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Loureno Marques, 29 de Julho de 1964

Meu Amor Espero que a minha carta te encontre bem de sade. Eu por c estou, bem, apesar da imensido que nos separa e das saudades. Quando leres esta carta, j eu passei dezenas de noites a pensar em ti quando olho para a lua e as estrelas e a sonhar contigo e com o momento do nosso reencontro. So as nicas coisas que esta maldita terra tem de bonito; a lua e as estrelas, o resto p vermelho e bichesa como nunca se viu. Tenho tantas saudades de ti, do teu corpo, do teu cheiro a sabonete, das tuas faces rosadas quando regressas do campo, do teu cabelo desalinhado pelo vu quando sais tardinha de domingo do tero ou da missa. At tenho saudades do trabalho do campo, acreditas? Eu que sempre odiei aquela malfadada sorte de trabalhar merc do tempo, de sol a sol. Isto aqui diferente de tudo o que j vi e vivi; o tempo esquisito, as pessoas vivem ainda com menos do que ns no Alentejo, mas sempre alegres e parecem ser boa gente. Ainda no percebemos o que viemos fazer, desde que chegmos que ainda no houve nada de mais, nem parece uma guerra. O Ernesto, um camarada da Moita, diz que viemos de frias e passa o dia a contar umas anedotas e a largar umas larachas, e assim se passa o tempo, muito devagar. Ainda mais devagar do que a no Alentejo, na dias de solstcio. Mas hoje um dia em que dava tudo para te ter comigo, fao vinte e dois anos e no te tenho comigo. Quando regressar fazemos uma festa, uma festa de aniversrio, s ns dois, s tu e eu!... Cada vez que penso no mar, no mar que nos separa, fico sem ar! Mas em breve, eu estarei a junto a ti. Agora vou-me despedir, minha querida. D cumprimentos aos teus pais e um beijinho Clarinha, j tenho muitas saudades das suas traquinices. Mil beijos para ti, deste que te adora do fundo do corao e que deseja voltar para junto de ti o mais depressa possvel.

Amo-te O teu sempre,

Amadeu

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