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INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA

Wilson Liuti Costa Junior


Médico infectologista
Mestre em gestão em serviços de saúde
O que é epidemiologia
• É a ciência básica da saúde coletiva.
• Essencial para todas as ciências clínicas.
– Toda conduta em saúde deve ter por trás um
estudo epidemiológico que a sustenta.
• Aprovação de medicamentos, procedimentos, métodos
diagnósticos.
• Investigações de epidemias e surtos.
• Planejamento de campanhas de saúde.
• Definição de exames preventivos.
• Investigação de infecções hospitalares.

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O que é epidemiologia
• Definições:
– “ a abordagem dos fenômenos da saúde-doença
por meio da quantificação, usando bastante o
cálculo matemático e as técnicas estatísticas de
amostragens e de análises. É a principal ciência da
informação em saúde.”

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O que é epidemiologia
Epi = em cima, sobre. (grego)
Démos = povo.
Logos = estudo.

Ciência do que ocorre (se abate) sobre o povo.

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O que é epidemiologia
As raízes históricas se
dão pela articulação de
três elementos:

CLÍNICA

MEDICINA
ESTATÍSTICA
SOCIAL
dirigidos para
solução dos
problemas de saúde
Rouquayrol da população.
O que é epidemiologia
• A epidemiologia compreende três aspectos
principais:
1. Estudo dos determinantes de saúde-doença.
• Causas das doenças – clínica.
2. Análise das situações de saúde.
• Diagnóstico de saúde da comunidade
3. Avaliação de tecnologias e processos no campo da
saúde.
• Estudo de eficácia de processos diagnósticos e
terapêuticos.

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O que é epidemiologia
• Muitas doenças que, até recentemente, não se
encontravam explicações para suas causas,
passaram a ser melhor compreendidas a partir
da análise epidemiológica aprofundada:
– Leucemia e exposição a raio x na gestação
– TVP e uso de anticoncepcionais
– Tabagismo e câncer de pulmão
– Cegueira e deficiência de vitamina A em crianças
subnutridas.
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O que é epidemiologia

“Enquanto a clínica se dedica ao estudo da doença


no indivíduo, analisando caso a caso, a
epidemiologia debruça-se sobre os problemas de
saúde em grupos de pessoas (...) na maioria das
vezes envolvendo populações numerosas.”

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O que é epidemiologia
• A epidemiologia se baseia:
– Nas ciências sociais para compreender a estrutura e
dinâmica social.
– Na matemática para noções estatísticas de
probabilidade, inferência e estimação.
– Nas ciências biológicas para o conhecimento do
substrato orgânico humano onde as manifestações
observadas encontrarão expressão individual.
Susser, 1987.

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O que é epidemiologia
• Aspectos complementares/ práticos da epidemiologia:
– Estudo do processo saúde – enfermidade.
– Estudos particulares de ausência de saúde sob a forma de
doenças infecciosas, não infecciosas e agravos a integridade
física (causas externas).
– Conceito de risco/ proteção.
– Distribuição da ocorrências de doenças de acordo com
tempo e espaço.
– Associação entre fatores suspeitos/causais de doenças por
meio de estudos epidemiológicos.
– Aplicação da epidemiologia na organização dos serviços e
ações de saúde. – EPIDEMIOLOGIA DA SAÚDE.

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HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA
http://aves.edu.pt/tas/?p=490
Hígia ou Higeia (gr. Ὑγιεία) em Roma deusa
Panaceia (gr. Πανάκεια)
Salus
Παν- [pan-] pref. Indica os conceitos de
Ύγίεια [hygieia] s. f. Saúde; cura.
«totalidade, tudo, todo».
Ύγιής [hygies] adj. São, robusto.
Άκεω [akeo] v. Curar.
Ύγιεινή τέχνη [hygieine tekhne] s. f. Arte
de conservar a saúde.
panaceia s. f. 1. Remédio para todos os males,
físicos ou morais. 2. Aquilo que se crê que é a
higiene s. f. 1. Conjunto de práticas e
solução quase milagrosa para todos os
princípios que visam preservar e melhorar
problemas, que resolve tudo. 
a saúde.
• Desde o principio a mitologia grega já captava
o antagonismo entre:

– a medicina individual, curativa, baseada na


intervenção sobre indivíduos com manobras
físicas, encantamentos preces e uso de fármacos
X
– saúde como resultante da harmonia entre os
homens e o ambiente. Promoção da saúde por
meio de ações preventivas, mantenedoras do
equilíbrio perfeito entre os elementos
fundamentais terra, fogo, ar e água.
História da epidemiologia
• A epidemiologia nasceu com hipócrates,
evidenciado a partir de seus textos sobre as
epidemias e sobre os ambientes, por sua clara
adesão a tradição de Higéia.
• Porem seus seguidores cada vez mais
passaram a se dedicar ao atendimento
individual, mais rentável, abandonando as
práticas preventivas.

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História da epidemiologia
• Roma 201a.c. – Galeno
– Médicos eram escravos Gregos de alto valor,
comprados por alto valor pela corte romana para
receitar muitos fármacos para poucos enfermos.
– A contribuição de Roma para Epidemiologia foi a
realização de censos periódicos e de um registro
de nascimentos e óbitos.

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História da epidemiologia
• Idade Média:
– Predomínio de práticas de saúde de caráter
médico religioso.
– Ações coletivas de saúde pública aconteciam
apenas em momentos de epidemias.
– Nesta época, na sociedade árabe, houve um
resgate das práticas hipocráticas originais,
consolidando registros de informações
demográficas e sanitárias.

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História da epidemiologia
No final do século XVIII:
– Urbanização
– Revolução francesa
– Revolução industrial

• Desenvolvem-se em diversos países


intervenções estatais sobre a saúde de
populações.

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História da epidemiologia
John Snow (1813-1858):
Clínico geral e obstetra, com cargo
semelhante ao que seria o de
ministro da saúde naquela época.
É considerado por muitos autores
o pai da epidemiologia moderna.

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História da epidemiologia
• Soho, Londres, 1854.
– Epidemia de cólera, em 10 dias registrou-se mais
de 500 casos fatais de uma doença que até então
apresentava casos pontuais.
– Mentalidade médica da época sobre causalidade
de doenças = teoria miasmática. (Pasteur só iria
desenvolver a teoria bacteriológica 30 anos
depois).

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História da epidemiologia
• Soho, Londres, 1854.
– John Snow aplica métodos científicos
observacionais incipientes na época.
– Ele mapeia os pontos de distribuição de água aos
óbitos por cólera.

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• Conclusão de Snow:
• Intervenção realizada:
História da epidemiologia
• John Snow confronta a teoria miasmática e
afirma que a transmissão do cólera se dá por
via hídrica.
• 30 anos antes de Pasteur desenvolver a
teoria bacteriológica e sem microscópio.

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História da epidemiologia
• 1960: computação eletrônica.
– revolução na agilidade do desenvolvimento de estudos
epidemiológicos.
– Introdução de novos métodos estatísticos (análise
multivariada).
• 1980: Epidemiologia clínica.
• 1990: epidemiologia molecular.
• Atualidade: farmacoepidemiologia, epidemiologia
genética e epidemiologia de serviços de saúde.

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CONCEITOS BÁSICOS
Doença transmissível
• é qualquer doença causada por um agente
infeccioso específico ou seus produtos tóxicos,
que se manifesta pela transmissão deste agente
ou de seus produtos, de um reservatório a um
hospedeiro suscetível, seja diretamente de uma
pessoa ou animal infectado, ou indiretamente
por meio de um hospedeiro intermediário, de
natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do
meio ambiente inanimado.

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Doença emergente
• é uma doença transmissível cuja incidência em
humanos vem aumentado nos últimos 25 anos
do Século XX ou que ameaça aumentar em um
futuro próximo.
– Zika
– Chikungunya
– AIDS
– Ebola

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Doença reemergente
• é uma doença transmissível previamente
conhecida que reaparece como problema de
saúde pública após uma etapa de significativo
declínio de sua incidência e aparente controle.
– Febre amarela
– Tuberculose nos anos 90

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Fatores associados ao
surgimento/ressurgimento de doenças:

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Conglomerado
• Conglomerado: é a agregação rara, real ou aparente, de
eventos de saúde que estão agrupados no tempo e/ou no
espaço.
– Um conglomerado é um agrupamento de casos de um evento
relativamente pouco comum em um espaço ou um tempo definidos
em uma quantidade que se acredita ou se supõe ser maior a que
caberia esperar aleatoriamente. Teoricamente, um conglomerado
(espacial ou temporal) poderia ser a expressão inicial de um surto e,
portanto, a identificação de um conglomerado, após a respectiva
confirmação dos casos, seria a maneira mais precoce de identificar
um surto. Na prática, a busca de conglomerados, usualmente a
partir de rumores locais, pode ser uma forma de vigiar a ocorrência
de possíveis surtos subsequentes na população.

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SURTO
• Surto: é o aumento pouco comum no número de casos
relacionados epidemiologicamente, de aparecimento súbito e
disseminação localizada num espaço específico.
– Um surto é uma situação epidêmica limitada a um espaço localizado.
Como situação epidêmica, portanto, um surto é o aparecimento
súbito e representa um aumento não esperado na incidência de uma
doença. Como situação limitada, um surto implica a ocorrência num
espaço especificamente localizado e geograficamente restrito, como
por exemplo, uma comunidade, um povoado, um barco, uma
instituição fechada (escola, hospital, quartel, mosteiro).
– um surto seria a expressão inicial de uma epidemia e, portanto, a
identificação oportuna de um surto seria a maneira mais precoce de
prevenir uma epidemia subsequente.

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EPIDEMIA
• Epidemia: é a ocorrência de casos de doença
ou outros eventos de saúde com uma
incidência maior que a esperada para uma
área geográfica e períodos determinados. O
número de casos que indicam a presença de
uma epidemia varia conforme o agente, o
tamanho e o tipo de população exposta, sua
experiência prévia ou ausência de exposição à
doença, e o lugar e tempo de ocorrência.
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EPIDEMIA
• Uma epidemia é, essencialmente, um
problema de saúde pública, de grande escala,
relacionado à ocorrência e propagação de
uma doença ou evento de saúde claramente
superior à expectativa normal e que
usualmente transcende os limites geográficos
e populacionais próprios de um surto.

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EPIDEMIA
• Em geral, uma epidemia pode ser considerada como a
agregação simultânea de múltiplos surtos em uma ampla
zona geográfica e usualmente implica a ocorrência de um
grande número de casos novos em pouco tempo, claramente
maior do que o número esperado.
• Todavia, pela sua conotação de “situação de crise” em função
das metas e objetivos em saúde pública, uma epidemia não
necessariamente é definida por um grande número de casos.
– Por exemplo, no cenário de erradicação da poliomielite aguda por
poliovírus selvagem nas Américas, a ocorrência de um só caso
confirmado define-se como epidemia.

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Enfoque epidemiológico
TEMPO + LUGAR + PESSOA

• Os princípios para o estudo da distribuição dos


eventos de saúde se referem ao uso das três
variáveis clássicas da epidemiologia:
• tempo, lugar e pessoa.
– Quando?, Onde? e Quem?
• São três perguntas básicas que o epidemiologista tem que se
fazer sistematicamente para poder organizar as características
e comportamentos das doenças e outros eventos de saúde.

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Enfoque epidemiológico
• TEMPO:
– Doenças infecciosas costumam ser agudas.
– Algumas apresentam sazonalidade, permitindo
antecipar sua ocorrência e adotar ações
preventivas.
– A identificação dos eventos que ocorrem antes e
depois de um aumento na taxa de doenças
permite identificar fatores de risco.
• Exemplo: surto de leptospirose após enchentes.

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Enfoque epidemiológico
• TEMPO:
– Parte da epidemiologia descritiva consiste no
registro da ocorrência de casos de determinada
doença ao longo do tempo para predizer e
descrever seus ciclos, servindo como base para o
planejamento de ações de controle. Ou para
avaliar sua tendência secular.

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Enfoque epidemiológico
• TEMPO:
– Normalmente o acompanhamento das doenças no
tempo se dá de forma gráfica como a curva
epidêmica e o canal endêmico.
– Essa análise permite a verificação da efetividade
de intervenções em saúde.

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Exemplo de canal endêmico

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Exemplo de curva epidêmica

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Enfoque epidemiológico
• LOCAL:

– localização geográfica dos problemas de saúde é


fundamental para conhecer sua extensão e velocidade de
disseminação.
– A unidade geográfica pode ser:
• o domicílio, a rua, o bairro, o município, o estado ou outro nível de
agregação geopolítica, um serviço de saúde (Inf. Hosp.), uma empresa
(intox. Alim.), etc.
– A análise do lugar quanto a suas características físicas e
biológicas permitem gerar hipóteses sobre possíveis
fatores de risco e de transmissão.

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Enfoque epidemiológico
• LOCAL:

– Um exemplo interessante da importância do lugar na


investigação epidemiológica foi o controle de uma
epidemia de cólera em Londres, por John Snow em 1849.
Antes do surgimento da teoria bacteriológica de Pasteur.

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Enfoque epidemiológico
• PESSOA:
– A caracterização do surto pela variável pessoa
inclui a descrição da distribuição dos casos
conforme as características relevantes dos
indivíduos.
– Tipicamente, esse passo envolve a elaboração de
uma tabela resumo da distribuição dos casos por
sexo e faixa etária.

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Geração de hipóteses
• Essa fase da investigação epidemiológica de campo
demanda um esforço de síntese a partir da evidência
disponível.
• Nesse ponto, dispomos de duas fontes de evidência:
–A informação médica geral sobre as doenças e danos à
saúde (o “quê”) que poderia estar causando o surto
observado. CLÍNICA
• A informação epidemiológica descritiva,
caracterizada por tempo (o “quando”), lugar (o
“onde”) e pessoa (o “quem”) no qual ocorre o surto
em andamento. EPIDEMIOLÓGICA
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Geração de hipóteses
• Essa informação deve ser sintetizada em
hipóteses, ou seja, conjeturas plausíveis ou
explicações provisórias sobre três grandes
aspectos:
– A fonte provável do agente causal do surto.
– O modo de transmissão provável do surto.
– A exposição associada a um maior ou menor risco
de adoecer.
• Subsidiar estudos de aprofundamento e
medidas de controle.
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