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HISTÓRIA

SOCIAL Por Cinthia


CULTURAL DO Barbosa
HISTÓRIA SOCIAL
Orientados pela leitura do artigo de Hebe Matos, a respeito
da História Social e o seu desenvolvimento seja de forma mais
ampla, enquanto modalidade acadêmica, na Europa, e a sua
utilização no Brasil, na renovação da historiografia, é quase que
lugar comum como assevera a historiadora carioca, não
relacionarmos a sua difusão e estabelecimento, inclusive no
Brasil, através das influencias dos historiadores do Annales. Mas
para além desta constatação seria importante pontuarmos alguns
aspectos, que recortaremos diretamente do texto da eminente
historiadora, e que servirá para nós, neste encontro como
dimensões que instinguem a nossa leitura e reflexão a respeito da
História Social, desta forma vejamos:
HISTÓRIA SOCIAL
o Antes de ser um campo definido por uma postura historiográfica, que resulta
num alargamento do interesse histórico, construído em oposição às limitações
da historiografia tradicional, a história social passa a ser encarada como
perspectiva de síntese, como reafirmação do princípio de que, em história,
todos os níveis de abordagem estão inscritos no social e se interligam. Frente
à crescente tendência à fragmentação das abordagens historiográficas, esta
acepção da expressão é mantida por muitos historiadores como horizonte da
disciplina;

o até a primeira metade do século, ligada a três acepções diferentes.3 Acepções


que, podemos acrescentar, em grande parte ainda guardam atualidade.;

o Com especial força nas décadas de 1930 e 1940, a designação história social
aparecia vinculada a uma abordagem culturalista, com ênfase nos costumes e
tradições nacionais, em geral ligada ao pensamento conservador e produzida
relativamente à margem das posições acadêmicas mais prestigiosas
específicas dos historiadores;
HISTÓRIA SOCIAL
oNo espectro político oposto, o avanço das ideias socialistas e o
crescimento do movimento operário levou, um pouco em toda parte e
mais especificamente na Inglaterra, a que se desenvolvesse uma
história social do trabalho e do movimento socialista, frequentemente
identificada simplesmente como “história social”. Aqui é a oposição
entre “individual” e “coletivo” que distingue a história social das
abordagens anteriores. A ação política coletiva se constituiria em seu
principal objeto;

oPor último, sob o signo mais forte dos Annales, desenvolvia- se,
desde a década de 1930, uma “história econômica e social”. Apesar da
maior ênfase na história econômica, nos primeiros anos da revista, a
“psicologia coletiva” e as hierarquias e diferenciações sociais também
encontravam-se presentes. A oposição à historiografia rankiana e a
definição do social se construía, assim, a partir de uma prática
historiográfica que afirmava a prioridade dos fenômenos coletivos
sobre os indivíduos e das tendências a longo prazo sobre os eventos
na explicação histórica.
HISTÓRIA SOCIAL
“A história social em sentido restrito surgiria, assim, como abordagem que
buscava formular problemas históricos específicos quanto ao
comportamento e às relações entre os diversos grupos sociais. Formulava,
para tanto, primeiramente, problemas relativos à explicitação dos critérios
usados pelo historiador na delimitação desses grupos. As discussões sobre
a operacionalidade dos conceitos de classe social (numa perspectiva
marxista) e de estamentos sociais (numa perspectiva weberiana) na análise
histórica da sociedade francesa do Antigo Regime, e na Revolução
Francesa em particular, tenderam a monopolizar as discussões teóricas em
história social na França, na década de 1960.8 As discussões entre
funcionalistas e marxistas, no mundo anglo-saxão, consideradas adiante,
tiveram papel semelhante. Os estudos tentando circunscrever e analisar
historicamente os grupos sociais e as bases socioeconômicas (posição)
e/ou culturais (identidade) sobre as quais construíam sua individuação
social são típicos do período”. (CASTRO, 2000, p.7).
HISTÓRIA SOCIAL
 Do ponto de vista metodológico, a história social, nas décadas
de 1960 e 1970, esteve fortemente marcada, como de resto toda
a historiografia, por uma crescente sofisticação de métodos
quantitativos para a análise das fontes históricas;

 Seria enganoso, entretanto, imaginar que a história social se


tenha desenvolvido nas últimas décadas de modo harmônico e
homogêneo. A ênfase na cultura, uma relativa redução da escala
de análise e a predominância de perspectivas antropológicas em
relação às tendências sociologizantes do período anterior são
características comuns que camuflam debates e uma imensa
diversidade de objetos e abordagens.
HISTÓRIA SOCIAL
Dentre as questões que a historiadora ainda levanta, a
respeito de qual o influxo deste modelo historiográfico para a
produção nacional, ela elege três áreas, que de alguma maneira,
Hebe compreende como sendo as mais inventivas para passar a
analisar, os desdobramentos da influencia da História social na
revitalização da produção historiográfica nacional, mesmo que
percebamos que os seus exemplos são parciais, pois circunscrevem-
se aos centros dos quais ela tem domínio, que são em sua maioria,
exceto a UFBA, o sudeste do país. Tais temáticas seriam:

oHistória Social da Família;


oHistória Social do Trabalho;
oHistória Social do período Colonial e da escravidão.
O QUE É CULTURA?
O conceito de cultura foi construído através dos séculos.
Inicialmente utilizado para se referir a atividades e
técnicas agrícolas, no entanto a partir do século XIX, o
termo cultura passou a ser associado ao processo geral de
desenvolvimento “íntimo”, em oposição ao “externo”.
Cultura passou a ser ligada às artes, religião, instituições,
práticas e valores distintos e às vezes até opostos à
civilização e à sociedade. No entanto, a velha idéia de
cultura relacionada aos cultivos agrícolas, permaneceu.
CULTURA X CIVILIZAÇÃO
De acordo com Nobert Elias:
O conceito de civilização refere-se a uma grande variedade
de fatos: ao nível da tecnologia, as idéias religiosas, aos costumes.
Pode se referir a maneira como homens e mulheres vivem juntos, a
forma de punição determinada, dentre outros.
No caso de Cultura, alude basicamente a fatos intelectuais,
artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma nítida
linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos,
econômicos e sociais, por outro. Assim civilização é bem mais
abrangente, expressa o resultado de um processo, enquanto cultura
expressa uma relação diferente com o movimento.
DEFININDO HISTÓRIA
CULTURAL
Toda a historiografia voltada para o estudo da dimensão
cultural de uma determinada sociedade historicamente
localizada.(José D’Assunção Barros);

Seria decifrar a realidade do passado por meio de suas


representações, tentando chegar àquelas formas, discursivas e
imagéticas, pelos quais os homens expressaram a si próprios
e o mundo. (Sandra Jatahy Pesavento)
HISTÓRIA CULTURAL
X
HISTÓRIA DA CULTURA
Diferente da História da Cultura, a História
Cultural não se limita a examinar estilisticamente certos
objetos culturais, como se esses objetos pudessem ser
abordados de maneira autônoma, desvinculados da
sociedade que os produziu.
FASES DA HISTÓRIA
CULTURAL
Para Peter Burke pode-se dividir a História cultural nas
seguintes fases:

HISTÓRIA CULTURAL CLÁSSICA – 1800 A 1950;

HISTÓRIA SOCIAL DA ARTE – 1930 A 1940;

HISTÓRIA CULTURAL POPULAR – 1950 A 1960;

NOVA HISTÓRIA CULTURAL – A PARTIR DOS ANOS 70


INFLUÊNCIAS
SOCIOLOGIA;

FOLCLORE;

GEOGRAFIA;

ARQUEOLOGIA;

ECOLOGIA;

ANTROPOLOGIA;
CAMPOS DE
INVESTIGAÇÃO
FONTES
RELATÓRIOS/CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS,
LEGILAÇÕES, CÓDIGOS DE POSTURAS E PROCESSOS
CRIMINAIS;

CRÔNICAS DE JORNAIS, ALMANAQUES E REVISTAS;

LIVROS DIDÁTICOS, ROMANCES, POESIAS, PEÇAS


TEATRAIS;

CARTAZES DE PROPAGANDA, PUBLICIDADE,


ANUNCIOS, FOTOGRAFIAS, PINTURAS, FILMES;
ORIGENS DA NOVA
HISTÓRIA CULTURAL
Foi de dentro da vertente neomarxista inglesa e da
história francesa dos Annales que veio o impulso de
renovação, resultando na abertura desta nova corrente
historiográfica a que chamamos de história cultural ou
mesmo de nova história cultural.
OBJETOS DA HISTÓRIA
CULTURAL
Os objetos estudados pela História Cultural vão desde imagens
que o homem produz de si mesmo, da sociedade em que vive e
do mundo que o cerca, até as condições sociais de produção e
circulação de objetos de arte e literatura, englobando ainda
objetos de cultura material e ainda oriundos da cultura popular;
A História Cultural interessar-se-á, ainda pelos sujeitos
produtores e receptores de cultura;
As visões de mundo, os sistemas de valores, os modos de vida
dos diversos grupos sociais.
MÉTODO
PARADIGMA INDICIÁRIO – GINZBURG: o historiador
como um detetive;

MÉTODO DA MONTAGEM – BENJAMIN: nas múltiplas


combinações que se estabelecem revelam-se novas
explicações para a leitura do passado;

DESCRIÇÃO DENSA – ANTROPOLOGIA: explorar as


fontes nas suas possibilidades mais profundas.
PETER BURKE
(STANMORE, 1937)
A trajetória da história cultural ainda esta em progresso;

Historiadores culturais e sociais ampliam seus territórios;

 Não há uma defesa de que a história cultural é a melhor forma


de história, mas necessárias são as suas contribuições;

Qualquer que seja os resultados não se pode voltar a pura


visão positivista dos documentos históricos de uma
compreensão literal onde não se destacam os simbolismo.
ROGER CHARTIER
(LYON, 1945)
Condenação, junto com Michel de Certeau, da pretensão de
se estabelecer em definitivo relações culturais que seriam
exclusivas de formais culturais específicas e de grupos
sociais particulares;

Elaboração das noções complementares de “práticas” e


“representações”. Assim a cultura poderia ser examinada no
âmbito produzido pela relação interativa entre esses dois
pólos.
EDWARD THOMPSON
(1924-1993)
Ao romper com o Partido Comunista e organizar a Nova
Esquerda com outros intelectuais oriundos do PC, questionou os
rumos do pensamento marxista e postulou que a classe social
não poderia ter apenas fundamento econômico, mas cultural;

A experiência daria a classe uma dimensão histórica.


Experiência seria, então, uma espécie de solução prática para
que se pudesse analisar os comportamentos, os valores, as
condutas, os costumes, enfim, a cultura. Ou melhor, as culturas,
no sentido de que “cultura” se refere a uma realidade específica.
CARLO GINZBURG
(TURIM, 1939)
É preciso não tomar o mundo – ou as suas representações – na
sua literalidade, como se elas fossem o reflexo e a cópia
mimética do real. Ir além daquilo que é dito, ver além daquilo
que é mostrado é a regra de ação desse historiador detetive,
que deve exercitar seu olhar para os traços secundários, para os
detalhes, para os elementos que, sob um olhar menos arguto e
perspicaz, passariam despercebidos;

O historiador explica como foi, como aconteceu e, com a


autoridade da fala e o controle da estratégia metodológica, faz
valer sua representação sobre o passado como o discurso do
acontecido.
HISTÓRIA CULTURAL
NO BRASIL
Primeiros trabalhos na década de 1980;

Destacam-se os trabalhos da Laura de Mello e Souza sobre


feitiçaria nos tempos coloniais a partir dos processos da
Inquisição; os de Mary Del Priori sobre história das mulheres,
da infância, das festas, do cotidiano no período colonial; os de
Nicolau Sevcenko sobre história e literatura, cultura e
cotidiano no século XX; e os de Fernando Novais, que migrou
da História Econômica para os temas relacionados ao
cotidiano e à vida privada.
HISTÓRIA CULTURAL
NO BRASIL
Também tornaram-se referência as pesquisas de
vários outros autores sobre família, vida doméstica, relações
de gênero. Somam-se ainda os trabalhos de outros
historiadores que redimensionaram os estudos sobre a
escravidão no Brasil, a partir do estudo das relações entre
senhores e escravos.
HISTÓRIA CULTURAL
NO BRASIL
Uma análise do conjunto dos trabalhos acaba por demonstrar
como o foco sobre cultura, civilização e costumes – cujo
débito aos trabalhos de Norbert Elias é mais que evidente –
trouxe a emergência de novos temas e sujeitos da História,
com destaque para amplas abordagens sobre o cotidiano de
vários grupos sociais pertencentes ao mundo dos trabalho,
antes excluídos dos trabalhos históricos.
A INVENÇÃO DO
NORDESTE
A partir de agora centralizaremos as nossas observações, numa
reflexão que procura fornecer as bases para pensarmos um dos
conceitos centrais na presente disciplina, que é o de Nordeste. Ao
chamar a atenção e pensa-la, como o conceito estamos seguindo a
senda aberta e provocada pelas reflexões de Durval Muniz, vem
nos últimos 20 anos levantando, no sentido de, problematizar as
imagens e compreensões que são construídas sobre este espaço,
que a partir da década de 1920, passou a ser identificado como
Nordeste. Ao contatarmos tal perspectiva, acreditamos que se torna
um aspecto importante, elencar alguns aspectos, no processo desta
construção, que para efeito prático apresentaremos logo abaixo:
 A tese central do seu livro circula em torno da constatação
de que o Nordeste tal como representado, não se constitui
A INVENÇÃO DO NORDESTE
numa dimensão, especificamente natural, mas é fruto de uma
construção sociocultural;
 Por isto que na sua introdução o Durval questiona a existência
da região, ao realizar tal provocação, o historiador paraibano,
veicula a ideia de que tal espaço, transpõe a dimensão natural;
 Para endossar sua narrativa, ele lança mão de uma discussão
teórico-metodológica, baseada e princípios que trabalham com
o processo de esteriotipização, dizibilidade e visibilidade. Pois,
para ele a região e suas maneiras de ordenamento, não
encontram-se, decididamente, em recortes naturais. Pois eles
sofrem o impacto dos jogos de poder e interesses para se
efetivarem;
A INVENÇÃO DO NORDESTE
 Ao compreender tais recursos, Durval observar que o
Nordeste é filho de uma Geografia em ruínas;
 Diante disto, as duas primeiras linhas do capítulo,
conseguem captar bem tal perspectiva, pois “o Nordeste é
filho da ruína da antiga geografia do país, segmentada entre
“norte” e “sul”;
 Pois na confecção deste espaço, que não ocorre de maneira
espontânea, um conjunto de elementos seriam decisivos. Um
olhar regionalista, que em alguma medida, contribuísse para
produzir um olhar diferenciado para a região que surgia;
 Por isso que, Durval chama a atenção que este regionalismo
é, em grande medida fruto da compreensão de que existiam
diferenças entre as regiões;
A INVENÇÃO DO NORDESTE
 Por tal questão, o antigo regionalismo estava de alguma
maneira inscrito numa chave de leitura da realidade, dentro de
uma perspectiva naturalista, pois as variações climáticas
produziam indivíduos socioculturalmente diferenciados;
 Esta transição do século XIX para o XX, e suas primeiras
décadas é também o momento em que estava-se, procurando
estabelecer a nação, processo que já se arrastava desde o século
XIX;
 Então este período anterior a fundação do Nordeste, aponta
para vários aspectos, como por exemplo, reafirmando uma
imagem desta região como de atraso se contrastado com a
realidade do sul;
Podemos encontrar tais posicionamentos, folheando a imprensa:
A INVENÇÃO DO NORDESTE
“.... Incontestavelmente o sul do Brasil, isto é a região que vai da
Bahia até o Rio Grande do Sul, apresenta um tal aspecto de
progresso em sua vida material que forma um contraste doloroso
com o abandono em que se encontra o Norte, com seus desertos,
sua ignorância, sua falta de higiene, sua pobreza, seu servilismo”.
(p.43).
 O depoimento acima refletea maneira como a região passou a
ser veiculada na imprensa, com a enxurrada de especialistas
que começam a fornecer um discurso de contraste sobre o
Nordeste, construindo assim suas imagens, que representavam
a decadência, fruto da mudança de polo econômico, mas que
casava de alguma forma com os interesses das elites – o NE
exoticizado;
A INVENÇÃO DO NORDESTE
 Podemos vislumbrar que tal processo ocorre porque, como
sinalizou Durval, um conjunto de práticas colaboram naquilo
que podemos chamar de instituição da região, que não seria
algo, surgido de forma “espontânea”, mas como uma realidade
estruturada historicamente fruto da ação humana, que ao
mesmo tempo forjava uma sensibilidade em relação ao espaço.
Sendo assim:
“Determinadas práticas diferenciadoras dos diversos
espaços são trazidas À luz, para dar materialidade a cada
região. A escolha de elementos como o cangaço, o
messianismo, coronelismo[...] se faz em meio a uma
multiplicidade de outros fatos [...]. A escolha, porém, não é
aleatória”.(p.49).
A INVENÇÃO DO
NORDESTE
 Como Durval discute no processo de formulação da região,
é importante chamar a atenção para o lugar que tanto a
literatura regionalista quanto a definição das representações
entre norte X sul, passam a tomar seja nesta literatura ou
noutras manifestações intelectuais e artísticas.;
 Nesta constituição, onde podemos observar o dedo do
trabalho do intelectual, podemos compreender a força do
ideário regionalista, principalmente nesta transição do século
XIX para o XX, de um regionalismo de matriz mais
naturalista com relação ao maneira como o modernismo,
formularia sua compreensão das regiões, e a forma como
estas inserem-se na construção de um sentimento nacional.
Acreditamos que é importante, compreendermos como os
discursos, provocam a fundação de uma sensibilidade regional:
A INVENÇÃO DO
NORDESTE – A
LITERATURA E O OLHAR
REGIONALISTA
“O que o modernismo fez foi
“A produção regionalista do inicio
do século evidenciava o projeto incorporar o elemento regional a
naturalista-realista de fazer uma uma visibilidade e dizibilidade
literatura fiel à descrição do meio. que oscilava entre o
Meio que se diferenciava cada vez cosmopolitismo e o
mais e se tornava cada vez menos nacionalismo, superando a visão
natural com o avanço das relações exótica e pitoresca naturalista.
burguesas. Este naturalismo teria Esses elementos são
dado origem, no Brasil, a um retrabalhados ora para destruir
estilo tropical, emocional, sensual, sua diferença, ora para ressaltá-
de produzir literatura. Nossa
la a um discurso, a um texto e
literatura seria diferente da fria e
decadente literatura europeia, pela
uma imagem que os resgatasse
própria influencia que o meio e a como signos livre e soltos de
raça exerciam”. (p. 53). suas antigas espacialidades”. (p.
56)
A INVENÇÃO DO
NORDESTE – NORTE
VERSUS SUL
 Como já explanamos, anteriormente, a diferenciação regional
fruto da própria dinâmica econômica, foi gradativamente
promovendo uma olhar distinto entre as áreas que procuravam se
definir. Neste processo, autores contribuiriam para pensar tal
perspectiva – Nina Rodrigues, Oliveira Vianna – são intelectuais
que formulavam visões determinísticas sobre tais diferenças,
opondo conceitos como civilizados x não civilizados;
O ano de 1877, na visão de Durval, constitui-se num momento
elucidativo, para que possamos compreender como tal
diferenciação foi se instituindo;
De alguma medida, a partir dele é da seca atravessada por
milhares de nordestinos pobres, gerou um quadro de horrores e
mobilizou ao mesmo tempo, as elites sob tal discurso do
sofrimento.
A INVENÇÃO DO NORDESTE
– NORTE VERSUS SUL
“O discurso da seca, traçando “Já no ano de 1919, a revista
“quadros de horrores”, vai ser um dos Spartacus atacava o discurso da seca,
responsáveis pela progressiva chamando-o de “uma das mais
unificação dos interesses regionais e espantosas cavilações desses tempos
um detonador de práticas políticas e de horror e ódio” e “uma tremenda
econômicas que envolve todos “os orgia às custas da nação”. (pg. 59).
estados sujeitos a este fenômeno
climático”[...] Este discurso da seca Todo este material discursivo e
vai traçando assim uma zona de imagéticos, que colocava nos
solidariedade entre todos aqueles que holofotes a seca, o cangaço, o
colocam como porta-vozes deste messianismo e todas as nossas
espaço sofredor [...] forma o que mazelas, serão a partir da década
Freyre vai chamar de “elite regional”,
de 1920, os dispositivos necessários
capaz de sobreviver durante décadas,
com estes mesmos argumentos”.
na reconfiguração regional, fazendo
(p.59). surgir o Nordeste, apartado no
Norte.
A INVENÇÃO DO NORDESTE –
ESPAÇOS DA SAUDADE
 A afirmação que Durval apresenta na instituição do Nordeste,
enquanto, região foi a de que ela “surge na “paisagem
imaginária” do país, no final da primeira década deste século,
substituindo a antiga divisão regional do país entre Norte e Sul,
foi fundada na saudade e tradição”. (pg. 65);
 Ao chamar a atenção para tal questão, ele problematiza
conceitos como espaço, pois como já frisamos anteriormente, a
posição do historiador paraibano é de compreende-la como um
constructo imagético e discursivo, este aliás será a sua posição
ao longo de todo o capitulo, que ele nomeia de “Espaços da
Saudade”;
O termo nordeste surge inicialmente no ano de 1919, para
designar a área de atuação do IFOCS;
A INVENÇÃO DO NORDESTE
– ESPAÇOS DA SAUDADE
 A impressão da região, foi fruto das mais diversas
especialidades, que tinham como fundamento, legitimar a região.
Desta forma, ações como o livro do Nordeste, o Congresso
Regionalista, a literatura da geração de 1930 do NE, a sociologia
freyreana e dos seus discípulos, a valorização dada por Câmara
Cascudo para o estudo da Cultura e folclore, constituíram-se em
elementos fundantes da região, na qualidade de espaço identitário;
Tal formulação identitária trazem a marca da saudade e tradição,
de um tempo que foi e já não é mais. A efetivação de tal processo
“se elabora a partir de um discurso sobre e do seu outro, o sul. O
nordestes é uma invenção não apenas nortista, mas em grande
parte, uma invenção do Sul, de seus intelectuais que disputam com
os intelectuais nortistas a hegemonia no interior do discurso
histórico e sociológico”. (p.101)
A INVENÇÃO DO NORDESTE –
ESPAÇOS DA SAUDADE

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