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Texto

poético
Lemos e escrevemos poesia porque sentimos necessidade
de extravasar os nossos sentimentos.

Nenhum texto literário nos permite, como o texto poético,


dar asas a sentimentos e emoções – ou libertar-nos deles
quando nos sufocam.
Texto poético

O que torna o texto poético tão especial?

o ritmo dos versos e a musicalidade;

a linguagem conotativa ou figurada, em que as palavras têm


um significado diferente do habitual;

as inesperadas e originais associações de ideias e palavras;

a linguagem cuidada – um vocabulário rico e variado.


Texto poético

O que é, pois, um texto poético?

É um discurso expressivo em que o sujeito poético ou o eu


lírico exprime emoções, sentimentos ou pensamentos
particularmente intensos ou conta uma história.

Nele são explorados diversos recursos linguísticos (imagens,


símbolos, recursos expressivos, rima...) que conferem sentido,
ritmo e musicalidade ao texto.
Texto poético

Elementos do texto
poético

Verso

É cada uma das linhas de um poema (independentemente do número de palavras).

Os versos de um poema produzem efeitos especiais quando se joga com o seu ritmo
(resultante da métrica, das pausas entre palavras e da alternância entre sílabas tónicas/sons
fortes e sílabas átonas/sons fracos) e com a rima (os sons em fim de verso).
Texto poético

Estrofe
Monóstico 1 verso

É um conjunto de versos, separado de outros por uma linha em Dístico 2 versos


branco e constituindo uma unidade gráfica.
Terceto 3 versos
As estrofes podem ser classificadas quanto ao número de versos
que as compõem. Quadra 4 versos

Quintilha 5 versos
Quando têm mais de 10 versos, são designadas pelo número de
versos que as compõem (estrofe de 11 versos, de 12 versos…). Sextilha 6 versos

Sétima 7 versos

Oitava 8 versos

Nona 9 versos

Décima 10 versos
Texto poético

Monossílabo 1 sílaba
Métrica
Dissílabo 2 sílabas

Um dos elementos que mais contribuem para o ritmo de um poema Trissílabo 3 sílabas
é a repetição do mesmo número de sílabas métricas ao longo do
texto. Tetrassílabo 4 sílabas

As sílabas métricas (diferentes das sílabas gramaticais) são Redondilha menor (ou
5 sílabas
contadas apenas até à sílaba tónica da última palavra do verso. pentassílabo)

Hexassílabo 6 sílabas

Redondilha maior
7 sílabas
Os versos são classificados consoante o número de sílabas (ou heptassílabo)
métricas.
Octossílabo 8 sílabas

Eneassílabo 9 sílabas

Decassílabo 10 sílabas

Hendecassílabo 11 sílabas

Dodecassílabo
12 sílabas
(ou alexandrino)
Texto poético

Métrica
há duas vogais iguais;
Uma sílaba métrica pode resultar da junção de duas
sílabas gramaticais. Esta fusão pode acontecer, por
exemplo, quando

uma palavra termina em vogal átona (fraca) e a


palavra seguinte começa também por vogal
átona (ou, por vezes, por vogal tónica).

Descalça vai pera a fonte


Lianor pela verdura;
Vai fermosa e não segura.
Camões Des/cal/ça/vai/pera a/fonte
Lia/nor/pe/la/ver/du/ra;
Vai/fer/mo/sa e/não/se/gu/ra.
Texto poético

Exemplo:
Sílaba tónica da última
palavra
U m a 3c o 4n t a5 d 6e s7o m a r
1 2 Esta quadra (estrofe de quatro versos) é
constituída por versos em redondilha maior
(versos de sete sílabas métricas). Nos versos 2 e
sensível às coisas belas 3, a última sílaba não conta para efeitos de
1 2 3 4 5 6 7
sílabas métricas.

No 3º verso, o grupo «-se a» conta apenas como

pôs-se a contar as estrelas uma sílaba métrica (junção de duas vogais


1 2 3 4 5 6 7
átonas).

numa noite de luar.


1 2 3 4 5 6 7

Manuel António Pina,


Pequeno livro de desmatemática
Texto poético

Rima A rima pode ser:

É a correspondência (igualdade ou semelhança) de


sons a partir da vogal tónica da última palavra do Consoante (ou perfeita), quando há Toante (ou imperfeita), quando a
verso, conferindo musicalidade ao texto poético. correspondência total de sons a partir da última correspondência dos sons a partir da última
vogal tónica da palavra final dos versos. vogal tónica é parcial.

Exemplo:

Uma conta de somar


Nesta quadra, há rima consoante (perfeita) nos
sensível às coisas belas
versos 1-4 (somar/luar) e rima toante (imperfeita)
pôs-se a contar as estrelas
nos versos 2-3 (belas/estrelas).
numa noite de luar.

Manuel António Pina,


Pequeno livro de desmatemática
Texto poético

Esquema rimático

O esquema rimático é o modo como as rimas são Quando os versos que rimam são combinados
organizadas nas estrofes. de forma alternada, falamos de rima cruzada
(abab).
Para identificar o esquema rimático, a cada rima é Nos versos rimados que são separados por dois ou
atribuída uma letra: a, b, c, d...
mais versos de rima diferente, a rima é interpolada
(abba ou abca).
Se os versos não rimam entre si, denominam-se versos Se os versos rimam dois a dois, a rima diz-se
brancos ou soltos. emparelhada (aabb).
Texto poético

Exemplo:

Uma conta de somar a


sensível às coisas belas b Nesta quadra, há rima interpolada (os versos 1 e 4

pôs-se a contar as estrelas b rimam entre si, sendo separados por dois versos de
rima diferente) e rima emparelhada nos versos 2 e 3
numa noite de luar. a (que rimam entre si, formando um par).

Manuel António Pina,


Pequeno livro de desmatemática
Texto poético

Exemplo:

Após um dia tristonho, a Pelo Sonho é que vamos, a


De mágoas e agonias, b comovidos e mudos. b
Vem outro alegre e risonho: a Chegamos? Não chegamos? a
São assim todos os dias. b Haja ou não haja frutos, b
pelo Sonho é que vamos. a
António Aleixo,
Este livro que vos deixo…
António Aleixo,
Este livro que vos deixo…

Nestas duas estrofes, a rima é cruzada (os versos rimam alternadamente).


Texto poético

Exemplo:

Amor é um fogo que arde sem se ver, a É querer estar preso por vontade; c
é ferida que dói, e não se sente; b é servir a quem vence, o vencedor; d
é um contentamento descontente, b é ter com quem nos mata, lealdade. c
é dor que desatina sem doer. a
Mas como causar pode seu favor d
É um não querer mais que bem querer; a nos corações humanos amizade, c
é um andar solitário entre a gente; b se tão contrário a si é o mesmo Amor? d
é nunca contentar-se de contente; b
é um cuidar que ganha em se perder. a

Este poema tem rima interpolada e emparelhada nas quadras e rima cruzada
nos tercetos.
Texto poético

Refrão

É o verso ou o conjunto de versos que se repete ao longo do


poema, geralmente, em final de estrofe. Nem todos os poemas têm
refrão.

Além de reforçar ideias num poema, o refrão contribui para a


musicalidade do texto poético.
Texto poético

Exemplo:

Descalça vai pera a fonte Descobre a touca a garganta,

Lianor pela verdura; Cabelos de ouro entrançado

Vai fermosa e não segura. Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta.

Leva na cabeça o pote, Chove nela graça tanta,

O testo nas mãos de prata, Que dá graça à fermosura.

Cinta de fina escarlata, Vai fermosa e não segura.

Sainho de chamelote; Camões, Rimas

Traz a vasquinha de cote,

Mais branca que a neve pura.

Vai fermosa e não segura.


Recursos expressivos

A linguagem figurada e as inesperadas e originais associações


de ideias, palavras e sons são conseguidas pela utilização de
recursos expressivos.

Estes mecanismos textuais conferem beleza


à linguagem e expressividade às ideias.
Texto poético

Recursos expressivos

Anáfora Comparação Enumeração

Relação de semelhança entre dois elementos,


Repetição de uma palavra ou conjunto de através da palavra «como» ou de expressões como Apresentação sucessiva de elementos associados a
palavras no início de cada verso ou frase. «assemelhar-se a», «parecer-se com» e «(fazer) uma ideia e que, em geral, pertencem à mesma

lembrar», entre outras. classe gramatical.

Ex.: «Amor é um fogo que arde sem se ver, / é Ex.: «São como um cristal, / as palavras.» Ex.: «A minha vida é o mar o abril a rua.»
ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento
descontente, / é dor que desatina sem doer.» (Eugénio de Andrade) (Sophia de Mello Breyner)

(Camões)
Texto poético

Recursos expressivos

Hipérbole Metáfora Onomatopeia

Relação de semelhança entre duas realidades que,


Exagero (por excesso ou defeito) de uma embora sejam diferentes, apresentam algo em Palavra que reproduz um som ou um ruído,
realidade. comum que permite aproximá-las. imitando um som da realidade.

Ex.: Estou a morrer de sede. Exs.: O Lourenço é uma joia. Exs.: tic-tac, triiim, truz-truz, zás.

E tem umas mãos de ouro!


Texto poético

Recursos expressivos

Trocadilho Personificação Pleonasmo

Jogo de palavras (com o seu som,


significado…) que põe em evidência uma Atribuição de propriedades humanas a animais, Uso de palavras ou expressões que
relação entre dois ou mais termos, sugerindo objetos ou entidades abstratas. repetem/reforçam uma ideia já expressa.
sentidos ambíguos.

Ex.: «Criticar um mestre-de-obras é uma obra-de-mestres» Ex.: «Como os rijos carvalhos me acenaram» Ex.: «Vi, claramente visto, o lume vivo.»
(Aquilino Ribeiro)
(Miguel Torga) (Camões)
Texto poético

Analisar um texto poético


1 Pelo Sonho é que vamos,
(«O Sonho», de Sebastião da Gama, in Pelo Sonho é que comovidos e mudos.
vamos, Ática, 1992.)
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
5 pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.


[Indicar o número de estrofes e classificá-las quanto Basta a esperança naquilo
ao número de versos] que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
O poema é constituído por quatro estrofes: a primeira
10 com a mesma alegria,
é uma quintilha (estrofe de cinco versos); a segunda é
uma sétima (estrofe de sete versos); a terceira e a ao que desconhecemos
quarta são monósticos (estrofes de um verso). e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

– Partimos. Vamos. Somos.


Texto poético

Analisar um texto poético


1 Pe/lo/ So/nho é/ que/ va/mos,
(«O Sonho», de Sebastião da Gama, in Pelo Sonho é que co/mo/vi/dos/ e/ mu/dos.
vamos, Ática, 1992.)
Che/ga/mos?/ Não/ che/ga/mos?
Ha/ja ou/ não/ ha/ja fru/tos,
5 pe/lo So/nho é/ que/ va/mos.

Basta a fé no que temos.


[Classificar os versos quanto Basta a esperança naquilo
ao número de sílabas métricas]
que talvez não teremos.
As estrofes são constituídas por versos Basta que a alma dêmos,
hexassilábicos (de seis sílabas métricas). 10 com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?

– Partimos. Vamos. Somos.


Texto poético

Analisar um texto poético


1 Pelo Sonho é que vamos,
(«O Sonho», de Sebastião da Gama, in Pelo Sonho é que comovidos e mudos.
vamos, Ática, 1992.)
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
5 pelo Sonho é que vamos.

[Referir o esquema rimático e os tipos de rima]


Basta a fé no que temos.
A primeira estrofe, que segue o esquema
Basta a esperança naquilo
rimático ababa, apresenta rima cruzada.
que talvez não teremos.
A segunda estrofe apresenta rima mista (não segue um Basta que a alma dêmos,
esquema rimático). com a mesma alegria,
10

Existe rima consoante ou perfeita ao que desconhecemos


(versos 1, 3 e 5; versos 6, 8, 9 e 11; e ao que é do dia a dia.
versos 10 e 12) e rima toante
ou imperfeita (versos 2 e 4). Chegamos? Não chegamos?

– Partimos. Vamos. Somos.


Texto poético

Analisar um texto poético


1 Pelo Sonho é que vamos,
(«O Sonho», de Sebastião da Gama, in Pelo Sonho é que comovidos e mudos.
vamos, Ática, 1992.)
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
5 pelo Sonho é que vamos.

[Explicar
[Explicar oo sentido
sentido dos
dos versos]
versos] Basta a fé no que temos.
[Explicar o sentido dos versos]
2.ª Basta a esperança naquilo
1.ª estrofe:
estrofe: ÉOpreciso
sujeitoapenas
poéticoque: acreditemos
afirma em nós;
que é muito
3.ª e 4.ª estrofes: Os dois versos finais, que talvez não teremos.
importante sonhar, ter aspirações.
(2) tenhamos esperança
separados/destacados de concretizar
graficamente o sonho, mesmo
do resto
Basta que a alma dêmos,
dosem
Ter aa esperança
poema,certeza de de
o conseguir;
expressam as ideiasum
alcançar mais importantes, que
sonho
10 com a mesma alegria,
devemos reter: nessa
e perseverar não importa
busca é ainda mais importante do
(3) nos entreguemos com alma e entusiasmo tanto ao ao que desconhecemos
se que
conseguimos ou nãodesse
a concretização concretizar o nosso sonho;
desconhecido como
devemos tentar eou
sonho («Haja perseverar, pois sonhar
não haja frutos,», permite que nos
v. 4).
e ao que é do dia a dia.
ao que nos é familiar.
realizemos e encontremos um sentido para a nossa
A dupla adjetivação («comovidos e mudos», v. 2)
A anáfora(«–
existência «Basta» (v. 6,
Partimos. 7 e 9) Somos.»,
Vamos. destaca v. 14). Chegamos? Não chegamos?
realça a ideia de que nos devemos entregar
as três condições necessárias ao sonho.
totalmente a esta busca.
– Partimos. Vamos. Somos.
Texto poético

Consolido
Texto poético

1. Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

Um monóstico é uma estrofe de nove versos.


A SOLUÇÃO
Falsa. Um monóstico é uma estrofe de um verso.

Um verso em redondilha maior é composto por cinco sílabas métricas.


B SOLUÇÃO
Falsa. Um verso em redondilha maior é composto por sete sílabas métricas.

A rima diz-se consoante quando há correspondência total de sons a partir da última vogal
C tónica da palavra final dos versos; é toante quando esta correspondência é parcial. SOLUÇÃO
Verdadeira.

Na rima interpolada, há dois versos que rimam de forma alternada.


D SOLUÇÃO
Falsa. Na rima interpolada, dois versos rimados são separados por dois ou mais versos de rima diferente.
Texto poético

Lê a estrofe do poema «Maria Lisboa», de David Mourão-Ferreira, e seleciona, em cada frase, a opção correta.
2.
É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata.
Na canastra, a caravela;
no coração, a fragata.

Sendo composta por quatro versos, a estrofe denomina-se


A - terceto / quadra / quintilha SOLUÇÃO

Como demonstra claramente o verso 2, esta estrofe é composta por versos


B - hexassilábicos / heptassilábicos (redondilha maior) SOLUÇÃO

A estrofe apresenta rima


C - consoante ou perfeita / toante ou imperfeita SOLUÇÃO

Os versos seguem o esquema rimático abab.


D Por isso, a rima é SOLUÇÃO
- emparelhada / cruzada / interpolada / mista

Solução A: quadra Solução B: heptassilábicos (redondilha maior) Solução C: consoante ou perfeita Solução D: cruzada
Texto poético

3. Associa cada definição ao recurso expressivo respetivo. (Atenção: há recursos a mais.)

Anáfora – Onomatopeia – Hipérbole – Metáfora – Enumeração – Pleonasmo – Comparação

A Exagero (por excesso ou defeito) de uma realidade. SOLUÇÃO

B Uso de palavras ou expressões que repetem/reforçam uma ideia já expressa. SOLUÇÃO

Apresentação sucessiva de elementos que, em geral, pertencem à mesma classe gramatical.


C SOLUÇÃO

D Repetição de uma ou mais palavras em início de versos ou frases. SOLUÇÃO

E Relação de semelhança entre duas realidades que permite aproximá-las. SOLUÇÃO

Solução A: Hipérbole Solução B: Pleonasmo Solução C: Enumeração Solução D: Anáfora Solução E: Metáfora

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