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Manuel Bandeira Madrigal melanclico

O que eu adoro em ti, No a tua beleza. A beleza, em ns que ela existe. A beleza um conceito. E a beleza triste. No triste em si, Mas pelo que h nela de fragilidade e de incerteza. O que eu adoro em ti, No a tua inteligncia. No o teu esprito subtil, To gil, to luminoso, - Ave solta no cu matinal da montanha. Nem a tua cincia Do corao dos homens e das coisas. O que eu adoro em ti, No a tua graa musical, Sucessiva e renovada a cada momento, Graa area como o teu prprio pensamento, Graa que perturba e que satisfaz. O que eu adoro em ti, No a me que j perdi. No a irm que j perdi. E meu pai. O que eu adoro em tua natureza, No o profundo instinto maternal Em teu flanco aberto como uma ferida. Nem a tua pureza. Nem a tua impureza. O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me! O que eu adoro em ti, a vida. (11.6.1920)

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