Você está na página 1de 2
‘dem Jedicos 35 Joiio Ribeiro ideo No se trata de um artigo, de opiniao, mas de um artigo de discriminacio dirigida a gays € lésbicas © cujos Gnicos con- telidos sfo comentirios bir bares, jignorantes, arbitririos fe sem qualquer fundamento lentifico ou sequer argumen- ‘tagio racional. Tratase de um ‘texto que manifesta profundo desprezo pela dignidade de vi- das humanas e que considero incompativel com os valores dda ética médica e impublicd- vvel na revista da Ordem dos Médicas. Hi que distinguie claramente 0 que € a liberdade de opinido e 0 que slo ofensas Insultuosas a mihares de pes- soas e lamento que a revista rio. saiba fazer esta distingio, Passo a identificar os excertos que mais indignagio me pro- vocam. "A homossexualidade Manifestacao de indignacdo pelo artigo “O sentido do sexo” Acabo de ler o artigo de “opiniao” intitulado “O sentido do sexo”, escrito por William H. Clode, da edicao de Janeiro da vossa revista e venho por este meio manifestar a minha profunda indignacéo com a sua publicacao. [-1 é repudiads em todas a5 civ 7agBes mas tolerada nas civllagSes mais evoluéas pois a humanidade aprende a respeitar 0s doentes, 0s defeituosos, 05 anormais, 0s porta: dores de tras.” vantjoso notar que 28 condutas sexunis aberrances cembora respetadas sio repugnan- tes quando desvirtadas e suetas a tua higiene degradante” Estas afr rmagées rio so conclusées de ar- -gumentacio prévia, nfo io opinides pessoais, So somente_afrmagdes insultuosas que exprimem repug- rancia por outros seres humanos plenamente dignos de respeto por parte de qualquer vex que sea publiado pela vossa revista. © autor tenta argumentar que 2 homossexualidade ¢ uma forma de Comesando por nio definir o que € exactamente © sentido do sexo + se “sentido de género” ou “senti- do de desejo sexual” - 0 autor faz ‘uma digressio sobre daltonismo, depois afirmacSes infundadas e erra- das sobre como “No ser hurrano a constituicio genética € responsi vel por toda a integridade do ser” fe termina de forma desconexa a femitir insuitos a gays e lésbicas. Pretende argumentar que os ho- mossexunis “nio distinguem dife- renga dos sexos”, afirmagio tio ridicula que me faz sentir estranho a0 tentar_contra-argumentar. Um homosexual 6, tentativamente, uma pessoa que se sente atraida por ou- tra do mesmo género sexual, o que Implia que saiba distinguir entre agéneros. E ainda que uma pessoa se sinta atraida por dois géneros dife- rentes,isso nada tem a ver com a sua capacidade de os distinguir. Finalmente, aponto que em nada ineressa aos leitores da Revista da (Ordem dos Médicos as preferén- clas sexuais do autor sobre © que 6 para si 0 “sexo normal’, também Implctas nas suas palavras: "Nos homossexuais € camuflado o que a natureza diferenciou morfologica- mente e sio utllizados como érgios sexuais a boca no sexo oral e © énus € © recto no sexo anal, Sfo situa- ses distorcidas do normal". Ora, onsulte-se qualquer livro de sexo- logia clinica para verificar que o sexo oral e sexo anal sio “sexo normal” pratieado por casals heterossexuals, (© que torna a sua pratica simples- ‘mente numa preferéncia, Lamento que tantos letores ten- ham sido expostos a estas piginas da vossa edicio de Janeiro. ‘Ana Matos Pires Exmos Senhores Li no titime nimera da Revista da Ordem dos Médi- cos (ROM) um artigo de opi- rigo assinado por William Clo- dde que me suscitou iniimeras questdes de ordem clentifea - © ético-deontologica, jt agora. Para argumentar e contrapor € ideias € necessério que elas fexistam @ que no sejam um emaranhado de pensamentos traduzidos por uma amilgama de palavras. Como levar a sé- rio alguém que inicia um escri- to pretensamente sustentado cientificamente a falar do"sex- to sentido feminino"? Assit sendo s6 posso ignorar o autor do escrita,dar-ihea credibilida- de de um professor Karamba (ou li como € que o senhor se chara) e hmenticle por des- conhecer os prazeres do sexo anal e oral nas suas diferentes ‘modalidades. Perante as ques- tes levantadas pela publica- lo do referido texto ea real- dade dos factos,o interlocutor (Série) da discussio (séria) s6 pode ser a direccio da Revista, tanto mais que estamos no ini- cio do mandato de uma nova direccio da Ordem dos Médi- cos, com um novo bastondrio. ‘Avisa_a ROM, logo no seu inicio, que 0s artigos de epiniio sio da exclusiva res- ‘dem ledicos 40) A ignorancia também ofende A Direcgio da Revista da Ordem dos Médicos ponsabilidade dos seus autores © respondeu Diamantino Cabanas, na qualidade de assessor de imprensa da OM, ao jornal Publico de 22 de Fevereiro que “a revista da ordem & ‘uma publicagdo “plural e abrangen- te, que publica as opinides que the chegam dos médicos" (..). Diferen- tes visdes devern ser divulgadas, diz, “desde que ni ofendam ninguée Pols bem, vamos por partes Um artigo de opino, como 0 seu nome indica, € um género textual argumencativa cujo objective é de- fender ou advogar uma causa ou opiniao. Apresenta-se geralmente sob a forma de dissertagso, onde autor expe 0 seu ponto de vista, sustentando-o com base em factos. sombra da “opiniio” nfo se pode aldratar nem fazer pseudo-céncia io hi, 20 longo do referido “ar 30", um tnico facto sustentado no que & homossexvalidade diz resp 10, uma Unica sustentacio bibliogr’- fica apesar de todo o texto tomar a forma de uma reflexio clentifca Mas mais importance que isso, na- quele achismo _pseudo-cienifico {que demorou mals de um ano a ser garido,apresentado sob a falsa capa de opiniio ft que de outro modo (espera-sel) nunca seria pubicado, te objectivamente ofensas a tercei- ros,¢ este é um dos pontos que im- plicam a direecio da revista. Imagi- rem que me diva, assim de repente, para teorizar e dissertar sobre "O éaltonismo das falhas cognitivas: um estudo de cas0 num meédico relor mado”, onde discorria sobre as su- postas bizarrias comportamentais € a coprolilia do sujeito e que enviava © artigalho para publicacio na ROM, (© que acontecia,era publicado ja de seguida? Po's é, hi varias formas de lofender, e a ignorancia é uma delas. ‘Outro ponto que me parece im- Portante tem que ver com o tipo de publicacao que é a ROM e como cla propria se define. Pelo facto de ser uma revista nao cientifica, ene- ralise, “plural e abrangente’ direcgio no se pode esquecer que E pertenca de uma ordem profssio~ nal particular,com responsabilidades clinicas cientificas. Seria publcivel, no espace de opintio da ROM, um artigo que advogasse a paragem de toda e qualquer terapéutica médi- ca no tratamento da doenca onco- Logica e, em sua substituigio, 0 re- curso 4 ingestio da primeira urina da manhi do préprio doente, por exemplo? Quero acreditar que no. A liberdade de expressio impli- ca responsabilidade e a auséncia de censura nao desresponsabili za as direccdes das publicacées daquilo que nelas é publicado, to pouco as desobriga de ra zoabilidade. Nio podia delxar de expressar 0 meu repidio a minha critica, até porque julgo que vale a pena pensar lum pouco sobre 0 sucedido, ‘Sem mais de momento despeco- ‘me enviando cumprimentos,

Você também pode gostar