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Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Contexto literário - descrever a sociedade criticamente
1.
a. V

b. V

c. F (O romance realista compraz-se na descrição pormenorizada dos espaços nos quais a


ação decorre.)

d. V

e. F (O Naturalismo deriva do Realismo, levando mais longe algumas propostas desta


corrente literária, pois pratica uma maior objetividade na descrição do real e defende uma
conceção determinista segundo a qual o comportamento das personagens deriva
diretamente de fatores como o meio, a educação e a hereditariedade.)
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo I, O Ramalhete
Antes de ler

2. A casa está morta porque não se vê luz nela, ninguém lhe bate à porta, é um lar
desfeito, vazio.

A casa está também «morta» pelo abandono a que foi votada; não existe ali o amor que a
fazia viver.
Educação literária

1. O edifício tem um nome que lembra alegria e felicidade, é o Ramalhete. Contudo, o seu
aspeto exterior não condiz com a designação: de facto, o seu aspeto geral é o de um
«sombrio casarão». O conector que instaura este contraste é a locução subordinativa
concessiva apesar de, em «apesar deste» (l. 3).

2.1 Trata-se do «palacete de família em Benfica», habitado outrora por Afonso da Maia,
depois muito tempo à venda, finalmente adquirido por um rico brasileiro.
Educação literária

2.2 Vilaça, administrador dos bens da família, nunca concordou com a venda pelo motivo
que Afonso da Maia, o proprietário, invocou: a residência de Benfica tinha visto desgraças
fortes na família. Vilaça argumentava contra esta justificação, dizendo que todas as casas
assistem a problemas das famílias que as habitam.

3.1 O primeiro argumento era relativo às despesas elevadas nas obras que teriam de ser
realizadas; o segundo, ao facto de o Ramalhete não ter espaços verdes e de Afonso e seu
neto habitarem uma quinta, sentindo, por certo, falta desses espaços; finalmente,
apresentou um argumento relativo a uma «lenda» segundo a qual o Ramalhete era um
espaço trágico para quem o habitava.
Educação literária

3.2 Trata-se do argumento segundo o qual o Ramalhete seria um espaço agoirento para os
membros dos Maias que o habitassem.

4. É um palacete com aspeto antiquado, «de paredes severas», com um rés do chão e um
«primeiro andar», no qual se abre uma série de pequenas «varandas» sobre cujas portas
existe uma fila de «janelinhas»; o aspeto geral é de um certo abandono, devido ao facto
de estar desabitado há muito. O interior revela certa riqueza nos «tetos apainelados» e
nos «frescos» das «paredes». Na parte traseira do palacete existe apenas «um pobre
quintal inculto».
Educação literária
4.1 É no «quintal inculto» que se encontram certos elementos aos quais se pode atribuir
caráter de agouro, de prenúncio de tragédia: o «cipreste«, árvore típica dos cemitérios,
associada à morte; ou «a cascatazinha seca» que, associada ao «tanque entulhado»,
funcionam como símbolos de esterilidade, pela ausência da água.

5. A focalização é omnisciente, pois o narrador conhece em pormenor toda a história do


Ramalhete, desde a sua construção no tempo de D. Maria I, até 1875, quando os Maias
vieram habitá-lo. Deverá notar-se também a focalização interna de Vilaça. É através desta
personagem que se sabe, por exemplo, da lenda segundo a qual as paredes do Ramalhete
eram sempre fatais aos Maias.
Educação literária

6. Em 1858, monsenhor Buccarini, núncio de Sua Santidade, visitara o Ramalhete com a


intenção de lá instalar a Nunciatura; em 1870, o Ramalhete servira de arrecadação a
mobílias e a loiças provenientes do palacete de família em Benfica.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo I, Pedro da Maia
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1. Tanto Manuel de Sousa Coutinho, de Frei Luís de Sousa como Carlos, de Viagens na
minha terra ou Simão Botelho, de Amor de Perdição são personagens destemidas,
generosas, corajosas, quase temerárias, que se batem em defesa de ideais (a liberdade, o
liberalismo, o amor). Estas são também qualidades que se encontram nestas figuras de
BD.
Educação literária

1. A primeira parte (até à l. 49) corresponde à vida e Pedro até ao momento em que as
suas crises posteriores à morte da mãe terminaram.
A segunda parte (l 50 até ao fim) corresponde à transformação que se operou nele depois
de começar a amar Maria Monforte.

2. Pedro da Maia é apresentado como um homem «pequenino e nervoso», herdando


estas características da mãe; era «um fraco». A personagem está pois construída com
base em características herdadas, o que é típico da estética naturalista.
Educação literária

3.1 O subtítulo de Os Maias é «Episódios da vida romântica», isto é, episódios de


personagens cuja vida é marcada principalmente pela obediência a sentimentos e
impulsos; Pedro da Maia integra-se nesta perspetiva, pois deixa-se arrastar por uma
«angústia soturna» depois da morte da mãe e a sua vida caracteriza-se então pela
inatividade; mas, pior, é daí a expressão «romantismo torpe», já que passa a frequentar
bordéis e tabernas.

4.
a. personificação
b. comparação.
Educação literária

4.1 A personificação das mãos, atribuindo-se-lhes características humanas, reforça ou


intensifica a força de quem suplicou.
A comparação sugere bem o tempo psicológico vivido por Pedro, tempo interior que
caracteriza os seus «dias taciturnos», passados na inatividade e que, por isso, nunca mais
acabavam.

5. a. e b. Em a., «tépida luz»; mistura de sensações táteis e visuais; em b., «brilho…


quente»; mistura de sensações visuais e tépidas.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo II, Paixões fatais
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1. A. Cleópatra: rainha do Egito, foi amante de Júlio César, imperador de Roma e, mais
tarde, após o seu assassinato, foi amante de Marco António, com quem se terá casado e
passado a governar o Egito. Acusado de traição por Otávio, Marco António foi derrotado
na batalha de Ácio, o que levou à morte de Cleópatra, a qual, segundo a lenda, se deixou
picar por uma serpente venenosa.
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1. B. Lucrécia Bórgia: era filha do cardeal Rodrigo Bórgia (mais tarde papa Alexandre VI).
Teve vário casamentos que terminaram por anulação ou com o assassinato dos maridos, o
que lhe terá valido a fama de envenenadora e de depravada – um boato lançado por
Giovanno Sforza, um dos seus maridos – que, humilhado por ter visto o seu casamento
anulado devido a impotência, se vingou afirmando que ela mantinha relações incestuosas
com o pai e com o irmão.
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1. C. Marilyn Monroe: foi uma atriz de Hollywood famosa pela sua beleza e sedução.
Manteve diversos relacionamentos amorosos, entre os quais com o presidente americano
John Kennedy.
A dependência de álcool e drogas, bem como diversos problemas sentimentais, tê-la-ão
levado ao suicídio em 1962.
Educação literária

1. O tempo apresenta-se «sombrio» e «de grande chuva» (l. 1).


É «dezembro». É com este mau tempo que Pedro surge em casa do pai para lhe trazer
más notícias, já que prenuncia desgraça, tragédia.

2. A dupla adjetivação «enlameado, desalinhado» (l. 3) e o advérbio «perdidamente» (l. 5)


contribuem para caracterizar expressivamente Pedro da Maia na situação trágica em que
este se encontra.
Educação literária

3. Perante o filho que lhe desobedecera e se apresenta como um marido traído,


chorando, Afonso tem uma atitude de revolta, de «grande cólera»; contudo, os
sentimentos paternais impõem-se, e Afonso acaba por beijar o filho, acariciando-o e
consolando-o.

4. Tratando-se de uma personagem romântica, isto é, que vive sob o efeito dos
sentimentos e não da razão, tratando-se de uma personagem de personalidade fraca, o
suicídio adequa-se-lhe bem.
Gramática

1.
a–4
b–1
c–2
d–3
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo III, O jantar em Santa Olávia
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1. O conceito de família presente neste cartaz reproduz o estereótipo da típica família


portuguesa, tal como é vista em França, retratado no filme A gaiola dourada: família
alargada, do avô ao neto, descontraída, vestida em trajes de classe trabalhadora,
sorridente, simpática, amante de futebol, especialmente da seleção nacional.
Educação literária

1. Afonso não permitiu que Carlos bebesse Bucelas para inculcar no neto o sentido das
regras e da força de vontade.

2.1 O riso de Afonso da Maia deriva do inesperado da resposta de Carlos. É uma resposta
cheia de comicidade: de facto, toda a gente, incluindo Afonso da Maia, esperava uma
resposta relativa a livros, disciplinas… Mas Carlos da Maia surpreende todos ao responder
num sentido muito diferente, desvendando, com a resposta, de que modo a sua educação
estava a ser conduzida.
Educação literária

3. O abade defende uma educação centrada no estudo dos clássicos greco-latinos, a


educação pela qual passavam as elites portuguesas. Afonso, influenciado pelo que vira em
Inglaterra, defende uma educação virada para o desporto e para as «coisas práticas» da
vida: esse era um modelo de educação desconhecido das elites portuguesas de então.
Brown apoia, naturalmente, Afonso, pois foi por ele chamado para dar a Carlos uma
educação moderna, à inglesa.
Educação literária

4. As elites que leriam Os Maias deveriam refletir nos dois modelos de educação
apresentados, no sentido de olharem criticamente para o português, aperfeiçoando-o
com base no que se passava no estrangeiro: é essa a intenção de Eça.

5. a. e b.: metáforas.

5.1 A primeira, «bebia as palavras», revela o enorme interessa de Afonso pelo que o neto
dizia, ouvindo-o com muita atenção; a segunda revela a felicidade do bom abade ao olhar
para Carlos depois de ter ouvido a frase engraçada por este dita.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo VI, O jantar no Hotel Central – I
Educação literária

1.1 Maria Eduarda é «uma senhora alta, loira», de «carnação ebúrnea», uma mulher de
tal beleza que parece uma «deusa», refulgente nos seus cabelos e exalando perfume. A
roupa realça as formas perfeitas do seu corpo. Maria Monforte é, tal como Maria
Eduarda, uma mulher «loura», cujos cabelos «ondeavam de leve sobre a testa», com uns
«olhos maravilhosos»; tem uma «carnação de mármore» de tom pálido: tudo isto
contribui para que, tal como Maria Eduarda, apresente um aspeto geral de mulher que
não é deste mundo – «alguma coisa de imortal e superior à Terra.»
Educação literária

2. O parágrafo descreve uma paisagem que se vê das janelas do hotel. Esta paisagem é
construída literariamente através de sensações visuais – «dia de inverno […] luminosos»,
nuvens «tocadas de cor-de-rosa», o «tom de violeta» da «outra banda», a «água luzidia»;
também as sensações táteis servem para descrever o real – «um dia de inverno suave» e
«afago do clima»; sem esquecer as gustativas – clima doce».
Educação literária

3. Personificação: «grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois


couraçados ingleses dormiam, com as mastreações imóveis, como tomados de preguiça.»
(ll. 24-26).

4. Trata-se, por um lado, de uma relação de admiração de Dâmaso em relação a Carlos –


«não despregava os olhos de Carlos.» (l. 29). Por outro, de uma relação de interesse de
Carlos relativamente a Dâmaso: tendo ficado impressionado com a mulher que viu e
constatando que Dâmaso a conhece, ele interessa-se, faz perguntas.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo VI, O jantar no Hotel Central – II
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1. O cartoon sugere que, enquanto o país (o navio) se afunda em dívidas, os náufragos (os
portugueses) discutem ferozmente, atribuindo-se culpas mútuas pelo sucedido. Ao
mesmo tempo os tubarões (os credores internacionais) rondam-nos e estão prestes a
devorá-los.
Trata-se de uma alegoria à precária situação financeira do país, nos últimos anos, e à
forma como os portugueses a encaram.
Educação literária
1. O primeiro é a questão das finanças nacionais e dos modos de financiamento:
empréstimos e impostos; o segundo é a questão da preparação ou impreparação dos
responsáveis políticos que serviam o regime inconstitucional; finalmente, a questão da
independência ou da união com Espanha.

2. A própria personalidade de Ega se caracteriza já pela veemência, pelo exagero. Neste


caso, o protesto atinge esta dimensão porque Ega aproveita para lançar as suas ideias
radicais relativas a uma revolução que destruísse o Portugal velho para dele nascer um
novo.

3. (B)
Educação literária
4. Trata-se de um momento cómico, residindo a comicidade no contraste entre a
seriedade do assunto e a trivialidade do pedido do vinho.
5. Tudo o que no texto se refere a finanças públicas é extremamente atual, dado que
ainda Portugal recorre como financiamento essencial a empréstimos e a impostos. A
própria palavra «mercados», que hoje tanto se ouve, ocorre no texto (l. 23).

6. Ironia: «Olha que brincadeira, hem!» (l. 14); metáfora: «… para beber melhor as
palavras (ll. 15-16).

7. (A) O advérbio é expressivo na medida em que revela um traço da personalidade de Ega


para caracterizar o modo como gritou: fê-lo de modo excessivo
(B) O advérbio é expressivo porque traduz bem o aspeto geral de Alencar, tristonho.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Ficha de apoio n.º 2
1. «Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...» (l. 3).

2. O Cohen afirmou que os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de
receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. Acrescentou que a
única ocupação mesmo dos ministérios era aquela – cobrar o imposto e fazer o
empréstimo. E concluiu que assim se havia de continuar.

3. Ega disse a Cohen que Portugal não necessitava de reformas, e acrescentou que do que
Portugal precisava era da invasão espanhola.

4. Havia talento, havia saber. Ega devia reconhecê-lo. Ega era muito exagerado. Não
senhor! Havia talento, havia saber.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo IX, Ega
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1. O trailer sugere que o tema tratado é o da conquista morosa.

2. Casanova é um sedutor que busca na sedução amorosa um ato de conquista para


satisfação do prazer sem compromisso, transformando a mulher em objeto desse prazer.
Para Casanova, a conquista é uma armadilha, uma aventura sem consequências,
contrariamente ao que sucede com as suas vítimas.
Educação literária

1. Este parágrafo apresenta uma descrição de um início de noite de tempestade.


Sensações auditivas permitem reconstituir o mau tempo exterior: «lufadas de vento»,
«pancadas de água». O ambiente interior está sugerido através de diferentes sensações:
«aroma de sabonete e de bom charuto» (sensação olfativa) que se sente no «ar tépido»
(sensação tátil).
As sensações visuais ocorrem ainda na sinestesia «reflexos doces», que mistura o visual
com o gustativo.
A referência a cores, como o «cetim negro» ou o «grande laço azul-claro», reforça a
presença de sensações cromáticas, logo visuais.
Educação literária

2. Uma vez mais, Eça apresenta um cenário adequado aos acontecimentos: ao mau tempo
corresponderá a má experiência de Ega e o exame de consciência de Carlos. Deste modo,
o mau tempo funciona como presságio.

3.1 Primeiramente, Carlos, perante o aspeto de Ega, fica confuso, «enfiado» mesmo,
adivinhando algo de muito desagradável; mas depois, como homem de sociedade que é,
recompõe-se para explicar a Ega as regras sociais que o impedem de desafiar um marido
traído.
Educação literária

4. Carlos, partindo das palavras de Afonso, estabelece, entre a má experiência de Ega –


uma «péssima estreia» na sociedade lisboeta – e o seu próprio caso, uma relação de
identidade, pois, se Ega veio para Lisboa cheio de grandes ideias e nada faz, com ele
sucede o mesmo.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo X, As corridas no hipódromo
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2. Ambos os oponentes pretendem vencer recorrendo a métodos ilícitos: na primeira tira,


um dos competidores ameaça os concorrentes com o chicote; nas seguintes, estes
socorrem-se da força para o travarem e vencerem a corrida. Todos os contentores têm um
conceito deturpado de competição, uma vez que consideram normal recorrer a processos
irregulares para vencer.
O recurso à fraude representa uma enorme falta de respeito para com o adversário e para
com o desporto em geral. Nas competições deve prevalecer a lealdade e não a
desonestidade.
Educação literária
1. Por exemplo, a «desordem» inicial e o tumulto final.

2.1 É através de sensações auditivas que a realidade da desordem é expressa: «vozes


sobressaltadas» (l. 1) «ele batia o pé […] gritando» (l. 15) «um sujeito […] berrava» (l. 21),
«o vozeirão do Vargas dominou tudo» (l. 29), etc.

2.2 No último parágrafo ocorrem dois advérbios que traduzem expressivamente a


sugestão da desordem – «furiosamente» (l. 40) e «espavoridamente» (l. 41).

3. Eça visou por certo demonstrar a má educação de um público que, interessado por
espetáculos provenientes do estrangeiro, se revela incapaz de se comportar
civilizadamente. O último parágrafo demonstra bem a falta de civismo geral.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo XI, Maria Eduarda
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1. A regulação dos nomes deve-se à necessidade de preservar o património cultural que


lhes está associado. Daí que se recuse “Capilupi”, mas se aceite «Melquisedeque». Mas
nos «Petis noms» a desregulação é total: António pode ser «Tó», «Toni», «Toninho» ou
«Tonecas».
Esta «desregulação» pode aceitar-se porque remete para círculos de familiaridade ou de
intimidade que não perturbam a identificação da pessoa.
Educação literária
1.1 Trata-se da afinidade entre os nomes: Maria Eduarda, Carlos Eduardo.

1.2 Esta afinidade pode indiciar destinos comuns, um poderá arrastar o outro num
destino trágico.

2.1 Na sala, Carlos observa «três belos lírios brancos» a murchar. Podem entender-se
como a passagem da inocência, simbolizada na cor branca, à morte, simbolizada no
murchar.

3. Carlos sentiu-se atraído pelo biombo, devido ao facto de ele resguardar um local de
intimidade de Maria Eduarda, no qual Carlos viu vários objetos a ela ligados – tornando-a
assim, de algum modo, presente.
Educação literária
4. Perante a «inesperada aparição» da mulher que tanto o interessava. Carlos corou
intensamente, e curvou-se perante ela, mais para esconder a vermelhidão do rosto do
que para saudar com respeito; a forte perturbação de Carlos está bem patente nas
metáforas «tumultuosa onda de sangue» e «sentia abrasar-lhe o rosto» (l. 38).

5. Carlos observa Maria Eduarda, detendo-se em sensações cromáticas ou visuais – os


«tons» (l. 48) dos cabelos, o negro dos «seus olhos», sensação cromática associada
sinestesicamente a uma gustativa, «doce» (l. 50); finalmente, misturam-se sensações de
natureza tátil, «macio», com outras de natureza cromática, «brancura» (l. 52).
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo XII, Paixão
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1. O amor é perspetivado numa relação antitética com a dor. A síntese será, portanto, a
paixão – o «fogo» que «queima». Só um amor assim, ardente, será «felicidade», que a
canção também percebe como efémera («enquanto durar»).
Educação literária
1. Era o «segredo» de ela amar Carlos.

2. Ela tentou por duas vezes comunicar algo Carlos sem o conseguir (ll. 41, 43 e 54).

2.1 Ao não conseguir dizer a Carlos o que lhe quer confessar, ao desistir mesmo de o fazer,
Maria Eduarda arrisca não contar alguma coisa de importante e vir a sofrer por isso.

3. Carlos está possuído egoisticamente pelo seu amor, por isso só pensa em si e não quer
ouvir nada de Maria Eduarda. Carlos está convencido que sabe o que ela lhe quer dizer.

4. No parágrafo que se inicia com «Carlos via-a assim tremer…» (l. 43), a metáfora é
utilizada várias vezes: o amor de Carlos «embatendo» no coração dela; o «aparente»
mármore do seu peito; «uma chama igual».
Gramática

1.1 Ela exclamou que aquilo era o seu sonho. E acrescentou que então ia ficar toda
alterada, cheia de esperanças. Perguntou quando poderia ter uma resposta.

1.2 «Era já tarde para ir aos Olivais. Mas logo na manhã seguinte, cedo, ia falar com o
dono da casa, seu amigo…». Os segmentos textuais apresentam-se no discurso indireto
sem estarem introduzidos por verbos introdutores do discurso indireto.

1.3 – É já tarde para ir aos Olivais. Mas logo na manhã seguinte, cedo, ia falar com o dono
da casa, seu amigo…
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo XIII, Carlos e Maria
Educação literária

1. Sensações olfativas: «baunilha que perfumava o ar» (ll. 7-8); sensações visuais: «relva
[…] amarelada» (l. 8), «o rio rebrilhava, vidrado de azul, […] cheio de sol», «montanhas
[…]azuladas» (ll. 12-13), «faiscação clara do céu de verão» (l. 13).

2. Maria Eduarda corou devido à sugestão de intimidade próxima, feita por Carlos.
Educação literária

3.1 A conjunção coordenativa adversativa duas vezes repetida instaura um forte contraste
entre estes parágrafos e o anterior. De facto, a momentos de felicidade despreocupada
sucedem-se agora objeções de Maria Eduarda ao espaço onde vai conhecer a intimidade
com Carlos. Estas objeções, que recaem sobre o aspeto geral do seu quarto, apontam
num sentido diferente do da felicidade inicial.

4. Estes objetos apresentam-se como indícios ou presságios de que algo de trágico vai
ocorrer. A «cabeça degolada» é um símbolo evidente de morte, e a «coruja empalhada»
olha o «leito de amor» de modo sinistro, agoirento.
Gramática
1.
a. Predicativo do complemento direto
b. Complemento do nome
c. Complemento oblíquo
d. Sujeito
e. Predicativo do sujeito

2. Todo o parágrafo reproduz através do discurso indireto livre palavras de Maria Eduarda,
sem recurso a verbos declarativos e respetiva conjunção.

3. «o quarto» (l. 42)

4. (C)
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo XVII, Tragédia
Educação literária

1. Uma vez mais, Eça prenuncia más notícias ou momentos problemáticos através de
condições meteorológicas adversas, que assim funcionam como avisos ou presságios.
Neste caso, «o «chuveiro» «mais largo» que «cantou nas vidraças» associa-se à revolta
nesse momento expressa por Carlos.

2. Afonso da Maia aparece perguntando simplesmente pelo «chapéu do Vilaça» (l. 24).
Contudo, perante o aspeto de Carlos e de Ega, entende imediatamente que algo de muito
grave se passa, apagando-se-lhe o «sorriso» (ll. 27-28).
Educação literária
3.1 A referência ao «egoísmo» de Carlos tem todo o sentido, pois Carlos deixou-se
dominar por este sentimento para tentar desvendar o que haveria de verdade na história
de Maria Eduarda, e contou tudo ao seu avô, sem cuidar dos problemas que essa história,
a ser verdadeira, lhe poderiam causar.

3.2 Trata-se da metáfora «ardente egoísmo da sua paixão» (l. 30).

4.1 Afonso da Maia, com esta pergunta, pretende assegurar-se da honestidade e


dignidade de Maria Eduarda.

4.2 A resposta unânime dos dois amigos é a caução dessa dignidade: ela de nada sabe,
nada imagina sequer…
Educação literária

5. O adjetivo «grande» tem todo o sentido, pois Afonso vê de repente a indignidade


trágica do neto. Por um lado, lembra-se certamente do suicídio do filho, ao qual
corresponde agora o suicídio moral de Carlos; por outro lado, deve sentir-se tragicamente
atingido pelo comportamento de Carlos, neto por quem ele tudo fez para que, perante as
adversidades, não fraquejasse como fraquejou. Este gesto é de caráter trágico.
Gramática

1. Complemento indireto: «te» (l. 6).

2. Trata-se das orações subordinadas substantivas completivas «que isso seja possível» (l.
11) e «que suceda a um homem como eu, como tu – numa rua de Lisboa» (ll. 11-12):
ambas têm a função sintática de complemento direto da forma verbal/elemento
subordinante «acreditas».
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Capítulo XVIII, Emoções
Educação literária

1.1 A comoção de Carlos pode derivar, desde logo, da memória do avô Afonso, que com
ele habitou o espaço no qual vai entrar; atrás dessa memória muitas outras terão vindo,
dos amigos que ali o visitaram, das ilusões que ali se desenvolveram e ali perdeu, etc…
Trata-se de um espaço com um evidente valor emotivo, simbólico e trágico, daí a forte
«comoção» sentida por Carlos.

2.1 O conector com função contrastiva é «porém» (l. 16): instaura um contraste entre
uma parte do interior do Ramalhete mobilada e marcada pelo aspeto de sempre, com
outra que nada tem, apresentando um aspeto triste, dada a nudez do espaço.
Educação literária

3. O Ramalhete, na sua nudez e tristeza interior, é um espaço idêntico ao vazio da


personagem atingida pela tragédia que é Carlos. Espaços lúgubres como a «antecâmara»,
o «amplo corredor» e o «salão nobre» simbolizam a destruição interior de Carlos.

4. Ao abrir «a porta do bilhar», Carlos está silencioso e pálido pois está a viver a visita ao
Ramalhete de modo particularmente intenso e emotivo.
Educação literária

5. O ambiente triste, desagradável e lúgubre do interior do Ramalhete está bem sugerido


através de sensações táteis e visuais. De facto, este espaço caracteriza-se agora pela
frialdade – «uma friagem regelava» (l. 24), por um lado, e pelo tom sombrio, por outro:
«um tom mais negro», «luz escassa» (l. 23).

6. A intensidade com que Carlos viveu muitos momentos, durante dois anos, no
Ramalhete, especialmente o tempo do amor com Maria Eduarda, leva a que este espaço
adquira especial valor psicológico para ele.
Eça de Queirós

“OS MAIAS”
Ficha de apoio n.º 5
1.
a. V
b. F (Afonso da Maia é uma personagem fortemente atingida por forças trágicas – tanto
no destino do filho como no do neto.)
c. V
d. F (Estas três personagens são todas destruídas, por igual, pelo Destino.)
e. V

Características trágicas dos protagonistas vistas por…


1. a – 3; b – 4; c – 1; d – 2; e – 6; f – 5

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