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Urinálise

Disciplina: Análise de Fluidos Corporais


Prof. Marianna Boia
Sistema Urinário- Funções
FILTRAÇÃO DO SANGUE E PRODUÇÃO DA URINA

Função homeostática
Função excretora

Função endócrina
Renina Equilíbrio hídrico
Calcitriol Equilíbrio eletrolítico
Eritropoetina Equilíbrio ácido-básico
RELEMBRANDO…
NÉFRON – Unidade estrutural e funcional dos rins
Capilares Glomerulares
Lobo Renal
NÉFRON – Corpúsculo Renal

unífero
Túbulo urinífero
Urina - composição
• Composta principalmente por água com solutos diluídos:
• Água – 95%

• Solutos – 5%
• Produtos nitrogenados;

• Produtos inorgânicos;

• A composição e concentração pode variar de acordo com o estado metabólico,


alimentação, prática de exercícios, funções endócrinas e até posição corporal.
Principais solutos
• Ureia, aprox. 50%.
• Creatinina
• Ácido úrico
• Íons Para identificar um fluido como urina basta dosar a
• Cl (principal íon inorgânico)
-
concentração de ureia e de creatinina.
• Na+
• K+ Essas duas substâncias estão presentes em grandes
• Mg quantidades comparadas a outros fluidos.
• Ca++
• Fosfatos
• Amônia
• Sulfatos
• Outras substâncias
• Hormônios, vitaminas, xenobióticos, corpos cetônicos, bilirrubina, proteínas, glicose.
• Outros elementos
• cristais, células, cilindros, muco e bactérias.
• Frascos estéreis;
• Descartáveis;
Coleta de urina • Fornecidos pelo laboratório;
• Devem ser identificados com nome do paciente e data da coleta.
• Primeira urina pela manhã

• Urinálise
Tipos de amostra • Teste de gravidez

• Urina de 24 horas

• Estimativa de TFG

• Dosagem de elementos na urina (ex.: creatinina)

• Proteinúria ou albuminúria

• Punção suprapúbica

• Confirmação de infecções de difícil identificação

• Citologia clínica
Jato médio da primeira urina pela manhã
• Método mais comum.

• Coleta espontânea.

• Vantagens:
• fácil obtenção, pode ser realizado todos os dias, paciente adulto coleta sozinho.

• Desvantagens:
• fácil contaminação, dificuldade de alguns pacientes em seguir todos os passos da coleta.
Procedimentos
• Lavar as mãos.

• Realizar higienização genital com gaze e sabão neutro. Mulheres realizar


movimentos da frente para trás.

• Secar com gaze seca.

• Durante a coleta, para evitar que o jato encoste na pele:


• Mulheres: afastar os grandes lábios;

• Homens: afastar o prepúcio.

• Desprezar o primeiro jato no vaso, coletar o jato médio em pote estéril e


desprezar a porção final de urina no vaso.
• A coleta pode ser realizada em casa.
• A amostra deve ser refrigerada até a entrega no laboratório.

• As amostras de urina sejam coletadas no mesmo dia da análise.

• Em casos de impossibilidade de coleta da primeira urina pela manhã,


esperar 4 horas após a última micção antes de realizar a coleta.
• Deve ser relatado ao analista tal condição da amostra.

• É importante não estimular ingestão de líquidos para formação da urina,


tendo em vista que irá acarretar em diluição da urina.

• Alguns testes irão exigir que a coleta seja feita no laboratório.


TB

Transporte de urina
• Pode ser feita em temperatura ambiente desde que não ultrapasse 2 horas.

• Sob refrigeração (2 a 8°C) até 24 horas.

• Em locais quentes a recomendação é de optar por transporte refrigerado.

• A urina não deve ser congelada.

• Transporte intralaboratorial (diferentes sedes) deve ser feito em isopor, com


gelo reciclável e temperatura controlada.
Graff’s textbook fo routine of urinalysis and body fluids. 2nd ed.
Urina
Coleta de Urina
Uma enterobactéria duplica-se a cada 20 minutos.
O transporte em temperatura inadequada pode alterar significativamente a
contagem bacteriana, levando a culturas falso-positivas.

20 min 40 min 60 min 80 min 100 min 120 min 140 min

10³ = 128000
2000 4000 8000 16000 32000 64000
1000 > 105

UFC/mL
Requisitos
• Volume mínimo:
• Para exame de Urina I 12 mL (ideal) 5 mL (mínimo)

• Para urocultura (tabela)

• Conservantes utilizados
• Formalina
• Tolueno
• Timol
• Ácido bórico
• Clorexidina
• Formaldeído
Urina coletada com cateter
• Recomendado para pacientes com complicações urológicas ou neurológicas.

• Mesmo sobre assepsia rigorosa há chance da introdução de microrganismos


na bexiga via cateter (indicação médica).

• Dois tipos de coleta:


• Sondagem vesical de alívio

• Sondagem vesical de demora

(aguardar pelo menos 1 hora com cânula pinçada)


Urina coletada por punção suprapúbica
• Coleta que permite análise com maior sensibilidade e
especificidade.

• Coletada diretamente da bexiga, sem contaminação da


microbiota genital.

• Somente em situações em que há necessidade


confirmatória em casos onde a coleta regular não é
esclarecedora, especialmente em crianças.

• Recomendada para cultura de anaeróbios.


Urina coletada por saco coletor
• Somente indicado para crianças que não possuem controle
sobre o esfíncter (geralmente 2 a 3 anos).

• Maior índice de falso-positivo.

• Higienizar em casa a criança, não passar cremes nem pomadas.

• No laboratório higienizar a região genital e anal com água e sabão antes do


posicionamento do saco coletor.

• Trocar o saco coletor a cada 30 minutos, repetir a higienização a cada troca.


Análise física

Cor Aspecto Densidade

Análise química

pH Proteínas Glicose

Cetonas Sangue Bilirrubina

Nitrito Leucócitos Urobilinogênio


Cor

Amarelo claro/pálido Âmbar Marrom

Amarelo (citrino/cítrico) Laranja Preta

Amarelo escuro Vermelho Verde


Aspecto
• Límpido
• Normal
• Semi-turvo, Turvo/Opaco e Leitoso
• Não patológico
• Células epiteliais
• Muco
• Cristais
• Sêmen
• Creme/pomadas
• Patológicas
• Eritrócitos
• Leucócitos
• Bactérias
• Fungos
• Doenças sistêmicas
• Lipídios
Imagem Fonseca, K. M. N. Apresentação do CBPC/ML. Urinálise Consensos e controvérsias. 2007.
ANÁLISE QUÍMICA

• Mergulhar toda a tira reagente na amostra durante 1 a


2 segundos e remover a tira imediatamente.
• Retirar o excesso de urina passando a tira contra a
borda do recipiente e depois em um papel absorvente.
• Após o tempo estipulado pelo fabricante, os resultados
poderão ser comparados com a cartela de cores no
rótulo do frasco.
• 2005 - Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em parceria com o
Comitê Brasileiro de Análises Clínicas e Diagnóstico In Vitro publicou a NBR
15268 que tem o objetivo de descrever os procedimentos para a realização do
exame de urina no laboratório clínico.
• O Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ) fez algumas observações
relacionadas à bacteriúria.

• 2017 - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial publica o


livro: Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina
Laboratorial (SBPC/ML): Realização de exames em urina.
Sedimentoscopia – análise do sedimento
Segundo as recomendações da SBPC/ML.
Para a análise qualitativa:

1. Transferir 10 mL de urina homogeneizada para um tubo de fundo cônico.

2. Realizar a análise da tira reativa.

3. Centrifugar a amostra por 10 min a 400 x g.


Sedimentoscopia – análise do sedimento
Segundo as recomendações da SBPC/ML.
Para a análise qualitativa:
1 mL

0,200 mL
4.Descartar o sobrenadante.

5.Suspender o sedimento batendo gentilmente na base do tubo ou usando uma pipeta.

6.Colocar 1 gota do sedimento.

7.Cobrir com uma lamínula de 32 x 24 mm.


URINÁLISE
Sedimentoscopia –SEDIMENTOSCOPIA
análise do sedimento
Segundo as recomendações da SBPC/ML.
Para a análise qualitativa:

8.Avaliar 20 campos com a objetiva de 40x para células epiteliais, leucócitos e eritrócitos.

9.Avaliar 20 campos com a objetiva de 10x (ou com a de 16x) para cilindros.

10.Relatar os achados por campo calculando a média de cada elemento observado.


Como o volume ressuspenso e o volume depositado sobre a lâmina não é exato, os
resultados da análise qualitativa são aproximados.
Sedimentoscopia – análise do sedimento
Segundo as recomendações da SBPC/ML.
Para a análise quantitativa:

4.Remover exatamente 9,5 mL do sobrenadante com uma pipeta ou sistema a vácuo.

5.Suspender o sedimento batendo gentilmente na base do tubo ou usando uma pipeta.

6.Colocar 50 µl com uma micropipeta sobre a lâmina.

7.Cobrir com uma lamínula de 32 x 24 mm.


URINÁLISE
Sedimentoscopia –SEDIMENTOSCOPIA
análise do sedimento
Segundo as recomendações da SBPC/ML.
Para a análise quantitativa:

8.Avaliar 20 campos com a objetiva de 40x para células epiteliais, leucócitos e eritrócitos.

9.Avaliar 20 campos com a objetiva de 10x (ou com a de 16x) para cilindros.

10.Relatar os achados por campo calculando a média de cada elemento observado.


Observações
• Caso não seja possível realizar a contagem por conter um número muito alto de
elementos por campo, colocar no resultado como “presença maciça” do
elemento observado.
• Caso sejam observadas hemácias dismórficas ou acantócitos, com contagem
superior a 10 células por campo, relatar como “presença de dismorfismo
eritrocitário”.
• Esse achado é importante, tendo em vista sua associação com casos de hematúria de origem
glomerular.
Células
• Os tipos celulares mais comuns observados na sedimentoscopia são:
• Eritrócitos
• Para pesquisa de dismorfismo eritrocitário a 2ª urina pela manhã (2 horas após a
primeira) é a melhor amostra.
• Leucócitos
• Células epiteliais
• Escamosas
• Transicionais
• Tubulares renais
SEDIMENTOSCOPIA

Câmara de
Lâmina/lamínula Lâmina KCell
Neubauer
Câmara de Neubauer Improved
Lamínula 20 x 26 mm

Imagens: Kasvi. https://kasvi.com.br/analises-clinicas-urinalise/


Biomedicina Padrão. https://www.biomedicinapadrao.com.br/2013/10/conhecendo-camara-de-neubauer.html
Câmara de Neubauer Improved

• São utilizados os quatro quadrantes A1, A2, A3 e A4, totalizando um


volume de 0,4 µL, para contar leucócitos, hemácias e células epiteliais.
• Cada quadrante contém 16 subquadrantes, totalizando uma área de 64
subquadrantes.
• O resultado será em células/µL.

c élulas contadas em A 1, A 2, A 3 e A 4 x fator de concentra çã o


C élulas / μL=
0,4

A1 + A2 + A3 + A4 = 4 mm² x 0,1 mm = 0,4 mm³ = 0,4 µL


1 mm³ = 1 µL

Imagens: Kasvi. https://kasvi.com.br/analises-clinicas-urinalise/


K-Cell
• Descartável;
• Composta por 10 câmaras de contagem.
• Ou seja, em cada lâmina podem ser analisadas 10
amostras diferentes.
• Cada câmara contém 10 quadrados divididos em 16
quadrados menores chamados de setores.

Imagens: Kasvi. https://kasvi.com.br/analises-clinicas-urinalise/


c é lulas contadas em N quadrados x fator de concentra çã o x 10
C é lulas / μL =
N * 10­= conversão de 0,1 µl para 1 µl

Volume final ( ap ó s centrifuga çã o e descarte do sobrenadante)


Fator de Concentra çã o =
Volume inicial de urina centrifugada .
Imagens: Kasvi. https://kasvi.com.br/analises-clinicas-urinalise/
Urinálise automatizada
• Bioquímica.
• Citometria de fluxo.
• Análise de imagem digitalizada.

Análise de sedimento por imagem. Análise de tiras reativas.


Não usa reagentes. 12 parâmetros: pH, leucócitos, nitrito,
Não há contato com a amostra. proteínas, glicose, cetonas,
116 amostras/hora. urobilinogênio, bilirrubina, e eritrócitos,
Cobas U 701 Cobas U 601 densidade, cor e turbidez.
240 amostras/hora.
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Resultado em células/µl
Leucócitos
Hemácias
Foto: Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial.
Células epiteliais escamosas

• É normal encontrar algumas células epiteliais.


• A contaminação do material deve ser considerada.
• Quantidades aumentadas de células serão vistas em inflamações urinárias.
As células epiteliais tubulares renais são ligeiramente maiores que os leucócitos e contêm grandes
núcleos esféricos. Elas podem ser achatadas, cuboides ou colunares.

Número aumentado de células


epiteliais tubulares sugerem dano
tubular, o qual pode ocorrer na
pielonefrite, necrose tubular aguda,
intoxicação por salicilato e rejeição de
transplante renal.
BACTÉRIAS
Fungos
Proteína de Tamm­-Horsfall
Células epiteliais que revestem o ramo ascendente espesso
- influencia a reabsorção de NaCl e a capacidade de concentração
urinária
- modula a adesão celular e a transdução de sinal por meio de sua
interação com várias citocinas
- a inibe a agregação de cristais de oxalato de cálcio (evitando, assim, a
formação de cálculos renais) e proporciona uma defesa contra a
infecção urinária

DOENÇAS RENAIS INFLAMÁTÓRIAS cilindros urinários


Cilindro hialino
Composto por proteínas (glicoproteínas de
Tamm-Horsfall ou uromodulina) que são
secretadas pelas células epiteliais que
forram as alças de Henle, os túbulos distais
e os ductos coletores.

Ocorre em urinas ácidas e concentradas.

Estes cilindros tomam a aparência


morfológica do local onde houve deposição
das proteínas.
Cilindro granuloso
Estes cilindros são oriundos da
desintegração de cilindros celulares
que permanecem nos túbulos devido à
estase urinária, ou podendo ser
resultantes de restos de leucócitos e
bactérias.

Normalmente aparecem 1 ou 2 por


campo e são finos e grosseiros.
Cilindro Eritrocitários ou hemáticos
São cilindros que contém aglomerados
de hemácias ou hemoglobina ao seu
redor e em seu interior.

Em muitos casos está associado a


glomerulonefrite, lesões glomerulares,
tubulares e capilares renais, sendo
formados devido ao sangramento no
interior dos nefros.
Cilindro Leucocitários
Contém leucócitos ao seu redor e em
seu interior.

São indicativos de infecção ou


inflamação no interior do néfron tais
como: Pielonefrite e Glomerulonefrite.

Geralmente ocorre com esterase


leucocitária e leucocitúria.
Cristais não patológicos
• Na grande maioria das vezes a presença destes cristais é normal.
• Em pacientes que apresentam de forma intensa e persistente, pode
ser indicativo de alguma alteração metabólica.
• Hiperoxalúria;
• Hipercalciúria;
• Hiperuricosúria.
• Em geral, mesmo cristalúrias intensas não causam danos renais.
• Cristalúria associada a danos renais:
• Oxalato de cálcio associado a ácido úrico decorrente de intoxicação por
etilenoglicol.
Recomendações da SBPC/ML: Realização de exames em urina. 1ª ed. Barueri: Manole, 2017.
Cristais de urina ácida
Cristais de ácido úrico

Imagem: http://atlasdeurinalise.blogspot.com/p/cristais-na-urina.html
Cristais de urina ácida
Cristais de urato amorfo
Cristais de urina ácida
Oxalato de cálcio
Também pode estar presente em
urinas básicas.
Cristais de urina ácida
Oxalato de cálcio
Também pode estar presente em
urinas básicas.
Cristais de urinas neutras/alcalinas
Fosfato amorfo
São distribuídos em grânulos sem formato.
Cristais de urinas neutras/alcalinas
Fosfato amorfo
São distribuídos em grânulos sem formato.
Cristais de urinas neutras/alcalinas

Fosfato de cálcio
Prismas longos, finos, podendo
ou não apresentar extremidades
afiladas.
Cristais de urinas alcalinas
Fosfato triplo

Imagens: @analises_clinicas_brasil
Fosfato amorfo

Fosfato triplo

pH básico

Imagens: @analises_clinicas_brasil
Cristais anormais na urina
Cristais de urina ácida

A presença de cristais de cistina na urina


é sempre importante. Eles ocorrem em
pacientes com cistinose congênita ou
cistinúria congênita. Cristais de cistina
podem formar cálculos.
Cristais de cistina
Outros achados – cristais urina ácida
Outros achados – cristais urina básica

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