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Estas notas têm o objetivo de auxiliar o aluno no estudo dos tópicos da terceira unidade
do curso. Como uma fonte adicional de exercı́cios, e para um tratamento mais completo,
o aluno pode recorrer ao capı́tulo 11 do segundo volume de Cálculo de James Stewart.
I. POLINÔMIOS DE TAYLOR
Q. Dada uma função f (x), qual o polinômio de grau n (onde n ≥ 0 é um inteiro fix-
ado) que melhor aproxima f perto de x = 0?
Q. Dada uma função f (x), qual o polinômio Pn (x) de grau n que tem as mesmas derivadas
que f (x) na origem, até a ordem n?
Assim, de acordo com nosso ponto de vista, podemos chamar P1 (x) de melhor apro-
ximação linear para f (x) perto de x = 0; P2 (x) é a melhor aproximação quadrática, e
assim por diante. Em geral, chamamos Pn (x) o polinômio de Taylor de grau n para f (x)
perto de x = 0.
Chame por um momento Pn = P . Então P (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · an xn deve
satisfazer
P (0) = f (0), P 0 (0) = f 0 (0), · · · P (n) (0) = f (n) (0).
Aqui, adotamos a notação f (k) (x) para denotar a k-ésima derivada de f (x) - também
chamada de derivada de k-ésima ordem de f (x). Note que por convenção f (0) (x) = f (x).
Observe que para a questão acima fazer sentido, temos de supor que f admite derivadas
(na origem) até ordem n.
Agora, ao derivarmos P (x) k vezes (onde 0 ≤ k ≤ n), observamos que P (k) (x) é da
forma
k!ak + (termos em x, x2 , · · · xn−k ),
(verifique isto!) e assim P (k) (0) = k!ak .
Como devemos impor que P e f tenham as mesmas derivadas na origem, até ordem
n, obtemos que os coeficientes do polinômio Pn são dados por
f (k) (0)
ak = ,
k!
e assim o n-ésimo polinômio de Taylor é dado por
f 00 (0) 2 f (n) (0) n
Pn (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + ··· + x .
2! n!
1
Em particular, quando n = 1, y = P1 (x) nada mais é que a equação da reta tangente
à curva y = f (x) no ponto (0, f (0)). O gráfico de y = P2 (x) pode ser interpretado como
a parábola que melhor aproxima o gráfico de y = f (x) perto do ponto (0, f (0)), e assim
por diante. Observe que, estritamente falando, Pn (x) pode ter grau ≤ n.
Exercı́cio. Se f (x) = cos(x), calcule P0 (x), P1 (x), P2 (x), P3 (x), P4 (x) e plote os gráficos
de cada um destes polinômios num mesmo sistema de eixos, juntamente com o gráfico de
f (x).
Depois de fazer este exercı́cio, o aluno provavelmente terá notado que, à medida
que n aumenta, o polinômio Pn (x) aproxima cada vez melhor o gráfico de cos x perto de
x = 0. Um dos nossos objetivos será tornar precisa uma tal afirmação, e até estimar o
erro da aproximação.
Neste caso dizemos que (an ) converge para L, e que L é o limite da sequência;
escrevemos então lim an = L.
n→∞
Intuitivamente, os números an na reta “se acumulam” em torno do número L.
Exercı́cio. Prove, usando esta definição, que a sequência (an ) definida por an = n−1
converge para 0. Idem para an = n−p , onde p > 0.
2
1, 2, 3, 4, 5, . . . = (n).
Muitas vezes, os an são dados por uma expressão da forma an = f (n), onde f é uma
função definida para todos os números reais positivos. Por exemplo, se an = 1/n, então
podemos tomar f (x) = 1/x. Nem sempre reconhecemos os termos de uma sequência sob
esta forma, como no caso das sequências {(−1)n } e { nn!n }; no entanto, muitas vezes isto
é possı́vel, e então é útil observar o seguinte fato, relacionando limites de sequências a
limites no infinito de funções:
Isto é consequência direta das definições de limite para funções e para seq uências.
ln(n) sen n 1
an = ; an = n1/n ; an = ; an = (1 + 1/n)n ; an = p n
n n
(no último item, p é um número positivo fixado.)
an lim an
• Se lim bn 6= 0 então lim = n→∞
n→∞ n→∞ bn lim bn
n→∞
Por sequência limitada superiormente entendemos uma sequência para a qual existe
uma constante M tal que an ≤ M para todo n. Se a sequência é crescente, o menor
de tais números M é precisamente o limite desta sequência - faça uma figura para se
convencer disto; a demonstração formal deste fato será omitida.
Temos um resultado análogo para sequências decrescentes (enuncie-o).
OBS. No livro de James Stewart há uma terminologia usada incorretamente, que
aproveitamos para corrigir: uma sequência é dita monótona se é crescente ou decrescente.
3
Assim, reformulamos os resultados anteriores como: “uma sequência monótona é conver-
gente se e somente se é limitada.” Note também que em alguns textos chama-se (an ) de
sequência crescente se an < an+1 para todo n; aqui preferimos chamar tais sequências de
estritamente crescentes.
Exercı́cio. Dê exemplo de: (i) sequência limitada que não é convergente; (ii) sequência
crescente que não é convergente; (iii) sequência convergente que não é crescente nem de-
crescente. Por outro lado, justifique: toda sequência convergente é limitada.
√ p √ √
q p
Exercı́cio. Prove que a sequência 2, 2 2, 2 2 2, . . . é crescente e limitada supe-
riormente, e portanto convergente.√A seguir, use o fato que os termos da sequência são
dados recursivamente por an+1 = 2an para calcular o limite da sequência. (Note que
para uma sequência convergente (an ) qualquer, lim an+1 = lim an .)
n→∞ n→∞
Séries numéricas.
Voltamos agora ao problema de aproximar uma função por seu polinômio de Taylor
Pn (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + . . . + an xn . Para cada x fixado, nos perguntamos se a sequência
(sn ) = (Pn (x)) converge para f (x). Por sua vez, cada termo da sequência (sn ) pode ser
construı́do a partir da sequência bn = an xn : temos sn = b0 + b1 + . . . bn .
Isto P
motiva, mais geralmente, a seguinte definição: Dada uma sequência (bn ), es-
crevemos ∞ 0 bn para denotar o limite das somas parciais sn = b0 + b1 + . . . bn . Portanto
∞
X
bn = lim sn .
n→∞
n=0
P∞
Caso este limite não exista, dizemos que 0 bn diverge.
Nos referimos a ∞
P
b
0 n como uma série infinita, ou “soma infinita”. Sem dúvida
isto é um abuso de notação: esta expressão é definida como um limite de somas (as somas
parciais), visto que não faz sentido somar uma quantidade infinita P∞de números. O número
bn é chamado n−ésimo coeficiente ou n−ésimo termo da série 0 bn .
Usando esta nova terminologia, repomos nossa questão central da seguinte forma: a
série ∞
X f (n) (0) n
x ,
0
n!
chamada série de Taylor de f (x) em torno de x = 0, converge para f (x)? Antes de
tratarmos do assunto especı́fico de séries de Taylor, consideraremos inicialmente as séries
numéricas gerais.
De importância fundamental no nosso estudo são as séries geométricas
∞
X
rn .
n=0
4
Usando esta fórmula, podemos concluir:
P∞ 1
• Se |r| < 1, a série geométrica converge e n=0 rn = 1−r
;
P∞ P∞
II. Se n=0 an converge e c é uma constante, então n=0 can converge e
∞
X ∞
X
can = c an .
n=0 n=0
e assim
lim un = lim sn + lim tn ,
n→∞ n→∞ n→∞
isto é,
∞
X ∞
X ∞
X
(an + bn ) = an + bn
n=0 n=0 n=0
.
Uma condição
P necessária para a convergência de uma série. Observamos agora que para
uma série ∞ n=0 an ser convergente, é necessário que o termo geral convirja para zero.
• Se ∞
P
n=0 an converge, então limn→∞ an = 0.
5
Note entretanto que a recı́proca do resultado que acabamos de provar não é ver-
dadeira. A série harmônica ∞
X 1
n=0
n
fornece um exemplo de uma série divergente, apesar do termo geral convergir para zero.
(A divergência desta série será provada em aula.)
O resultado anterior é útil como uma condição suficiente para provar que uma série
diverge, pois podemos reformulá-lo como segue:
• Se limn→∞ an 6= 0, então ∞
P
n=0 an diverge.
Observe que neste enunciado basta supor que an ≥ 0 para n suficientemente grande;
pois se an ≥ 0 para n ≥ N , então podemos escrever cada soma parcial sn (n ≥ N ) sob
a forma k + aN + aN +1 + . . . + an , onde k = a0 + . . . + aN −1 , e P
a convergência da série
original é equivalente à convergência da série de termos positivos ∞n=N an . Em vários re-
sultados que enunciaremos a seguir, que dizem respeito a convergência de séries, podemos
substituir uma frase do tipo “an satisfaz a propriedade P para todo n” por “an satisfaz
a propriedade P para todo n suficientemente grande.” Deixamos a cargo do aluno fazer
estas generalizações em cada caso.
P∞
Exemplo. A série n=1 1/n2 é convergente.
Como os termos são positivos, basta ver que a soma é limitada. Para ver isto, agrupe os
termos da seguinte forma:
Como todos os termos em cada parêntesis são menores que o termo precedendo imediatamente
o parêntesis, vemos que esta soma é menor que
1 + 1/4 + 2.1/22 + 4.1/42 + 8.1/82 + . . . = 1/4 + 1 + 1/2 + 1/22 + 1/23 + . . . = 1/4 + 2 = 9/4;
na penúltima desigualdade usamos que a série geométrica para r = 1/2 vale 2. Assim, a série
de termos positivos ∞ 2
P
n=1 1/n é limitada e conseqüentemente convergente.
Observe que este método de provar convergência é indireto: não nos indica o valor
da série, mas apenas uma estimativa superior (9/4 neste caso.)
6
P∞ 2
OBS. O valor desta série foi calculado pela primeira vez por Euler: n=1 1/n = π 2 /6.
Isto é uma consequência imediata do resultado anterior; pois como an ≤ bn , temos para as somas
parciais a0 + a1 + . . . + an ≤ b0 + b1 + . . . + bn e então ∞
P
P∞ P∞ 0 an é uma série de termos positivos
limitada pelo número 0 bn ; portanto, 0 an converge.
Temos o seguinte resultado para verificar que uma série de termos positivos diverge:
• Suponha que ∞
P P∞
0 an diverge. Se 0 ≤ an ≤ bn para todo n, então 0 bn diverge.
n. a1 a2 a3 · · ·
7
Assim, como por hipótese P ∞
P
0 |an | converge, temos pelo testeP
da comparação para
séries com termos positivos que 0 (an +|an |) converge. Mas então ∞
∞
0 an é convergente,
pois podemos expressar esta série como soma de duas séries convergentes:
∞
X ∞
X ∞
X
an = (an + |an |) − |an |.
0 0 0
Exercı́cio. Prove que as seguintes séries são convergentes:
∞ ∞ ∞
X (−1)n+1 X cos n X ln n + (−1)n+1 n
; ;
1
n2 1
n2 1
n3
Observamos, entretanto, que uma série pode convergir sem que convirja absoluta-
P (−1)n
mente. Mostraremos adiante, por exemplo, que ∞ 1 n
converge, embora não convirja
absolutamente.
P∞
O teste da raiz. Um método importante para provar P∞que uma série 0 an converge
absolutamente
P∞ n consiste em tentar comparar a série 0 |an | com uma série geométrica
0 r com 0 < r < 1.
Em suma, se conseguirmos mostar que para uma certo r com 0 < r < 1,
|an | ≤ rn ,
P∞
então como aquela série geométrica converge, vemos pelo teste da comparação que
P∞ 0 |an |
converge, isto é, 0 an converge absolutamente. De fato, basta que a desigualdade acima valha
para n suficientemente grande (pois como já observamos, verificar a convergência de ∞
P
P∞ 0 |an | é
equivalente a verificar a convergência de k |an |.) Podemos reformular nossa conclusão do
seguinte modo:
1
• Se |an | n ≤ P
r para todo n suficientemente grande, onde r é uma constante positiva
< 1, então ∞ 0 an converge absolutamente.
No entanto, este resultado é mais facilmente aplicado sob a seguinte forma, usual-
mente chamado “teste da raiz”:
1
Teorema. Suponha que L = lim |an | n existe. Então:
n→∞
(a) Se L < 1, a série P∞
P
0 an converge absolutamente (em particular, ela converge);
(b) Se L > 1, a série ∞ 0 an diverge.
1
O item (a) é consequência do resultado enunciado anteriormente; de fato, se limn→∞ |an | n =
L < 1, e se r é qualquer número tal que L < r < 1, então a definição de limite implica que
1
|an | n < r para n suficientemente grande (por quê? justifique!) e então podemos usar o resultado
anterior.
1
O item (b) segue do fato que, se L > 1, temos similarmente que |an | n > 1 para n suficientemente
grande, ou seja |an | > 1; em particular não pode ser verdade que limn→∞ an = 0, e portanto a
série diverge.
P∞ 1
P∞ 1Observe que o teorema não nos dá informação quando L = 1, como as séries 0 n e
0 n2 mostram: para ambas as séries, obtemos L = 1 (verifique isto), mas a primeira di-
1
verge e a segunda converge. O teorema também não dá nenhuma informação se lim |an | n
n→∞
8
não existir.
O teste da razão. Outro teste muito importante, e muitas vezes mais facilmente aplicável
que o teste da raiz, é o teste da razão enunciado a seguir.
P∞
Teorema. Suponha que a série 0 an é tal que
an+1
L = lim | |
n→∞ an
existe. Então:
(a) Se L < 1, a série converge (absolutamente);
(b) Se L > 1, a série diverge.
|a1 | < r|a0 |, |a2 | < r|a1 | < r2 |a0 |, . . . , |an | < rn |a0 |.
Assim, a série ∞
P P∞ n P∞ n
0 |an | pode ser comparada com a série 0 r |a0 | = |a0 | 0 r (que é uma
série geométrica convergente, já que tomamos r com 0 ≤ r < 1.) O teste da comparação agora
nos garante que ∞
P
0 |an | converge.
A demonstração do item (b) é similar àquela para o teste da raiz e será omitida.
Exercı́cio. Use o teste da razão para verificar se as seguintes séries são convergentes
ou divergentes:
∞ ∞ ∞ ∞ ∞
X n! X en X n2 X an X nn
n
; ; n
; ; .
0
e 0
n! 0
2 0
n! 0
n!
No penúltimo item, a é uma constante qualquer. Você verificará que esta série
converge, qualquer que seja a constante a. Se lembrarmos agora que a série de Taylor
para ex em torno de x = 0 é dada por
∞
X xn
,
n=0
n!
9
Ainda estudaremos, ao longo destas notas, outros testes de convergência para séries
numéricas: o teste para séries alternadas (teste de Leibniz), o teste da integral e o se-
gundo teste da comparação. Porém, o que aprendemos até o momento já é suficiente para
analisarmos as séries de potências, um capı́tulo de suma importância em nosso estudo, e
em especial as séries de Taylor.
(c) P∞ n n
n=0 n x ;
(d) P ∞n=0 x
n!
∞
(e) n=0 (−1)n xn
(f) A série de Taylor para f (x) = cos x em torno da origem.
Sugestão: primeiro veja que informação podemos obter pelo teste da razão ou da
raiz; a seguir, examine separadamente a convergência para aqueles valores de x tais que
o teste usado não dá informação.
10
R = ∞. Assim, o raio de convergência da série geométrica é R = 1, e o da série de Taylor
para ex é R = ∞. Note que no caso (c) acima, o conjunto de todos os pontos em que a
série converge pode ser da forma (−R, R), [−R, R), (−R, R] ou [−R, R].
O resultado a seguir (cuja demonstração técnica é omitida) nos diz que a derivada
de f (x) é obtida derivando a série termo a termo, e que a integral indefinida é obtida
integrando termo a termo.
são iguais a R.
f (n) (0)
an = .
n!
A demonstração é similar à que demos, no inı́cio das notas, para a determinação dos
coeficientes para polinômios de Taylor.
Vamos mostrar agora uma aplicação destes dois teoremas na determinação das séries
de Taylor de algumas funções básicas. Primeiro note que podemos interpretar a igualdade
1
1 + x + x2 + x 3 + . . . + xn + . . . = para |x| < 1
1−x
11
1
em torno de x = 0 é ∞ n
P
como o fato que a série de Taylor para f (x) = 1−x n=0 x . Você
pode verificar isto calculando os coeficientes da série de Taylor em termos das derivadas
1
de 1−x , mas é mais simples observar que como a série geométrica é uma série de potências
1
que é igual a 1−x (no intervalo (−1, 1)), então pelo teorema anterior ela é necessariamente
1
a série de Taylor para 1−x .
é ∞
1
P n n 1
P∞ n n
Segue que a série de Taylor para 1+x n=0 (−1) x e vale 1+x = n=0 (−1) x
para | − x| < 1, isto é, |x| < 1. Similarmente, calculando esta expressão em x2 , vemos que
∞
1 X
= (−1)n x2n para |x| < 1
1 + x2 n=0
Atenção. Observe que, apesar da função arctgx estar definida para todo x, não temos
a igualdade desta função com sua série de Taylor para todo x; de fato, como o raio de
convergência da série de potências obtida é 1, a série diverge para |x| > 1 e a identidade
vale apenas para |x| < 1. Muita atenção ao manipular com séries de potências como
fizemos acima: em cada etapa, é necessário entender para que valores de x a identidade
considerada é válida.
12
Exercı́cio. Calcule a série de Taylor em torno de x = 0 para as funções abaixo, as-
sim como o raio de convergência da série:
Z x
x3 2 ln(1 + x)
p(x) = ; f (x) = x arctgx; g(x) = e−t dt; h(x) = .
1+x 0 x
(Com respeito a esta última função, que a princı́pio não está definida em x = 0, observe
que é natural defini-la aı́ pondo h(0) = 1; por quê?)
Exercı́cio. Seja a um número real fixado. Calcule a série de Taylor de: (i) f (x) = ex
1
em torno de x = a; (ii) f (x) = em torno de x = a, para a 6= 0. Qual é o intervalo de
x
convergência da série?
Dada uma função f (x), nos perguntamos se sua série de Taylor em torno de x = c
coincide, no seu intervalo de convergência, com a função f .
∞
X f (n) (c)
f (x) = (x − c)n ?
n=0
n!
(k)
Escrevendo Pn (x) = nk=0 f k!(c) (x − c)k (o n-ésimo polinômio de Taylor para f (x)
P
em torno de x = c), definimos o resto de ordem n como Rn = f (x) − Pn (x). Portanto,
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Para provar que a série de Taylor centrada em x = c de f (x) converge para f (x)
num intervalo |x − c| < R, temos de provar que para cada x neste intervalo a sequência
Pn (x) converge para f (x), e isto a equivalente a provar que
Vamos procurar desenvolver métodos para tratar esta questão, dando estimativas
para o resto. O seguinte resultado é bastante importante: ele expressa o resto por meio de
uma integral. Aqui, supomos que f é uma função que admite derivadas de todas as ordens.
A demonstração deste fato é obtida através de repetido uso de integração por partes; inici-
amos observando, pelo teorema fundamental do cálculo, que
Z x
f (x) − f (c) = f 0 (t) dt.
c
Suponha por simplicidade que x > 0 (o caso x < 0 será omitido; procure completar
o argumento neste caso). Como o integrando é positivo, temos Rn (x) > 0; além disso,
como et ≤ ex para t ≤ x, temos
Z x x Z x
e n x (x − t)n
Rn (x) ≤ (x − t) dt = e dt;
0 n! 0 n!
calculando esta última integral, obtemos
ex xn+1
0 ≤ Rn (x) ≤ .
(n + 1)!
14
Agora observe o seguinte limite: para qualquer x,
xn
lim = 0.
n→∞ n!
n
(De fato, xn! é o termo geral da série de Taylor de ex , cuja convergência você provou, para todo
x, em uma exercı́cio anterior; agora use o fato que se uma série é convergente, seu termo geral
tem limite nulo.)
Voltando à desigualdade para o resto, usando o limite acima e o teorema do confronto
para limites, obtemos limn→∞ Rn (x) = 0. Assim provamos:
x2 xn
ex = 1 + x + + ... + ... para todo x :
2! n!
A série de Taylor de ex em torno de 0 converge para ex para todo número real x.
Observe ainda que, dado n, somos capazes de estimar o erro ao aproximar ex por
Pn (x). Por exemplo: temos, pondo x = 1, a fórmula
∞
X 1
e= .
0
n!
Exercı́cio. (Use uma calculadora - mas apenas para fazer somas, multiplicações e di-
visões...) Calcule e com um erro menor que 10−7 .
Exercı́cio. Prove que para as seguintes funções f (x) a série de Taylor em torno de
x = 0 converge para f (x): (a) f (x) = cos x; (b) f (x) = sen x.
Exercı́cio. Obtenha uma cota superior para o maior erro possı́vel do polinômio de
Taylor de grau n (em torno de x = 0) que aproxima cos x no intervalo [0, 1].
Exercı́cio. Qual é o grau do polinômio de Taylor que você precisa para calcular cos 1
com precisão de quatro casas decimais? E com seis casas decimais?
Séries alternadas. Uma série é dita alternada se seus termos são alternadamente positivos
e negativos. Portanto uma série alternada pode ser da forma
ou da forma
−c0 + c1 − c2 + c3 + . . . onde cn ≥ 0 para todo n.
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No que segue, vamos supor que a série é do primeiro tipo; note que o termo geral da
série é an = (−1)n bn . Obviamente, uma série do segundo tipo é o negativo de uma série
do primeiro tipo.
Observe que várias das séries de Taylor que você calculou são alternadas: as séries
para cos x, sen x são alternadas para todo x, enquanto que a série para ex é alternada
apenas para x negativo; a série de arctg x é alternada (mas convergente apenas para
|x| ≤ 1), etc.
satisfaz :
(i) bn ≥ bn+1 para todo n (ou para n suficientemente grande);
(ii) limn→∞ bn = 0.
Então a série converge.
Exemplo. A série
∞
X 1 1 1 1 1
(−1)n = 1 − + − + − ...
0
n+1 2 3 4 5
cumpre os requisitos deste teorema, portanto converge. Observe que temos então um
exemplo de uma série que é convergente mas não é absolutamente convergente, tendo em
vista que a série harmônica diverge.
assim, {s2n } é decrescente e limitada inferiormente (por 0, por exemplo). Similarmente, as somas
parciais s2n+1 formam uma sequência crescente limitada superiormente (por b0 , por exemplo).
Ambas as sequências acima portanto convergem, digamos para limites L1 e L2 . Como todos
os somas parciais do tipo s2n+1 estão à esquerda das somas parciais do tipo s2n (por quê?),
devemos ter s2n+1 ≤ L1 ≤ L2 ≤ s2n . Mas a diferença entre s2n e s2n+1 tende a zero, pois
s2n+1 − s2n = −b2n+1 → 0 (pela hipótese do teorema); assim, como 0 ≤ L2 − L1 ≤ s2n − s2n+1 ,
devemos ter L2 = L1 . Portanto a sequência sn converge para L = L1 = L2 , isto é, a série
P∞ n
0 (−1) bn converge. CQD.
O resultado seguinte nos dá uma maneira simples de estimar o resto da aproximação
de certas séries alternadas por meio de suas somas parciais.
Estimativa do resto para série alternadas. ConsidereP∞ uma série alternada satis-
fazendo as hipóteses do teorema anterior. Então, se 0 (−1)n bn = L, temos a seguinte
16
estimativa para o resto Rn = L − sn da aproximação de L pela n-ésima soma parcial sn :
|Rn | ≤ bn+1 .
Suponha, por exemplo, que n é par. Então, como observamos antes, sn+1 ≤ L ≤ sn , e portanto
|Rn | = |sn − L| ≤ |sn − sn+1 | = bn+1 . O caso n ı́mpar é similar.
Calculando s6 , temos
1 1 1 1 1
s6 = − + − + = 0, 3680 . . . ;
2 6 24 120 720
assim, este é o valor aproximado para e−1 com erro menor que 0, 0002 (em particular,
menor que 10−3 ).
17
Como 0 < bn < n1 , claramente temos limn→∞ bn = 0; além disso, como (2n + 3).(n +
1)! > (2n + 1).n!, temos bn+1 < bn . Assim, as hipóteses do teorema para séries
R 1 alternadas
2
são todas satisfeitas, e podemos concluir que o erro da aproximação de 0 e−x dx pela
n-ésima soma parcial da série acima é menor que bn+1 .
Portanto, se consideramos a soma parcial para n = 6, por exemplo:
1 1 1 1
1− + − + = 0, 7475 . . .
3.1! 5.2! 7.3! 9.4!
1 1
temos que o erro é menor que 11.5! = 1320 < 0, 001, como desejamos.
R1 2
(Observe que podemos concluir, por exemplo, que a expansão decimal de 0 e−x dx
R1 2
começa com 0, 74 . . .; isto é, este é o valor de 0 e−x dx com precisão de duas casas deci-
mais.)
R1
Exercı́cio. Calcule 0
sen (x2 ) dx com precisão de três casas decimais.
A série binomial.
Concluiremos nossas notas com um exemplo muito importante: a série binomial, des-
coberta por I. Newton. De fato, estamos aqui revertendo a ordem histórica: original-
mente, a série binomial foi descoberta por Newton sem fazer uso da série de Taylor (então
desconhecida). De certa forma, foi o estudo da série binomial uma das motivações de
Newton no desenvolvimento do cálculo, daı́ sua importância histórica.
(1 + x)k
em série de potências. Aqui, não estamos supondo que k é uma inteiro positivo! O argu-
mento a seguir funciona para qualquer valor real de k (podendo ser inclusive negativo.)
Teorema. Seja k um número real. A série de Taylor para f (x) = (1 + x)k em torno de
x = 0 (chamada série binomial) é
∞
X k(k − 1) . . . (k − n + 1)
1+ xn ;
n=1
n!
Observe que quando k é um inteiro positivo, podemos escrever o n-ésimo coeficiente da série
acima como
k!
= kn .
(k − n)!n!
Neste caso, os termos da série são todos nulos para n > k,e a igualdade de (1 + x)k com sua
série de Taylor nada mais é do que a fórmula do binômio de Newton aprendida na escola.
k
k(k − 1) . . . (k − n + 1) k
n = para n ≥ 1; 0 =1
n!
18
qualquer quePseja aconstante real k, então a série binomial do teorema pode ser escrita
sob a forma ∞ 0
k n
n x .
A demonstração de que a série binomial de fato converge para (1 + x)k para |x| < 1
será omitida; a estimativa do resto pela fórmula integral é mais técnica que aquela feita
para ex nas notas.
Exercı́cio. Expanda (8 + x)1/3 em série de potências. Então use-a para calcular (8, 2)1/3
com erro menor que 0, 0001.
Exemplo. Como Newton calculava... Newton fez uso extensivo da série binomial; a
partir desta série ele calculou expansões para diversas funções. Vamos exemplificar o
método de Newton calculando a série de Taylor de f (x) = arcsenx (−1 < x < 1) em
torno de x = 0.
Primeiro notamos que
1
f 0 (x) = √ = (1 − x2 )−1/2 ,
1−x 2
que é uma função da forma estudada anteriormente com k = −1/2, mas calculada em
−x2 .
Assim, f 0 (x) pode ser expandida numa série da forma ∞ 2 n
P
0 an (−x ) , onde a0 = 1
e, para n ≥ 1,
x3 3 15 7
arcsenx = x + + x5 + x + ...
6 40 336
Observe que a partir desta fórmula, podemos obter as derivadas de qualquer ordem
para arcsenx em x = 0. Por exemplo, comparando o sétimo coeficiente da série acima
com a expressão geral dos coeficientes dados pela expansão de Taylor, obtemos que se
f (x) = arcsen x, então
f (7) (0) 15
= ,
7! 336
e portanto f (7) (0) = 15.7!
336
.
√
Exercı́cio. Calcule a série de Taylor de f (x) = 1 + x2 em torno de x = 0. Use-a
para calcular f (10) (0).
O teste da integral
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O teste da integral pode ser explicado por meio de um argumento geométrico; o aluno
deve acompanhar o argumento a seguir por meio de figuras. Suponha que no enunciado k = 1,
para fixar as idéias. Segue do fato que f é decrescente que o retângulo sobre o intervalo [n, n + 1]
de altura an+1 = f (n + 1) está situado abaixo do gráfico de f . Comparando áreas, temos
Rn
a2 + a3 + · · · an ≤ 1 f (x) dx. Similarmente, o retângulo sobre o intervalo [n, n + 1] de altura
Rn
an = f (n) está situado acima do gráfico de f , e portanto a1 + a2 + · · · an−1 ≥ 1 f (x) dx. Se
R∞
mostra que as somas parciais de ∞
P
1 f (x) dx converge, a primeira desigualdade
R∞ n=1 an são limi-
tadas superiormente (pelo número a1 + 1 f (x) dx, por exemplo) e portanto a série de termos
R∞
positivos ∞
P
n=1 an é convergente. Por outro lado, se 1 f (x) dx diverge, a segunda desigualdade
mostra que as somas parciais de n=1 an tendem a ∞ quando n → ∞, e portanto ∞
P∞ P
n=1 an
diverge.
P∞
EstimativaPdo erro. Suponha agora que n=1 an é convergente e aproximamos o seu
∞
valor s = n=1 an por uma soma parcial sn = a1 + a2 + · · · an ; queremos estimar o erro
Rn = |s − sn | de tal aproximação. Sob as mesmas hipóteses exigidas no teste da integral,
temos:
R∞
• Rn ≤ n f (x) dx.
Justificativa: Argumentando de modo similar à demonstração do teste da integral, observe (com-
R∞
parando áreas) que Rn = an+1 + an+2 + · · · ≤ n f (x) dx.
P∞ 1 1 1 1
Exemplo. RAo aproximarmos 1 n4 por 1 + 24
+ 34
+ ··· + 104
, o erro cometido não
∞
ultrapassa 10 x14 dx = 3000
1
.
A justificativa é baseada no fato que, como abnn está próximo de c para n grande, então se tomar-
mos um número M maior que c seguirá que para n suficientemente grande abnn < M , ou seja
an < M bn . O resultado agora segue do teste da comparação usual.
an bn
Note ainda que se lim = c e c 6= 0, então lim = 1/c e podemos concluir,
n→∞ bn
P∞ n→∞ an
pelo resultado anterior, que a convergência de 0 an implica na convergência de ∞
P
0 bn .
Assim:
an
• Se ∞
P P∞
0 an e 0 bn são séries de termos positivos e n→∞
lim = c para algum número
bn
c 6= 0, então ambas as séries convergem ou ambas as séries divergem.
∞ ∞
X n+3 X 1
Exercı́cio. Verifique se a série converge: (i) √3
; (ii) sen( ). Em cada
n=2
7
n −n 2
n=1
n
caso, perceba primeiro que não é claro como usar o (primeiro) teste da comparação;
você então deve procurar uma série de termos positivos, cuja convergência ou divergência
já seja conhecida, que possa ser comparada com a série dada no sentido do segundo
teste da comparação. Por exemplo, para a série (i) deve ser útil comparar com a série
∞ ∞
X n X 1
√
3
= 4/3
. Complete o argumento.
n=2 n 7
n=2
n
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