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A IMPORTANCIA DOS RITUAIS O TEMPO DE VIDA NO ABRIGO O MOMENTO DE PARTIDA O trabalho de Maria Lucia Gulassa com os coordenadores e profissionais

de abrigos em mostrado que a identidade do abrigo se constri principalmente a partir do que ele no . Uma identidade que se constri a partir do negativo tem implicaes problemticas para a construo de um modo de funcionamento que atenda s necessidades do abrigo. Penso que uma das conseqncias dessa identidade forjada a partir do negativo a pouca importncia que se d ao tempo vivido no abrigo. Como o abrigo pensado como um mal necessrio, algo que no deveria existir. O tempo ali vivido costuma ser tambm afetado por essa noo e esse desejo, o de no ter existido. Penso que frequentemente a noo de que o abrigo deva ser medida excepcional e transitria tomada como se em relao ao tempo ali vivido, o melhor que se pode fazer deix-lo para l, esquecer dele. No termos qualquer registro dele, como se por essa medida o tempo ali vivido simplesmente deixasse de existir. Ns seres humanos, somos seres de histria. Seres de memria, nosso tempo contempla as trs dimenses, passado, presente e futuro. Diferentemente dos demais animais, no nos basta a vida no presente. Ou melhor, nosso presente sempre marcado pelo nosso passado e tem sempre um olhar voltado para o futuro. Os profissionais que trabalham nos abrigos costumam considerar que, para o benefcio da criana, o melhor a se fazer apagar o tempo de vida no abrigo. Assim, na maioria dos abrigos as crianas no tm registros desse tempo de vida: nenhuma foto, nada escrito que possa resgatar como eles foram, do que gostavam ou no. O importante que se possa integrar esse tempo de vida aos outros momentos de vida. A ausncia de marcadores externos ( fotos, registros escritos, comemorao de aniversrio, etc) dificulta essa integrao e pesa como se esse fosse apenas um tempo de no-ser.

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