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Por dentro da escola pública

A Escola por dentro

VITOR HENRIQUE PARO


Introdução

 O capítulo II deste livro tem como título central A escola por dentro: Os condicionantes internos da participação,
trazendo-nos pois o esclarecimento das condições presentes dentro da instituição escolar, explicando-nos tópicos
como: 1- a estrutura organizacional da escola em seu caráter legal; 2- a real distribuição hierárquica dos que atuam
no interior da unidade escolar; 3- os mecanismos de ação coletiva aí presentes; 4- as relações interpessoais; 5- o
atendimento aos pais e membros da comunidade.
 Resumidos todos esses tópicos centrais: 1- a estrutura formal da escola; 2- a distribuição do poder e da autoridade
no interior da escola; 2.1- sobre o exercício de autoridade na escola; 2.2- o diretor no papel de gerente.
A Estrutura Formal da Escola
 Segundo Paro, neste 1º tópico ele relata como seria uma estrutura ideal para uma instituição, esclarecendo as relações
no interior da unidade escolar, utilizando o Regimento Comum das Escolas de 1º Grau do Estado de São Paulo,
aprovado pelo Decreto nº 10.623, de 26/10/1977 (SÃO PAULO, 1977a), com as modificações posteriores, em
especial o artigo 95 do Estatuto do Magistério, Lei Complementar nº 444, de 27/11/1985 (SÃO PAULO, 1985) que
trata do conselho de escola.
 O organograma a seguir dá-nos uma aproximação da maneira como se organiza formalmente a escola pública
estadual de 1º grau no estado de São Paulo.
A Distribuição do Poder e da Autoridade no
Interior da Escola
 Neste segundo tópico, Paro primeiramente derruba toda aquela explicação sobre a estrutura escolar ideal, afirmando
que na realidade das instituições ela se torna uma ficção, partindo agora de uma forma hierárquica de se distribuir a
autoridade. Tendo no topo a direção e a vice direção que comandam os níveis intermediários do setor técnico
administrativo e os demais funcionários que ainda detém grande autoridade sobre o nível inferior, onde se encontram
no degrau mais baixo são os alunos.
 Detectando assim grandes falhas nas estruturas burocráticas, quando se trata de autoridade e poder. Paro nos traz uma
reflexão perante a frase de (WEBER, 19767, P.17) que fala que “ Poder significa a probabilidade de impor a própria
vontade” ou seja, ter poder implica dispor de certa autoridade, não sendo assim um poder exclusivo próprio, podendo
derivar de um poder exterior a ele.
 Um outro problema é que os indivíduos em posições elevadas tendem a ver seu cargo ou função como um fardo pouco
compensatório, enquanto os ocupantes de níveis inferiores ressaltam a escassez de autoridade.
Sobre o exercício da autoridade na escola
 Em relato é falado sobre a escassez de funcionários na escola e a dificuldade em substituição, que faz com que
muitas vezes uma pessoa fique responsável por tarefas demais ao mesmo tempo e desta forma não consiga
fazer atender as necessidades de forma agradável.
 Também entra em questão a falta de autonomia da escola, que por mais esforços que sejam feitos, tendo um
bom conselho escolar, não se é levado a sério, e a autonomia que falam que a escola tem na verdade não existe,
pois os superiores a instituição não possibilitam essa voz a escola e seu conselho. Como também não possibilita
ao diretor fornecimento para a execução de projetos, deixando o diretor da escola sempre “amarrado”.
 Entra em questão a falta de participação da comunidade, a democracia dentro da escola, os conflitos, a autoria
da direção, a falta de crédito no professor e entre outros assuntos.
 Em final nos traz a reflexão que é necessário sim uma democracia dentro da instituição, ninguém acima de
ninguém, todos os trabalhos se completam, porém não podemos entrar no trabalho do outro, o professor é o
professor, diretor é o diretor, pais são pais, certas coisas não se pode abrir mão pois o trabalho é seu e a decisão
também. E que sempre é esperado do diretor uma posição sobre a distribuição de autoridade, pois ele é a
autoridade máxima diante de todos que aí atuam e responsável pela unidade escolar.
O Diretor no papel de Gerente

 Neste tópico, Paro nos explica que embora o diretor pareça ter um poder ilimitado na unidade escolar, a autoridade
lhe é concedida pelo Estado, a quem ele deve prestar conta das atividades que é responsável.
 Autonomia da Escola: Tratando dessa questão, ele traz relatos de uma diretora que fala que os diretores não têm
autonomia, e que jamais, no esquema atual eles irão conseguir. Ela se referia à greve de 82 dias realizada pelo
magistério público estadual que encerrou-se sem o atendimento das reivindicações dos professores. Expondo sua
visão sobre os resultados desse movimento, deixa transparecer em sua fala como, num momento desses, o Estado
acaba por mostrar sua verdadeira face autoritária.
 A burocracia estatal: Onde o estado se faz mais visível e contundente em sua pressão sobre a escola, é na maneira
burocratizada com que se relaciona com a unidade escolar. O elemento mais notável dessa burocratização é o
acúmulo de trabalho que ela acarreta à direção e á secretaria. A diretora Maria Alice, entrevistada, justifica sua falta
de tempo para atender os pais apontando para a grande quantidade de papéis em sua mesa, e diz que está sempre
assoberbada, é recado em cima de recado.
 A supervisão de ensino: Além do pouco tempo para dedicar-se ao pedagógico, a diretora reclama da ausência se
assistência e orientação neste sentido por parte da delegacia de ensino e diz que a supervisão para eles é zero. Diz que
para exercer suas funções no âmbito pedagógico, o diretor precisaria ter o respaldo constante da delegacia de ensino,
mas que segundo ela, não se dá na prática, pois a própria ação do supervisor se restringe ao administrativo, e o
pedagógico nem se cogita.
 Sem tempo para o pedagógico: Pressionada pelas exigências burocráticas, as diretoras se preocupam mais com o
administrativo, e esta maneira de agira faz com que as pessoas da escola e até mesmo os pais, a vejam como alguém
que valoriza demais esse lado, em detrimento do pedagógico. Essas pessoas dizem que a diretora se preocupa muito
com papéis, que ela é extremamente burocrática. Outras dão apoio a sua atuação, afirmando que ela colocou as coisas
em seus devidos lugares, pois haviam profissionais atuando em cargos diferentes de suas áreas.
 Diretor: juiz e carrasco: Outro elemento que contribui para a visão que as pessoas têm da diretora, é sua postura
diante do problema da disciplina, a concepção tradicional de que o diretor é alguém para se temer. O “medo à
diretora” parece ser função muito mais do imaginário dos professores e inspetores de alunos. E na fala dos pais de
alunos também sobressai essa concepção de que o diretor é o responsável último pela ordem na escola, e tudo o que
acontece de bom ou ruim, é culpa dele, em todos os sentidos.
 Processo de escolha: Neste tópico, Paro nos mostra como os diretores são escolhidos: por meio de concursos ou por
nomeações. Nos relatos, as diretoras apoiam a seleção por concurso, elas afirmam que é justo, porque o direto deve
“ter um conhecimento para isso”, e além do exame escrito, elas defendem que houvesse uma entrevista com o
candidato e que eles passem por um período de observação.
 Prestígio e recompensa: embora seja a mais alta posição hierárquica no interior da unidade escolar, tendo um horário
flexível e um salário maior, o cargo do diretor da escola não é compensador, segundo as pessoas entrevistadas que já
ocuparam essa posição.
 O sonho acabado: Por muitos anos, Maria Alice alimentou o desejo de ver realizar-se, sob o seu comando, o ideal de
uma escola de boa qualidade e a convicção de que isso era possível a partir da dedicação e do entusiasmo, que não lhe
faltavam. Hoje, experimenta uma enorme frustração, misto da descrença diante do descaso crônico do Estado diante da
precariedade da escola e do próprio sentimento de impotência para realizar aquilo que um dia acreditou ser a sua
vocação.

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