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Direito Civil: Reais

Aulas 3 e 4 – Efeitos, aquisição,


transmissão e perda da posse
Prof. Lucio Facci
1. Efeitos da posse quanto aos frutos
• Frutos são bens acessórios que saem do principal
sem diminuir a sua quantidade. Ainda que não
separados do bem principal, os frutos e produtos
podem ser objeto de negócio jurídico (art. 95).

• Não se confundem com os produtos, pois os


produtos geram a diminuição do principal e não se
reproduzem periodicamente.
 
1. Efeitos da posse quanto aos frutos
• O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos
percebidos. Os frutos pendentes ao tempo em que
cessar a boa-fé devem ser restituídos (art. 1.214).

• Possuidor de má-fé: responderá por todos os frutos


colhidos e percebidos, bem como pelos que, por
culpa sua, deixou de perceber. Todavia, terá direito
às despesas de produção e de custeio (art. 1.216). 
1. Efeitos da posse quanto aos frutos
• Aplicam-se esses efeitos para os produtos?
• Orlando Gomes: não, pois quanto aos produtos
há um dever de restituição mesmo quanto ao
possuidor de boa-fé. Os produtos, quando
retirados, desfalcam a substância do principal.
• Tartuce: aplicam-se aos produtos as regras que
vedam o enriquecimento sem causa.
2. Efeitos em relação às benfeitorias
• Benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem
móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua
utilidade.

• As benfeitorias podem ser necessárias (essenciais, pois visam à


conservação da coisa principal), úteis (aumentam ou facilitam o
uso da coisa principal) e voluptuárias (de mero luxo ou deleite,
pois facilitam a utilidade da coisa principal) – art. 96.
2. Efeitos em relação às benfeitorias
• O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando
puder fazê-lo sem detrimento da coisa (art. 1.219).
• Além disso, poderá exercer o direito de retenção (manter
o bem sob sua posse direta) pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.
2. Efeitos em relação às benfeitorias

• Ao possuidor de má-fé, serão ressarcidas somente as


benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas, nem o de levantar
as voluptuárias (art. 1.220).

• O possuidor de má-fé não tem qualquer direito de


retenção ou de levantamento.
3. Posse e responsabilidades
• A responsabilidade do possuidor de boa-fé,
quanto à coisa, depende da comprovação da
culpa (responsabilidade subjetiva) – art. 1.217.

• A responsabilidade do possuidor de má-fé é


objetiva, independentemente de culpa, a não ser
que prove que a coisa se perderia mesmo se
estivesse com o reivindicante – art. 1.218.
3. Posse e responsabilidades
• As benfeitorias compensam-se com os danos,
pela reciprocidade de dívidas: vedação do
enriquecimento sem causa (art. 1.221)

4. Posse e usucapião
• Um dos principais efeitos decorrentes da posse
consiste na aquisição da propriedade por uma
posse prolongada que preenche determinados
requisitos legais.
5. Interditos possessórios
• Interditos possessórios são as ações possessórias.

• Um dos efeitos da posse é a faculdade do possuidor propor


essas demandas para manter-se na posse ou para que essa lhe
seja restituída (art. 554, CPC).
 
• Três situações concretas que possibilitam a propositura de três
ações correspondentes (art. 1.210):
5. Interditos possessórios
• Ameaça à posse (risco de atentado à posse) = caberá ação de
interdito proibitório.

• Turbação (atentados fracionados à posse) = caberá ação de


manutenção de posse.

• Esbulho (atentado consolidado à posse) = caberá ação de


reintegração de posse.
 
5. Interditos possessórios

• Se a ameaça, a turbação e o esbulho forem velhos, com


pelo menos um ano e um dia, caberá ação de força velha
(procedimento comum).

• As ações possessórias diretas têm natureza dúplice,


cabendo pedido contraposto em favor do réu para que a
sua posse seja protegida no caso concreto (art. 556, CPC).
 
5. Interditos possessórios

• A ação possessória é a via adequada para a discussão


da posse; enquanto que a ação petitória é a via
adequada para a discussão da propriedade.

• A alegação de propriedade como oponível às ações


possessórias típicas (exceptio proprietatis) foi abolida
pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta
separação entre os juízos possessório e petitório.
Questão:
• João, em suas andanças pela cidade do Rio de Janeiro,
descobriu um apartamento em Copacabana desocupado e
anunciado para aluguel. Sem conversar com o proprietário
desse imóvel, João informou à portaria do prédio que
comprou o imóvel e entraria para tomar posse.
• Após adentrar o apartamento, João trocou as fechaduras
das portas de acesso, colocou uma banheira no banheiro
da suíte e apresentou-se a todos do prédio como novo
proprietário do imóvel.
Questão:
• R: O Sr. Pedro, verdadeiro proprietário do imóvel,
tomou conhecimento da invasão realizada por João
1 mês após o ato e contratou advogado para
realizar a proteção dos direitos sobre sua
propriedade.
• Assim, pergunta-se:
• a) Qual foi a espécie de ataque a posse? Qual o
remédio cabível para defendê-la?
Questão:
• Neste caso, aconteceu ESBULHO, vez que o
invasor retira a posse direta do proprietário.

• A forma de defesa será uma ação de


reintegração de posse do tipo “força nova”, em
razão da proteção ser feita antes de ano e dia
da perda da posse.
Questão:
• b) Em razão da ação judicial, João deverá devolver o
imóvel. Quanto à banheira instalada no apartamento, ele
terá direito de ser indenizado?
• R: Não, pois o possuidor de má-fé somente é indenizado
das benfeitorias necessárias, não havendo direito quanto
às benfeitorias voluptuárias (Art. 1.220). Ao possuidor de
má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Questão
• c) Caso, durante o período que ocupou indevidamente o
imóvel, João tenha alugado dois quartos do apartamento
para turistas em veraneio na cidade do Rio de Janeiro,
pelo valor de R$ 10.000,00. Ele poderá ficar com este
valor?
• R: Não, pois alugou bem que não era seu enquanto estava
na posse de má-fé. Assim, o Sr. Pedro terá direito de ser
indenizado por estes valores – art. 1.216: O possuidor de
má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos.
Alugueres são frutos civis.
6. Legítima defesa da posse e desforço imediato
• Constituem formas de autotutela, autodefesa ou
de defesa direta, independentemente de ação
judicial, cabíveis ao possuidor direto ou indireto
contra as agressões de terceiro.

• Requisitos: a defesa deve ser imediata e nos


limites do exercício regular do direito (sem
abuso).
7. Formas de aquisição da posse
• Adquire-se a posse desde o momento em que se
torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade
(art. 1.204).
 
• O CC/2002 preferiu não elencar as hipóteses de
aquisição da posse: adota um conceito aberto, a
ser preenchido caso a caso.
7. Formas de aquisição da posse
• Formas de aquisição originárias: contato direto
entre a pessoa e a coisa. Ex: apreensão de bem
móvel, quando a coisa não tem dono (res nullius)
ou for abandonada (res derelictae).

• Formas de aquisição derivadas: intermediação


pessoal. Ex: tradição (a entrega da coisa, principal
forma de aquisição da propriedade móvel).
7. Formas de aquisição da posse
• a) Tradição real – entrega efetiva ou material da
coisa, como ocorre na entrega do veículo pela
concessionária em uma compra e venda.

• b) Tradição simbólica – ato representativo da


transferência da coisa como, p.ex., a entrega das
chaves de um apartamento.
7. Formas de aquisição da posse
• c) Tradição ficta – se dá por presunção, em
que o possuidor possuía em nome alheio e
agora passa a possuir em nome próprio.

 Exemplo: Locatário que compra o imóvel,


passando a ser o proprietário.
8. Transmissão da posse
• A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do
possuidor com os mesmos caracteres (art. 1.206) –
princípio da continuidade do caráter da posse, até
prova em contrário.

• Havendo transmissão da posse de um imóvel (bem


principal), também haverá a transmissão dos móveis
que o guarnecem (bem acessório) – art. 1.209.
9. Perda da posse
• “Perde-se a posse quando cessa, embora contra a
vontade do possuidor, o poder sobre o bem” (art.
1.223). Cessando os atributos relativos à
propriedade, cessa a posse, que é extinta.

• Exemplos: abandono da coisa, entrega da coisa,


destruição da coisa, posse de outrem etc.
9. Perda da posse

• Pelo constituto possessório (ou cláusula constituti),


a pessoa que possuía o bem em nome próprio,
passa a possuir em nome alheio. Exemplo:
proprietário que vende imóvel e continua morando
no local como locatário.

• É forma de aquisição e perda da posse, ao mesmo


tempo.

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