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Antnio Torrado
escreveu e Cristina Malaquias ilustrou
Vieram operrios da cidade ajudar construo. Carros de bois trouxeram, custosamente, pedregulhos das montanhas longnquas. Pedreiros partiram os pedregulhos em blocos e comearam a levantar as paredes. O homem que queria levantar ali, no meio da plancie, uma casa igual do rei aparecia muitas vezes, para visitar as obras. Gritava com os operrios, zangava-se com o encarregado, exigia pressa e perfeio. Se ele mandara estender a estrada at quele lugar, se ele mandara cavar um poo, donde rompia a gua que iria regar os futuros jardins volta da futura casa, s faltava estar a casa pronta, para poder inaugur-la com uma grande festa, cheia de amigos, msica e foguetes. Mas as obras arrastavam-se. Tambm seria culpa do homem, que umas vezes queria uma coisa, outras queria outra. Uma torre, esquerda da entrada, devia, vendo bem, ficar melhor, direita. Onde estava previsto o salo ia ficar a cozinha ou talvez fosse melhor desfazer as paredes dos quartos para alargar o salo... Levantava-se, deitava-se abaixo. O encarregado da obra andava atordoado. O homem deve estar louco - dizia ele, em voz baixa. Est a gastar uma fortuna e nunca mais v a casa pronta. Foi o que aconteceu. Com os pagamentos atrasados, os operrios abandonaram o trabalho. Tempos depois, silvas e mato tomaram conta das paredes. Muitos anos correram. Chuvas, cheias, vendavais arrasaram o que restava da casa inacabada. Resistiu o muro coberto de musgo e hera. Conta a minha histria - suplicava-me o muro. Mas como que eu posso contar a histria de um muro? 2
APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros
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