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NO SOU CAPAZ

Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

A guia de penugem branca ainda no tinha sado do


ninho. Via o pai e a me, num voo alto, rente s nuvens, e pensava: "Nunca vou ser capaz". O pai e a me traziam-lhe comida no bico. A aguiazinha devorava os petiscos, gulosa. No engulas tudo de uma vez, que ainda te engasgas recomendava-lhe a me. Mas a aguiazinha no queria saber. Tinha fome, muita fome, uma fome insacivel, que ela no sabia controlar. Algumas penas de brancas passavam a cinzentas. O corpo ganhava elegncia. As asas cresciam. Os pais iam e vinham, num voo planado, que era a admirao da filha. "Nunca vou ser capaz de fazer o mesmo", pensava. 1
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Amanh comeas a aprender a voar disse-lhe o pai. Mas, nesse dia, choveu e a lio foi adiada. Os pais que no desistiram de caar. Deixaram-na s, no quente do ninho. Estava ela aconchegada e contente pelo adiamento da lio, quando sentiu um roar de perigo, nos ramos perto. Era uma serpente, que se desenroscava por um tronco, em direco a ela. A aguiazinha piou, aterrorizada. Eriaram-se-lhe as penas. Bateu as asas, para afugentar a intrusa de lngua silvante. A serpente continuava a deslizar para ela, segura da presa. Ia armar o ltimo salto. Ia destro-la. Ia com-la. Bateu a guia as asas com mais fora e suspendeu-se no ar. Num impulso de pnico, largou o ninho. Ia cair. No caiu. Soltou-se no ar, a curta distncia da rvore que abrigara o ninho. Sentiu uma tontura. Agarrou as patas a um ramo, mas o ramo cedeu. Agitou as asas com mais fora e elevou-se nos ares. Tudo aquilo lhe parecia impossvel. Ela voava. Quando os pais regressaram, a aguiazinha, de asas distendidas, como se quisesse abarcar o cu num grande abrao, voou, feliz, ao seu encontro.

FIM

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