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COMPREENDER A

ARTE- PINTURA - Fases do desenvolvimento da


apreciação estética
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO
BIBLIOGRAFIA

Parsons, M. (1992). Compreender a arte. Editorial Presença.


DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO

Discutir as obras é provavelmente a coisa mais útil que podemos


fazer com as crianças além de lhe darmos materiais com que possam
pintar.

A nossa falha consiste em sermos pouco exigentes no que toca à


compreensão da arte, e em evitarmos a discussão neste domínio.
Parsons (1987, 1992) pretende compreender a arte abordando a experiência
estética do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo.

O seu livro aborda questões de psicologia, sociologia, filosofia, arte e educação.

Sendo o seu interesse central o modo como as pessoas compreendem a arte.


DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO

O autor elabora uma teoria sobre o desenvolvimento da compreensão


estética que assenta num pressuposto:

“se nos interessamos pela forma como as pessoas compreendem a


arte, isso significa que deve haver na arte algo digno de ser
compreendido” (pág. 13).
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO
A teoria do desenvolvimento da arte de Parsons (1987, 1992) assenta
em dois autores:

Kohlberg (desenvolvimento cognitivo do juízo moral)

Piaget (desenvolvimento cognitivo)

Kohlberg define seis estádios de juízo moral e Parsons define 5


estádios de desenvolvimento da apreciação estética sendo o quinto
estádio de Parsons equivalente ao 5 e 6 de Kohlberg.
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO

A arte é basicamente expressão, conhecimento e revelação, do eu.

Deste modo, as reacções à arte constituem uma “exploração implícita


do eu e da natureza humana” (pág 15).
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO

Na nossa sociedade a maioria das pessoas tem da arte uma


compreensão muito mais imperfeita do que da ciência ou da moral.
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO

Parsons (1992) tem esperança que uma teoria do desenvolvimento


estético ajude a formular mais claramente quer os objectivos quer as
estratégias pedagógicas da educação artística a todos os níveis” (pág.
15).
DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO
De acordo com Parsons (1987, 1992) existem variáveis que
interferem no desenvolvimento da apreensão estética como sejam:

1. A natureza das obras de arte com que se entra em contacto;

2. O grau em que se vê estimulado a reflectir sobre elas.


DESENVOLVIMENTO
ESTÉTICO
Parsons (1987, 1992) refere que o facto de ter vinte ou quarenta anos não
implica por si só que as pessoas mobilizem ideias do 4 e 5 estádio de
desenvolvimento estético.

É importante a experiência diversificada no domínio da arte, o contacto com


diversas obras de arte.

Contudo pode-se referir que numa idade pré-escolar as crianças mobilizam ideias
do primeiro estádio e que a maioria dos que se encontram no ensino básico
(primeiro ciclo) do segundo estádio e que alguns dos adolescentes mobilizam
ideias do terceiro estádio de desenvolvimento da apreciação estética.

A partir destas idades outros factores passam a ter um peso maior do que a idade.
Parsons (1987, 1992) organiza a sua exposição tendo por base 4 ideias:

O Tema (incluindo as ideias acerca da beleza e realismo);


A Expressão das Emoções;
O Meio de Expressão, a forma e o estilo;
A natureza dos juízos.

Cada tópico é entendido de forma distinta consoante o estádio em causa


sendo possível identificar uma versão diferente de cada ideia para cada um
dos cinco estádios de desenvolvimento.
ENTREVISTA
Descreve-me este quadro?
De que é que trata? Acha que é um bom assunto para um quadro?
Que sentimentos encontras neste quadro?
E as cores? São bem escolhidas?
E a forma (coisas que se repetem)? E a textura?
Foi difícil fazer este quadro? Quais terão sido as dificuldades?
É um bom quadro? Porquê?
QUADROS
Renoir, 1881, Le dejeuner des canotiers
Albright, 1930, Into the world came a soul called Ida
Picasso, 1936, Guernica
Klee, 1922, Cabeça de homem
George Bellows, 1924, Dempsey and Firpo
Goya, 1810-1820, Lo mismo, da série os desastres da guerra
Picasso, 1936, Cabeça de mulher chorando com mãos
Chagall, 1927, Le grand cirque
PRIMEIRO ESTÁDIO: PREFERÊNCIA
As características fundamentais do primeiro estádio são:

o gosto intuitivo pela maioria dos quadros.

uma forte atracção pela cor, o quadro é tanto melhor quanto mais cores tiver.

uma reacção ao tema do quadro constituindo numa série de associações livres.

As crianças pequenas raramente encontram defeitos nos quadros, seja qual for o tema
ou o seu estilo.

Percebem muitas vezes qual o tema do quadro, ou seja, o que nele está representado.

O traço comum é a alegre aceitação de tudo quanto lhes ocorre, sem distinção entre o
que é ou não relevante.
Não importa se são ou não figurativos desde que sejam coloridos.

É difícil imaginar um quadro mau.

Têm prazer estético.

Um quadro é considerado melhor se tiver a cor preferida.

Um quadro pode ser bom sem as cores preferidas.

Não se apercebe que a experiência dos outros é diferente da sua, os outros


vêm o que ela vê.

Não se dá conta da diferença entre os seu pensamentos e os das outras


pessoas.
Não sentem a necessidade de relacionar as partes entre si, nem de
compreender um quadro no seu todo.

A ideia de quadro esteticamente mau não tem sentido, a única forma


de ser mau é a maldade moral implícita no quadro (não distinguem as
considerações morais das estéticas).
Diálogos possíveis
PRIMEIRO ESTÁDIO:
PREFERÊNCIA

É a cor que eu mais gosto


Gosto por causa do cão. Nós temos um cão que se chama Toby.
Acho que não há quadros maus. Têm todos coisas boas.
SEGUNDO ESTÁDIO: BELEZA E REALISMO
A ideia dominante do segundo estádio é a do tema.

O segundo estádio organiza-se em torno da ideia de representação.

O objectivo fundamental da pintura é representar alguma coisa.

É certo que alguns quadros não são figurativos, mas esses não têm grande sentido.

Um quadro será tanto melhor quanto mais cativante for o tema e mais realista a
representação.

A emoção é um elemento que deve ser representado, por exemplo, num sorriso ou
num gesto; e o estilo só é apreciado do ponto de vista do realismo.

Admiramos a habilidade, a paciência e o trabalho meticuloso. A beleza, o realismo e


a habilidade do artista são os fundamentos objectivos do juízo estético.
Já reconhece o ponto de vista dos outros.
Não entender o tema é o mesmo que não saber ver um quadro.
Precisamos de saber qual é o tema para conseguir apreciar a cor ou a
expressão.
O fundamental é descobrir do que trata o quadro depois geralmente
gostamos dele.
Os melhores quadros são os que tratam de coisas belas,
representando-as de forma realista.
Gosto pelos quadros realistas.
Temos relutância em julgar um quadro porque dir-se-ia que estamos
a julgar o comportamento do artista.
Associamos as cores com a beleza e os sentimentos.
Há consciência do artista, percebem também que os artistas têm
motivos, razões para pintar.
Não estabelecem ligação entre as motivações do artista e a
expressividade do quadro.
Diálogos possíveis
SEGUNDO ESTÁDIO:
BELEZA E REALISMO

Que horror! É mesmo frio!


Acho que deve ser uma coisa bonita como uma senhora num barco,
ou dois veados na montanha.
Vê-se bem que ele pintou com todo o cuidado.
É tal e qual como se fosse a sério.
São só uns rabiscos. Até o meu irmão bebé era capaz de fazer a
mesma coisa.
TERCEIRO ESTÁDIO: EXPRESSIVIDADE

A perspectiva em torno do qual se organiza o terceiro estádio tem a ver com a


expressividade.

Observamos os quadros em função da experiência que nos podem proporcionar,


e quanto mais intensa e interessante for a experiência, melhor será o quadro.

A intensidade e o interesse garantem que a experiência é autêntica, ou seja,


verdadeiramente sentida.

O sentimento ou pensamento expresso pode ser o do artista, o do observador ou


de ambos. Em todo o caso, é sempre aquilo que é interiormente apreendido por
um individuo.
A beleza do tema escolhido torna-se secundária em relação àquilo
que se exprime.

Do mesmo modo o realismo estilístico e a mestria do artista não são


fins em si mesmo mas meios para exprimir alguma coisa.

A criatividade, a originalidade, a força de sentimentos, são agora


particularmente valorizados.
Irrelevância da beleza do tema, do realismo, e da habilidade do
artista.
Agora identificamos o tema com a expressividade do quadro.
Pretende-se que a arte diga alguma coisa acerca da humanidade.
Um tema desagradável já não é automaticamente mau.
Distinguimos entre juízos morais e estéticos.
O objectivo da pintura é a intensidade emocional e não a beleza.
O quadro reflecte o estado de espírito do artista.
Existe uma relação entre os sentimentos do artista e a expressividade
do quadro.
Compreender o quadro é perceber quais foram as intenções do
artista.
Somos capazes de detectar uma intenção expressiva nos estilos não-
realistas.
Consideramos muitas vezes que os estilos não-realistas são mais
expressivos e mais envolventes que os realistas.
O quadro é bom se, ao pintá-lo, o artista exprimir os seus
sentimentos ou cumpriu as suas intenções.
Diálogos possíveis
TERCEIRO ESTÁDIO:
EXPRESSIVIDADE
É um quadro impressionante
No fundo é tudo uma questão de sentimento. Pouco importa o que os
críticos possam dizer sobre a forma e a técnica.
Vê-se bem que o artista teve realmente pena dela.
A distorção dá mais ênfase ao sentimento do que o faria uma
fotografia.
Embora o quadro seja o mesmo cada um de nós tem dele uma
experiência diferente.
Não faz sentido dizer que é bom ou mau tudo depende do individuo.
QUARTO ESTÁDIO: ESTILO E FORMA

A nova perspectiva reside aqui no facto de se considerar que a significação


de um quadro é mais social que individual.

Integra-se numa tradição, criada por um conjunto de pessoas que ao longo do


tempo foram observando e comentando um conjunto de obras de arte.

À medida que as comentam, vão considerando determinados aspectos mais


relevantes do que outros.

A obra existe num espaço público; é possível sublinhar, de maneira


intersubjectiva, certos aspectos do seu meio de expressão, da sua forma e do
seu estilo; e assim vão corrigindo e aperfeiçoando as suas interpretações.
Existem relações entre as diversas obras - os estilos – e há uma
história da sua interpretação.

Todos estes aspectos de uma obra são públicos e podem contribuir


para definir a sua significação.

A significação da obra consiste naquilo que o grupo consegue dizer


discursivamente acerca dela, e que é mais do que aquilo que cada
pessoa é capaz de apreender individualmente num dado momento.
Uma tal perspectiva afecta boa parte das nossas ideias acerca da
pintura.

Põe a tónica na forma como o meio de expressão é explorado, na


textura, na cor, na forma, uma vez que se trata dos aspectos públicos
da obra, patentes aos olhos de toda a gente; e também no estilo e nas
relações estilísticas, pois é assim que as obras se ligam à tradição.
Considera relevante o meio de expressão, a forma e o estilo.
Descobrimos a utilidade da crítica de arte enquanto guia da nossa
percepção.
Os outros chamam a atenção para novos pormenores, estabelecem
novas relações, sugerem novas interpretações, e a obra vai-se
enriquecendo.
Um quadro é significativo porque ser relaciona com outros quadros e
com um conjunto de ideias sobre a pintura.
É a ampla comunidade em que o quadro se situa, um espaço público
maior do que os horizontes de qualquer subjectividade individual.

Os quadros são agora entendidos num contexto histórico e social.

As obras de arte só podem existir no contexto de um conjunto de


significações publicamente partilhadas através da quais as
interpretamos.
Diálogos possíveis
QUARTO ESTÁDIO:
ESTILO E FORMA
O modo como o artista aplicou aqui a tinta, de forma a deixar
transparecer a cor do fundo é magnifico!
Veja só a tristeza que há na tensão das linhas, na forma como ela
puxa o lenço.
Repare-se como a luz incide na toalha; as cores são extremamente
variadas mas apesar disso o efeito de conjunto é branco, e a
superfície da mesa não deixa de parecer plana e lisa.
Aquele rosto revela um sentido de humor subtil. A perspectiva é
basicamente frontal, mas os olhos estão representados à maneira
cubista.
O artista brinca com a representação dos olhos. Mais parecem
chávenas ou barcos, é uma metáfora visual.
QUINTO ESTÁDIO: AUTONOMIA

A perspectiva fundamental é aqui a de que o individuo deve julgar os


conceitos e valores através dos quais a tradição constrói a significação
das obras de arte.

Estes conceitos evoluem com a história, e devem ser continuamente


reajustados para se adaptarem à situação actual.

O juízo é ao mesmo tempo mais pessoal e mais fundamentalmente social.

Por outro lado, a responsabilidade do juízo pertence inevitavelmente ao


sujeito.
É importante conversar com os outros acerca das obras de arte e da
situação que com eles partilhamos.

Não conseguimos partilhar a experiência sem recorrer ao diálogo,


sem levantar em conta a reacção dos outros às mesmas obras.
Já não consideramos os juízos consagrados pela tradição: sujeitamo-
los a uma reexame pessoal.
Ao mesmo tempo que o juízo é considerado como uma
responsabilidade individual, há também uma participação clara da
necessidade de discussão e de compreensão intersubjectiva, bem
como um sentido de responsabilidade para com a comunidade na
procura da verdade.

A arte é prezada enquanto forma de levantar questões, e não


propriamente de transmitir verdades.
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
QUINTO ESTÁDIO:
AUTONOMIA

Já modifiquei várias vezes a minha opinião sobre o quadro. Dantes


achava-o de outra forma, agora consegue outra vez fazer-me vibrar.

No fundo o estilo é demasiado frouxo .....

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