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Bioquímica clínica

Lipídeos, lipoproteínas e dislipidemias

Prof.ª Esp. Maria Fernanda Godoy Costa


Lipídeos:
Os lipídeos são moléculas essenciais para o funcionamento do nosso
corpo. Eles desempenham papéis importantes na estrutura celular,
armazenamento de energia e regulação metabólica.
Lipos = gordura

Termo geral para um grupo heterogêneo de compostos


que inclui:
• Óleos
• Gorduras
• Ceras
Os lipídeos são compostos por ácidos graxos e glicerol. SÃO
INSOLÚVEIS EM ÁGUA, o que lhes permite desempenhar funções de
isolamento térmico e impermeabilidade.
Solúveis em solventes orgânicos (éter, clorofórmio e benzeno)
Entre as principais funções dos lipídios no organismo estão as
seguintes:

• Constituir a estrutura das membranas biológicas (fosfolipídios,


colesterol)
• Manter reservas de energia (triglicerídeos)
• Fornecer moléculas precursoras dos hormônios esteroidais
(colesterol) e das prostaglandinas (ácido araquidônico)
• Manter o calor corporal e servir de suporte e proteção das
vísceras (triglicerídeos).

Importante!
São substâncias orgânicas e insolúveis em água,
presentes em todos os tecidos e atuam como
hormônios ou precursores destes, como o colesterol
que pode ser precursor da VITAMINA D, CORTISOL E
TESTOSTERONA.

Guarde essa informação!


Lipídios clinicamente importantes:
Principais tipos de lipídios:
Entre os lipídios, recebem destaque os fosfolipídios, os glicerídeos, os
esteroides e os cerídeos.
Cerídeos → classificados como lipídios simples, são encontrados na cera
produzida pelas abelhas (construção da colmeia) e na superfície das folhas (cera
de carnaúba) e dos frutos (a manga). Exercem função de impermeabilização e
proteção;
Fosfolipídios → moléculas anfipáticas, isto é, possuem uma região polar (cabeça
hidrofílica), tendo afinidade por água, e outra região apolar (cauda hidrofóbica),
que repele a água;
Glicerídeos → podem ser sólidos (gorduras) ou líquidos (óleos) em temperatura
ambiente;
Esteroides → formados por longas cadeias carbônicas dispostas em quatro
anéis ligados entre si. São amplamente distribuídos nos organismos vivos,
constituindo os hormônios sexuais, a vitamina D e os esteróis (colesterol)
Os lipídios podem ser classificados em:
• Lipídios compostos, aqueles que após hidrólise rendem ácidos graxos;
entre eles estão: (a) triglicerídeos: compostos por glicerol e ácidos
graxos; (b) fosfoglicerídeos: compostos por glicerol, ácidos graxos, grupos
fosfato e grupos amino-álcool; (c) esfingolipídios: compostos por
esfingosina, ácidos graxos e outros grupos (glicídios, grupos fosfato e
amino-álcoois).

• Lipídios simples, aqueles que após hidrólise não produzem ácidos


graxos; entre eles estão: (a) esteróis: o mais importante nos animais é o
colesterol; (b) derivados de ácidos graxos com função metabólica, como
as prostaglandinas; (c) isoprenoides: vitaminas lipossolúveis A, D, E e K.

Lipídios presentes no plasma
COLESTEROL:
Constituinte de membrana, precursor de hormônios esteróides, ácidos
biliares, vitamina D, etc.
ÁCIDOS GRAXOS:
Cadeias saturadas, mono ou poliinsaturadas
TRIGLICERÍDEOS:
Forma de armazenamento e fornecimento de energia
Tecido adiposo – capacidade ilimitada (armazena quando quantidade de
calorias ingeridas excederem às utilizadas)
FOSFOLIPÍDIOS:
Constituintes estruturais de membrana
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COLESTEROL:
Componente de membrana celular (formação de novas
membranas e contínua reposição)
• Substrato para hormônios da supra renal e esteroides
(progesterona, andrógenos e corticoides)
• Componente mais importantes do fâneros cutâneos
• Síntese de vitamina D
• Metabolismo de ácidos biliares
Colesterol – fonte e obtenção
No intestino (forma livre):
Dieta: carne, gema de ovo, frutos do mar, derivados do leite
Síntese endógena 90% fígado e intestino
Secreção biliar e intestinal
Absorção:
Micelas mistas (colesterol não-esterificado, ác. graxos, monoglicerídeos,
fosfolipídios e ác. biliares conjugados)
Na célula intestinal é armazenado em quilomícrons

70 % do colesterol circulante está na forma esterificada


(ácidos graxos de cadeia longa ligados ao C-3) 8
•Lipídios presentes no plasma
• Colesterol – catabolismo no fígado
• 1- Metabolizado a sais biliares:
1/3 produção diária de colesterol
90% reabsorvidos

• 2- Secretado na forma inalterada na bile:


Solubilizado em miscelas mistas com ác. biliares e fosfolipídios
Cálculo biliar – colesterol > agentes solubilizantes

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ÁCIDOS GRAXOS:
Os ácidos graxos formam parte da estrutura da maioria dos
lipídios. São ácidos orgânicos hidrocarbonados, altamente
reduzidos, com cadeias de variado comprimento (entre 1 a 36
carbonos) e proporcionam aos lipídios seu caráter hidrofóbico.
Os ácidos graxos mais abundantes nos animais são os de 16 e
18 carbonos.
Ácidos graxos essenciais:
Os ácidos graxos essenciais encontram-se principalmente nos óleos vegetais;
sua função é diversa e não muito bem definida, participando na síntese de
prostaglandinas, substâncias com função hormonal e de leucotrienos,
substâncias relacionadas com as células de defesa. Entretanto, sua principal
função está relacionada com a integridade estrutural das membranas
biológicas, como componentes dos fosfolipídios.
Triglicerídeos:
Os triglicerídeos são os lipídios mais abundantes na natureza e estão
conformados por glicerol e três ácidos graxos, unidos mediante ligação éster.
São conhecidos também como gorduras neutras, já que não contêm cargas
elétricas e nem grupos polares.
Os triglicerídeos conformam os depósitos gordurosos no tecido adiposo animal
e nos vegetais, principalmente nas sementes, mas não fazem parte das
membranas biológicas. A principal função dos triglicerídeos é servir como
reserva de energia.
•Lipídios presentes no plasma
• Triglicerídeos
Triálcool linear + ácidos graxos
Acumulados sob forma de gordura
Principal forma de armazenamento de lipídios no tecido adiposo
Produtores de energia
Aumento no soro – aspecto turvo, leitoso

No intestino:
Ação de lipases na presença de ácidos biliares (glicerol, monoglicerideos e ácidos
graxos)
Nas células epiteliais intestinais: reunidos em triglicerídeos e acondicionados nos
QUILOMÍCRONS
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FOSFOLIPIDIOS:
Os fosfolipidios são lipídios compostos por uma molécula de glicerol,
por uma cadeia insaturada de ácido graxo e uma cadeia saturada, por
um ou dois grupos fosfato e uma molécula polar ligada a ele.
Lipoproteínas:
Após a sua absorção, na célula da mucosa intestinal, os triglicerídeos e
fosfolipídios reesterificados se combinam com uma pequena fração de
proteína para formar os QUILOMÍCRONS.
LIPOPROTEÍNAS SERVEM DE TRANSPORTE DOS
LIPÍDIOS DESDE O INTESTINO ATÉ O FÍGADO.
Além desses lipídios, os quilomícrons também carregam ésteres de
colesterol, colesterol livre, ácidos graxos livres e vitaminas lipossolúveis.
O processo de formação dos quilomícrons depende da síntese da
fração proteica pela mucosa intestinal. Nenhum dos lipídios
encontrados no plasma pode circular livremente pela corrente
sanguínea devido a sua insolubilidade em meio aquoso e para seu
transporte têm de estar unidos a lipoproteínas plasmáticas específicas.
VLDL:
As VLDL transportam triglicerídeos do fígado para os tecidos periféricos
e são sintetizadas no fígado. As LDL e IDL são geradas a partir de VLDL
no plasma por ação da enzima lipoproteína-lipase. As LDL são as
lipoproteínas que transportam maior quantidade de colesterol. As IDL,
cuja densidade está entre 1,006 e 1,019 são designadas como
importantes intermediários lipolíticos entre VLDL e LDL.
HDL:
As HDL são produzidas no fígado e transportam fosfolipídios e ésteres de
colesterol desde os tecidos periféricos até o fígado para sua excreção. As
lipoproteínas HDL e LDL transportam cerca de 90% do colesterol e dos
fosfolipídios no plasma. O colesterol plasmático no cão é transportado
igualmente por LDL (colesterol-LDL) e por HDL (colesterol-HDL). Nos
humanos, o colesterol é transportado maioritariamente por LDL, e cerca
de 20% por HDL. Esta divisão é importante, porque o aumento de
colesterol-LDL nos humanos tem sido associado com aterosclerose
(acúmulo de gordura nas artérias) e, portanto, com o risco de sofrer
problemas cardíacos, enquanto que o aumento de colesterol-HDL tem
sido associado com diminuição do risco de sofrer problemas cardíacos.
IDL:
Colesterol A lipoproteína de densidade intermediária, a IDL (sigla em
inglês), é muito semelhante ao LDL e, por isso, geralmente não é
dosada separadamente nos exames.
Normalmente, o nível de colesterol LDL que vemos no exame de perfil
lipídico é a soma da LDL com IDL.
Metabolismo dos lipídeos:
A digestão dos lipídios inicia no intestino delgado, onde os sais
biliares emulsificam as gorduras formando micelas, para facilitar a
ação das enzimas lipases. As lipases então hidrolisam as ligações
éster dos lipídios saponificáveis, liberando ácidos graxos e os outros
produtos como o glicerol, que atravessam então a mucosa
intestinal, sendo convertidos em triacilgliceróis.
FÍGADO:
O principal órgão que metaboliza os lipídios é o fígado, entretanto eles
também são metabolizados pelo coração para produção de sua própria
energia. O fígado exporta lipídios metabolizados para outros tecidos como o
cérebro na forma de corpos cetônicos, já que estes não metabolizam lipídios
mas convertem os corpos cetônicos emacetil-CoA, sendo esta metabolizada
no ciclo do ácido cítrico.
METABOLISMO DE ÁCIDOS GRAXOS:

O metabolismo dos ácidos graxos ocorre no interior da mitocôndria.


Para que eles sejam metabolizados é necessário primeiro ativalos,
transformando seu grupo carboxilato num tio-éster da CoASH. A
enzima acil-CoA sintetase inicialmente ativa o ácido graxo com uma
molécula de ATP.
No interior da mitocôndria os ácidos graxos serão oxidados em quatro
etapas, quebrando sua estrutura de dois em dois carbonos, até convertê-los
em acetil-CoA, NADH e FADH2. O acetil-CoA segue para o ciclo do ácido
cítrico e os NADH e FADH2 seguem para a fosforilação oxidativa (Figura 5).
CORPOS CETÔNICOS
Nos mamíferos, a acetil-coA formada no fígado durante a β-oxidação de
ácidos graxos pode ser exportada para outros tecidos na forma de corpos
cetônicos. São três os corpos cetônicos: acetona, acetoacetato e D-β-
hidroxibutirato . A acetona é produzida em menor quantidade, e por ser
volátil é exalada. Os outros são solúveis em água, sendo transportados pelo
sangue até os demais tecidos, onde são reconvertidos em acetil-CoA e
oxidados no ciclo do ácido cítrico
Pessoas com diabetes, em jejum prolongado, ou fazendo dietas sem
ingestão de carboidratos, produzem uma quantidade muito maior de
acetoacetato. Esse acetoacetato ao ser descarboxilado gera uma
quantidade maior de acetona que é tóxica, além de ser volátil,
provocando um odor característico no hálito do paciente. Esse odor
muitas vezes foi utilizado num pré-diagnóstico de diabetes.
DISLIPIDEMIAS:
“As dislipidemias são caracterizadas pela presença de níveis elevados
de lipídios, ou seja, gorduras no sangue. Quando estes níveis ficam
elevados, é possível que placas de gordura se formem e se acumulem
nas artérias, o que pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo
sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro.”
Classificação das Dislipidemias:
Grupo de doenças caracterizadas por elevação de lípides no organismo

Dislipidemias primárias:
• Distúrbios lipídico é de origem genética.

Dislipidemia secundárias:
• Decorrente de estilo de vida inadequado, certas condições
mórbidas, ou de medicamentos (anabolizantes, anticoncepcionais
etc.).
Outras causas secundárias comuns de dislipidemia
são:
• Diabetes mellitus
• Nefropatia crônica
• Abuso de álcool
• Hipotireoidismo
• Cirrose biliar primária e outras doenças hepáticas colestáticas
• Fármacos, como tiazidas, betabloqueadores, retinoides,
antirretrovirais, ciclosporina, tacrolimus, estrogênio e
progesterona e glucocorticoides
DISLIPIDEMIAS:
Alterações nos produtos lipídicos decorrentes de distúrbio em qualquer fase de
seus metabolismos, que ocasionam repercussões nos níveis plasmáticos das
lipoproteínas.
Consequências clínica:
• ➢ Ateroesclerose (formação de placa de ateroma ocasionada principalmente
pelos altos níveis de LDL
• circulante);
• ➢ Infarto Agudo do Miocárdio (IAM);
• ➢ Acidente Vascular Cerebral (AVC);
• ➢ Insuficiência vascular periférica.
Dislipidemias:
São alterações metabólicas decorrentes de distúrbios de qualquer fase do
metabolismo lipídico, que ocasionam repercussão nos níveis séricos das
lipoproteínas. Então por exemplo, mutações nos receptores de LDL, se tem
um distúrbio. Se a mutação for na lipoproteína lipase também, porque causa
aumento.
São classificadas em:
• Hiperlipidemias ou hiperlipoproteinemias: aumento de níveis de lípides
ou lipoproteínas, sendo as mais recorrentes e estão associadas a outras
doenças, como pancreatites.
• Hipolipidemias ou hipolipoproteinemias: redução nos níveis de lípides ou
lipoproteínas.
Sinais e sintomas da dislipidemia:
A dislipidemia, por si só, não causa sintomas, mas pode provocar doença vascular
sintomática, incluindo doença coronariana, acidente vascular cerebral e doença
arterial periférica.

• Níveis elevados de triglicerídeos > 500 mg/dL > 5,65 mmol/Lpodem causar
pancreatite aguda. Níveis muito altos de triglicerídeos também podem causar
hepatoesplenomegalia, parestesia, dispneia e confusão.

• Altas concentrações de LDL podem causar arco corneano, xantelasmas tendinosos


e xantomas tendinosos encontrados nos tendões do calcâneo, nos cotovelos e
joelhos e sobre as articulações metacarpofalangeanas. Outro achado clínico que
ocorre em pacientes com LDL alto (p. ex., na hipercolesterolemia familiar) é o
xantelasma (placas amarelas ricas em lipídios nas pálpebras mediais). Os pacientes
com cirrose biliar primária e níveis lipídicos normais podem ter xantelasma.
Diagnóstico da dislipidemia:
• Perfil de lipídios séricos (medida de colesterol total, triglicerídios e HDL colesterol
e cálculo de LDL colesterol e VLDL)
• Suspeita-se de dislipidemia em pacientes com achados físicos característicos ou
complicações de dislipidemia (p. ex., doença aterosclerótica).
• Suspeitar de distúrbios lipídicos primários quando os pacientes tiverem
• Sinais físicos de dislipidemia, como xantomas no tendão calcâneo, que são
patognomônicos para hipercolesterolemia familiar
• Início de doença aterosclerótica precoce (homens < 55 anos, mulheres < 60 anos)
• História familiar de doença aterosclerótica prematura ou hiperlipidemia grave
• Colesterol sérico > 190 mg/dL (> 4,9 mmol/L)
• A dislipidemia é diagnosticada pela medida dos lipídios séricos. As medidas de
rotina (perfil lipídico) incluem colesterol total, triglicerídios, HDL e LDL.
Testar as dislipidemias secundárias na maioria dos pacientes
com dislipidemia recém-diagnosticada e quando um
componente do perfil lipídico tiver piorado sem explicação.
Esses testes são feitos pela dosagem de:
• Creatinina
• Glicemia de jejum
• Enzimas hepáticas
• Hormônio estimulante da tireoide (TSH)
• Proteína urinária
Referências:
BRUICE, P. Y. Química Orgânica. 4ª. Ed. Pearson Prentice e Hall, São Paolo – SP, 2006. Vol. 2.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bio- química, 4ª. Edição, Editora
Sarvier, 2006, capítulo 7.
MASTROENI, M. F., GERN, R. M. M. Bioquímica: Práticas Adaptadas. Atheneu, São Paulo – SP,
2008.
PAVIA, D. L., LAMPMAN, G. M., KRIZ, G. S., ENGEL, R. G. Química Orgânica Experimental:
Técnicas de escala pequena. 2ª. Ed., Bookman, Porto Alegre - RS, 2009.
PETKOWICZ et. al. Bioquímica:Aulas Práticas. 7ª. Ed. Editora UFPR, Curitiba – PR, 2007. dos
SANTOS, P. C., BOCK, P. M. Manual Prático de Bioquímica. Ed. Universitária Metodista IPA,
Porto Alegre – RS, 2008.
VOGUEL, A.I. Química Orgânica: Análise Orgânica Qualitativa, Ed. Ao Livro Técnico S.A., Vol.
1, 2 e 3, 1971.

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