosso continente; Atuou na Divisão de Assuntos Sociais da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), no Chile; Integra o grupo chamado Teóricos da Dependência, a partir de uma perspectiva de redefinição; Colonialidade/Modernidade
“O eurocentrismo, portanto, não é a perspectiva cognitiva dos
europeus exclusivamente, ou só dos dominantes do capitalismo mundial, sim do conjunto dos educados sob essa hegemonia”. Essencial no seu argumento: A modernidade etnocêntrica foi admitida como uma das pedras angulares da racionalidade, de forma inquestionável. Desde a inserção da América no capitalismo mundial, as pessoas se classificam e foram classificadas conforme três linhas: Trabalho, Gênero e Raça. Heterogeneidade histórico-estrutural Na contramão das leituras dualistas e evolucionistas da história, que concebiam a passagem linear e homogênea de uma sociedade “tradicional” para uma sociedade “moderna”, fortemente presentes nas correntes modernizadoras das Ciências Sociais, o autor adota a perspectiva da Heterogeneidade histórico-estrutural para afirmar que a formação econômica social peruana e latino-americana estava articulada por diversas temporalidades históricas. Tratava-se de ler a América Latina “em função dela mesma; em relação com outras experiências, mas não segundo elas”. Dimensões culturais e históricas
As mudanças desencadeadas no capitalismo moderno e seus efeitos
na subjetividade, faziam parte de um clima intelectual que repensava paradigmas teóricos europeus e estadunidenses; Na elaboração de uma “teoria” de longa duração, Quijano ressalta um novo sistema de dominação social produzido para dar inteligibilidade histórica às novas relações de poder constituídas desde o “descobrimento”, em 1492: a raça. Padrão de poder
Nesse “padrão de poder” constituído, o capitalismo moderno/colonial forjou uma
concepção de humanidade segundo a qual a população do mundo se diferenciava em inferiores e superiores, racionais e irracionais, primitivos e civilizados, tradicionais e modernos; Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C), fundado em 1996, que estabeleceu uma ampla agenda de pesquisa, impactando os estudos culturais sobre raça, gênero e movimentos sociais; Crítica às teorias europeias e norte-americanas; Conceito de colonialidade (1989) possui tripla dimensão: do poder, do saber e do ser; América Latina O que denominamos como América Latina constitui-se junto com e como parte do atual padrão de poder mundialmente dominante; Quando se fala em América Latina, não levamos em consideração os povos originários da região, nem os povos africanos trazidos forçosamente para cá durante séculos, nem consideramos somente a perspectiva de uma dominação que não os compreende como agentes do processo de formação de identidade do continente. No começo do século XIX o problema da identidade se apresenta sob um novo aspecto: atrelado aos processos emancipatórios, cuja necessidade era a imposição do nome americano Espaço e tempo inaugural da modernidade Aqui foi tanto o espaço original como o tempo inaugural do período histórico e do mundo que ainda habitamos. Foi a primeira entidade/identidade histórica do atual sistema mundo colonial, moderno e de todo o período da modernidade; Os europeus teriam tido a felicidade de ter um desenvolvimento evolucionista; Metáfora de Dom Quixote (1605): desencontro entre uma ideologia senhorial, cavalheiresca e novas práticas fragmentárias e inconsistentes, representada pelo moinho de vento; Realidade social em crise; Des/encontro entre o novo e o velho; Preservar o senhoril sobre a base do colonialismo; Resultado Destruição da produção interna e o retrocesso secular dos processos de democratização abertos pela modernidade/colonialidade, que que produziram Dom Quixote;
“O que empobreceu e assenhoreou a futura Espanha, e a tornou ainda sede
central do obscurantismo cultural e político no Ocidente pelos quatro séculos seguintes, foi precisamente o que permitiu o enriquecimento e a secularização do centro-norte da Europa Ocidental emergente, e mais tarde favoreceu o desenvolvimento do padrão de conflito que levou à democratização dessas regiões e países do centro-norte da Europa Ocidental” (p. 13). Implicações históricas desse padrão de poder
A maior lição epistêmica e teórica que aprendemos de Dom
Quixote: A heterogeneidade histórico-estrutural; A co-presença de tempos históricos e de fragmentos estruturais de formas de existência social; Variabilidade da procedência histórica e geocultural; São as lutas de poder e seus mutantes resultados que articula formas heterogêneas de existência social; Armadilha epistêmica do eurocentrismo A colonialidade do poder faz a América Latina um cenário de des/encontros entre nossa experiência, nosso conhecimento e nossa memória histórica; Longo e tortuoso labirinto; “a armadilha epistêmica do eurocentrismo que há quinhentos anos deixa na sombra o grande agravo da colonialidade do poder e nos faz ver somente gigantes, enquanto os dominadores podem ter o controle e o uso exclusivos de nossos moinhos de vento” (p. 16) Destruição de todo um mundo histórico Primeiro: desintegração dos padrões de poder e de civilização de algumas das mais avançadas experiências históricas da espécie; Segundo: extermínio físico, em pouco mais de 3 décadas, as primeiras do século 16 foram mortas mais de cem milhões de pessoas; Terceiro: eliminação de seus dirigentes, intelectuais, engenheiros, cientistas e artistas; Sistema de dominação social se fundamentou na ideia de raça, primeira categoria social da modernidade; A vasta e plural história de identidades e memórias do mundo conquistado foi deliberadamente destruída, e sobre toda a população sobrevivente foi imposta uma única identidade racial: “índios”. Experiência racializada da escravidão; Raça: critério universal de classificação social
Em torno dela se redefiniram as formas prévias de dominação, em
especial entre “sexos”, “etnicidades”, “nacionalidades” e “culturas”; Eixo de distribuição dos papeis e das relações associadas ao trabalho, nas relações sexuais, na autoridade, na produção e no controle da subjetividade; Emergência do primeiro sistema global de dominação social historicamente conhecido: ninguém, em nenhum lugar do mundo, poderia estar fora dele. Integração do sistema de produção de mercadorias: globalidade
“Por outro lado, este novo padrão de poder que se baseava na
articulação dos novos sistemas de dominação social e de exploração do trabalho se constituía e se configurava como um produto central da relação colonial imposta na América. Sem ela, sem a violência colonial, não haveria sido possível a integração entre tais novos sistemas, menos ainda sua prolongada reprodução. Assim, a colonialidade era – é – o traço central inerente, inescapável, do novo padrão de poder que foi produzido na América. Nisso se fundava e se funda sua globalidade” (p. 21) Ideologia eurocêntrica sobre a modernidade
Não é surpreendente que a América admitisse a ideologia eurocêntrica sobre a
modernidade como verdade universal; Invisibilidade sociológica dos não-europeus; Identidade na América Latina seria um projeto histórico, aberto e heterogêneo, mas uma lealdade com a memória e com o passado; Inevitável destruição da colonialidade do poder, de des/colonialidade do poder; América Invertida (1943) é possivelmente a obra mais conhecida de Torres García, uma afirmação da identidade sul-americana