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DIREITO A EDUCAGAO E OBRIGATORIEDADE ESCOLAR JOSE SILVERIO BAIA HORTA Universidase Fedora! Fluminense RESUMO 0 antigo extda a insergdo do dirsto & edwsgdo conn um des diveitos soc cidadavia, Diseute ax formas de garantr esse direin. Audlise a rvlagao enie divi & ‘edicagie obrigatoriedade escolar Acomponha «evotugdodos concetos dt abriqatoriedade tacolar ¢ diet @ edeoacto na histéria da eticaydo brasicis DIREITO A EDUCAGO — OBRIGATORIEDADE ESCOLAR — CIDADANIA FUNDAMENTAL NSINO ABSTRACT THE RIGHT TO EDUCATION AND COMPULSORY SCHOOLING. The anicle studies ‘he insertion ofthe right 10 education as one of the social rights of citizenship. It discusses Jorms of guaranteeing this right. It analyses the relationship benveen the right o education ‘and compulsory schooling. and accompanies the evolution of the concepts of eompulsary schooling and the right to education in the history of Beaciiwn education [A primeira versio deste artigo foi ecrita por wolicitgio da Cian de Educasia Basics — CEB — do Conselho Nacional de Educas3o, tendo sido discutida com os participantes da Comissa0 du CEB encarregada de elabotar estuus sobie a nova Lei de Dieuizes ¢ Buses da Fducagio Nacional, ocasio em que foi sumamente enriquecida com as valiosss sugestoes © observagies. reecbidss. Cad. Pes. n04 pS34 jul-199% Este antigo divide-se em duas partes. Na primeira, discutimas algumas questdes relacionadas com 0 direito 2 educagio como um dos direitos sociais da cidadania. Na segunda, acompanhamos a evolugio das concepgées de obsi- gatoriedade escolar e de dircito & educagio na histéria da educagio brasileira. ‘Ao final. apresentamos algumas consideragdes a respeita da forma como esta questa se coloca no Brasil. hoie. EDUCACAO COMO DIREITO SOCIAL Dimensio histérica A detiniga0 dos direitos socinis da cidadania deu-se por um process compleno, tem fnsima relag3o com as tansformagies. globais da sociedade. Segundo Bobbio (1992), a telagdo enue 0 nassimetto € 9 crsvimento dos direites socais, por wm lado, ¢ Uwansformasio da aociedads. por out, & inleirament evidente. Prova disso € que as cxigencas de ditetos socitis wrnaram-se tanto mais mumerosas quanto mais répida ¢ Frofunda (a transformogio da socicdade. Cabe considera, de resto, que as exigéncias ‘que Se constetizim a demande de uma interencdo piblica e de uma prestoglo de Servigus sosials por parte do Estado 36 povem ser saisfeitas nun deierminado ofvel de éesemolvimento ceonimice € teenoligica: € gue. com relaglo A propria tcoria 0 [recisomente certs wansiomugoes socials ¢ Ceras Inovagtes té:nicat que fuze surge ‘vas exigéacias, improvisiveis © mexeguives anes que essas wansformagses © ieovagées Luvessem opotrds. (P76) Assim, a vida, a liberdade, a igualdide, a propriedade privade ¢ # seguranga jurfdica foram os primeiros direitos reconhecidos, proclamados © protegidos. ‘A educagio, por sua vez. apesar de sua grande importincia, incorporou-se com grande’ atraso ao seleto grupo dos direitos humanos, por meio de um processo lento, ambigue € contraditério, No que diz respeite & educagto, afirma Bobbio (1992): ‘io esate statncote aenhuma carta de dveites, pars darmos um exemple convinces (Gx nio reconhesa o deta 2 insirugie — crescent, de resto, de sociedade para sociedade = primeio, elementar, depuis scundiria, © pouco a pouco até mcsine universitiia. No ine censta que, nas mais conhceas descrigdes do estado de naureza, ess ditcito Fosse hencionado. A verdaie € que esse direito nao fora posto no exady de nature porque lo emergity na sociedade da época em que nasceram as deuttnas jusnturalistas, quasdo 5s execs fundamentas que part daquelas sociedades para chegarem aos poderosos a Teva cram principalmente exigencias de liberdade em fice das Iyiejas ¢ dos Estacos, mio ainda de outs bess, como ¢ da instnxdo, quc somette uma sociedsde mals evoluida econbmica socialmente poderia expressr. (9.75) Com efeito. seré somente na época moderna, com o triplice surpimento da burguesia, da filosofia racionalista e individualista e do Estado nacional, que 6 aparecerd, no século XVII, a idéia do ensino como um direito de todos os cidadies e um dever do Estado, A Prissia de Frederivo I € 0 primeito pais que esiabelece a instrugdo priméria obrigatéria (1763). Na Franga, a escola priméria “obrigat6ria, gratuita e laica” ser uma realidade somente na Terceira Repiiblica (1878-1882), mais ou menos na mesma época na qual o ensino elementar adquire carster obrigatério na Inglaterra © no Pais de Gales (Lé ‘Thank Khdi, sid. p.179-80). Depois da Segunda Guerra Mundial, assiste-se a uma considerdvel demo tizagdo do ensino ¢ a um aumento da durigao da escolaridade obriga (awalmente € de oito a dez anos, conforme 0 pais). Finalmente, a Declaragio Universal de Direitos Humanos, proclamada em Paris no dia 10 de dezembro de 1948, pela Assembléa Geral das Nagces Unidas, determina, em seu Astizo 26: “Toda pessoa tem diteito a educagio. A educagio deve ser gratuits. pelo menos no que se refere 2 instrugao elementar € fundamental. A instrugio elemertar sera obrigatonia”, Tal determinagao sera reafirmada no Principio 7 da Declaragio dos Direitos da Crianga, aprovada pela Assembléia Geral das Naydes Unidas, em 20 de novembro de 1959: “A crianga tem direito de receber educugio, que seré gratuita e obsigatdria pelo menos nas etupas ‘elementares” Educagdo como direito piblico subjetivo — garantia do direito Ainda segundo Bobbio (1992), 0 problema mais grave, hoje, no € m de fundamentar os direitos do homem, ¢ sim o de protegé-los. Uma co falar dos direitos do homem, direitos sempre novos € cada vex mats extensos €@ justifics-los com argumentos convincentes: autra coisa é garantirlhes uma protegio efetiva. © prodlema que remos diaste de nds no € filosiico, mas jridco e, mum sentido mass Iamplo, poitico. Nao se trata de suber quis © quamios s20 e380 dichos, qual € 204 ratureca ¢ © seu fundiment, se sin direitos naturais ou h'séricos, absolutns ou restive, fas sim qual ¢ © modo mais SeWO para xwaMMHios, pars smpedr que. apose ds solenes declaragies, eles sejam contineamerte violados. [| Quaado digo gue o problema Inais urgente «pe temos de ententie nde € 0 problema do fundamento, mas 0 das ‘arantas, quero dizer que consideramos o problema do fundamento nin com inexistere, ras como — om certo sentido — resolvido, ou seja, como um problema com co sohuga 44 ako devemos mis nos preocupar. (225-6) Como proteger um direito social? Como sabemos, 08 direitos sociais sto mais dificeis de proteger do que os direitos de liberdade, pois, 4 medida que as pretenses aumentam, a saisfagio delas torna-se cada vez mais dificil. Um importante passo na diregao da garantia do direito & educagio se &4 quando a mesma € definida como direito piiblico subjetivo, medida defendida no Brasil por juristas desde s década de ?

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