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D.

H Lawrence The Fox A primeira coisa que ela e Banford fizeram de manh foi sair para ver a raposa. Henry a pendurara pelos ps traseiros no galpo, o rabo morto cado para trs. Era um belo macho de raposa no esplendor as idade, com um bonito pelame grosso de inverno, de colorido vermelho dourado, mudando para cinzento na parte de baixo, a barriga branca, e uma cauda rica de plo, a ponta chamuscada de preto, cinzento e branco puro. Pobre bicho! disse Banford. Se no fosse o ladro que era, era o caso de se lamentar. March no disse nada, mas ficou apoiada numa perna, o p descansando para fora. O rosto estava plido, e os enormes olhos escuros observavam o animal morto, suspenso de cabea para baixo. Branca e macia como neve. Ela passava a mo delicadamente pelo pelame da barriga. E o bonito rabo chamuscado era cheio de coceguento, lindo. Ela passou a mo por ele tambm, e estremeceu. Vrias vezes ela tomou o volume da cauda entre os dedos e correu a mo lentamente para baixo. Plo macio, macio, grosso, maravilhoso. Agora estava morto. Ela apertou os lbios, os olhos escureceram, o olhar adquiriu uma profundidade vaga. Ela tomou entre as mos a cabea da raposa. March continuava vislumbrada, com a cabea da raposa nas mos. O bicho era um bicho estranho para ela, incompreensvel, fora do crculo imediato de sua vida. Que bonitos bigodes prateados, como agulhas de gelo. E as orelhas espertas, com plos dentro. Mas a comprida colher delgada do focinho? E os dentes brancos! Dentes feitos para atacar e morder fundo, fundo, fundo na presa viva, morder at ao sangue. Ela olhava, mas no conseguia tirar uma concluso. Ora ela lhe parecia acanhada e inexperiente, ora parecia feia, terra-a-terra, mal-humorada. O que ela dizia no casava com a imagem prometida por seus grandes olhos escuros. (...) Horas depois ela viu a pele da raposa pregada em uma tbua, como crucificada. Aquilo lhe deu uma sensao desagradvel. D. H Lawrence The Fox. P.59-60.

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