O BISPO E A ROSA

Era manh de um dia de semana, desses de cu aberto e muito sol. Um bispo de uma determinada regio da grande So Paulo, dirigia-se para o seu local de trabalho. Passando em frente a uma igreja, resolveu entrar. Ajoelhou-se no ltimo banco, no vazio do templo , fazia sua orao cheia de vida, dialogando com o divino pastor de seu rebanho. Ouviu, ento, ressoar uma voz de algum, cuja presena no tinha percebido: - Escute, venha aqui. Venha ver a rosa. Ele olhou para os lados, para a frente e viu uma pessoa sentada nos degraus do altar. Levantou-se para averiguar melhor e ouviu novamente : - Escute, venha aqui. Venha ver a rosa. Embora sem entender, dirigiu-se at a frente e percebeu que sobre o altar havia realmente um vaso, no qual estava uma linda rosa. Parou e ps-se a observar o homem maltrapilho que, vendo-o hesitante, insistiu: - Aproxime-se venha ver a rosa. O bispo no conseguindo atinar com o que ele queria, respondeulhe: - Sim, estou vendo a rosa daqui. Por sinal muito bela. Mas o homem apelou mais uma vez: - No. Sente-se aqui, e veja a rosa. Diante daquela insistncia, o bispo ficou um pouco perturbado e perplexo. Quem seria aquele homem maltrapilho? O que desejaria ele com aquele convite? Seria sensato sentar-se ali, nos degraus do altar, junto com ele? Qual poderia ser a reao de quem fortuitamente entrasse na igreja e visse aquela cena? Vendo, porm, na pessoa daquele homem um irmo seu quebrando o protocolo de sua posio episcopal, sentou-se ao lado do homem. Este ento humildemente exclamou : - Veja, veja agora a rosa. De fato, era um espetculo todo diferente, constatou o bispo. Exatamente daquele lugar onde se sentara, daquele ngulo, viase a rosa colocada sobre um vaso de cristal, num colorido de um arco-ris. Dali podia-se perceber um raio de luz do sol, que vinha de uma das janelas do altar da igreja e se refletia naquele vaso de cristal, decompondo a luz e projetando um colorido peculiar sobre aquela rosa, conferindo-lhe os fascinantes efeitos visuais de um arco-ris. O bispo ento exclamou : - Foi a nica rosa em cores de arco-ris que eu j vi at hoje. Convenceu-se, entretanto, de que s poderia v-la assim daquele ngulo, sentado nos degraus do altar, junto daquele homem simples e enigmtico. Se no tivesse

tido coragem de se deslocar de onde estava, de romper preconceitos e at de se humilhar, jamais teria conseguido ver a rosa, num espetculo to maravilhoso.