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A transvaloração dos

valores

FILOSOFIA
1º SÉRIE
A transvaloração dos
valores

 Para Nietzsche, a tendência de desconfiar dos instintos
culminou com o cristianismo, que acelerou a
domesticação do ser humano. Em diversas obras, com
seu estilo apaixonado e mordaz, Nietzsche fez uma
análise histórica da moral para mostrar em que
circunstâncias o ser humano se enfraqueceu, tornando-
se doentio. Ao criticar a moral tradicional, Nietzsche
preconizou a transvaloração de todos os valores, ou
seja, outros valores deveriam ser criados. Assim disse
a filósofa brasileira Scarlett Marton, especialista na
obra de Nietzsche:
A transvaloração dos
valores

 “A noção nietzschiana de valor opera uma subversão crítica
[...]. Se até agora não se pôs em causa o valor dos valores
‘bem’ e ‘mal’, é porque se supôs que existiram desde sempre;
instituídos num além, encontravam legitimidade num mundo
suprassensível. No entanto, uma vez questionados, revelam-
se apenas ‘humanos, demasiado humanos’; em algum
momento e em algum lugar, simplesmente foram criados.
Assim o valor dos valores está em relação com a perspectiva a
partir da qual ganharam existência. Não basta, contudo,
relacioná-los com os pontos de vista que os engendraram; é
preciso ainda investigar de que valor estes partiram para criá-
los.”
Genealogia

 Genealogia: do grego génos, “origem”, “nascimento”,
“descendência”, e lógos, “estudo”, “razão”. Em
Nietzsche, significa o questionamento da origem dos
valores

 Pelo método da genealogia, Nietzsche denuncia a


falsa moral “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”,
cujos valores seriam a bondade, a humildade, a
piedade e o amor ao próximo. Distinguiu, então, a
moral de escravos e a moral de senhores.
Moral de escravos
 De acordo com Nietzsche, a moral de escravos é herdeira do
pensamento socrático-platônico e da tradição da religião

judaico-cristã, porque está baseada na tentativa de
subjugação dos instintos pela razão: o homem-fera é
transformado em animal doméstico. Essa moral estabelece
um sistema de juízos que considera o bem e o mal valores
metafísicos transcendentes, isto é, independentes da situação
concreta vivida.
 Negando os valores vitais, a moral de escravos procura a paz
e o repouso, o que provoca passividade e diminuição de sua
potência. Na conduta humana, orientada pelo ideal ascético,
a alegria é transformada em ódio à vida, o ódio dos
impotentes, tornando-se vítima do ressentimento e da má
consciência, ou seja, com sentimento de culpa. Desse modo,
ao negar a alegria da vida, coloca a mortificação como meio
para alcançar a outra vida do além, num mundo superior.
Moral de senhores

 A moral de senhores é a moral positiva que visa à
conservação da vida e de seus instintos fundamentais. É
positiva porque apoiada no sim à vida e por se
configurar sob o signo da plenitude, do acréscimo.
Funda-se na capacidade de criação, de invenção, cujo
resultado é a alegria, consequência da afirmação da
potência.
 O indivíduo que consegue se superar é o que atingiu o
além-do-homem. O sujeito além-do-homem consegue
reavaliar os valores, desprezar os que o diminuem e
criar outros que estejam comprometidos com a vida.
Niilismo e vontade de
potência

 Com o exposto, talvez se pense que Nietzsche
chegou ao extremo de individualismo e amoralismo.
Muitos até o chamaram de niilista, para acusá-lo de
não acreditar em nada e negar os valores, o que é
impreciso. Ao contrário, o filósofo atribuía o niilismo
aos valores tradicionais de uma moral decadente,
que acomodou o ser humano na mediocridade que
uniformiza tudo.
Niilismo e vontade de
potência

 Melhor dizendo, para o filósofo prussiano, o conceito de
niilismo pode ser passivo ou ativo. O passivo exprime o
declínio da vontade de potência (ou vontade de poder),
expressão que não se confunde com a potência que visa
dominar os outros, mas designa as forças vitais, que se
encontravam entorpecidas e podem ser recuperadas pelo
indivíduo dentro de si “num dionisíaco dizer-sim ao
mundo”. Nesse sentido, a potência é virtude compreendida
como força, vigor, capacidade, autorrealização. Se essa
moral valoriza a individualidade, isso ocorre tanto para si
como para os outros, pois cada um pode ser ele mesmo
Niilismo e vontade de
potência

 Após a morte de Nietzsche, seu pensamento foi
desvirtuado e associado ao antissemitismo. A
filosofia de Nietzsche era claramente contrária ao
racismo e ao nacionalismo germânico, mas sua irmã
Elisabeth difundiu as obras com passagens
descontextualizadas, sonegando trechos que
explicitavam melhor a posição do filósofo. A
distorção da obra de Nietzsche o levou a ser
considerado, equivocadamente, inspirador de ideias
nazistas.

 Suprassensível: o que está acima de ser captado pelos sentidos.
 Além-do-homem: do alemão Übermensch, “sobre-humano”, “que
transpõe os limites do humano”. Costuma ser usado também “super-
homem”, embora o termo possa dar margem a mal-entendidos.
 Niilista: adepto do niilismo (do latim nihil, “nada”).
 Antissemitismo: corrente ou atitude política adversa aos judeus.
 Histérico: referente à histeria, manifestação psíquica ligada aos
impulsos libidinais recalcados, traduzida em sintomas corporais.
 Pulsional: relativo à pulsão. Na psicanálise, as pulsões são forças
internas que provocam tensões. Entre os diversos tipos de pulsão,
destacam-se a de natureza sexual e a de autoconservação.
 Libido: do latim libitus, “desejo”, “vontade”. Na psicanálise,
conceito de definição complexa entendido como manifestação
dinâmica da pulsão sexual na vida psíquica.
 Interdito: proibição; o que está proibido, interditado

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