Rawls - O Liberalismo Político

Você também pode gostar

Você está na página 1de 215
JOHN RAWLS Oo LIBERALISMO POLITICO "Anno oe ite senuereMas © 1995 Calabi Univer ro as phe apn desi Ts Ve (© cermo libra no tem nos Estados Unidos 2 mesma acepszo que Ihe €aesibuida entre nés e na Europa. Os conservadores norte-ameti~ ‘anos entendem-no como sindnimo de socialists © que tampouco faz en sentido no Brasil. © socialismo ocidencal, embora acaleneasse a ilu ead slo da saciedade sem classes ¢lutass pela estatizagio da economia, ‘atv Ges Mendes sempre se ateve aos limites impostes pelo sistema democritico ee eice presencativo (ao contrério do soialismo oriental, que sderiu a cota Mie Gama Aro Titarismo e passou a et conhecido como comunismo, juscamente pa- Ss 12 alo confundi-lo com o socilismo). Nos Estados Unidos, nunca, eat hhouve movimento expressive em favor da criagdo de qualquer espé- Moc Anan cie de Estado empresitio, A coreente force (liberal, em grande medi ee deo sete 4s identificada com o Partido Democrat) caracteriza-se pela adogio Suma sb de mecanismos oficiais destinades a promover a elevacio dos padrGes Feit ii de enda da minoria que nio consegucfaz8-lo através do mercado pereatat (Naw Deal de Roosevelt; Big Sicety de Lyndon Johnson ec.) Assim Impreno nas fis da sendo, ela mais se asemelha 8 socal-democracia eutopéia, ainda que rica Pals Aer «sta $6 ¢ tenha ofiializado no Congeesso de Godsberg (novembro Been Ade 1959), do Partido Social-Democrata Alemio, que rompe com © _marxismo ¢ renuncia a socedade sem classes, se bem que sem abdi- cat de uma cerca igualdade de reatadss (0 compromisso dos liberis € 20 om aigualdae de oportunidad) O ira amveicano pode, pois, ee eee ‘ser qualificado de social-democrata. Os liberais estadunidenses sio escent ea — chamados de mers o nro dispondo de geandein- on 0 CEP O10 7S Past Aa Ahuncia no Pardo Republicano.Tampouco paderim ser identifi 01 36.00 0.1 27-46 cador com os conservadores, ques tab muito stuantes, mas Sut etenowcieente Se culivam faa pep A digressia precedente vem a propésico deste livro que se deno- mina Libations pli. Seu autor € um auttatico lideral, na acepgio acima caracterizada,sendo portanto legitimo caracterizé-o como s0- cial-democraa, Jolin Rawls (nascido em 1921), professorem Harvacd, sleangou grande nomeada com a publicagio, em 1971, do livro Uma tuoria da justia. Naquela oporcunidade, avangou a hipstese de que a justiga dia tespeto a0 conjunto da vida humana, eno apenas a um de seus segmencos. Deveria repousar num principio igualitiio as- sim formulado: “codes o valores sociis — liberdade e oportunid de, progtesos e riquezas eas bases do respeito asi mesmo — dever distribuir-se igualmence,a menos que uma disribuigio desigual de ‘qusisquere de todos eses bens seja vantajosa pars todos". Rawls pre- ‘ende, assim, ter chegado i apreensio de um principio bisico ("A jus- tiga 6 primeira vieeude das instieuigBes sociais, como a verdade 0 € de todos os sistemas de pensamento"), a partir do qual seria possivel reorganizar a vida socal. (© igualicarismo de Rawls veio dar novo alento 20s social-demo- rata (tera) americans. Como, em 1965, as familias considera das pobres compusessem 17,3% da populagio, o nivel mais alto da histria americana, a celeuma provaceda pelo fato levou o presidente «em exercicio (Lyndon Johnson) a lancar novos programas de assstén cia, em decorténcia do que os dispéndios correspondentes rapida~ ‘mente alcangarum moncantes da ordem de US$ 400 bilhies anuais. corre que iniciativa ndo reuleou na redusio daquele contingen- {e, Ao conteito disso, emergiu ofendmeno das familias com um Ga cochefe (basicamente mes soleiras),cujs ilhosiriam sucessivamen: teengrossar a fileiras de drogados e delinglentes.O igualicarismo entra em decliio eo clamor pela reforma dese siseema ganhs fora (conseguiv, como sabemos, introduzr diversas mudanga, inclusive ‘com o apoio dos chamados new democrats, corrente com crescente in fluéncia no Partido Democrata que, de uma certa forma, aproxima- vaste da insscénciarepublicana em prol da revitalizagio dos valores ‘adicionais da sociedade americana). Reivindica-se a paternidade responsivel, que os programas de asistencia social fica acabaram, por enfraquecer. Nesse contexto € que a obra Una vera da justia de 6 Rawls aruou no sentido de reagrupare fortalecer os liberals (scial- ‘ira para que eles concebam seu states comum € garantido de cidae dios iguais e cents conectar uma deverminada forma de encender 2 9 liberdade e a jgualdade com uma concepgio especifica de pessoa que penso ser afim as nogSes compartilhadas conviegSes esenciais im= plfcicas na culeura pablica de uma sociedad democritica’ ‘A obra de Rawls ensejou uma grande dscussio nos principals pat> ses do Ocidente,¢ no sé no mundo anglo-suxio. Neste, a douttina ‘moral sceta desde o inicio do culo XIX consiste em afirmar que, ‘ng busca da prépia elicidade (da maneita especifca como a enten- dem), o¢ individuos contribuirio para a conquista da flicidade ge- ral, Essa doutrina foi denominada de atlterimo, denominagio que cde modo algum expressa seu sentido principal. Na eradugio latina, 0 termo sil no expressa 0 que se tinha em mente ao empregéclo. Referiase, na verdade, iquelas ages efits, isto €, que se mostra vam adequadas & consecugio des objetivs visados. No fundo, tem= se afaidéia protestante de que o sucesso social seria um indicio de salvagio (a partir da premissa de que as acBes dos individuos deve ‘iam ter em vista erigir na terra uma obra digna da glia de Deus), E, se merece a aprovagio de Deus, sua aco € benéfica para codos ( “mio invisivel” de Adam Smith). ‘A experiéncia concreta revelou duas coisas: 1) 0 mercado, se cia condigdes apropriadas para o exerici da criatividade dos empreen- dedores — e portanto do progresso material —, também engendrs crises colossais como a de 1929; 2) eliminagio do mercado —co- ‘mo preconizado e em certa medida levado & pritia pelo socialismo democritico do Ocidente — leva i estagnacio (a Inglaterra do pés- ‘guerra é 0 exemple mais flagrant) [A social-sdemocracia (bem como aquilo que entre és tem sido de- rnominado de liberaismo social) busca um caminho que permit rméximo de liberdade ao mercado e, 20 mesmo cempo, o controle €a ingeréncia extatais naquele aspectos que sejam decsivos pars a esa= bilidade econdmica politica. Essa busca passe nataralmente pela aproximacio entre moral e politica, como deseja John Rawls. O su- cesso de Tony Blair deve-seem grande medida a seu empenho em re- cuperar a componente moral do socialismo originério. Contudo, se aplicado, o igualitarismo de Rawls produziria um grande dissenso, social, donde a sua virtual impossibiidade sistema democritico to epresentativo, i que dificilmente enconteatia sficience apoio para ser adotado, No fundo, 0 que estd em discussio € 0 seguinte: no processo de busca de uma posicio superadora das limitagBes do socialism, mas preservadora de seu legado (mora) imorredouro, deve a social-demo- ‘racia manterfidelidade 8 ignaldade de raltads? © trabalhismo in- lés jf respondeu negativamente a esa pergunca. O nosso voro é que «4 publicagio desta obea seminal de Joho Ravis leve os social-demo- ‘rata brasileirs a participaedesse émpolgante debate Brasilia, janeiro de 1999 Carls Henrique Cardin © LIBERALISMO PoLIiTtico Jon Rawis Para Anne, Le, Alle Liz SUMARIO Tncrodugio PARTE (© LIBERALISMO POLITICO” ELEMENTOS BASICOS ‘CONFERENCIA I~ IDEIAS FUNDAMENTAIS $1, Duas questdes fundamentais §2.A idéia de uma concepgio politica de justin 83. A idéia da sociedade como um sistema equiativo de cooperagio $4. A idéia da posigo original $5. A concepgto politica de pessoa $6. A idéia de sociedad bem-ordenada §7, Nem comunidade, nem associagio 8. Sobre o uso de concepgses abstraeas (CONFERENCIA Il AS CAPACIDADES DOS CIDADAOS SUA REPRESENTAGAO §1, 0 mzoivel eo racional §2. 0s limites do juizo $3. Doutrinas abrangentes erazoiveis $4. A condicio de publicdade: seus es niveis §5. Auconomia rcional: artifical, no politica 6. Autonomia plens: politica, nio éica a 46 3 38 6 2 8 84 a 92 98 102 no 116 1 §7. A bese da motivagio moral da pessoa §8. Psicologia moral: floséfica, alo psicoldgica ‘CONPERENCIA I © CONSTRUTIVISMO POLITICO 1. A idgia de uma concepgio conserutivisea §2. 0 construrvismo moral de Kane {3A jusiga como equidade enquanco visio construivista ‘$4. O papel das concepces de sociedadee pessoa $5. Ties concepyses de objerividade [§6, A objecividade independence da vio causal do conhecimento 157, Quando existem razdes objetivas, em termos politicos? 48. Oalcance do conserutivismo politico (© LIBERALISMO POLITICO: TRES IDEIAS CENTRAIS CCONFERENCIA IV - A IDEA DE UM CONSENSO SOBREPOSTO §1. Como 6 liberalismo politico € possvel? §2. Agquestio da estabilidade 43. Tits caracteriticas de um consenso sobreposto ‘$4. Um consenso sobreposto io € indiferente, nem cético §5. Lima concepcio politica no precisa ser abrangente 96, Passos para um consenso consticucional 7. Passos para um consenso sobreposto 8. Concepgio e doverinas: como se eelacionam entre si? 126 Bz 135 144 147 153 156 163 165 v2 180 186 190 196 200 205 au 216 CCONFERENCIA V- A PRIORIDADE DO JUSTO F AS IDEIAS DO BEM $1. Como uma concepsdo politics limita 8 concepgées do bem §2.O bem como racionalidede §3. Bens primétiose comparagies interpessouis 18 221 223 225 $4. Os bens prisirios enquanto necessidades dos cidadios 45. Concepts permissiveis do bem e vireudes poliicas $6. A justia como equidade ¢ justa em relagio as concepsdes do bem? §7. 0 bem da sociedade politica {98 A justice como equidade & completa CCONFERENCIA VI- A IDEIA DE RAZAO PUBLICA 1, As quest fans deo pablice $2. Raziopablicn eo ideal de cidadania democrvca 85, Raztes o-pblcas $4. O contetido da raziio piblica §5. A idéia de elementos constitucionais essenciais 6.0 supremo eribunal como exempla de rst pablica §7. As dificuldades aparentes da raziio publica $8. 0s limites du rao pilin PARTE IL ‘A ESTRUTURA INSTITUCIONAL CCONFERPNCIA VII - A ESTRUTURA BASICA COMO OBJETO $1.0 objeto primeica da justiga §2. Auunidade pela seqéncia apropriada {$5.0 libertrianismo no atsibui nenbum papel especial 3 estrutura bisica $4. A imporeincia da justiga bsica §5. Como a estrutuea bisica afta os individuos §6. O acordo inicial como hipotético nlo-histrico 87. Caractersticas especiais do acordoinicial {§8. A nacareza social das eelacBes humanas 9. A forma ideal da estrurura bisica §10, Resposca 3 critica de Hegel 234 238 243 249 256 262 265 269 272 277 281 201 298 309 34 318 321 324 328 331 334 338 CCONFERENCIA VII - AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS SUA PRIORIDADE §1. 0 objetivo nical da justia como eqhidade §2 O staras especial das liberdades fundamentais 43. ConcepgBes de pessoa e cooperacio socal $4. A posicio original $5. A prioridade das liberdades, I: a segunda ‘capacidade moral $6. prioridade das liberdades, I: primeica capacidade moral 97. As liberdades fondamentas nZo io ‘mera formalidade §8. Um sistema plenamence adequado de liberdades fundamentais §9. Como as liberdades se encaixam num §10, A expresso politica livre SLL. A regea do perigo claro e presente §12. A manucengio do valor equitaivo das iberdades poicicas §13. As liberdades vinculadas a0 segundo §14. O papel de justia como eqhidade 348 353 359 365 370 380 387 391 397 405 414 a2 a7 turmooucko [As es primeiras conferéncias dest livo coincidem, em termes -erais, com aquelas que apresentei na Universidade de Colimbia em. abril de 1980 e foram publicadas, com revises consideraveis, no Journal of Philusphy, em setembro daquele ano, com o vieulo de“O ‘construtivismo kantiano na teoria moral", Ao longo dos dee anos se _guinees elas foram rescrtase passaram por nova revisfo. Acho que cstdo muito mais claras do que ances, 0 que ado significa que agora ‘estejam totalmente clas. Continuo chamando de conferéncas © que poderia ser chamado de capiculos, pois foi na qualidade de cones cias que eu as concebi tento preserva, talvez sem sucesso, um certo ‘estilo coloquial ‘Quando as conferéncas originais foram proferidas, plancjava pus blici-lasjuntamence com outraserés. Uma delas, "A estrutura bisi- «ca como objeto” (1978), jé fora proferida e publicada, enquanto as futras duas, “As lberdades fandamencais e sua prioidade” (1982) € ‘Unidade social e bens primros” (1982), estavam esboradas ou pré- xximas de sua conclusio, No encanto, quando essas ers outra confe- ‘ncias foram Finalmente apresencadas, vi que no tinham o tipo de Lunidade que eu queria, quer encre si, quer em relagio&serésanterio- tes'. Por iso esctevi mais er dssertagGes sobre oliberalismo poli 0%, como agora denomina 0 conjunto, comegando com "Uma con= cepgio politica, nio metafisica” (1985), grande parce da qual ests 1 Decor acon dt pina a nig age alert 2 Ese tern uta em “Oveppng Cones” Ofd ara of Lisl Sa 7 eve tern de 187) 2Sae Te Prey igh an Le of he Gen Phang and Pali ‘Af to cde 98, 271273. 2 incluide na primeira confeténcia, seguida por “A idéia de um consen- s0 sobreposto” (Oserlapping Consensus) (1987), “A prioridade do justo € as idéias do bern” (1988) €“O dominio do politico” (1989). As tes ‘leimas, consideravelmente refeitas e combinadas, juntamente com, "A idéa da tanto pablice", que aparece aqui pela primeira ver, cons- ticuem as erés conferénciasfinais deste liveo. [As seis primeias conferéncias esto celacionadas da seguince ma- ‘cits: as els primeiras apresentam o puno de fundo filos6tic do l= berslismo politico em termos de rardo pritica, principalmente os 881, 3, 7,8 da Conferéncia I todos os da Conferénca Il, enquan- to a5 eds lkimas discutem mais detalhadamenteviris de suas pin~ cipaisidéias, como, por exemplo, a idéia de um consenso sobrepos- to, idéia da prioridade do diteita e sua relagio com as idias do bem, 4 idgia da ranio pablica. As conferéncias tm agora aunidade te- sndcica desejada, canco ence si quanco com o espiitoe teor de Una teria da justia’ dia do liberalismo politico. (Os abjetivos de Um tra da ui foram esbogados em seu pre- fico (§§2-3). Ali, comeco observando que, durante grande parte do periodo moderno da filosofie moral, a visio sistemitica predominan- te no mundo de ings inglesa sempee foi alguma forma de uit rismo, Isto se deve, entre outeas cosas, 20 Faro de ess visio er sido repeesentada por uma longa linhagem de escritores brilhantes, de Hume e Adam Smith a Edgeworth e Sidgwick, que construfram um, cedificio intelectual realmente impressionance no que diz cespeito 8 amplitude e profundidade. Em geral as objecSes de seus crticos foram limitadas, Observaram dificuldades com o principio de utili- dade e salientaram disceepncias sériase evidences entre suas imp cagBese nosas convicgSes moras comuns, Mas cteio que esses citcos, ‘ao conseguiram elaborar uma concep¢i0 moral vidve esistemética que pudesse contrapor-se de fato a ese edificio, O resultado foi que nos vimos muitas vezesforgados a zee uma opgzo encre o utiitaris- ‘mo e oineuicionismo racional e, provavelmente, a escolher uma va- riance do principio de uilidade resereae limitada por objegbes in- tuicionietas aparentemente ab. 5. Thy Ja Cabge Mas: Haar Univer Pros, 171). 22 (Os objerivos de Tara (ainda parafaseando seu precio) cram ge peralizarelevar a uma ordem superior de abseragZo a doutrina tradi- ional do conceato socal. Eu queria mostrar que essa doutrina tinh, como responder As objegBes mais Gbvias que, em geral, forum conside- ‘das fata para ela, Espero claborar com mais clatea as principas c= racterstcas estruturas dessa concepsdo —a que chamei de “justia ‘como eqiidade'— edesenvolvé-La como uma outa visio sisteméti cde jusiga, superior ao utltarismo. Julguei que essa oura concepsio, cea, entre as concepgies moraistradicionais, a que mais se apeoximava de nosas convicgées refleidas de justiga,consctuindo a base mais apropriada para as insticuiges de uma sciedade democriica. (Or objets dessa confeéncias sio bem diferentes. Observe que, ‘em meu resumo dos objecivos de Teri a tadigio do contrato social parece como parte da flcsofia moral ¢nio se fax distingio alguma ‘ee Filosofia morale politica. Em Teoria, uma doutrina moral da mente politica de justiga. O conteaste encre doutrinas filosficas € -morais abrangenees concepgBes limitadas ao dominio do politico no é de grande relevincia. No entanto, esas diseincBese ids afins slo fundamentais nas conferéncias aqui apeesentadas [Na verdade, pode parecer que 0 objetivo e 0 teor dessas conte ‘acias indica uma grande mudanca em relacio aos de Tria. Ceeta- justica de alcance geral ado se discingue de uma conce ‘mente, como jd ressltei,existem diferengas importantes. Mas, para entender a nacureza ea exten desis diferencas, é preciso vé-las como fatores decorrences da tentativa de exclarecer um grave proble- ‘ma interno, proprio da justiga como eqlidade. Elas decorrem, em ‘ues palaveas, do fato de a descrigio de estabilidade, na Parte IIL e Tira, ndo ser cerente com a vislo em sua totaidade. A elimina- iio desss incoeténcia, creio,responde pelasdiferencas entre quela obra ea presente, De resto, as conferéncias aqui apresentadas acaram substancialmente a mesma esteutura ereor de Teri’ 4 Evdemeann,¢pcin aig msl deo fe eves ual gl ‘oresum eo cone epg come ead ram spasm Une de ‘ee. Rigscs ee soto, tir eee a mina aca 23 © serave problema a que me referi — € preciso que eu explique — diz respeito a idéia pouco realist de “sociedade bern-ordenada”, tl como aparece em Terie. Uma caracterfstcaessencial de uma so- ‘ma concepclo politica eazoével de justiga € possivel. O liberalismo politico comege por levar a serio profundidade absolueadesse con. Aieo lacente eieeconciisvel. Sobre a relacio entteo iberaismo politico ea filosofia moral do petiode moderna, enquanto a filosofia moral ea, claro es, profun- damente afetada pela sicuacio religiosa no incerior da qual se desen= volveu depois da Reforma, os principaisescricores do século XVIII ssperavam estabelecer uma base de conhecimento moral independen- te da aucoridade ecesicicae acessivel A pessoa comum, razoivel conscienciosa. Feito iso, quiseram desenvolver todo o leque de con- ceitas € pri ‘pos com base nos quaisestabeleceriam 05 requisicos ‘da vida moral, Com ess finalidade, estudaram as questdes bisicas da epistemologiae da psicologia moral, eis como: (O conhecimento ou a nogio de como devemos agir seria dado di- cecamente & alguns apenas, a uns poucos(o cleo, digames), ou 2 c- da pessoa normalmenterazoivel ¢conscienciosa? ‘A ordem moral exigids de n6s deriva de uma fonte externa, de ‘uma ordem de valores existence no intelecto de Deus, por exemplo, ‘ou surge, de algum modo, da pris nacureza humana (tanto da ra- io quanto do sentimento, ou de uma ur com of requisitos de nossa vida em comum na sociedade? Finalmente, devemos cer persuadidos ou levades a aos convencer de nossos deveres e obrigacdes por uma morivacio externa, pelas san Bes divinas, por exemple, ou peas sang¥es estas? Ou somos cons dos de tal forma que temas em nossa naturees motivos sufcien- Fo de ambos), juntamente a4 ‘es para nos levar a agir como devemos, sem a necessdade de amea- ase indugées externas"? “Todas essas questées surgitam primo na ecologia. Entre os au cores que geralmence eseudames, Hume e Kant, cada qual 3 sua ma- rei, escolhe a segunda alternativa como espostaa cada uma dessas crs questées. Acreditam que a ondem moral surge de algum modo 4 prdpria natureza humana, como eazio ou como sencimento, das condigies de nossa vida em sociedade. Acreditam também que saber fou cer consciéncia de como agir é dado diretamente a coda pessoa que Sj notmalmence razoivel e conscencioss.E, por fim, areditam que somos constieuidos de tal modo que temios em nossa nacureza moti vos suficientes pura ns levar a agie como devemos, em a necesida- de de sanges externas, ow pelo menos nio sob forma de eecompen: 55 e punigSes impostas por Deus ou pelo Estado. Na verdade, canto Hume quanto Kane encontram-se 0 mais longe possvel da visio se- _gundo a qual somente uns poucos tém discernimento moral ¢codas 4s pessoas, ou a maioria delas, devem ser obrigadas a fazer 0 que é ‘certo por meio dessa sangbes™. Nesse sentido, suas idéias fem par- {e daquilo a que chamo de liberalismo abrangente, em contraposigio a iberaismo politica, ‘Oliberalisma politico aio € um liberalism abrangente, Nio ado- ‘ca uma posigdo geal sobte as trés questbes acim; deina que sejam espondidas 3 sua prdpria maneita plas diferentes vies abrangen- tes. Contudo, no que diz respeico a uma concepto politica de just: (4 num regime democritico consticucional, 0 liberalismo politico Aefende caregoricamence a segunda alternativaem cada umadas ques- es propostas. Nesse caso fundamental, defender esss alteroativas faz parte do constrativismo politic (IM). Os problemas geris de f 15. si pein cnet de acct Scheid Mr Phy fn lng Kone A At. i (Cambedge Combes Uniey Pree Aiverios ent de Schaewiod, ete es, em partic, “Natal Lam, Sheps, and (he Mea ot Eta oft yf a 92191 299-508 cei an kat, Mn Py 2, a grea Hae 35 losofia moral nfo sio da alga do liberalism politico, exceto quan do afetam a maneita pela qual a culeura de base e suas doutrinas brangentestendem 4 apoiar um regime coasticucional. O liberalis- ‘mo politico vé sua forma de ilsofia poicica come possuidora de um tema proprio, qual seja: como € possivelaexisténcia de uma soci dade jst live em condigies de profundo conflto doutrinsria, sem perspectiva de resolugio? Para manter a imparcialidade entre dou- trinas abrangente,o iberslismo politico aio discuteespecificamen- te-0s t6picos moras que dividem essus doutrinas. As vezes iss0 pa- rece apresentar dificuldades, as qua procuro resolver a medida que surgem, como em V8, por exemplo, Pode parecer que minha énfise na Reforma e a longa controvér- sia sobre a tolernca, entendidas como a origem do liberlismo, seia anacrnica em relasio aos problemas da vida politica contempori- ‘nea. Entre noss0s problemas mais bisicos encontram-se 0s de ra, ccnia e género, f possivel que tenham um cariter inteiramence dife- rente, que exija ptinefpis diferentes de justca, no discutidos pela Tori ‘Como observei antes, Uma tora da jusicapropés-se a apresentar ido que as con- cepgesteadicionais mais importantes e conbecidas. Tendo em vista ‘ssa finelidade, limirou-se — como as questSes que discure deixam, Claro —a uma série de problemas cisscos e ans que estiveram no ‘uma visio da justia politica e social mais savsf centro dos debates hiséricos relativos 3 escrutura moral e politica do Estado democetico moderna, Por isso tata dos fundamentos das li- berdades eeligiosase politicas biscas,e dos direios fundamentais ‘dos cidados na sociedade civil, incluindo aqui a liberdade de movi- ‘mento ea igualdade equitativa de oportunidades, o dieito& proprie~ dade pessoal eas gatantias asseguradas pelo império da lei A Tewia dliscute também a justiga das desigualdades econdmicase socias mu ima sociedade em que os cidadios sio considerados livres e iguais, ‘Mas ignora em grande parte a questio das reivindicagdes de demo- cracia na empress no local de trabalho, assim como a de justia en ‘tre os Estados (ou povos, como peefito dizer) e praticamente deixa cde mencionar a justia penal ea protecdo ao meio ambiente ou a pre 36 servacio da vida silvestre, Quteas questdes importantes sio omii- as, como, por exemplo, a justiga da ena familia, embora eu de fico supona que, de alguma forma, a familia € justa. O pressuposto sub jacente & que uma concepcio de jusige desenvolvida com o foco em tans poucos problemas clisicose de longa data hé de se coreta 0, pelo menos, apresentar dretrizes para a resolugio de outeas questes Esse & 0 raciocinio que fundamenta a focalizacio em uns poucos pro- blemas clisscos cenerise persistentes F clara que «concepgéo de jusiga 3 qual se chegs dessa mancira pode mostra se defeitusa so € que esté por cis de grande pare da crcica fica 3 Teoria, segundo a qual 0 tipo de hibealismo li e- presenta seria insinsecamente defetuoso po se bascr numa con- cepsoabstrata de pessoa e por evar de uma ida individualist, ‘io social, de nacoreza hamana ou porque empregata uma distin- fo implausivel ene pblio eo privado, o que aiposibilcaria de idar com os problemas de género fami. Acreito que geande pare dessasobjoes concep de pessoneideia de naturezs hu mana resultado fato de nose vee a iia da posi original como um acificio de representa come explico em I:4. Acredito tam- bem, embora nio procure demonsteé-lo nas conferéncias aqui pre~ sentes, que as supestas dificuldades em discutir problemas de géne- 0 familia podem ser superadas, Dessa forma, continuo achando que, se dispuseemos das concep= bese principios adequados as questieshisticas bésicas,essas con cepgSes e principies teri larga aplicacio 20s nossos pestis proble- ‘mas. A mesma jgualdade da Declaragio da Independéncia que Lincoln Jnvocou para condenar a escavidio pode ser invocada para condenat a desigualdade ea opressio das mulheres. Penso que é uma questio, de entender o que os principios anteriores requerem sob outta cit Ccunstinciase de insstr para que sejam postos em pritica pels ins Citwigdes existences. Por essa razio, a Tria concentroucse em certos problemas hise6ricos, na esperanca de formular uma série de concep (8es principiosafins erazodveis que possam ser aplicados tambéen 8 outtos casos bisicos 7 Para concluit, procurei moscrar nas observagSes acima que agora ‘entendo justiga como eqidade como uma forma de liberalismo po> Hicico, e procurei mostrar também por que mudancas se fizeram ne cesstias, Essas observagées enfatizam o sério problema interno que levou a tais mudangas. No entanto, nio pretendo dar uma explicas ‘io de como e pot que essas madancas foram feicas de fo, Na ade, nio creio que saibs por que tomei essa direcio especitica Qualquerhistéria que eu conte sera, provavelmente fcgio, apenas aguilo em que quero acreditar. ‘O primeico uso que fiz dessa idéias de concepto politice de jus- tiga ede consenso sobreposto foi equivocada e levou a abjegées que, inicialmenee, achei desnorteentes: como idéias simples como as de ‘uma concepgio politica de jusica e de um consenso sobreposto po- dem ter sido mal entendidas? Subestimeio grau de complexidade necessirio pars que Teri fosse coerentee considerei pontos pac os algumas pegs essenciais que falearam para uma formulaso con- vincente do liberalism politico. Denezeessas pegas que faltaram, 2s principais so 1) aidéia de justiga como equidade enquanto visio auto-susten- ‘ada, ea de um consenso sobrepasto como um componente de sua incerpreragio da estabilidade; 2) distingdo enere pluralismo simples e pluralismo razosvel, ia de uma doutrina abrangente razosvel; 3) uma interperagio mais completa do razovel edo racional en- tretecda na concepsio da consteutivismo politico (em conera~ posigio ao consteutivismo moral), de modo que fique claro o tembasamento dos prinefpios do diteio e da justiga na razio pritics. Com essas pegs no lugar, acredico que as partes obscurasestejam agora esclarecidas, Tenho muitos ageadecimentos a fazer, 2 maioria dleles indicados nas notas de rodapé ao longo de todo o Livro. Com aqueles com quem rive discusses instruivas sobre as pessausentes ‘mencionadas acima, pessoas com as quas aprendi muito, cenho uma divida especial acompanhada dai 38 ‘Ageadeso aT, M. Scanlon as numerosas discusses insteutivas, desde o comeso, sobre 0 construtivismo politico © o conserutivisme ‘em geral, motivo pelo qual ess visio, apresentada em Il, esté agora ‘mais compreensivel do que a anterior, esbocada em 1980; e também plas discusses sabre a dstingio entre o razosvel eo racional, ¢s0- bre a maneita de especificar orazodvel, rendo em vista os abjetivos de uma concepgio politica de justiga (IE 1-3). ‘A Ronald Dworkin e Thomas Nagel sou grato pelas muita dis- cussies enquunto partcipsvamos de conferéncias na Universidade de Nova York entre 1987 1991; , em eelago 3 idéia de justiga como, ‘eqiidade enquanco visio auto-sustentada (I:5), por uma conversa in- ‘comumence esclatecedora pot volta da meia-noite no bar deseeto do Hotel Santa Licia, em Népoles, em juno de 1988. ‘A Wilfied Hinsch, pela necessidade da idéia de uma douetina sbrangence ¢razoivel, em contraste com uma doutrina abrangente ‘impliiter (U3), e pla discusses insteutivas a esse respeito-em maio, « junho de 1988, {A Joshua Cohen, que enfatizou a importincia da discingio encre pluralismo razodvel epluralismo simples (1:62), pelas muias dis- ‘ussbesvaliosas sobre a idéia do razovel em 1989-90, codas sintet zadas em seu artigo de maio de 1990. {A Tyler Burge, por dus longas cartas no verio de 1991, em que ‘questionava ecriticeva uma versio anterior de IIL. Persuadiu-me de que eu no apenas ndo conseguita dar um sentido claro 3s formas pe- las quais canto o construtivisme moral de Kant quanto 0 meu cons truivismo politico explicam a autonarnia moral ou politica, mas que cexcedera também of limites de uma conce politica de justica a0 fazer o conttaste entre conscrutivisme politica e intuicionismo ta- ional. Na centativa de coreigir esss falhas graves, reescreviinteea- ‘mente 0s §§1, 2€5. ‘Como indicam essas datas, cheguei a uma compreensio clara do liberalism politico — a0 menos em minha opinigo — s6 nos dlti« ‘mos anos. Embora muitos dos enssios anteriores sparecam aqui com ‘© mesmo titulo ou um ctulo semelhance, e grande parce do mesmo 39 contesido, foram codos consideravelmence ajustados para que, jun~ tos, expressem 0 que agora acedito set uma visio coerente. ‘Procurei agradecer « outta pessoas nas notas de rodapé. No en- canto, os agradecimentos que se seguem dizem eespeito a dividas que se estenderam por muito cempo e, por uma f22%0 ou outea, no pu dram ser devidamente econhecidas de outra maneir ‘Agradego a Burton Dreben, com quem discuti longamente 2s aquestées dessas conferéncia, discussdes que tiveram inicio no final, dos anos 70, quando a idéia de liberalism politico comegou a tomar forma em minba mente, Sew incenivo firme e sua severa critica tal- raidica me fizeram urn bem imenso. Minha dvds com ele € impos- sivel de pagae. ‘Ao falecido David Sachs, com quem diseuti desde 1946, quando ‘nos encontramos pela primeira vez, muita das questdes que 0cexto considera, principalmence as que dizem respeico&psicologia moral Em relaso aoe rdpicos deste livro, Sachs eeu tivemos longs discus ses, muito valiosas para mim, em Boston, ers vezes na década de 1980. Na primaverse no verio de 1982, discutimos virias das difi- culdades que encontramos nas conferencias que proferi em Colimbia fem 1980; no verZo de 1983, ele me ajudou a preparar uma versio consieravelmence melhorada de “A esteurura bisica como objeto”, assim como uma versio muito melhor do §6 de “As liberdades fun- séamentaise sua proridade”, que trata a idéia da sociedad como uma ‘unio social de unidessoiais, Espero usar ambasalgum dia. No verio de 1986, reelaboramos a conferéncia que havia proferido em Oxford rho més de mio ancesio, em homenagem a H. L.A. Hare. Essa ver~ ‘so melhorads foi publicada em fevereio de 1987 na Oxford Journal of Legal Sidie, grande parce dela reaparece aqui em IV. ‘A falecida Judith Shklar sou grato pelas iniimeras discusses ins ‘rucivas desde que nos conhecemos, hé erinca anos. Embora nunca tenhe sido seu aluno, aprendi com ela como um escudante aprende~ Fia,o que me fez melhor, Em relacio a este livro, ela me fo de gran de uxili, especialmente ao sponta dieecdes que deviam ser explo- radas;e sempre confei nla em questdes de interpreragio historia, 4 de imporcincia crucial em virias passagens do texto, Nossa ileima discussiogirou em eorno dessa quests. [A Sarpuel Scheffler, que, no outono de 1977, enviou-me um pe _queno artigo, “Independencia moral ea posigio original”, no qual afi haver ur sévioconflico entre a cerceira parte de meu artigo “A independéncia da eoria moral” (1975), que tratava da rlacio en: ‘re identidade pessoal ceoria mor ‘e meus argumentos contra © utiliaeismo em Teri. Lembro-me de que foi nesse momento (eu ‘estava de licenga naquele ano) que comecei a pensar sea visio da ‘Thora no peecisarie ser cottigida, ¢ em que medida. A decisio de explorar esse problema, ¢ndo um otro t6pico, acabou levando 3s confestncias de Colmbia de 1980, ¢ aos enssios posceriores que ea bboram a idéia do liberalism politico ‘A Erin Kelly, que nos tleimos dois anos leu os rascunhos do ori= inal, destacando a passagens nas quai o texto estava obscuro e su _gerindo esclerecimentos; propds-me formas segundo as quais argu ‘mento poderia ser reorganizado para le dar mais orga; €, a0 fazer perguntas levancar objegSes,levou-me a remodelar 0 texto inter Seria impossivel fazer uma lista de todas as tevisdes a que seus co- _mentitios me conduzirany; mas, 3s vezes,levaram a aleragBes im- porcantes, AS mais Fundamentais, procure: agradecer-lhe nas notas de rodapé. Ox méris deste trabalho, sejam quais forem, resuleam, ‘em boa medida de seus esfogos Finalmente, gostaria de agradecer As seguinces pessoas por seus ‘comentiriosescritos sobre o texto ‘A Dennis Thompson, que me enviou varias piginas de sugestoes cextremamente valioss, €quase todas levaram a correges ou revises do texto; indiquei os lcais onde algumas delas foram feitas nas n0- ts de rodapé, onde também cite seus comentieos. [A Frank Michelean, pelos muitos comentirios perspicazes que relucei em admiei, porque na poderia responder a els de forma ade- quads sem fazer, neste momento, mudangas substanciais ¢ de longo 15.0 de fei pubis dpi em hp Snd 3811999 397-05 4“ alcance. Somente em uma passagem (VI6.4) tive condigoes de res- ponder-the a content. ‘A Robert Audi, Kene Greenawalee Paul Weithman, que me man- daram sugestOesinstigantes sobre VI, algumas das quais consegui incluie, vistas no tleimo momento ‘A Alyssa Bernstein, Thomas Pogge e Seana Shiffin, que me ens viaram extensos comenttios eseritos, os quas infelizmence no pu de levar em consideragio em sua cotalidade. Lamento que eles nfo vejam seus comentérios discutidas aqui como deveriam. Lamenco ‘também por, a0 reimprimie "As liberdades fundamentais sua pr ridade"(1982) sem aleeragSes, no ter respondido is criticas pene trantes de Rex Martin, apresentadas em seu Rasuls and Rights, prin- cipalmente cape. 2,3, 67 elo erabalho ingrato de me ajudar acorrigire editar oo inal e 8 provas, agradeco a minha mulher Mard e & nossa filha Liz, € ‘Michelle Renfeld e Matthew Jones. Job Rawls ‘Oueubto de 1992 2 PARTE O liberalismo polftico: elementos basicos IDEIAS FUNDAMENTAIS (© liberalismo politico, o titulo destas conferéncias, soa familia [No entanto, quero dizer com essa expresso algo bem diferente, ceio fu, do que 0 leitor provavelmente supse. Talves por isso eu devesse ‘comegar com uma definigzo de liberalismo politico, explicando por jque 0 chamo de "politico™. Mas nenhuma definicio é Geil no inicio, ‘Comeso, 20 concririo, com uma primeiea questo fundamental sobre & justiga politica numa sociedade democrivica, a saber: qual a con cepa de justiga mais apea a espeificar os termos eqlitativos de coo- peragho social entsecidadios considerados lives e igus, e membros plenamence cooperativos da sociedade durante a vida toda, de uma _geragio até seguinte? ‘A essa primeira questo fundamental, acrescentamos uma segun= «da, da rolerincia compreendida em cermos gerais. A culeua polti- ca de ums sociedade democtitca € sempre marcada pela diversidade de douttinas eeligiosas,flosdficas © morsisconflitancese itreconci- ligveis. Algumas sio perfeitamente rszodveis,e essa diversidade de outrinas razodveis, 0 liberalismo politico a vé como o resultado ine= vitével, a longo prazo, do exerccio das faculdades da razdo humana «em insttuigBes basics livees e duradouras. Por conseguinte, a se= _gunda quescio consisceem saber quais sio 0s Fandamencos da role- Fincia assim compreendida, considerando-se ofato do pluralismo e zndvel como resultado inevitivel de insieuiies lives. A combinacio ddessas duas questdes nos leva a perguntar como é possivel exist, 20 longo do tempo, uma sociedade juste estvel de cidadios lives © “6 iguais, mas que permanccem profundamente dividides por doutri- as religions, filoséficas e moras razoéveis, ‘As lutas mais dficeis, pressupse o iberalismo politico, sto reco ahecidamente travadas em nome das coisas mais elevadas: da reli- ‘lo, das vsiesfilos6ticas de mundo e das diferentes concepges mo= ris da bem. Pode parecer surpreendente que, com oposicdes ti profundas asim, a conperasio justa entre cidados Lives e iguas se- js possiel, De fto, a experignciahistrica most que isso earamen- ‘© € possivel, Seo problema levantado & demasiado familia, 0 libe- talismo politico propée, « meu ver, uma solugio pouce familiar. Para apresencar essa solugio, precisamos de um certo conjunto de idias afins. Nesta conferéncia, exponho as mais centeais e proponho uma Aefinigio no final 68), $1. Duas questies fandamentais 1. Em primeira lugar, 0 curso do pensamento democritico ao lon- {80 dos dois dltimos séculos, aproximadamence, deiza claro que, n0 presente, no hi concordncia sobre a forma pela qual as insttuigBes bsicas de uma democracia consticucional devam ser organizadas pa- ra satisfazer os cermos equitativos de cooperagio entre cidadios con- Siderados lives e iguas. Iso fica evidente nas idéias profundamente conerovercidas sobre a melhor forma de expressar os valores da liber- dade eda igualdade nos dieeitos eliberdades bisicos dos cidadios, de modo que sejam sacisfeitas as exigéncias canto da lberdade quan- ‘to da igualdade, Podemos ver esa discordincia como um conflito no incerioe da propria tradigio do pensamento democrético, entre a eri digio associada a Locke — que di maior peso ao que Constanc cha smava de “as liberdades dos modeenos”, as iberdades de pensamenco conscitncia, certos direitos bésicos da pessoa ede propriedade, ¢ 0 império da lei — ea eadicio asociada a Rousseau, que df mais pe- 0.20 que Constane chamava de "as liberdades dos antigos", as liber- 46 dades politicasiguaise os valores da vida piblica’. Estilizado, esse conhecido contraste pode nos serie para pr as idéias em order, Para responder 8 primeira questio, a justica como eqiidade’ pro- ‘cura arbicrarencte essa eradigaes confliantes propondo, primeizo, dois prinfpios de justiga que sitvam de dretrizes para 2 forma pela {qual as instcuigles bisicas devem realizar of valores de liberdade e igualdade;e, em segundo lugar, especificando um ponto de vista com base no qual esses principios ejam considerados mais adequados do ‘que outros prineipios conhecidos de justiga 3 idéia de cidadios de- mocritics tidas como pessoas liveese iguais. 0 que € preciso mos- ‘rar € que, em se tratando de cidadios assim concebidos, um certo tipo de organizagio das insteuicdes poicicase sociis bisicas € mais aproptiado a realizagio dos valores de liberdade eigualdade. Os dois, principios de justiga (mencionados acima) sio os sepuintes’ 4, Todas as pessoas cém igual direio a.um projeto inteiramence stiafacrio de dircito elibetdades bisicas iguais para todos, projeto este compativel com todos os demais;e, nese projet, as libetdades poivicas, e somente esta, deverdo cer seu valor eqiltativo gaeantido. ', As desigualdades sociaise econdmicas devem saistazer dois re- ‘uisitos: primero, dever estar vinculadas a posigées e cargos abertos a todos, em condigGes de igualdade eqitativa de opor- 1. Ve“Lkery the Aen Compr with hr ah Maer (1819 em Bean ‘Gmbridge Uninet Pes, 988) A daca de ited sobtes dit ‘ema s lnfnpolin mo mune niga nome rn nt perdi (Bie de Grae 2A cop de sige presen em Tai (lode The Bue Libero and Thi Pry Tone Lato Hama aa vl I (Sis Lite Cy. Uns o ish romp Os mer dealer dh ‘scoop. 4655 dura oferta So poate vier exp ‘he ele bon om Tore lou fa arena de epee pete o> Isr 1 Ham et ria of hae a tunidades; e segundo, devem representar 0 maior beneficio possivel aos membros menos privilegiados da sociedade. Cada um desses princjpios regula as instieuigbes numa esfera pt cular, do apenas em relasio aes divetos, liberdades e oporcunid: des bisicos, mas também no que diz respeio is reivindicagbes de igualdade; a seguada parce do segundo principio, por sus ve, subli- thao valor dessas garancias institucionais!. Juntos, os dois prinet= pics regulam as insttuigdes bsicas que realizam esses valores, con~ feeindo-se a primeiro proridade sobre o segundo. 2. Uma longa explanagdo seria necessria para esclarece o signi ficado e a aplicagio desses princfpios. Como iso no constitu o te- ma desta conferéncias,fago apenas alguns comentivios. Primeiro,, ‘ej esses principios como manifesagées do contetido de uma con- cept politica liberal de justia. © teor de uma cal concept € de- finido por eéscaratersicas principals: 2 especiticagio de certos di ‘ites, lberdades eoporcunidadesbisicos (de um tipo que conbiecemos dos regimes democriticos consttucionais) b)stibuicio de uma prio ridade especial a esses direitos, liberdades e oportunidades, princi~ palmente no que diz respeito a exigéncias do bem geral ede valores perfeccionista: « €) medidas que assegurem a todos os cidadios 05, ‘meios polvalences adequados para que suas iberdades e oporcunida- des sejam efetivamente postas em pritica. Esses elementos podem ser compreendidos de diversas maneiras, uma vee que existem mui- tas variantes de iberalismo. Além disto, os dos principios expressam uma forma igualiciria, de liberalismo em virtude de txés elementos. Sto eles: 2) garan ‘do valor eqitativo das ibeedades politica, de modo que nio sejam puramence formais;b) igualdade eqieativa (e, é bom que se di ‘ilo meramente formal) de oportunidades; , finalmente co cham: do principio da difecenca, segundo o qual 2s desigualdades socais © econmicas associadas aos cargos e posgles devem Ser ajustadas de 4.0 aor dea gain psn pl eect ame ad en pis A ate eet fea 03 Sct de fara a compen em V4 48 «al modo ue, seja qual foro nivel dessasdesigualdades, grande ou ‘pequeno, ever representar 0 maior benefico possivel para 0s men= bros menos privilegiados da socicdade. Todos eses elementos ainda tém validade, como tinham em Teri; 0 mesmo se pode dizer da at- ‘gumentagio em favor deles, Assim sendo, pressuponho 20 longo de todas esas conferncias a mesma concepgio igualitiria de justiqa de ances, ¢,embora mencione eevises de vez em quando, nenhuma de- las afeta esse ponto.em particular’. No entano, nosso ema € 0 libe- ralismo politico eas idéias que o consticuem, de modo que grande parce de nossa discussio dix respeitos concepcBesliberas de forma ‘mais geral, admitindo todas as suas variances, como, por exemple, quando consideramos aidéia da razio piblca (em IV). Finalmente, como seria de esperar, alguas aspectos importances los dois princfpis so ignorados na formulagio sucinta apresencada cima, Em particular, o primeieo principio, que traca dos direitos € Liberdades bisios igusis, pode facilmence ser precedido de um prin- cpio lexicamente anterior, que prescreva a saisfagio das necessida des basicas dos cidaos, a0 menos 3 medida que asatisfaio dessus necessidadesseja neces para que os cidadios entendam e enham condigies de exercer de forma fecunda esses direitos eliberdades. & cevidente que um principio desseeipo tem de estar pressuposto na 5, Hd uma sre de ques pe inept pon ew ea de ile Teng Por explo metas meno legis eae eens po {ine descrge top msn da edo em de Sal Kip em Nama iNew (Cantige, Mas: Hara Una Pree 973) Alen dio pis ‘So rye cine cnt orn eng a gees pa iia de ame sree ndfscanet expecta doe eosin compa Som dea de Mil eye scram a aro jute odes cmalig {Mir de forme mai eva pel prs bacco dn men preg ae (Shera ct bo cas unplemente ama compeades sous peep ra feria. (Cee nen jeg slg pram qo ih reli i do ier Imo pisces rune cone igual Tor No re Se. ture eis mang pm que inns ane 49 aplicacio do primero principio’. Mas, aqui, nio me estendo sobre cessaseoutras queses. 53. Em ver disso, retomo nossa primeira questio perguaco: co- ‘mo a filosofia politica poderia encontrar uma base comum para res ponder a uma questi fundamental como a da familia de instiuigBes mais apropriads para garantie a libeedadee 2 igualdade democriti- ‘a? Talvez o miximo que se possa fazer seja teduziro leque de dis- cordincias. No entanto, mesmo convigbes profundamente araiga~ das madam ao longo do tempo: a tolerinca religioss€ acita hoje, © ‘os argumentos em favor da perseguicio no sio mais deendidos aber- tamence; da mesma forma, aescravidio, que levou 4 Guerra Civil, americana, ¢repudiada como inerentemente injustae, por mais que “suas conseqiénciss persistam em policcas socias eer aticudes in- confessiveis, ninguém est disposto a defendé-la. Reunimos convic- les arraigadas, como a nogio de rolerinca religiosa e a de repidio 8 cexctavidlo,¢ procutamos organizar a idéas e prineipos bisicos ne- las implicitos numa concepcio politica coerente de justia. Tas con ‘vicgBes so pontos de referencia provisos, que, ao que parece, coda concepgio razosvel deve levar em conta. Nosso ponto de partida é, nto, & nogio da prépria culture publica como fundo comum de ‘dias eprincipios bisicos implicitamente recoahecidos. Esperamos formular ess idase principios de forma clara o bastante para ati- cclé-los em uma concepgo politica de justca condizente com nos- sae conviegdes mais profundamence arraigadas. Expressamos isso 20 dizer que uma concepgio politica de justi, para ser aceitivel, deve ‘star cle acordo com nossasconvicgées fefletidas, em todos os niveis 7A epi rm deve princi ani code uma emg mcg Mars, May, Sal June Prem: enctea Unvesty Pes 1989p 14 Coco mma ped mg de Pl om com 5) ge pce Income forma val engin sci A eld na los elcons inj eine i lite eee pec ame vem Tor cm ne deni or slr farmers erm der une, epee deo € ‘cms ede gust, pe cosets algun forma ei Smo se 30 oF de generalidade; deve, pois, decorret da devida reflewo, ou daquilo que, em outto trabalho, chamei de “equilibrioeeflexivo™ ca pica pode estar dividida num nivel muito profundo. Na verdade, assim hi de ser com controvérsias de longa lata, como aquela sobte 0 entendimento mais correto de liberdade € iqualdade. Iso é um sinal de que, se qusermos encontrae urna base cde concordincia pablica, devemos buscat uma maneira de organizar ideas e principios conhecidos numa concepsio de justiga politica aque exprese esas ides e fot. A justia como equidade procura realizar ese intento valendo- se de um idéia organizadora fundamencal no incrior da qual codas 8 ids principio possam ser sistematicamence conectados rela cionsdos, Essa idéia orgenizadora € da sociedade concebida como tum sistema eqUitacivo de cooperagio social entre pessoas livres & ‘guais, vistas como membros plenamente cooperacivos da sociedad 0 longo de coda a via. Tl idéiafornecea base para responder & pri ‘meira questo fundamental, que retomo adiante em §3. 4, Suponha agora que a justia como equidade cenha conseguido seus objetvos e que uma concepgio politica publicamente acetavel, tenha sido encontrada, Nesse caso, essa concepsio propo ponto de visea publicamente reconhecido, com base no qual todos os cidadios podem inquire, uns frente aos outeos, se suas instieuicdes poliicas sto justas. Tal concepgio Ihes possibilica fazer isso especifi cando o que deve ser publicamenteteconhecido pels cidadlos como saubes vlidas e suficientes, as quais so destacadas por essa mesma concepgio, As principais insttuigies da sociedade ¢ a maneita pela {qual se organizam num sistema Gnico de cooperagio social podem ‘Accaltuca pol ios de um modo diferente do ance- {Ver Toa pp. 206, $855 € 1206 Un casi do eal eno i “bpp rat ou deja pectin em cams pc, Sgr cose Fendamena Toes poem eu cece nea Hi mbes Derr see elin fei ete mpl, qr on pio ino er Ferme apd pe de euler er (hn) On cement cnpls iam wn primer I delndepedene va Thon, Proc oft Aner Papa a 494974) 3 ser examminadas da mesma forma por qualquer cid sua posigfo socal ou seus inceresses mais paticulares, (© objetivo da justia como eqidade 6, por conseguince, pritico: apresenta-e como uma concepio da jusiga que pode ser comparti= hada pelos cidadios como a base de um acordo politico racional, bem-informada ¢ voluntéro, Express a raxio politica compartlha- dds e publica de uma sociedade. Mas, para se che yar a uma razio com- sea qual for parcilhads, «concepgo de justica deve ser, eanco quanto possvel, n= dependent das doutrinas filoséficase eeligiosas conilitantese opostas ‘que os cidadis professam, Ao formulae tal concepco, 0 iberalismo politico aplica 0 principio da oleedncia ilosofia. As doutrinas reli- slosas, que em culos anceriores formavam a base reconhecida da so- ciedade, foram aos poucos cedendo o lugar « pincipios constieucio- ris de governo que todos os cidadios, qualquer que seja sua visio feligioss, podem endossar. Doutrinas filosficas « morais abrangen- «es tampouce podem ser endossadas pelos cidadios em geral jf nzo podem mais, se € que puderam algum dia, constituir-se na base re conhecida da sociedade, Desse modo, o liberalism politico procura uma concepgio pol tica de jusiga que, assim esperamos, poses conquistar 0 apoio de um. consenso sobreposto que abarque as douteinas religiosas, iloséficas€ morais razoiveis de uma sociedade regulada por ela’. A conquista esse apoio permed responder nossa segunda questo fundamen- ‘al: como os cidados, que continuam profundamente dividides em ‘elagio as dour nas religiosas, filos6ficas © morais, mantém, apesar disto, uma sociedade democriticajustae estivel? Para esa finalida- cde, em geal & desejévelrenunciae 3s vies flosficase morsisabran- _gentes que estamos habituados a usae para debater questdes poliicas fandamentais na vida pdblica. A razdo pablica — 0 debace des cida- ios no espago piblico sobre os fandamentos consticucionais ¢ as questdes bisieas de justiga — agora é mais bem orientada por wma concepgio politica cujos princfpios ¢ valores todos 0s cidadios pos- 9 kia eum coer bp fi em 42. dea em 4634 32 ie sam endossar (VD, Essa concepso politica deve se, por assim dizer, politica, endo metafisca Por conseguint,o liberlisma politico tem por objetivo uma con- cepgdo politica de justiga que seconsticua numa visSoauto-sustenci- vel, Nao defende nenbuma doutrina metafisca ou epistemol6gica es pecifica, além daquela que a propria concepsio politica implica rquanco interpretagio de valores politicos, uma concepgio politica auco-sustentivel nio nega a existéncia de outros valores que se apli- _quem, digamos, aquila que ¢ pessoal, familiar ov proprio das associa es; tampoucoafiema que os valores politicos so separados de outros ‘aloes ou que estejam em descontinuidade com eles. Um abjetvo,co- smo disse, €espcifcar a esfera politica e sua concepgio de ustiga de tal forma que as instituigdes possim conquistar 0 apoio de um consenso sobreposto, Nesse caso, o& préprios cididios, no exercicio de su liber- lade de pensamentoeconscifnciaeconsiderando suas doutrinasabran- _Rentes, wm a concepco politics como derivada de — oa congruente com — outros valores seus, ou pelo menos nio em conlito com ees. §2. A idéia de uma concepgio politica de justiga 1. Até agora usa idéia de uma concepgio policica de ustga sem cexplicar eu sigoificado. Do que i fai, ealver se poss deduie 0 que quero dizer com esse temo ¢ por que 6 liberalism politico fz uso essa idéia. No entanto, precisamos de uma formulacio explicit, qual seja: uma concepcio politica de jusiga tem és carareisics princi pais, cada uma delas exemplificada pela justiga como equidade Pressuponho alguma familaridade com ess vio, mas no muita, 'A primeira caraceristca di respeito a0 objetivo de uma concep= «fo politica. Embora tal concepsio seja,evidentemente, uma con- cepgio moral eata-se de uma concepgio moral elaborada para arn 10 Aan in “a nic, 33 ‘ipo especifico de objetivo, qual se, para insticuigées politica, so~ ciais ¢ econémicas, Em particular, ela se aplica a0 que chamarei de “estrututa bisica” da sociedade, que, para nossos propésitos atuais, suponho seja uma democracia constitucional moderna (uso "demo- cracia constitucional”, “regime democritico” ¢ expresses semelhan= ‘es como sindnimes, especificando quando aio 0 so). Por estrucura ia entendo as principas instcuigoes politics, sociais eeconémi ‘as de uma sociedade, ea mancira pel qual se combinam em um s tema unificado de cooperaczo social de uma gerago até a seguinte! Portanto, 0 foco incial de uma concepsio politica de justiga a = ‘rutura das insttuigdes bisicas eos principos,crtéros e preceitos gue se aplicam a ela, bem como a forma pela qual essas normas de~ ‘vem estar expressas no carter e nas atitudes dos membros da soc dade que tealizam seus ideas. ‘Além disso, suponho que a estrucura bésica se ade uma socie dade fechada, isto 6 devemos considers-laauto-suficiente e sem re- lagBes com outrassociedades. Seus membros s6 entram nela pelo nas cimencoe sa deixam pela mort. Isso nos permite falar deles como ‘membros nascidos numa sociedade onde passardo a Vida inceira. Que ‘uma socidade ej fecal € uma abstrago considesivel, que se jus tifica apenas porque nos possbilta concentratmo-nos em cereas ques tes importants, lives de detalhes que possam nos disteie. Em ‘gum momento, uma concepcio polieica de justiga deve craar das relagGesjustas entre os povos, ou do ditito das gences, como as cha- marei, Nestas conferéncias, ado discuto como se deve elaborar um, diceivo das gentes, comando como ponto de partida a justiga como ‘eidade, cal como ela se apica a sociedades fechas 2, A segunda caracterstica diz respeito ao modo de apresentaso: ‘uma concepso politica de justiga aparece como uma vi rentads. Embora queitamos que uma concepcio politica encontee ‘uma justificaglo com referéncia uma ou mais doutrinas abrangen- 12. Ver Tore 2 eombém A aro ae obj ee oan: 2 15 Verne the Lew a apis shue Seen ¢ Hae Sng On Hae opt eT Od mney Ls 193) Non ork Bc Bk, 1998 34 fae tes, ela no éapresentada como tal nem deriva de uma doutrina des- se tipo aplicada i extrucura bisica da sociedade, como se essa estu- «uta fosse simplesmence outro t6pico 20 qual a doverina 6 aplicada importante enfatizar esse ponto: iso significa que devemosdistin- ‘uit entre a forma pela qual uma concepgio politica ¢ apresentada e 0 fato de fazer parte ou poder ser derivada de uma douttina abran- ‘gente. Suponho que todos os cdadice professem uma doutrina abean- ‘gente 8 qual a concepgzo politica que aceitam estes telacionada de alguma forma. Mas um trago distintivo de uma concepsio politica € 6 fato de ser apresentada como auto-sustentivel eexplanada & parce, ‘ou sem qualquer referéncia a um contexto elo amplo, Usando uma ‘expressio em voge, a concepgio politica € um médulo, uma pacte constitutivaessencil que se encaixa em virias doutrinas abrangen- ‘es ezoéveissubsistentes na sociedade regulada por ela, podendo con- uiscar o apoio daquelas douteinas. Iso significa que pode ser apre sentada sem que se afirme, saiba ou se arrisque uma conjectura a respeito das doutrinas a que possa pertencer ou de qual delas poder conquistar apoio. esse sentido, uma concepedo politica de justiga difere de muicas doucrinas morais, pois estas sfo comumence consideradas vsbes ge= raise abrangentes.O wtilitarismo é um exemplo conhecido. O prin= «0, problema de prover aquilo que podemos chamar de um atendi ‘mento médico normal. Com relacio aos problemas para os quais jusciga como eqidade talvez nlo tenhs uma resposta, hi vitias pos sibilidades, Uma delas é que a idéia de justia politica nfo abrange rodas 2 co nem & de se esperar que 0 aca. Ou o problema pode ser realmente de justia poliica, masa justiga como eqiidade no € apropriads nesse caso, pot melhor que sea pars outros casos, A pro- fundidade dessa deficiéncia¢ algo que 6 podemos avaliar quando 0 «caso especifco for examinado, Talvez simplesmente n0s fate perspi- ‘cia para descobri como estender 0 conceito.Seja como for, no de ‘vemos esperar que a justica como eqUidade, ou qualquer concepio dle justiga, abranja todos os casos de certo ettado. A justica politica sempre precisa ser complemencada por outras virtues, [estas conferéncis, deixo de lado esses problemas de extensio € concentzo-me naquilo que chamei acima de questio fundamental da justia politica. Fag isso porque o defeito de Teri de que tatars 25 Veron 38 2. Vers eens de Noman Die ea 64 ‘estas conferéncis (conforme expliquei na introdugio) encontea-se na resposta que li for dada a essa questio fundamental. Que tal questio € realmence fundamental, comprova-oo ato dete sido foca dl ci- ‘ica liberal arisrocracia nos séculos XVII e XVIII, da cetica soci lisea 3 democracia liberal consticucional dos éculos XIX e XX e, no presente momento, do conilito entre liberalismo e conservantismo a respeito do direio 3 propriedade privada e da legitimidade (em con- ‘eaposicio a eficiéncia) das medidas poitias sociais ligades ao que passou a ser chamado de walfare stare E essa questio que determina 105 limites iniciais de nossa discuss. $4. A idéia da posigio original 1. Retomo agora idéia da posicio original". Essa idéia€inerodu- ida a fim de descobriemos que concepgio tradicional de justiga, ou aque variance de uma dessas concepgbes, especies os principios mais, adequacs pea ealza a liberdade ea igualdade, uma vex que se con- sdere a Sociedade como um sistema eqiitativo de cooperagio entre ci- adios livres e iguais. Supondo-se que queremos saber do que cada ‘oncepso de justica €capas, porque introlue aida da posicioori= ‘inal ede que maneira ela ajuda «responder a essa questio? ‘Considere de novo a idéia de cooperacio social. Como devem ser detecminados os termes equitarivos de cooperagio? Sto simplesmen- te formulados por uma autoridade externa, distinea das pessoas que cooperam? Sao, por exemplo, estabelecidos pela lei de Deus? Ou es- ses termos devem ser reconhecides pelas pessoas como equicatives fm relagio a seu conhecimenta de uma ordem moral independence? Por exemplo: slo reconhecidos camo termosexigidos pela lei natu- ‘al, ou por um reino de valores de que comam conhecimento por in ‘uigio racional? Ou esses termos si estabelecidos por um compen _misso entre as prdprias pessoas Iur do que consderam como beneficio ‘eciproco? Dependendo da esposta que damos, chegamos a uma con cepgio diferente de cooperagio social 25. Yer Tone. BSA ep 5 6 |A justiga como eqiiidade recoma a deutrina do contrato social € dota uma variance da Gleima resposta: 0s termos eqlitativos da coo [peragio social slo concebidos como um acordo entre as pessoas en= Wolvidas, isto 6, entre cidadios livres e iguais,nascidos numa socie~ dade em que passim sua vida, Mas esse acordo, como qualquer acordo vilido, deve ser estabelecido em condigles apropriada. Em particu lar, essas condigBes devem situar eqiitativamence pessoas livres € ‘guais, nio devendo permitie a algumas pessoas maiores vantages de barganha do que a outras, Além disso, coisas como a ameaga do ‘uso da forge, a coetgdo, o engodo e a fraude devem ser excludas. 2. Até aqui, sem problemas. As considerasdes precedentes so fi smilies & vida cotidiana. Mas os acordos da vida cotidiana sf feitos ‘numa situagio especificad de forma mais ou menos clara, siuagio cess incrstada nas insttuigbes findamentas da estrucur bsica. No ‘encanto, nossa trea estender a idéia de acordo a essa estrurura fun ‘damental. Enfrencamos aqui uma dificuldade de toda concepgi0 po- Ticica de jusiga que se vale da idé ‘outro qualquer. A dificuldade é que precisamos encontrar um ponto ide vista apartado dessa estrucura bisicaabrangente, no distorcido por suas caraceristicase circunstincias particulares, um ponto de de contrato, tanto social quanco vista a partir do qual um acordo eqieativ entre pessoas considera- das lives e iguas possa ser estabeecido, ‘A posigio original, com os eagos que chamei de “o véu de igno- rincia", esse ponto de vista”, O motivo pelo qual a posiglo origi fal deve abstr as contingéncias do mondo social e nio set aferada por els & que as condicdes de um acordo eqiitativo sobre os prin ios de ustiga politica encze pessoas lives ¢jguais deve eliminar as ‘vantagens de barganha que surgem inevitavelmence nas insttuigdes de base de qualquer sociedade, em funcdo de tendéncias soci, his {ricase naturais cumulaivas. Tas vantagens contingentese influgn~ cis acidentais do passado no devem afetar um acordo sobre os prin- cipios que ho de regular a isticuigSes da propria esteucurabisica, ro presente no fururo. 246 Sond deg ha, $e 24 66 3. Aqui enfrentamos uma segunda dificuldade, mas que €s6 apa ente, Explico: a partir do que dissemes, é claro que a posicio origi fal deve serconsideradla um atificio de representagio e, por conse- fuince, todo acordo estabelecido pelas partes deve set visto camo hiporéticoe a-istérico. Mas, nese caso, como acordas hipotécicos ‘io criam obrigacées, qual a importincia da posigio original? A res. ‘posta es implicica no que j foi dito: a imporcincia € dada pelo pa- pel das virias caracteristicas da posigdo original enquanto atificio de representagio, Para que sejam vistas como representantes de cidadios livres € iguais em via de estabelecer um acordo sob condigbeseqtacivas € Aaecessirio que as partes esteiam simetricamence scuadas. Além dis 0, parco da suposicio de que uma de nossa convicciesrefletidas € seguinte: 0 fato de ocuparmos uma posigio social pariculae nlo € ‘uma boa razdo para propor, ou esperar que os outros aceitem, uma concepgio de justica que favorega oF que se encontram nessa mesma posigio. Da mesma forma, o fao de professarmos uma decerminada outrina religiosa, filséfica ou moral abrangence, com a concepsio slo bem associada a ela, nfo € uma boa e120 para propor, ou esperae {que 0s outros aceitem, uma concepgEo de justiga que favorecaas pes seas que concordam com essa doutring, Pars expressir esa convicglo de acordo com a posigio original, no é permiido que 2s partes co- hecam a posi 0 social daqueles que representam, ou a doucrina abrangente especifca da pessoa que cada uma delas representa". A tua oer de igor eerie no ieee conte drm Kansan wr de roi sages cos pecans, Ee bo dle tsa em oto nde lr coma 6.2 I Bem a mesma ida € aplicada 3 informagdo sobre a raga eo grupo étnico, 0 _género eos diversostalentos natura, eais como fora fisicae iceli- _géncia, ado isso dentro do leque normal de variagio, Expressamos ‘esses limite informasgo de maneira igurada a0 dizer que as partes cstdo por tris de um véu de jgnorincia, Assim, a posigio original € apenas um artificio de represencagio: desereve as partes, cada qual responsével pelos interessesestenciais de um cidadio live e igual, ‘numa sicuagio equiativa alcangando um acordo sujeito a condigtes que limitam apropriadamente oque podem propor como boas raztes" “4 Portanto, ambas as dficuldades mencionadas acima podem ser speradas quando vemos a posicio original como um artificio de re- presencagio: ela representa 0 que consideramos — aqui e agora — Tasca vn edo inet ceo pola de ati, concerto Spe nds ngs ape Bs ea gor roe dos get ‘itn cepona opt de teen rum ade det {pre ncona emo coe de cence pls eae condamer ‘Secondo ono won davis fern ted dca pleee Fibs de ama cide deste, Una form depos cone dota to cou pla sg qr pole contre pono fl rn ca ire {ese ma eae be pes de sicel sume side uc ol do loan nae Nes dt pl em gue deve de um concep pas Se yin squnt o ut-sraie QQ) 22), arn ements o o rnc pute cm for dew eigen pm, ivocna i e ‘ont trl es eon ncn rgor ene dot sagt rane Ere gio 1 Wile Hoch oe peresier a een edn eplament ee Tipe“ Vl gore nd he eo Oeapping Coser Ba Homburg, hn pu sige expres uma carci sic et do esti Kun gun conten pli, quel syed neo ele onal {Sudo imaine ce A lec dag ne Tara at ‘tee ma enn oer do cna, as Scene rie ote ‘Sedo saponin ob ates an geno em br Se ic {ges sofrmulade de acd com posi egal , prio mpstas partes sat ‘Trt spc om os col Cogeco arn da 68 condigdes eqhitativas, segundo as qusis o representantes de cida- ds livres e iguas dever especificar es termos da cooperagio social ‘no ambito da esteurura bisica da sociedade; e como também repre sena0 que, nesse imbito, consideramos resrigdesaceives as ra bes de que as partes dispaem para favorecer uma cancepgao politica de jusiga em detcimenco de overs a concepcio de justiga que as par- ‘es adocariam identifica 2 concep de justiga que consideramos — aqui ¢ agora — eqicativaejustifcada pelas melhores raze, ‘A ida é usar a posigfo original para represencar tanto a iberda- dea igualdade quanco as rescigdes 3 rae apresentadss, ede ma neira tl que se torna perfeitamente evidente qual acordo sera feico pelas parcesrepresencances dos cidadics. Mesmo que existam, como certamente existem, razdes a favor e contra todas as concepyies dis- Poniveis de justia, ainda assim pode haver um equiltbrio global de tazies claramentefavorives a uma concepgzo em derimento do ces- to. Enquanto artficio de representacio, aida da posigio original serve como um meio de refle « auro-esclaeecimento pablicos, Ajuda-ncs a elaborar o que pensamos agora, desde que sejamos capa 2es de cer uma visio lara e ordenada do que a justigarequer quando a sociedade € concebida como um empteendimento cooperative en tre cidadios livres e iguais, de uma geracio até a seguinte, A posigio original serve de idéia mediadora geagas& qual todas as nossas con- vicgGes refletidas podem vir a se relacionar umas com as outs, seja {qual for seu grau de generalidade — digam respeito a condiceseqi- tativas para sieuar as partes a restr razoaveis is rtzbes que po- dem ser apresentadas, « principios epreceitas primeitos ou aos jul ‘gamentos sobre insttuigdes¢agBes particulates. Iso nos possbilia ‘estabelecer uma coeréncia maior entre todos 0 nossos julgamentos; «6, com essa autocompreensio mais profunda, podemos chegara um acordo mais amplo uns com os outs, 5. Incrouzimos ume idéia como a da posigio original porque no parece haver forma melhor de elaborat uma concepsio politica de iustiga para a estrucura bisicaa pacir da idea fundamental da socie- dade como um sistema duradouro e equitativa de cooperssdo encre duds considerados livres eiguas. Isso parece particularmente evi Cc) lente quando pensamos na sociedade como algo que se estende por igetagbes, herdando sua cultura pablicae suas instcuigBes sociais © politicas(juntamente com seu capital real e estoque de recursos na turis) daqueles que viveram antes. No encanto, o uso dessa idéia tem ‘certos perigos. Fnquanto acificio de representacio, seu nivel de abs- ‘ragio provoca mal-encendidos. Em particular, a descrigio das pares, pode parecer pressupor uma concep¢io metafisica particular da pes Soa, como, por exemplo, a idéia de que a narurezaessencial das pes- soas€ independente e anterior a seus atributos contingents, inclusi= ‘ve seus fins ilkimose ligagBes particulates, até mesmo ssa concepgéo do bem e do cariter como um todo" ‘Acredito que isso se trate de um equivoco criado pelo faro de nfo se ver posigio original como um artficio de represemtago. O véu de ignotineis, para mencionar uma carater posicio, nio tem implicagbes metafisicasespecifias a respeico da na~ turers do eu; no implica um eu ontologicamence anterior aos fatos sobre as pessous, cujo conhecimento € vedado as partes. Podemos, por assim dizer, enerar nessa posigio a qualquer momento simples- rence aegumentando em favor de principios de jusciga em conso~ ica importante dessa rncin com as restrigBes 8 informacio mencionadas acima. Quando, dessa forma, simulamos estar na pesiglo original, nossa argument {lo no nos compromete com uma doutrina metafisca particular 30 brea nacureza do eu, assim como nossa participagio numa pega, 10 papel de Macbeth ou de Lady Macbeth, ado nos leva. a pensar que so thos de fato um rei ou uma rainha envelvidos numa luta desesperada pelo poder politico, O mesmo se aplica 3 representagio de um papel fem termos gers, Deveros rer em mente que estamos tentando mos- trar como a idéia de sociedade, enquanco sistema equitativo de coo: 29. Vee importante abu de Michel Sel, Liat ad he Lins of Dr ante Cae Ue Po 10 ou oc ma en nau nc One Caco ey, 19) om en prt 70 perago socal, pode se desenvolver de modo a encontrar princios aque especifiquem os dition liberdads basco eas formas de igual- dade mais apropiadss patos que cooperam, uma ver que ot consi- deremos cidadis, pessoas lve igus 6 Tendo examina a ids da posigio original cu fara ands umn acrtscimo,a fim de evieat mal-entendidas. F importante dstinguie {és pontos de vist! 0 das partes oa posigho original, o dos cidadtos uma sociedade bem-ordcnada ¢,finslmente, 0 nosso — 0 seu 0 eu, que estamos formulando aida de usiga como eqidade exa- rminando-aenquanco concepso politica de justia. Os dois primeitos pontos de vista fazem parte da concepgto de justga como eqidade e so expecifcador por referncia asus dns fandameneais. Mas, enquanco as concepgdes de uma sociedade bem- cordenada de cidadios como pessoas lives e iguas podem muito ‘bem se elizadas rm nosso mundo social, a parts, vistas como re resentantesracionais que especiicam ox temos eiitaives da co0- Peraglo socal ao chegat a um acordo sobre os principios de asia, So simplesmente partes da psig original. Esa psig € estabele ida por ve? e por mim naclaborago da justiga como eqdade, de ‘modo que a naturera das partes cabe somente ands: ela so apenas 2s cvaturasarificiais que povoam noso dispositivo de represena- So. A justign como equdade ¢ ersvelmente mal- Fm come ole Ieper cpap cn ne ocr imitans go ream pio de use dims ‘ss ms aan erst xen com adios Sooper ‘Sipe cm meno cin pr ober ser ge eon Cte cooeu pr lias de mba om us Sets ose ‘ence dobem 86 ‘cos mais essenciais. A pao pela verdade toda leva-nos a procurse ‘uma unidade mais ampla e mais profunda, que alo pode set justi cada pela ranio pablica ‘Mas eambém 6 erado pensat numa sociedade democritica como ‘uma asociagioe supor que sua eazio pblicainclua objetivos ¢valo- ‘es nio-polticos. Fazer isso €negligenciaro papel anterior e funda- -mental de suas insticuigBes bisicas no estabelecimenco de wm mun do social em cujo interior, esomente nee, podemos, com todas of cuidados — alimencagio, educacioe certa dase de bos sorte — rans formae-nos em cidadios lives eiguais. A eserurua jsta desse mun= cdo social é crada pelo ceor da concepcio politica, de modo que, pela rzio piblica, todos os cidadios podem entender seu papel e com- parcilhar seus valores politico da mesma form $8. Sobre 0 uso de concepgbes abstratas 1. Para expor aquilo que chamei de liberalismo politico, patti de virias idéas basicase conhecidas, implictas a cultura politics p= Dlica de ums sociedade democritica, Essa idéis foram elaboradas és eeansformatem numa familia de concepges em cujos termes 0 liberalismo politico pode ser formulado e compreendido. A primeira elas € a prépria concepeio de juscig politica ($2); seguem-se a ela ‘rds idéias fundamentals: a concepcio de sociedad como um sistema, ‘eqicacivo de cooperasio social ao longo do tempo ($3) ¢ as das idéias que a acompanham —a concepgo da pessoa como live e igual (5)eaconcepgo de uma socedade bem-ordenada ($6). Empregamos sind duas outras idéias para apresencat a justiga como equidade: a6 concepcées de esceucura bisica ($2) ¢ da posigio original ($4), Finalmente, pata apresentae ums sociedade bem-ordenads como wm mundo social possivel,acrescencamos a essa idlas as de um consen- so sobreposto e de uma doutring abrangente e razoével ($6). © pl- ralismo razoivel especificado com referénca a esta tkima. A nati +reza da unidade social & dada por um consenso sobreposto estivel entre doutrinas abrangentes erazodveis (V1). Nas conferéncias e- 87 ‘auinces, outrasidéias biscas sero ineroduzidas pera completar 0 sentido do liberalism politico, tais como as idéas do dominio do politico (IV) e da razio piblica (VD. ‘Depois de encendidas eseas concepgBese suas telages, eeromo a _quescio conjunta" de que cata o liberalismo politico eafirmo que ‘Gs requisits parecem suficientes para asociedade ser um sistema eajiativo e estivel de cooperasio entre cidadios lives e igus, pro- fandamente dividides pelas doucrinas abcangences €razoiveis que professim, Primeico, a extrutura bésica da socedade €regulada por "uma concepco politica de justigs; segundo, esa concepgto politica € objeco de um consenso sobreposto entre doutrinas abrangentes € razodveis;e erceiro, a discussio piblica, quando 0s fundamencos, consticucionais e queseées de justigabisicaestio em jogo, € condu~ ida nos rermos da concepgio politica de justiga. Esse resumo bem sucinco caracteriza o liberalismo politico e «forma segundo a qual cle entende o ideal de democracia consitucions 2, Algune podem peotestar concta 0 uso de antas concepyées abs- tratas, Talvez seja necessério mostrar por que somos levados ¢ con- cepgdes deste tipo. Na ilosofia politica, 0 trabalho de absteasdo & acionado por coils politicos profunds". $6 0s ideslogos € os vi- siondrios no sencem profundos conflitos entre valores moras €en- se estes € 8 valores ndo-polcics. Concrovérsis profundas ede lon- 45. Eu ques fore eee aes {Aust center pee et even ser een cae odes tee lo som cones rein Ee gue ed see di For ep tee ide prc ens operons ese ers oun +m "Rte de tr om a rade ama omg alc em ede ee Sui aque meee ma unde ampli pec en a eae ar ar conden exe ma 49 hain en deco rade Jt Cae seo de Mica! Wale, Sif 13 maf Pa 8 805 "Warp 437. e pode Ces di qs vide Walesa como ‘Bin olic dev ear oo ecm da ePti, Koo e Sick ® ‘rene i rap poe Waser aca gue deve emi ql er as 88 ga data preparacam o cerreno para a idéia de justiticagio razogvel en- ‘quanto problema pritico, enio epistemolégico ou metafisico ($1). Voleamo-nos para a filosafia policica quando nossas percepsSes poli ticas compartilhadas, como diria Walzer, desmoronam, e também {quando estamos dilacerados interiormente. Reconheceremos isso se imaginarmos Alexander Stephens repudiando o apelo de Lincoln as abscragdes do direto natueal erespondendo-Ihe com as seguintes p= lavras:o Norte precisa respeitar as percepgées poitias compartilha- das do Sul ao que se refee ao problema da escravidio™. claro que a resposta a esta afiemagio pass pela filosofia politica ‘A ilosofia poliica aio se afasta, como pensam alguns, da socie- dade e do mundo, E também no pretende descobrie 0 que & ve ddade com seus préprios métodos dstintives de raciocinio, apartada, de toda € qualquer tradicio de pritica e pensamenco politicos, Nenluma concepsio politica de juscca poderia ter peso entre nds se iio ajudasse a colocar em ordem nossasconvicgBes refleeidas de jus- tiga em codes os avis de generlidade, do mais geral ao mais parti- cular, Ajusdat-nos a fazer iss é um dos papéis da posigo original ‘A filosofia politica, assim como os principios da liga, ndo pode I mpor-ncs nossas convicgBesrefleidas. Senos sentimos cougidos, cle vex seja porque, a0 fefletie sobre a questio em paut, valoces, princt- pos e normas s30 forrulados e organizados de tal maneira a see li ‘yremente reconhecidos como aqueles que eealmente aceitames ou blica e procuramos descobrir como 0s cidadios poderiem, depois da preendam o fato do pluralismo eazosvel. Este éltimo fto,e sua pos- sibilidade, € algo que devemos procurar entender, ‘A idéia de publicidade, eal como € entendida pela justiga como ceallidade, tem trésnives, que podem ser descritos da seguinte forma: ( primeio foi mencionado em 1:6. Chegamos a esse nivel quan- doa sociedade é efecivamente regulada por principios publicos de juscig: 0s cidadios aceitam e sabem que 0s outos também aceitam esses principos, e esa percepcio, por sua ver, € publicamente reco nhecida. Além disso, a insttuigBes da estrutura bisica da sociedade no so juscas (da manera definida por estes princpos), todes os dota- dos de razi reconhecem iso, Fazem-no com base em crencas publi ‘camente compartilhadas, confirmadas pelos mécodos de investigagao «formas de eaciocinio geralmence aceitos como apropriades para as _questes de justi politica ‘O segundo nivel de publicidade diz respeito As crencas gerais, 2 Juz das quais os prinpios primeicos de justiga podem, eles mesmos, ser aceitos, sto 6, as erenges gers sobre a nacuceza humana, sobre a forma pela ual as insticuigdes saciais e poliicas geralmente funcio- ram e, enim, coda aquelas crengas que so relevantes pata a justiga politica. Os cidados de uma sociedade bem-ordenada concordam, gosto modo, com esas crengas, porque podem ser confirmadas (CO- ‘mo no primero nivel) por métodes publicamente compertilhados de investigagio e formas de raciocinio. Como foi discutido em V4, pressuponho que esses meds sejam familiares a senso comum € incluam os procedimentose conclusées da cigncia do pensamento social, quando estes sio bem estabelecidose ao conceovertidos. Sto featamente esas crengas gers, que refletem as visdes pablicascor- rentes de uma sociedad bem-ordenada, que nés — isto, voc® eeu, ‘que estamos estrururando ajustiga como eqidade (4.6) — aribu mos 3 partes na posilo orginal (© terceito Ultimo nivel de publicidade estérelacionado com a jusificagio plens da concepcio publics de jusiga,apresentada em seus proprios tetmos. Essa justficagio inelui eudo quanto poderia ice dizer — voc? eeu — quando definimos a justiga como equida- dee efleimos sobre o porqué de procedermos de erea forma em vez {de outra. Nesse nivel estou supondo que ral jusificacio plena tam- bbém seja publicamente conhecids, ou melhor, pelo menes publica- ‘mente acessvel. Essa condigio menos rigotoss (que ajusificagio ple ‘a Soja acessivel)admite a possibilidade de que alguns nfo queitam levar to longe a refleaso istic sobre a vida politica e, com cer- teed, ninguém é obrigado a fazé-lo, Ma, s¢ 0s cidadios assim 0 dese- jarem, a justificaglo plena ese presente na cultura pablia,efleida ‘em seu sistema juridien e nas instituigSes politicas, bem como nas, principais ceadicdeshistvicas de sua interpretagio. mm 2. Vamos estipular que uma sociedade bem-ordenada stisica o- dos os trés niveis de publicidade de el forma que possamos dizer que ‘a “condigio de publicidade plena” est saiseita(reservo 0s adjetvos ‘pleno” ou “completo” para os aspeccos da concepcio de justice de uma sociedade bem-ordenada). Essa condigio plena pode parecer ex- ‘essiva, Mas €adotada por ser apropriada a uma concepcio politica de justiga para cidadosrazodveise racionais, que slo livres e iguas. ‘A condigio pode ser mens vélida para as doutrinas abrangentes em igerl, mas se —e até que pomto — se aplicaa elas, fica em aberco, como uma questo & pare "Agu € relevante notar que ssociedade politica € singular de duas foemas. Como discuto em IV: 1.2, o politico especifica uma relagéo ‘entre pessoas no interior da escrucuca bisica da sociedade, uma s0- Ciedade que supomos fechada: é auro-suficiente eno cem relagdes, ‘com outta sociedad (:2.1€ 7.1). $6 entramos nea pelo nascimen- 1s pela morte, O outro aspecco distintivo do politico € ‘que, embora o poder politico sempre seja um poder coercivo, num regime constitucional € 0 poder do pablico, isto €, 0 poder de cida- dios lives iguas, enquanto organism coletivo, Além disso, as ins- tieuigdes da eserutura bisica tim efeitos Socais profundos ede longo prazo, moldando de mancics fundamental o cater e os objeivos dos cidadios, os tipos de pessoas que slo aspiram se, Por conseguinte, €apropriado que os termes eqiitativos da coo: peragio social entre cidadios livres e iguais devam saisfazer os te- (uisitos da publicidade plena, Pois sea estrutura bisica se apis em SangGes coerivas, por mais rca escrupulosa que sea sua aplicagto, 6s alicerces de suas instituigdes devem resistir ao exame pablico. roe 96s ‘Quando uma concepcio politica de justiga satisfaz essa condiclo, © ts arranjos sociais bisicos eas agBes individuaissfo plenamente jus tificiveis, os cidadios podem apresencar razGes para suas crengas € Conduta uns 4s outros, confiantes de que essa exposigao aberta for~ taleceri o entendimento piblico, em vex de enfraquecé-lo”, Ao que parece, a ordem politica no depend de enganos histricamente aci- nz dlencais ou araigados, nem de outascregas equvocads que se bie siem nas sparénciasenganosas de insiuigdes que nos levam 4 con- Ccbererroneamente sua forms de funcionsment.& clara que nio se pode cer ceteza disso, Masa publiidade assegur, tanto quanto 0 petmiem as medidas pti, que os cidadios estejam em condigbes de conhecere aceta as influéncasdifuas da esteucurahisca que smoldam sua concepcfo de si mesmos, seu cater e seus fins. Como ‘eremos, que os cidados estejam nes scuio€ uma condo para aque realizem sua liberdade de manera plenamenteauténoma, em texmos politicos. so signa que, em sua vida poli pila, ax da precisa ser escondido 5. Agora observe que o primeira afvel da condigo de publicida- de adquire forma facilmentena posigio orginal: exigimos apenss ‘que spares, como representantes, avaliem as concepges de justia tendo em mence que os pricipios com os quis concordam devern serve de concepeto politica epublica de justige. Dever set rejeiae dos 0s prineipios que fancionatiam bem, desde que no fossem pa blicamente reconhecids, ou desde que os fatongeais sob 0 ais se fandamentam no seam alvo de conhecimentoe cena gerl Consdere, por exemplo, a douttna do dieeo penal puro, como foi discuvida por esrtoresecoisicos rardios Ess doutin dis- 21,0 ston di que a ec escio,mas agen a pres se conc, ann mi cn on moo cae els elie pss oad cos be ro cd setae ss chataenNrsw rnhnspsc c 52 Eat um decried io debian bs de logo phe, Aw le do entree gue corm ith de Des pm Deve 9), Te Naf owt Los er, 991A di el pop Willan Det TP Pa LT er Gegain Unery Pra 18, {ah 1 Apes Pal Wess Sate Shin pr ee ein, 13 cingue entre a lei natural ea let do soberano, baseada na autoridade Jeiima deste rpendendo da inengio do legislador e do tipo de lei em questio, néo uma falea deixar de fazer 0 que a lei do soberano requer. Embora ‘io exist ei sem uma correspondence obrigacio, nesse caso a obri- zaglo consste apenas em nfo resist 8 penalidade do soberano, sea pessoa for presa, Evidentemente, num pais onde essa doutrina do di tio penal é publicamente aceta como uma doutrina que se aplica 4 leis fscas, pode ser dificil cer um sistema eqiicativo de eeibuta ‘lo da renda, por exemplo, As pestons ni verio nada de errdo em cexconder seus rendimentase alo pagar os impostos sso sobrecar- ‘ega.o poder penal do govern e solapa o senso publica de equidade Esse tipo de aso ilustra como as partes devem pesar as conseqién- cias do conhecimenta piblica dos prineipios propostos, eos princi- limo. £ uma fala moral viola Ii natural mas, de: pos de justice que adotam vio depender dessus avaliagSes. {A representasio do segundo nivel de publicidade plena também 6 deta ela 6, na verdade, modelada pelo véu de ignortnca, Esse ni- vel implica simplesmente que as crengssgerais empregadas pelas pa tes ao considerarem as concepgBes de justiga também devem ser pu blicamente conhecidas. Como a argumentacio das parces é uma representagio das premissa para a conceptio pblica de justica, os fimo necessévio, as duas capacidades morais eas outs faculdades ‘que nos posibilicam ser membros normais incegralmente coopera> ‘vos da sociedade. Todos os que satisfizerem essa condicio cém 05, mesos dteitos,liberdades e oporcunidades bisios, e a mesma pro» tego dos princ/pios de justiga Para moldar essa igualdade na posigio originsl, dizemos que as. partes, como representantes daqueles que satsfazem essa condiglo, sto simerricamente siuadas, Ese requisicoé eqitativo porque, pats estabelecer os termes eqiicaivas da cooperagio social (n0 caso da escruturabisica), «nica caracteristica relevant das pessoas €0 fato de possuirem at capacidades mors (no grau minimo neces tio) erem as capacidades normais para seem membro competi 10 da sociedade ao longo de toda a vida, As caractesticas elias 8 posto social, alentos maura ecasualdade histrice, assim como to conteido das concepts espeficas que a pessoas tém do ber, fo irelevanre,poitcamenteflando , poe so, cabereas pelo vé0 de ignotincia (14.23). E claro que algumas dessascarctristicas 124 pocdem ser relevantes numa deciso, julgando-s isso pelos prineipios de justi, de nossa reivindicagio para ocupar esce ou aquele cargo piblico, ou para qualificar-nos para essa ow aquela posiglo de maior Prestigio; © essas caracteristicas eambém podem ser relevantes para ‘oss partcipagio nessa ou naquelaassociagdo ou geupo social den ‘tro da sociedade. No entanto, nfo sio elevances para o satus de ci dladania igual, compartlhada por todos as membros da sociedad. or conseguinte, se aceitatmos a convicclo extremamente genéri- ca expressa pelo preceico de que os igus em aspectos rlevantes de- ‘vem ser representados igualmente, segue-se daf que € justo que 05 cidadios,vistos como pessoas liveese gua, quando representados iqualmence na posigéo origina, represencem-se equicaivamente 4 Como notamos acima, essa idéia de igualdade reconhece que slgumas pessoas tim trags ¢capacidades que as qulifcam para cat= {g05 de maior reponsabilidede, com suas correspondentes compens Bes", Por exemplo: os juizes devem ter urna compreensio mais pro- Funda da concepso de justica politica da sociedade do que os outos, ‘uma facilidade maior de aplicae seus principios e chegar a decistes, azolveis, principalmeate nos casos mas dices, As vircudes judi- ciais dependem do saber adquirido e requerem uma educagio espe cial, Embora esas capacidadese saber especiais tornem os que 0s pos stem mais qualifcados que outtos para posigdes de responsabilidad judicial (jo exercicio Ihes 0 diteico is recompensas do cargo); pesar disso, dado o papel eo atu efetivo de cada ur numa soci dade bem-ordenada, inclusive ostaras de cidadania igual, o senso de justia de todos os cidados ¢ igualmente suficiente em rela 20 ‘que se espera deles. Por conseguinte, cada um deles€ representado ‘gualmente na posigto original. E, assim sendo, todos recebem a mes- ‘ma protegzo dos princpios pblicos de justia ‘Observe também o seguince: todos 0s cidadios de uma sociedad bem-ordenada se conformam a suas exigéncias pablicase, por isso, ‘ads sf (mais ou menos) irtepeeensives do ponco de vista da justi- 27 Boao ages qe ci do capac riser ela ei 125 «x politica, Iso se conclu da esipulacio de que todos tém um sen- soe justica politica igualmence eet. As diferengas habituais tue 0 individuos, no que diz respeito a esas questOes, io exter, ‘Coma supomos que numa sociedade bem-ordenada existem muitas, desigualdades sociis econdmicas, estas no podem ser explicadas pelo grau em que os individuos respeitam as exigéncias da justiga publica. A concepsio politica de justiga que regulamenca esss desi ualdades, qualquer que seja, no pode sero preceito: is pessoas de scordo com sua vireude politics” §7. A base da morivacio moral da pessoa 1. Comego com uma lista dos elementos bisicos das concepsbes dos cidaios como razodves e racionais. Alguns deses elementos sf0 conbecidos, outros ainda esto por dscutir. rimeiro, os conhecidos, que sio:e) as duas capacidades moras, a capacidade de er senso de justia ea capacidade de ter uma concep fo do bem. Como necessiias a exercicio das capacidades moras, acrescentamos: b) a faculdades incelectuas de julgamento, pensa- mento ¢inferéncia, Tambeém supomos que os cidadios cém, a qual- ‘quer momento dado: c) uma determinada concepgia do bem incer- pretada a lux de uma visio abrangente (eazoivel). Finalmente, supomos que os cidadios cém: d) as capacidades e qualificagdes ne~ cessias para serem membros normais e cooperatives da sociedade durante toda a vida. Esses elementos So apresentados em I:3-5,€su- ppomos que existam cealmente, Por terem essas capacidades no gra _minimo essencial, os cidados so iguais (86.3) 28 Ewes frp renin dain com ms ide Algo dram gure ‘Ercnor ac cmiden prensa ot ide com i 1 eta 8 126 Alem desses elementos, os cidadios «Em quarto caracterstcases- pecias, que considera aspect do fato de serem razodveis e de terem ‘sa forma de sensibilidade moral. Conforme discucimos em §1, existe 1) uma disposi em propor termos equitativos de cooperagio que é razoével supor que 0s outros aceitem, assim como uma disposi de se sueitara esses terms, desde que eja garancias de que os outosfa- Hoo mesmo, Por conseguinte, como vimas em §2, eles b econhecem ‘que os limites do juz rstringem aquila que pode ser jusifcado pe- rane 0s outros es profesam doutrinasabeangentes rzoves. ‘Alem disso, e ainda em cerseno familis, supomes que cs cida- «ios nio apenas s50 membros normais e plenamente cooperatives da sociedade, como também desejam sé-lo e querem ser reconhecidos ‘como tis sso reforga seu auto-respeito enquanto cidadios. O mes mo efeito produs considerar certos bens primvios,cais como dicei- tos ¢ liberdades bisicos iguas, valor eqitativo das liberdades po- Livicas ea igualdade equitativa de oporeunidade, como constituintes dda bases sociais do auto-respeito”. Finalmente, dizemos que d) 0s cidadios tém o que chamarei de "psicologia moral rxzoivel’ esboga- de aban. 2, Para detalhar os pontos a) ¢(b) citadosacima, eelativos 3 sen sibilidade moral do rizaivel, distingo da seguinte maneita cs tipos de deseos: Primeito, os desjos derivados do objeto: aqui o objeto do desejo, ou o estado de coisas que o satis, pode ser desctito sem o emprego de qualquer concepgio mora ou de principios razosves ou racionas Essa definigio pressupiealguma forma de distinguir concepgdes € prineipios morais das ni morass mas vamos supor que temos uma forma de fazé-l, sobre 2 qual estejamos de acordo; ou nto que nos- sos julgementos gralmente coincider, ‘Um nimero incontivel de desejos derivam do objet; isso inclut esejos isicos como ode comer, beer e dormi; de participar de ai- vidades agradiveis de inumetives tipos, assim como desejos que de- pendem da vida socal: desejos de satus, poder egléva, ede proprie- 7 dade e riquezs, Acrescentemos a estes nossa ligagbes€ afetos, leal= dacs e dedicagio de muita espécies, edeseos de seguir ceeas voca- Bes ede se preparar para elas. Mas, como muitas vocades incluem ‘uma deseriglo moral, 0 desejo correspondente insere-se em uma das ‘categorise discutidas adiance 3. Bi seguida, remos os desejosdervados de principios. O que dis- ‘ingue esses desejs € que 0 objeto ou alvo do deseo, ou a atividade com qual desejamosenvolver-nos, no pode se descrta sem o emprego de principios,raconais ou razoéveis, onforme o caso, que entram ae pecificagio desea arividede. Somente um ser racional ou razodvel que pode entender eaplicar esses prineipios, ou que cem uma expectativa rzodvel de entendé-lse aplici-los, pode ter eses deseo (Os desejos derivados de principios sio de dois tipos, conforme o principio em questo sea racional ou mzodvel Primeiro, os prineipios acionais que mencionamos em §1.2, tas como ) doar os meios mais efetivos para nosss fins eb) selecionar 3 letnativa mais provével, outros ftores permanecendo inalterados. A cles arescento: ) preferiro bem maioe (o que ajuda a planejar eajus- tar os fins para que se apiem uns aos outro) ed) organizarnossas ob: jetvos (por ordem de prioridade) quando eles entram em conflito. ‘Vamos examinaresesprineipios de acordo com a enumeragio, n30 como detivados de uma definiglo de raionalidade pritca, pois no hi concordincia sobre a melhor maneica de definir essa concepcio. Por enquanto, remos de reconhecer que existem concepcses diferentes de 11. imperanecefie e Fgoups, do ds desi de rip ie ‘here pl pitcpoas ual oro igo ol a si (Snes Et fr, peo que ei po ae re deep a ‘iecome devecn terse comportedo, moaimenteflndo. Ura peso se box vontde, et a eres de Kanal pe des decade cpio ays ‘alan ono ensou pre dow pcp ue ts bo Ea obs finan Agrees Coton Koger es ae dns de ede ats fo 128 racionalidade, a0 menos em cercoscpos de casos, ais como o das de- iss tomads sob grande incerteza. Como vimos em §1, a idéia ge sal é que esses principios orientam um vnico agente na deliberagio sacional, quer esse agente seja um individuo, quer uma associagio, ‘uma comunidade ou um governo. (O segundo tipo de desejo derivado de peincpios diz respeieo 208 principios azoiveis: aqueles que regulamencam a maneita pela qual ‘uma pluralidade de agentes (ou uma comunidade ou sociedade de agentes, quer de pessoas ou grupos individuais, deve se conduzie em suas relagBes mituas. Os principios de equidade e justice que defi- rem os termos equitativs de cooperacio sao exemploscanénicos,as- sim como os prineipiosassociados com as vireudes moras reconheci- das pelo senso comum, ais como a honestidade e a fidelidade 4. Finalmente, hé também os desejos derivados de uma concep- 0 politica. Para nds, esses slo os mais importantes, por razbes que Serio esclarecidas. Podemos descrever esses desejos dizendo que os principios de acordo com os quais queremos agit Jo vistos como pat te de — ou como elementos que ajudam a articular — uma certa concep io raconal ou rszodvel, ou um ideal politico Por exemple: podemos desejar condusie-nce ds maneiraapropria- de aalguém que é racional, cuja conduta € orientada pelo raciociaio, pritico. Desejar ser ess tipo de pessoa envolve ter deseos derivads de prineipios e agir de acordo com eles, e nio apenas de acordo com (0s desejosderivados do objec, governados pelo costume e pelo hi- bio. No entanco, os principios que especificam os desejosderivados de principios devem telaconar-se de forma adequads com a concep= ‘oem questdo, Nossa reflexdo sobre o fucuro pressupde, por exem= plo, uma concepco de nés mesmas como sere que petdursm no tem= po, do passado até o futuro. Afiemar que temos desejas derivados de ‘uma concep¢io politica pressupse em nés a capacidade de formular «a concepgio correspondente ever como os princlpios a constituem € ajudam a arcu 32 Sobre in, ers imine cena de Tht Nag The Pail Alri 129 EEvidentemente, para nés o caso que inceressa€o ideal de cidadio db forma caracterizada pela jsciga como equidade. A escrurura €0 ‘cone desea concepo de justia mostram como, pelo uso da po- sigh original, os principiose cviévios de justiga paca as insticuicdes bisicas da sociedade constituem e ajudam a articular a concepgio de parcilhada em termos aceitiveis para outros como pessoas livres € ‘guais. Essa idéia de uma vida politica compartilhada nio envolve a idéia de autonomia de Kant nem a idéia de individualidade de Mil, fo sentido de valores morais que fazem parce de uma doutsina abran- zente. O apelo diz respeito mais ao valor politico de uma vids pi bilica conduzida de acordo com termos que todos os cidadios razos- vos. Isso leva a ideal de os cidadios democtiticos resolverem suas divergéncias fundamen com uma idéia de razdo piblica (V2) 6, A essas observactes, liberalismo politico acrescenta que a or dem representada no argumento da posicZo original € forma mais, apropriada de arccular os valoces politicos. Fuze isso € algo que nos possbilicaformularo significado de uma doucrina politica aurdn0- ‘ma como uma douttina que represents, 0% express, 0s pincipios po- Iicios de justiga — 0s termos equitativos de cooperagio social — como principios 20s quas se pode chegar pelo uso daqueles da razio pritica, conjugados com as concepgSes apropriadas das pessoas como liveese iguaise da sociedad como um sistema eqlicarvo de coope- ‘agio a0 longo do tempo. O argumenco que parte da posigio origi ral evidencia esa linha de pensamento, A sutonomia ¢ ums quest de como a visio apresenta os valores politicos como ordenados, Pensemos nisso coma auconomia doutrindria, Porcanto, uma visio € autdnoma porque, em sua ordem represen- ‘da, os valores politicos da justigae da razio pblica (expressos pe- les peinefpis da visio considerada) no sio simplesmence apresenta doe como exigéncias moras impostas a parti de fora. Tampouco sio, veispossam aceitar como equ de scordo 9. deri een Se concn defi expense IT 143 ‘exigidos de nés por outros cidadios cujas doutrinas abrangentes nfo aceitamos. Os cidadios podem, a0 contro, entender eses valores como valores fundamentados em sua rsko pritica, conjugads & con- cepsses politicas de cidadios livres e iguas eda sociedade como umm sistema de cooperacio equitativa. Ao endossar a doutrina politica co- :mo um odo, nés, enquanto cidadios, somos autGnomos em termos politica, Portento, uma concepgio politica auténoma proporciona ‘uma base e uma ordenacio dos valores politicos apropriadss para urn regime consttucional caracerizado pelo pluralismo tazedvel §2. O construtivismo moral de Kant 1, Vamos examinar agora quatro diferengas entre o construivis- ‘mo moral de Kane e 0 construtivismo politico da jutiga como eqt~ dade ‘A primeicadiferenga€ que a doutrina de Kant é uma visio mora abrangente em que 0 ideal de autonomis tem um papel regula pa ra rade ns vida Iso a corna incompativel com o iberlismo politico dla justiga como eqlidade. Um liberalism abrangeace baseado 20 ideal de auconomia pode, evidentemence, fazer parte de um consenso sobreposto razoivel que endosse uma concepsio politica ms, como ‘al do € apropriado para fornecer uma base pablica de jusiicago, ‘Uma segunda diferenga se revels assim que intcodusimos um se- gundo significado de autonomia, Coma acabamos de ver, undo 0 liberalismo politico, a autonomia de uma visio politica depende de sua forma de apresentar os valores politicas como ordenados. Dissemos, {que uma visio politica € aurSnoma quando repeesenta ou expressa 2 ‘ordem dos valores politicos como uma ordem baseada nos pincipios, a tszio privice,conjugada as concepsées politica apropriadas de sociedade pessoa. Isso, como foi dito acima, € auronomia doutri- nal, Caso conteiro, a visi é doutrinariamente heterondmica Outro significado mais profundo de auconomia prescreve que a fordem dos valores moras e politicos deve fezer-se, ou consticui-se, pelos prineipios e cancepySes da uaio priica. A ito chamaremos de 144 oF auconomia consticutiva, Em contraste com 0 intwicioisme racional, 4 autonomia constcutiva diz que a chamada ordem independence de valores nio se constitu por si mesma, mas €, antes, consticuida pela atividade, real ou ideal, da pr6pria rao peitica (humana), Aceedito {gue isso, ou algo parcido, sea a vi mais profundo e chega & prdpria existéncia e constieuigzo da order. de valores, Faz parte de seu iealismo canscendental. ordem inde pendence de valoces do intuicionista faz parce do realism transcen- dental a0 qual Kane apse seu idealsmo transcendental de Kane. Seu conseeutivismo é io hi civida de que o liberalismo politico deve rejeitar¢auto- ‘nomia consticutiva de Kant; no entanto, seu consteutivismo moral pode endossar 0 consteutvismo politico, até onde vai este diltimo Eoconstrutivismo politico aceea, com coda acerteza, visto de Kant «de que 0s prinefpios da razio pritica originam-s, se insistirmos em dizer que se originam em algum lugar, em nossa conscigncia moral informada pela razio pritica, Nio advém de nenhuma outra part. Kane é fonte istérica da idéia de que a rai 10. pritica, ges e autentia asi mesma, Nao obstante, concordat «om isso € um problema distinc da questio de saber se os prncipios, anto a reética quan da rand privica constituem a ordem de valores 2. A terceradiferenca & que as concepgses bisicas de pessoa e s0- ciedade na visio de Kant tém, assim 0 supomes, um fundameaco em seu idealismo teanscendeatal, Nio diseuto 0 que pode vir a ser ral fandamento,exteto para dizet que ele certamente jf foi entendido de muicas maneiras; ¢ poderiamos aeitar uma dels como vetdadei- uno incerior de nossa vi abrangente, Lembre-se de que pressu jponho que todos tems uma visio abrangente que vai muito além do doménio do politico, embora poss ser parcial ¢, no rao, fragmen- ‘ra eincompleta. Mas isso €ierelevante aqui, O essencial € que a jnstga como equidade usa certasidéias Fondamentais, que so pol ‘eas, como idéias organizadoras bisicas.O idealismo transcendental 10. a mpornte par brie police quan cic outeas doutrinas metaiscas desse tipo do desempenham nenhurn papel em sua organizagoe exposigo, Essas dferencas esto ligadas a uma quata: os objetivesdistineos das dua visbes. A justia como equidade tem por objetivo descobrit uma base pablica de justficagio no que se refee a questdes de justi ‘politica, dado o fato do pluralismo razoivel. Como a justificagio Se ditige as outros, origina-se no que é, ou pode se, defendido em ‘comum; por isso comecamos com idéias fundamentaise comparti- Ihadas, implicitas oa culeua politica e piblica, na esperanga de de- senvolvé-las a parir de uma concepgio politics que possa chegar a uum acordo livre e reflec no juan, senda esse acordoestvel em vir~ tude de conquistat um consenso sobreposto de doutrinasabrangen ces €eazosveis, Essa condigies sio suficientes para uma concepsio, poliicae razosvel de justga E dificil resumir os abjecivos de Kant. Mas acredito que ele en- tend o papel da filosafia como apologia: a defesa da fé azoével. Nao se trata do antigo problema teolégico de mostear a comparibilidade ‘eneee €¢razio, e sim do de mostrar a coeréncia ea unidade da ra- io, ranco cerca quanto pritica, consigo mesma; e de por que deve- mos entender a rzio como otebunal suptemo e tleimo, como o ini ‘co.que tem competGacia para resolver codas as questdes sobre oaleance « limites de sua propria aucoridade', Nas dus primeitas Crticas, Kane defende tanto o conhecimento da natureza quanto 0 conhec ‘mento de nosis libetdade por meio da lei moral ele também deseja ‘encontrar uma forma de conceber a lei natural a liberdade moral segundo a qual elas nio sejam incompaciveis. Sua visso da Hilosofia, como defesarejeita qualquer doutring que solape a unidade € a coe~ éncia da rao erica e da nazio pricica; opde-se a0 racionalismo, 20, tempirisma e so ceicismo, oa medida em que essas visBes tendem, .qucle resultado. Kane desloce os 6nus da prova: a airmagio dara ‘lo baseia-se no pensamento e na pritica dt razio humana ordingria, (Gélida), da qual a reflexio flosfica deve partie. Enquano esse pen- 146 ae & samenta e esa pritica nio paregam conflicarconsigo mesmos, io, precisam de dfess. ‘Cada uma dessas diferencas tem alcancesuficiente para distinguie 4 justiga como equidade do conserutivismo moral de Kant. Esti, porém, incerligadas: a quarta, a diferenga de objetivo, juneamente ‘com o fato do pluralismo razodvel, leva i es primeiras, No entan- {0,4 justiga como eqiidede aceitariaa visio que Kane cem da fileso- fia como defesa até 0 seguinte ponto: dadas condigGes razoavelmente favordveis, ela compreende a si mesma como a defesa da possibilida- de de um regime democratic e consticucional justo §3. A justica como eqtiidade enquanco visto construtivista 1, Antes de nos volearmos para. os aspectos conseeusivstas da jus ‘ica como eqildad, uma observacio preliminar. Embora as perspec- ‘vas constriviseastenhar um lugatlegitimo no Ambito da floso- fia morale politica, elas também tém uma certs afinidade com 35, idéias construivistas na filosofia da matematica. A interpretacio de Kane da nacureza sintética e apriorstica da ariemécica e da geome- tia 6 evidentemente, uma percepgto das origens histricas daquelas dias [Uma similaridae instriva: em ambos os casos, aid €formu- Jar uma cepresencasio procedimental na qual tanco quanto possivel, todos os ritéros celevantes para oeaciocinio corseto — macemiti- 08, morais ou politicos — sejam incosporados e abetto visio". Os 12. Exe ln Chas Pans, Kan’ Phin of Ahi 90, ‘np em Mamas nd Phy hc: Cornel Unies es 198800 Cece Mathai Foc fe Pal vate, Tr Ee Py, (Cambege Mae: Hanae Unery Pe 1992, ons Le? 1S Cares pocdmenn i om eee une quar poe roc ‘oselvar expec om i, com 0 el mate par eel oe oe Cin pio conte ie ur campeteee apc cereamene 9 prceiet0 Jo war julgamentos siorazofveis e vélidos quando resultam da aplicacio correta do procedimenco correto, ese apéiam unicamente em pre= ‘missas verdadeitas, Segundo a interpretacio de raciocinio moral de Kant, a representagio procedimental é dada pelo imperativo categé- Fico que expressa os eoquisitos que a fado prdcica pura impSe 2 n05- sas miximas racionais. Na ariemética, 0 procedimento express a for ‘ma pela qual os nimetos naturais so gerados a partir do conceito bisico de uma unidade, cada nimero sendo gerado pelo anterior. Os diferentes niimeros distinguem-se por seu lugar na série asim cri dla, © procedimento mostra as propriedades bisicas que consticuer ‘05 fatos celarivos aos nsimeros, de modo que as proposigBes sobre os ‘limeros, corretamente derivadas do procedimenco, so correts. 2. Pata explicar o construcivismo politico, precisamos fazer tts perguntas Primeira: nsse tipo de conserutivismo, qual £0 objeto constru do? Resposta: 0 conteido de uma concepeio politica de justia. Na justiga como eqidade, esse conteddo consiste nos prineipios de jus- tiga selecionados pelas partes na posicio original 4 medida que pro- cram defender os intereses daqueles 3 que representam, ‘A segunda pergunta é: enquanto atificio procedimental de rep sentagi0, a pedpris posicio orginal 6 construlda? Ni; ela €simples- ‘mente estiplad. Partimos da idéia fundamental de uma sociedad bbem-ordenada enquanto ur sistema equitacivo de cooperagio encre cidadios razosveiseracionais considerados lives iguais. Depois, concebemos um procedimento que evidencie condigées razoiveis serem impostas 3 partes, ue, enquanto representantes racionas, de vem selecionat 0s prineipios piblicos de justiga para aestrucura bie sica de uma sociedade desse tipo. Ao fazer iso, nosso objetivo €ex- pressar nesse procedimento todos os ctitérios relevantes de ‘azoabilidade e racionalidade que se aplicam aos principios e normas da justiga politic, Se fizermos isso da manera apropriada, conjectu~ E tums nee gunn pn pon tenet ofan om sb me 8 oe amos que 0 desenvolvimento correto do argumento a partit da posi- io original deve resultar nos principios de justi para governar as relagies politicasentce 0 cidadios. Assim, «con cepgio politica dos cidadios como membros cooperativos de uma so- ciedade bem-ordenada dé forma a0 contesido da justiga e do direito politicos. 3. Isso leva cercera pergunta: 0 que significa dizer que as con- cepgies de cidadio ede uma sociedade bem-ordenada esto incrusta- das no procedimento construtivista ou sio modeladas por ele? mais apropriados Sigifica que a forma do procedimento sus caractriticas mais pe- cilares so obsidaedestasconcepces que Ihes server de base. 2 guia de ilustragio: fiemamos antes qu os cidados tém duns faculdads morais. A primeiea€ capacidade deter senso de justia, «que thes posibiia entender, aplicar e agi de acordo com os pine cipioszosveis de justiga que especifcam termes eqtaivos de coo- peragio social. A segunda faculdade moral € capacidade de er uma Concepsio do bem: uma concepgto dos fins easpiragbes que mere- ‘em nossa dedicagio,conjugada a uma ordenacHo deses elementos ars nor guia ao longo de eda a vida. A capaci dos cidadios de ter ama concepgio do que € bom panels de uma manera speopeiae 1d justice politica € madelada no procedimento pea racionalidade ds paces. A capacidade dos cidadios de te senso de justiga€. een contrase, models no interior do pepo proedimento por carac- ‘eristicas como a condicio eazoivel de simecria (ou igualdade) segun- do qual seus representantes esto situados, bem como pelos limiees| 3 informagio expressos pelo véu de ignorinca ‘Além do mais, a capacidade de ter senso de justica, que se eevela nnaargumentacio ds cdadios na vida politica de uma sociedade bem- ‘ordenada, também & modelada pelo procedimento como um rodo. ‘Coma esses cidadios, somos 20 mesmo tempo razoiveiseeacionas, ‘em contraste com as partes na posigéo original, que — € importante enfatizar —, enquanto pessoas arvificiaissituadas dentto de um dis- positivo de representagzo, so apenas raconais. Além disso, parce da ide politica sea pablica. Iso é modelado pela caracterstica segundo a de uma sociedade bem-ordenada pressupde que sua concepsio 149 qual, a0 selecionar os prinefpios de ustca, as partes devem, por exem= plo, levar em conta as conseqUncias de esses princtpios serem mu tuamente reconhecidos ede que manera isso afeta as concepgbes que ‘os cidadostém desi mesmes eda mocivagio para agir de acordo com tas principios. ‘Concluindo: nem rudo, portanco, € construdo; precisamas dispor de um marerial, por assim dizer, com o qual comegar. Num sentido ‘mais literal, somente os prinefpios substantivos que especificam 0 conteido da justiga edo dicito politicos io construides. O proprio _procedimento& simplesmence esipulado, usando-se como pontos de parcida a concedes bisicas de sociedadee pessoa, os principios da rio pritica © 0 papel pablico de uma concepcio politica de justia 4, Bu disse dois parigrafos aeris) que a capacidade de ter senso de justign que caracteriaa a argumentagio dos cidados de uma so~ ciedade bem-ordenada é modelada pelo procedimento como um co ddo, Para moras a importincia deste fato,examino uma object si- rmilae 2 critica feiea por Schopenhauer a douttina do imperative categ6rico de Kant Schopenhauer afimava que, 20 agumentar em favor do dever de ajuda miitus em situacbes de inforeinio (0 quarto cexemplo em Grundlegeng, Kant apela para aquilo que agentes racio- nais,enquanto seresfinitos dotados de necessidades, podem coeren= temente deseja que seja.a Ie universal. Em visea de nossa necessida~ cde de amor compaixio, a0 menos em certas ocasides, no podemos desejar um mundo socal em que os outros sejam sempre indiferen tesa nosso apelos em tai ocasides. Em Fangio disso, Schopenhauer firma que, no fando, a visio de Kane éegoista, de onde se segue que la é final, apenas uma forma disfargada de heteronomia 14, Vero Bai of Ee (1840), pete, tradi de FJ Payne Non Yok Liber Ar res 1963) pp 8992 Su gros no Cae por tee gue ib reg ntevo su cca got oa bt tetlbrn mu eigade dco eve Bos pon. abe eno cB cde 8 150 iy ‘Aqui, no me preocupo em defender Kane dessa critica, mas em ‘observa por que 4 objecio equivalence feiea 3 justga como eqidade 6 incorteta. Com essa fnalidade,gostaia de dizer que hi, de imedia- to, dusscoists que inspiram a objecio de Schopenhauer. A primeira € ‘que ele acredita que, quando as maximas se cornam leis universais, ‘Kane nos pede pars examin‘-las uz de suas conseqiéncias gers pax ‘a nossas inclinagies ¢ necesidades narurais, sendo as inclinasBes € ‘ecessidades vistas egoistcamente. Em segundo lugar, a regras que deiner o procedimento para examina as méximas, Schopenhauer a8 Jncerpreca come retrgGes externas, endo como deivagies dos tragos essenciis das pessoas em sua condicdo de razodveis. Essa restrighes so impostas, por assim dizer, partir de fra, peas limitages de nos- sa situagio, imiagées que gostariamos de superar. Essas das con deraies levatam Schopenhauer a dizer que 0 imperative categ lum principio de reciprocidade que o egofsmo astutamente sceita co= i pode see apropriado pata uma confederagdo de Estados-nagGes, mas no como um pri pio moral CConsidere agora 2 objegio similar feiea justia como equidade ‘em relaso a estes dois pontos. No que diz eespeito a primeito, as partes na posiio original nso tm iaceressesdirecos, exceto um in= ‘eresse pelas pessoas que cada uma deas representa, e elas aval 0 principios de justiga em termos de bens primérios. Além do mais, as partes preocupam-se em assegurar 3s pessous que representam 0s in- ‘io um compromisso. Como eal, esse princ teresses de ordem superior que temos so descnvolver e exercer nossas das faculdades moraise o assegurarmo-nos das condigoes que nos, ppermitam promover nossa concepeto do bem, sea ela qual for. A lis- ‘de bens primarios ¢ofndice dsses bens devem ser explicados tan- ‘to quanto possvel pela referencia aquels inceresses, pressupondo-se sempre que os individuesrepresentados cém no grau minim neces- sitio as capacidades que Ihes possibilitam ser membros cooperativas normais da sociedade durante coda a vida. Como aqueles inceresses slo usilizadce para especifica as necessidades das pessoas em sua con dicho de razodveis eracionss, os objetivos das parcesnio slo egots- ‘as, e sim de rado apropriados e oporeunos. As partes fazem 0 que os 1st representantes devem fazer pela pessoa que tepresentam. Além dis 50,0 fato de os cidadios instruitem seus representantes no sentido de asseguratem as condiies pars a reaizagioe o exerci de suas f= culdades moras para a promocio de sua concepgio do bem, assim ‘como para assegurarem as bases sociis € os meas de seu aucorces peito est de acordo com a concepgdo de pesoas livres (I:5.4). 1550 conctasca com 2 opin de Schopenhauer de que as méximas da dou- tina de Kane sfo postas 3 prova pelo grau em que podem stisazer asnecessdadese inclinagbes naturis do agente, consideradas egostas. ‘Voltendo-nos para o segundo panto, gostaria de dizer que a8 res ‘rigBes impostas is partes na posigio original sio de faro externas a clas, em sua condigio de agentes racionais de consteucio, metos pet- sonagens acificiais que habitam nosso disposcivo de epresentagdo, ‘Apes disso, esas restrigdesexpressam o razoive e, por conseguint,, as condicies formals implicias nas duas faculdades morais dos mem- bros de uma sociedad bem-ordenada que as partes representa. Como ‘vimos, esas faculdades sdo modeladas pela localizacio simétrica das parces na posigio original e pelo fara de estarem sujita i restigdes ‘que se impsem as rates que podem ser invocadas para defender prin- Cp de justga expressos pelo véu de ignorincia (1-4). Iso contrasta ‘com a segunda suposigfo de Schopenhauer, ou se, a de que as restr «es do imperativo categéricaderivarm dos limites de nossa nacuteea finiea que, indusidos por nossa incinagées naturas, gostacfamos de superar. No encanco, na jstiga como eqlidade, desenvolvere exercee nossa capacidade moral (corespondence a0 exzoével) um de nossos inceresses de ordem superior; ext inceresse anda de mos dadas com «8 concepgio politics de pessoa como live e igual. Uma vez esclareci- do isto, as rerriges da posiglo original deixam de set vistas como ex- ‘ternas. Mais uma ver, 0 paralelo com a objegéo de Schopenhauer no se aplica, mas mostea, como discutimos em I6, de que manci apo ‘igo original modela a autonomia plena (em conteaposigo & aurono~ ria racional) dos cidados, sendo a auconomia plena compreendida ‘como um valor politico, esto como ur valor éico que se aplica 3 vi- dda como um eodo ox a grande parce dee 152 Hew ‘$4. O papel das concepgdes de sociedade e pessoa 1. Dissemos muitas vezes que o construtivismo politico resulta ‘da unido ence a razio privica, as concepeSes apropriadas de socieda- dee pessoa eo papel pblico dos principios de justia. O construt vismo nio deriva somence da raz pritic, pois requer um procedi ‘mento que modele as concepgbes de sociedade e pessoa, Mas quais concepsies so apropriadas, e como surgem? ‘A respostageral € seguinte: os principios da rani prética —tan- 00s prnefpios razofveis quanto os principios racionais — eas con- cepges de sociedade e pessoa sio complementares. Assim como os principios da logics, inferencia julgemento no poderiam ser em- pregados se no existssem pessoas que pensam,inferem e julgam, os principio da eazio pica slo expressos pelo pensamentoe pelo jul- _gamenico de pessoas razoives eracionas, aplicados por elas em sua pricica social e politica, Esses principios nfo se aplicam por si s6s, ‘mas so utilizados por és, isso sim, na formagio de nosss intengoes pessoas Assim Sendo, podemos chamar as concepgbes de sociedade e pessoa ‘agbes, planos e decisGes, cm nossa rlagBes com out de “concepces da saa pritca elas caraterizam os agentes quer n €especificam 0 contexto dos problemas e questoes as quais se aplicam 0s principios da tazio privica. Portanco, «razio privica tem dois aspectos:princjpios de raz ejulgamenco pritico, de um lado, ¢ pessos, naturais ou acficais,cuja conduca é moldada por es- ses principios, da outro, Sem as concepgdes de sociedade pessoa, 0s rincipios da rao pritica no triam sentido, uso ou aplicacio. Embors as concep de sociedade e pessoa caracterizem 05 agen: tes que raciocinam ¢especifiquem o concexto das questies prticas, ‘essasconcepsses tém a forma geral que cém porque sio usadas com (08 princtpios da ruzio pritica, Perguneamos: como dever se¢ 38 pes> soas para se envolverem na reflexio pritica? Respondemos dizendo ‘que as pessoas cém as dussfaculdades moras, assim como uma de- terminada concepcio do bem. © fato de serem razosves ¢racionais significa que podem entender, aplicar e agit de acordo com os dois ‘ios de prineipias privicos. O que, por sua vez, significa que tém a 153 ‘capacidade de ter um senso de justiga € uma concepcio do bem; e, ‘como esta ultima capacidade ¢ normalmence desenvolvida e posta ‘em funcionamento, peessupomos que as concepsées do bem de que dlispem a pessoas, em qualquer momento dado, sio determinadas, {sto 6, expressam um esquema de ligaées e fins iltimes, juncamen- ‘ce com uma doutrina abrangente, 3 luz da qual esses elementos si0, incerpeetados. ‘As concepsdes de sociedade pestoa enquanto idéias da razio nfo So, evidentemente,construidas, assim como tampouco os prncipios dda taz¥o pritica o io, Mas podemos concebé-las como idéias agea- ppadas econectadas. Como acabamos de fazer, pcdemos refletir sobre maneira pela qual sss i is aparecem em nosso pensamento pri rico. procurar estabelecer uma ordem segundo a qual possam ser e~ lacionadss,partndo da mais genéricae simples para a mais espectfi- ‘cae complera. Assim, a idéia bisica de sociedade €4 daquela cujos ‘membros se envolvem no simplesmente em atividades originadas dos comandos de uma aucoridade central, mas sim em atividades _guiadas por normas e pracedimentos publicamente reconhecidos, 0s quais os membros cooperadores aceitam e consideram como fatores ue regulam apropriadamente sua conduta, Chegamos 3 ida de s0- cidade politica se acrescentarmos que a atividades cooperativas bas- ‘am para todos of principsis objetivos da vida e que seus membros hhabitam wm tcrritdrio bem definido a0 longo das geragbes (13.22. 3) Essa idéia fz parte da razdo priica e envolve a idéia de condua adequada, apropriada ou coreta, 2. O que falta a esse esbogo da ida bisica de sociedade & uma con- cepgie do direco e do bem, com base na qual seus membros aceitem as regras e procedimentos que atientam suas aividades. Na justiga, como eqiidade, essa concep que falta € consteuida com a utiliza Go dos principio da razio priticaconjugados a concepsdes politicas de saciedade e pessoa, Trata-se de um caso especial em que os mem= ‘bros da sociedade so cidadios considerados lives ¢ iguais em vireade de possuirem as dus faculdades moras no grau necesséto, Essa €a base da jgualdade. Aqui, o agente moral € 0 ciddio livre e igual, en- quanco membro da sociedade, no 0 agente moral em get 134 ‘Qucras sociedad adocam uma visio diferente, fundementada em estas doutrinasreligiosas ou filoséficas. # muieo pouco provivel que suas concepgdes de justiga sejam construcivistas, da mancica como tempregamoso termo, e possvel que sejam abrangentes, eno po= Iicicas. Noo preciso citar exemplos aqui, mas quaisquer que sejam essas doucrinasreligioss eiloséficas, syponbo que todas elas dispo- inham de uma concepgio do dircito.e do bem, ineluindo-se af uma ‘concepgo de justiga que pode see compreendida como uma maneira _zue a conclusdes com base em razbes ¢evidncias, apés discussio e cuidedosareflexio, Na verdade, isso €necessirio a todos os tipos de invesigasio, sea de ordem moral, politica ou cienifica,seja de ques- tes do senso comum, Por conseguinte, sea idéia de raciocini ejul- ‘zamento se aplica anossas proposigBes moras politicas, em com: ttaposigio simples expresso de nosso estado psicoldgico, devemos ser capazes de fazer julgamencose inferéncias com base em critéios ce evidéncias mutuamente reconhecidos; dessa forma, e no de oucra ‘qualquer — pela mera retGrica ov persuasio, por exemplo—, pode- 16 some eect amplamere cones No Ma de xe 156 ay mos chegat @ um acordo pelo livre exerccio de nossas faculdades de julgameno. ‘O segundo elemento essencial surge como um corolério do pti- meito:€caracteristi fndole) cer ‘por objetivo ser rezosvel o verdadeito,conforme o caso, Assim, um concep de abjetividade deve expecificar um conceito de julgamen= to correto feo a partie de se ponto de vista ¢, por iss, sujeto a suas norms. Pode coneeber os julgamentes correcos da maneira habitual, como percepgies verdadeiras de uma ordem independente de valo- res, como no intuicionieme racial; ou, como no consteuivismo po litico, podemos ver os julgamentos corretos como razoaves, isto €, como julgamentos que se beseiam na preponderincia de razses espe- cificadas pelos prineipios do direicoe da justga, resulrantes de wm procedimento que formula corretamente os princtpios da tazio p tics, conjugados 4 concepgbes apropriadas de sociedude pesso. 2, Orerceta elemento essencal equer que uma concepgao de ab- jecividade especifique ums ordem de eazdes da maneicaestabelecida ‘or seus principiose critéris, deve ateibuiresss razies a agentes, ‘quer individuais, quer colesivos, como razdes que eles devem pesar€ ‘elas quais devem guir-se em decerminadas circunstincias. Dever ‘aie com base ness razSes, sejam eles mocivados por elas ou nio;e, ‘desse modo, essascazbeestribuidas podem ir além das razbes que 0s agentes tém, ou pensam rer, segundo seu ponto de vse especifico. ‘Mais uma vez como corolirio, temos um quarto elemento essen. cial: uma concepgio de objetvidade deve distinguie 0 ponco de vista ‘objetivo — da maneiea como € decerminado pelo ponto de vista de ‘certos agentes apropriadamence definidos como razodves e racionais, por exemplo — do ponto de vista de qualquer agente especifico,in- do julgamenco (moral ou de out dividual ou coletivo, ou de qualquer grupo especitico de agentes, em ‘qualquer momento dado, Bindispensével pera a compreensio do con- ceivo de objetividade que jamais suponhamos sero faco de conside- rarmos algo justo ou razoivel, ou de um grupo assim o considersr, suficiente para coré-lo justo ou ruzoivel ‘© quinco elemento essencal € que uma concepyio de objeivida- de tem uma interpretasio do que sea a concordincia de julgamento 137 centre agentes razoiveis. Pode-se dizer, como 0 intucionismo, que os agentes razosveis tém as faculdades inceleccuaise morais que Ihes permicem conhecer a ordem independente de valores ¢ examin ajustar e coondenar seus julgamentos a respeito dela por meio da dis cussio eda reflexdo. Ou, por outro lado, é pessvelconsiderat razod- veis,comoo faz oconstrucivismo politico, as pessoas eapazes de apren- dere dominar os conceitose principios da tazio priica, assim como 0s principio de diteitae justica que resultam do procedimenco de constugio”. Depois de aprender e dominar esses elementos, us pes 03s razosveis podem aplicar coreetamente aqueles prineipios eer ‘os e, supondo-se que tomem por base a mesma informacio (Ade- dligna), chegse A mesma conclusio, ou conclusio semelhante Em sintese: ums concepcio morale politica € objetiva somente ‘quando escabelece uma estructura de pensemento, argumentacio € julgamento que sucisfaca os requisios desses cinco elementos essen ciais, A parcr da maneita pela qual a ordem de r2zdes de uma con~ cepsio €apresentada, rorna-se claro que o julgamento de qualquer agente, individual ou colevivo, pode estar errado. Ha uma distingio, entre eaciocinioejulgamento, por mas sinceroseaparencemente cor- tetos que sejam, €0 que é verdadeiro, ou razodvel (dependendo da visio em pata). Actescencamos que écaracterfstica dos agentes a ove ofaro de reconhecerem esses elementos essencais,e seu reco- ‘ahecimento sjud a gerantira hase necessia para a concordncia de julgamento. Um seato elemento essencial, discutido na prdxima se lo, requer que sejamos capazes de explicar as discordancias de urna cera forma (87.2), 3, Dizer que as ers visbes que discutimostém diferentes concep= Bes de objevividade ¢ dizer que elas no explicam esses elementos ‘essenciais da objetividade da mesma forma. Considere 0 incuicionis- ‘mo racional: em relagio ao segundo elemento essencial, um julga~ mento moral coreeco € aquele que 6 verdadeiro de acordo com uma ‘ordem independente de valores morais. Nem o construrivismo mo- 17 ete sign gu mes concer dee prceimeno«im gue ple at Iss tal de Kant nem 0 construtvismo politico consideram que 0s julga~ ‘ments moras sejam objetivos dessa forma, pois nenhur dos dois sssevera uma ordem independence de valores (embora o consttuti~ vismo politico no a negue).Certostipos de intuicionismo racional também sio heterondeicos no primeiro sentido, isto é,em um sen- ‘ido doutrinal ($1.6); eiss0 os discingue ndo apenas do construtivis- smo de Kant, mas também do construtivismo politico da justiga co- mo equidade, No encanto, para o construtivismo politico, a hheteronomia nese sentido douteinal nio & uma eaeaces tuicionismo racional como tal, mas apenas um trago da maneica pela tia do ine ‘qual algumas de suas variantes incerprecam ou expressam a order, de valores. ‘Mas de que forma ointuicionismo racional saisfaz © quarto ele meno essencial da abjetividade? Ou, em outta palavas, de que for- ‘ma distingue o ponta de vista do agente do ponto de visea objetivo © ‘explca como o agente pode estar ettado? Aqui, o intuicionismo po- de basear-se nos prinefpios e concepgies primeitos da tuzi0 pritica, aceitéveis depois de cuidadosareflexio (1.4). 0 poaco de vista do agente é entio, distinguido 2 parti dav. O intuicionismo racional pode concordat com 0 constutivismo politico em que no hi forma de ter um conhecimento bem-fundamentado sobre a dem de valo- 1, 08 de formar crengastazoiveis sobre ela, sem uma discussio re- fetid, embora o intwicionismo apee para idéas de percepgioe in- tuigho moras de modos que o construivismo no empresa te do intuicionismo racional ¢ ‘do conscrutivisme politico — supomes, por enquanto, que ambos ‘stejam considerando valores politicos — posse concordat sobre exa- ‘amente 08 mesmos principis de rario petica e concepgBes de so- ciedade e pessoa. Ambos também pederiam aceitaro argumento cons- ‘rutivista que parte da posicio original ¢ resulta nos princfpios de justiga politica, As duas perspectivas estariam usando a mesma es ‘rururs para distinguie entre o ponto de vista de um agente © 0 pon tode vets objetivo. A diferenca € que o intuicionismo racional cres- ceneatia que um julgamenco razoivel € verdadero, ou provavelmente verdadeiro dependendo da forga das exzbes), pertencente a uma or- 4, Daqui se conclu que uma va 159 dem independente de valores. O construcivismo politico no afirma- ria nem negaria isso, Para seus propésitos, como veremos ediante, © conceito de rzoivel €suficiente Poreanto,ointuicionismo racional pode admitir que 0 construti- vismo politico tem um tipo de objetividade, um tipo que € apropria- do para seus propésicos politicos e peiticos. A objegio daquele é que falta ao conserurvismo uma concepcio adequada da verdad dos jul- _Ramentos moras, uma concepgio que considere os principios moras, verdadeiro ou falos em relacio a uma ordem independence de valo- res. O construivismo politico no utiliza ess idéia da verdad, acres ‘centando que afirmar ou negar uma doutrina desse cipo vai além dos limites de uma concepcio politica de justiga que pretende ser, canto ‘quanto possvel, acci I para todas as douttinas abrangentes ¢ra- zodveis, Um inewicionistaracional que concoeda com o concetido da jusigs como equidade (ou com uma visio construcivista semethan- 1) € econhece a existéncia de uma rlagio entre seus julgamentos razodves (os da justiga como equidade) eos julgamencos verdadeicos ‘também consideraria tas julgamentos razoiveis como verdadeitos [Nig haveria confio ($8) [No que diz cespeito ao construtivismo moral de Kant (§2), um julgamenco moral correta€ aqucle que satsfax todos os crtétios e- levantes de razoabilidade e racionalidade incorporados no procedi- mento do imperatv categérico para estar as miximas. Um julgo mento adequadamence embasado em princpioseprecitos que passem neste teste €considerado correto por qualquer pessoa plenamentef- -2oivel ¢raconal(einformada).£ isso 0 que Kane quer dizer quando firma que tas julgamentos sio universalmente comunicveis: como ‘setts etzoiveise eacionais,reconhecemos, aplicamos ¢ podemos ex plicar aos oucros o mesmo procedimento que thes dé vaidade. Todos fs elementos essencias da objecvidade esc presents 5. Qual é 0 papel dos elementos essenciis do ponco de vista ob- jetivo © 0 que eles fazem? Lembre-se de que, em H:1 4,0 xzoivel é ‘rblica de formas que oracional no & 6 pelo razodvel que enteamos 18. orem aati “Karn Cons 160 ‘no mundo pablico dos outros e nos dispomos a propor, ou acitar, conforme o caso, principos razdveis que especifiquem termos eq tacivos de cooperagio. Esses peinepis resultam de um procedimen- tode construgio que expressa os principios da etzio pica, conju- dos is concepgdes apropriadas de sociedade e pesso, e, como tis, [podem ser utilizados para fandamentar nossos julgsmentas. Juntos, ‘ess principios nos fornecem uma concep politica de justiga para juga as insituigies bisicas e especificat os valores politicos egun- «do 0s quais esas insteuigdes podem ser avaiadas. Os elementos es- sencias da objtividede si, portanco, a caretersticas necessérias & uma estrucura de pensamento ¢ julgamento, caso se queita consti= tir uma base pablia e aberta de ustificaco para cdados considera dos livres e iguais. Quando os cidadios compacilhaen uma concepgio politica razoivel de justi, compurcitham uma base comum median- ‘ea qual pode haver uma discusso pica das quests fundamentas Isso pode ser constatado examinando-se cada um das elementos senciais. O primeiro elemenco essencial abarca apeoximadamente 0 ‘que acabamos de dizer: afirma que uma concepsio de abjetividade deve estabelecer uma estrutua pblicasuficiente para que oconceito de julgarento posa ser aplicado para que seja possivel chegar acon- clusbes com base em razdes ¢evidéncias mucuamence reconhecidas ‘O segundo elemento essencialacrescents que, no caso do construti- vismo,€ uma caraterstica crucial do julgamento que nossa fnalida- de sea fa-Lo ezovel, um julgamenco susteneado pela preponderin- ‘ia das razdesobidas mediante um procedimento apropriad, ‘O terceiro elemento essencialrequer que a ordem das razdes da smicida aos agentes como rezdes is ‘quais eles devern dara devida priotidade, distinguindo-as das eaaies, {que tém de acordo com seu préprio panto de vista Se isso no fosse ‘exigido, inexscvia uma base compartilhada de ustticagio publica Finalmente, como coolio, o quarto elemento essencialreforg 0 ter- eiro 20 enfacizar 2 distingdo entre o ponto de vista objetiva€ 0 pon to de vista de qualquer pessoa especifica. Em geral, pensamento © julgamenco sempre sio necessirios para alinhar nosso ponto de vista «das por seus principio sea let ‘com o ponto de vista objetivo, A mesma coisa &necessiia para que hja uma base de justificago publica e compartlhada, ‘Observe que, no construtivismo, o ponte de vista objerivo sem= pre € entendido como aquele de certas pessoas razodveise racionais, Apropriadamence especificadas. Na doutsina de Kant, &0 de pessoas ‘ais como 08 membros de um reino do fins. Esse ponto de vista com= parcihado ¢ possivel, uma vez que € dado pelo imperacivo cater 0,0 qual representa os princpiose critéries implicites na razio hu- rmiana comum, Da mesma forma, na justca como eqidade, esse pono de vista € ode cidadios liveese iguais quando representados da ma- feira apropriada. Assim, em conteaste com 0 que Nagel chama de “ponto de vista impessoal"",o constrtivismo, tanto 0 moral quanto «o politico, diz que 0 ponto de vista objetivo deve sempre origimarse fem algum lugat. Isso porque, evocando a rzdo privica, ele deve ex- pressar 0 ponto de vista de pessos, individuais” ou coletivas, ade~ ‘quadamence caracterizadas como tazosveis eracionais. O ponto de visca da rao priviea como tal € algo que nlo exist. Isso se relacio~ ra com o que eu disse em §4 sobre o papel das concepsies de pessoa ce sociedade, ‘Una tltima observagdo. Bu disse acima que os elementos essen ciais da objecividade (que incluem um sexto elemento, discuido er {§7.2) so necessirios para uma base de jusifiacdo pablica ¢com- partilhada, Acrescentemos que também si suficientes. Com iss0, 0 Tiberalismo poliicocem uma interpretagio de abjetvidade que € su- ficience para os propésis de uma concepcio politica de justga. Como jf disse, no é preciso que o liberalismo politico vi além de sua con~ cepsto de julgamento izaivel, podendo deixar o conceto de um jul ‘gamento moral vedadeico para as dourrinas abrangenes. 19. er Thoma Nagel Th Vin Nee San Yak Oxf Uninet res 1986), 3b, Oster unde Mare em Te Ti Ii £m xml dem nd 162 §6. A objetividade independente da visio causal do conhecimento 1. O conserutivismo afirma que « objetividade da eazto prvica € independence de ceoria causal do conhecimento. Para exclaecer esse ponto eas observacBes anteriores, gostaia de discusir uma objec, Alguns autores poderiam dizer que nenhuma das erésconcepes apresentadas é uma concepaio de objetividade. Afirmam que a obje- tividade dos julgamentos crengas depende de ser possvel Ihes dar ‘uma explanagZo adequada dentro de uma visio causal do conheci- ‘mento. Pensam que um julgamento (ou crenga) € objetivo somente {quando 0 contetdo de nosso julgamento é (em parte resuleada de ‘um ipo aproprindo de processo causal que afeta nossa experigncia sensorial — aquela,digamos, em que ojulgamenco se basa Por exemplo: nosso julgamento perceptivo de que o gato ets em ‘ima do capacho ¢resuleado (em parte) de um processo causal apro- priado que afea nossa expeciéncia perceptva de o gato estar no capa co. A ida de que hé uma explicagi conc e de bom senso pas ra esas experincias perceprivas na qual se baseitm os julgementos perceptivos sobre objtas fisicos de tamanho médio, A psicologia cog- nitiva deveria, entio, cer condigdes de completar © quadro, até mes -mo no caso de nossas crengas mais teGricas, de uma ordem superior. [No seu devido tempo, afirma-s, as creas dos fsicoscéricos serio cexplicadas de forma semehante. Até mesmo esss crengas so objet vas, porque tm uma explicacio demostrando que sua sfiemagio por parce dos fsicos resulta (em parte) de um processo causal apropriado ‘elacionado ao faro de 0 mundo ser come os fiscas pensam que € 2. Ena canept de bind i api ulm mons Gile Harma faci The Nati Moy (Nove Yr Oxkr Dnvey Pr 1979 cape, fae que at jen, O en de Watn Quinn, Toth a Exton Tri" oo 96 abi de 1986) cnt ua cis een dso Hama, Un onceo mato preci € inp Berard Wil en Eke he Lt of Phy Carbege, Mas Harard Unies re, 198) Psu eh in, er Retestions onthe Lo of Mor Kool nd Willan on ject de Quon Pha ad Pal Af pina). Deve moa ees en ine 168 2, Esa objegio levana questbes profundas sobre a iia de obje- tividade. Nio posso discti-as agora, mas somente apeesentar uma opiniao, que & 4 seguinte: o construtvismo politico acita a visio de Kant somente até o ponto de afrmar que existem diferentes concep bes de objetividede apropriadas para a razio te6rica e para a razio pricica. Talver isso se deva 20 fato de, como vimos, Kane acreditar {que « primeira diz respeito ao conhecimento de objetosclados, en~ {quanto a segunda diz respeito& producto de objeeos de acordo com, ‘uma concepcio desses objetos. Como individuos razosveise racio~ ais, devemos, por assim dizer, construir adequadamente os princi= pios do dreicoe da justiga que especificam a concepcio dos abjecos ‘que devemos produzie,e, dessa forme, orientara conduta pablica pe= la azo pritica, Uma concepcio de objecividade plausivel para a 16- _gica ea matemitica apeesenca difculdades especiais que nio discut fei aqui”, Mesmo assim, como vimos, a comparagio entre a eflexdo pritica eo pensamenta matemético¢ instrutiva. Para responder par Cialmente 3 objesio, vamos admicie que 2 exigéncia causal que ela presenta seja parte de ums concepczo apropriada de abjetividade pia julgementos de eizio te6rica, ou pelo menos para grande parte fa cigncia natural, € que o mesmo seja vilido para os julgamentos percepcives ‘Anda assim, esa exigncia nio € essencial para todas as concep- «Ges de objetividade e lo 0 € para uma concepcdo apropriada da ar 22 Sahel Bese“ Tet’ era Pip seca en gmt oc ph cn ceil dune rma ete pe © rb feu como she prorat incl lopndrent sites, Gul spunea con oe ‘Moto moral police us splice, or matin pal, ota 0505 mum. nce trl us mao, ena gue et yet ein owe come Ace doce pian Car campo deh de ‘par cys sd de bye mgr 5 Quien su cies on he af Mer Kool (nt 20m, 64 ‘gumentagio moral politica, o que € comprovado pelo fat de no texigiemor de um julgamente moral ou politica que suas razSes de- smoasteem estar ele relacionado com um processo causal apropriado, ‘nem exigitmos uma explanasio de tal julgamento no imbito da ps cologia cogniciva. Ao contriio: basta que as razdes apresentadas se- jam suficientemente persuasivas. Explicamos nosso julgamento, _quando ofazemos,simplesmence submecendo seus fundamentos a lum exame: a explicagio encontra-se nas tazées que sustentamos de bos-é. O que mais se pade dizer, exceto questionar nossa sincerida- dee razoabilidade? Evidentemente, ados os muitos obsticulos & concordincia no jul- _gamento politico até entte pessoas razaveis, no chegaremos um, acordo todas as vezes, calves nem mesmo na maior pare delas. Mas deveros er condigbes de pelo menos reluzir nossas dferengase,as- sim, nos aproximarmos de um acordo,¢ isso luz do que vemos co- smo principiose eiée compartilhados da reno privica §7. Quando existem sazdes objetivas, em termes politicos? 1. Examinamos aé agora eés concepges diferentes de objecivi- dade, recordando 0 que essasconcepoes significam e por que nos ppetmitem falar da existéncis de razdes numa ordem objeciva de r2- ies. Mas €evidente que nada disso demonstra que tal ordem existe, ssi como tampouco um conceito claro de unicérnio prova qu exis ‘em nicérnios. Quando, entZo, podemos dizer que uma concepcio politica de justice produz azdes objcivas, pliticamentefalando? Digamos o seguinte: as conviecies politics (que também si, evi dentemente,convicgfes mors) io objetivas — baseadas de fato nu- sma ordem de razdes — quando pessoas ezoves e racionas,suficien- remente inceligentese conscienciosas no exercicio da faculdade da ‘aio pritcae cujoraciociniondo exbe nenhum dos defeitos comuns do raciocino, acabam por endossi-las, ou por reduzirsignificativa- mente suas diferengas em selaglo a elas, desde que essas pessoas co- snhecam os faos elevantes ecenham examinado suficientemente os 165 argumentos relacionados & questo em condicdesfavorives 3 cuida- dosa reflexdo. Suponho aqui que as concepgSes pricas que as pes sons afirmam satsfagam aos cinco elementos esenciis da abjetvida- de jédiscutidos (§51.) Dizer que uma convicgio politica € objeciva significa dizer que ba ries, especificada por ura concepcio politi= ‘a motuamente rszoivel ereconecivel (aisfizendo aqueles elemen- tos extenciis),suficiences para convencer todas as pessous tazoives dde que ela € cazofvel, Se uma tal dem de razbes de fato se veritica, fe se essa afirmagies sia em geral rszodveis, so coisas que s6 podem ser demonstradas pelo sucesso integeal ao longo do tempo do exerci- ‘io compartilhado da reflesdo pritica por parte dagueles que so ra- zoiveis eracionais,considerando-se os limites do juzo. Dado esse su- cess0, no hd defeito nas rates de direicoe justiga que precise ser cortigido mediante sua vinculagdo a um processo causal 2, Nilo estou dizendo que a existéncia de uma ordem objetiva de rates politicasconsiste em diferentes atividades envolvendo a argu- smentagio vilids, ov na sua privica comparcilhada, ou em seu suces> 50, sim que o sucesso da pritica compartihada ene 0s que Sio ra zolveis racionas & que noe autoriza a dizer que existe uma ordem de eazdes. A idgia€ que, se aptendermos a usar e apicar os conceitos dle julgamenco e inferéncia, fundamentacio e evidéacia, bem como ‘0s principios ¢ critérios capazes de selecionar os ipos de fatos a se~ rem considerados razdes da justia politica; e se descobriemos que, raciocinando & luz dessescrtérios mutuamente reconhecidos, pode _mos chegar uma concoedincia no julgamenco ou, se io a um acor- do, que podemos de qualquer forma reduzir nossa diferengas 0 sufi ciente para assegurar © que nos parecem ser relacdes justas ou ceqitativas, aceitiveis ou decentes entre nds — entio cudo isso jus- tifica « convicgzo de que hi raxdes objetivas. Esse €0 tipo de argu mentaco que justifica eal convigio, ‘Assim, dado um contexco de pritica bem-sucedida a0 longo do cempo, esa concordincia ponderada de julgamento, ou tedugio das, ‘Gove Enonrme ua dco erehanensRelect de Qi 198 166 ee diferengas, em geral &suiciente para a objetividade, Como vimos, a ‘explanagio de nossasconviccbescostuma ser ervial:apeesentamos Urn julgamento € o consideramos correto porque supomes cer aplicado corretament os principio e criterias eelevances pur a teflexio pest ca. Isso correspond & resposta dos matematicos que, perguntados so- bre o motivo pelo qual acreditam existir uma infinidade de ndimeres primos, diem: qualquer matemético conhece a prova. A prova ex- eo raciocinio no qual sua cenga se base. A auséacia de uma expla- nagio pela psicologia cognitiva ado vem ao cas: ser capaz de 3 seneat a prova ou de exportaades suficientes para 0 julgamenco jé €2 melhor explanacio possive das cengas daqueles que slo razosves € racionais, Ao menos para as finalidades politics, ado hi necessida- de de ir além disso, em busca de algo melhor ou mais profundo”: E claro que, quando nio conseguimos chegar a um acordo nem rede as discordancias, as consideragbes psicolégicas podem rornar- se televantes. Por essa 12240, um sexto elemento essencial 3 objecivi- dade ¢ que devemos ser capazes de explicar a impossibilidade de con- vergéncia de nossos julgamentos por meio de coisas come os limites do juizo: as dificuldades de examinare pesarcodas as evidéncias, ou ainda de chegar ao dificil equlfbrio entre esses rivais apresentadas por posigdes opostas no debate de uma questio— ambas estas difi- ‘culdades levam-nos a esperar que pessoas razodveis possam divergir (1:2). Desse modo, discordincias de peso so compaciveis com a ob- jeeividade, como admicem os limites da raz, No entanto, a disco ics nds cof cm oqo charmed uma concept do bem” Una di bei Play and Pai fers veri de 1985) 311, tera 192 Acexpressio madw siyndi 6 usada, eequentemente, para caracte rizae um tratado cntte dois Estados cujos objevivase inceresses na- ionsis conduzem ao conflito. Ao negociar um eratado, seria sensaro ‘eprudente para cada Estado garancir que 0 acotdo proposto repre sence um ponto de equilibtio, isto é que 0s cermos e condigdes do ‘acado seam formulados de cal maneica que seja de conhecimento ppblico io set vantsioso 2 nenhum dos dois violi-lo, O catado po- etd entdo ser assinado, porque cada um considerari ser de interesse nacional fizf-lo, o que inclu o iteresse de cada urn em mancer 2 4e- pputacio de um Estado que respeitacratades. Mas, em geral, ambos ‘0s Estados esto interessados em tenta realizar seus objeivos a ex pensas do outro ¢, seas condigées mudarem, é 0 que fitio, Esse pano de fund esclarece 2 forma pela qual um tratado desses € apenas um ‘modaevivendi, Um pano de fando semelbance se faz presente quando ppensamos no consenso social baseado nos intereses pessouis ou de ‘grupos, ou no resultado da negociagio politica: a unidade social € apenas aparence, assim como contingente€ sua estabilidade, contan- ‘to que no perturbem a feliz convergéncia de interests, 4, Que um consenso sobreposto & muito diferente de um modus vivend € algo que nosso caso exemplar deixa claro, Note dois aspec= {os nesse exemplo: primeiro, 0 abjeto do consenso, a conceptio poli ‘cade justiga, € ele mesmo uma concepgio moral; e, segundo, acon- cepsio politica de justia é endossada por sxaGes morsis isto 6, ela Jnclui concepgdes de sociedade ede cidadios enquanto pessoas, as- sim como prinespios de justica, ¢ uma visio das vireudes politicas por meio das quais esesprincipios se encarnam no cariter humano & Slo expressos na Vida piblica. Por conseguince, um consenso sobre- posto no € apenas um consenso sobre a acetacio de certasautorida- des, ou a adesio a certs atanjosinsticucionais,fundamentades nu- ima convergéncia de ineresses pessoais ou de grupes. Todos os que concordam com a concepsio politica parcem de sua propria visio abrangente ese baseiam nas raves religiosss,flosficas e morais que ‘ess visi oferece. O ato de as pessoas endoscarem a mesma concep, ‘lo politica com base ness razbesndo corna ofa de endossi-a me= os religioto filosdfico ou moral, conforme o caso, uma vez que as 193 razdes nas quais se acredieasincertmente determinam a nacureza da to, desenvolvam uma concepcio politica de justiga luz da qual 2 constituigio, de acordo com sua visio, sea interpeetada,e casos im leis promulgadas pelo legislacivo podem see declaradas constitucionais ou inconstitucio porcantessejam decididos. Somente ent raise somente entio os jes tem uma base razoével para incerpre- tar os valores e crtéris que a constituigfo incorporaostensivamen te. E clato que esss concepgées rerio um papel imporcante na politica dos debates consticucionas. 5. Vamos examinar agora as consierages relativas & extensio. A principal € que um consenso consticucional puramente politico e pro- cedimental acabari se mostrando restrto demais. Pois, «menos que tum povo democrético sea sficientemente unifcado e coeso, ele a0 promulges legislagio necesseia para abarcar os fandamentos cons- ‘itucionais remanescentes eas questBes bisicas de justiga, sobre 0s ‘quais haveréconflitos. E preciso haver uma leislagdo fundamental ‘que garanta as liberdades de conscigncia e pensamento em geral,€ 0 apenas as liberdades de expressio e de pensamento politicas. E ‘preciso que hai igualmente uma legislagio que assegure a liberdade de associagio ea liberdade de movimento, além disso, requerem= se medidas que asegurem que as necessidades bisicas de todos 0s & deixo de lado a doucrina religiosa, com sua visio da félivremence professada, e considero as outras ees. 2, Depois da visio religiosa a primeira 6 filosofia moral de Kane, ‘com seu ideal de auconomia. A partie dessa visio, ou de uma visio suficiencemente semelhante a ela, € posive,digamos asim, derivat «4 concepso politica com seus principios de justca e sua prioridade apropriad. As razées para tomar a esteutura basica da sociedade co- ‘mo 0 objeto priméio da justiga s30 igualmente derivives. Aqui, 2 ‘elacdo € dedusiva, mesmo que o argumento nio possa ser apeesenta- doce fotma miro rigorosa. A questo € que alguém que endossa a ‘doutrina de Kant, ou uma doutrina semelhante, considera esa visio como a base deduciva da concepcio politica e, dessa forma, consi- era um prolongameaco continuo dessa base dedutiva. ‘A visdo seguince é 0 utiitarismo de Bentham e Sidgwick, 2 dou- trina clissica em sentido estrico, Embora fosse mais plausivel evi- sila nos termos do wriitarisme médio, ignoro isso aqui Suponha que, esse caso, a telaglo entre a vsdo abrangente ea concepgio po licics sein de aproximagio. Esse uriitarismo sustenta a concepgio politica porraes tis como nosso conhecimento limitado ds insti- ‘wigdessocais em geral com base em nosso conhecimento sobre as circunstincias presentes, Enfatia ainda os limices i complexidade das normas legais¢institucionas, bem como a simplicidade neces- sia 3s diretries da rzio piblca ($6.4). sas e ouras ras podem. levar o urilitarsta a ver uma concepggo politica de justiga de conted- do liberal como uma aproximacio saisfatéria, calvez mesmo a me~ Thor, iquilo que o principio de uelidade, psando-se tudo, exigiria. A cerceia visio ¢ uma definigio plucalisea dos dominios dos va- lores que incluem a concepgio politica como a parce que abarca os valores polcicas, Caracterstco dessa vsdo é que os diferentes domi- nos do valor — do qual o politico € apenas um — sio unificados (quando o si) em grande parte por idéias e conceitos extrados de ‘eu proprio dominio, Cade domsnio do valor tem, portanto, sua peé- ria interpretagio, que se sustenta por st mesma. Nessa visio plura liseae abrangente « concepgio politics ¢ adotada pelo equlibrio dos Julgamentos que sustentem os grandes val es do politica contra 217 quaisqur valores que normalmenteconfltam com els num regime siglo nfo €suicente.E preciso enconerateambém crtéios visteis paras comparaesincerpessoais que possam sr publicamencee, ¢ possvl, ailment aplicives. Ashe, procuramos mostrar, em se undo lugar de que mancia os bens primrios se artiulam com os Incereses de ordem superior assoiados is capacidades moras, de ‘modo que os bens primarios sejam realmente critérios publicos pra- ticiveis com respeito a questies de justica politica. Finalmente, 0 uso efetvo de bens primaios supe eambém que a concepgio de pes: soa que estd na base dessas duas suposigbes€ pelo menos implicica- rmcnte aceita como um ideal subjacence 3 concepsio publica de jus- tiga, Caso conttdti os cidadios estariam menos dispostos a aceitar a responsabilidade no sentido que se requee". $4. Os bens primarios enquanto necessidades dos cidadios 16. eno or da eprom rei de mit princi reg da ‘oped po ins bens minor em Kanan Equi Cambe Rei’ eve de 197) edema Sean Smut See pre ee Aerio oe tmnt imprint rc coeouige Sore od Ug ral of Ppp 82a 1797 65-0, 234 eee 1. Com ess definigio de bens primatos,respondemos nossa prin- cipal questo (apresentada no inicio de §3.2), qual se, como € pos- sivel, dado o fato do pluralismo razodvel, um entendimento publico telativo ao que & considerado benéfico em questdes de justica polit ‘ca. Ao mostrar de que maneita esse entendimenco é possivel,enfati- zamnos a nacureza pricics dos bens primivios. Com iso quero dizer {que podemos de faro apresentar um sistema de liberdades bisicas ‘gusis € oportunidades equitacivas que, quando implementado pela cestrutura bisica, garante a todos 05 cidadios 0 desenvolvimento ade- ‘quado €0 pleno exercicio de suas duas capacidades morais, além de tuma distribuigdo equitativa dos meios polivalentes essenciais pas ppromover suas concepcées especificas (e permissiveis) do bem, Bvidencemence, reaizat todas as concepges do bem (algumas implicam a violagio de diecieos¢ liberdades fundamentais). No entanto, podemos dizer ‘que, quando as insticuicBes biica satisfazem uma concepcio politi- 0 & porsvel, nem justo, admiir que se procure cade justica reconhecida por todos 0s cidadios que defendem dou- trinas abrangentes num consenso sobreposto eszoive, ess fo con= firma que aquelasinsttuicBes oferecem um espaco suficiente para formas de vida merecedoras da adesio devotada dos cidadios. isso que essas insticuigdes devem realizar, se precendem sera institu “eet predrentacns va de Ben B deve expiant ‘Sy qu ar ese ben perimental 246 ‘os enconcram diferentes visdesabrangentesinteiramence merecedo= ras de sua adesio. Assim, seo liberalism politico éarbierariamente cenviesado contea certs concepgies efavorivel a outra, é uma ques- Ho que passa a ser formula cla seguinte maneira: se, dado 0 ato do pluralism razodve e de outras condigies histéricas do mundo mo- ern, 2 realizar seus principios em insttuigSes, liberaismo poli- ‘ico especifica condigdes de fundo equicativas para que concepgies do bem diferentes e até ancagéni s possam ser adotadase realiza- as, O liberalismo politico s6 ceria um vig injuco coneracertascon- cepgbes abrangentes se, digames, somente ws concep idividualis- tas pudessem sobreviver aumasociedade liberal, use predominassem de tal forma que as associagBes que firmam valores eligiosos ou c- ‘munitirios no pudessem florescer; se, além disso, as condighies que levassem a esse resultado fossem elas mesmas injustas, em vista das cicunstincas presents e das previsives no facuro 3. Um exemplo pode esclarecer esse ponto:virtssetasreligiosas ‘opsiem:se 3 cultura do mundo moderno e desejam levar sua Vida co- mum apartadas das influgncias indesejiveis dessa culeuea, Um pro- blema que surge ness caso diz respeito &educacio das eriangas 8 cxigincias que o Estado pode impor. Os liberalismos de Kane e Mill podem levar a exigéacias destinadas a promover of valores da auto ‘nomia eda individualidade, como ideais que dever governar gran de parte da vida, quando ndo sua toclidade. Maso liberaismo poli- ‘ico tem um objecivo diferente e reques mito menos. Exigité que a educacio das cranes inclua cosas coeno o conhecimenco de seus di feitor constitucionas ecivis, de forma a podecem saber, por exem- plo, que a liberdade de conscigacia existe em sua sociedade e que a Apostasa no é um crime legal — eudo isso para assegurar que sua ‘lnc se oom pg tice. Mat nite catia para dingo ‘eum suf ere ema snp la aie re ee ‘ion dan de nde coo reer de mes leh sa Pde sera deg concpcle paisa camegr tein eet at ‘Spiers quero que comet polis a. 247 participagio continua, quando aringirem s maioridade, no venha a se basear simplesmente na ignorincia de seus dicetos bisicos ou no emor de sofrer punicio por ofensas inexistentes. Além disso, sua educagio também deve prepari-las para ser membros plenamente cooperatives da Sociedade, capactando-es a se sustentarem; deve, ain da, incentivar as virtudes polficas, para que queiram cumprir os termos eqitativos da cooperacio social em suas rlagGes com 0 resto da sociedad ‘Aqui, pade-seobjerar que exige das criangas que entendam a con- cepgio politica nestes termes &, de fxo, mesmo que no haja a inten bbém implica a disposicio de ouvie es outros, ¢ una equanimidade para decidir quando & razvel que se fagam ajustes para conciiar 05, propria poncos de vista com os de outros 2, Alguns poderiam dizer que os limices da razio pablica api cam-se somente aos féruns oficiais e, por isso, somente 20s leislado- res, quando, por exemplo, se manifestam no parlamento, ou ao exe cutivo e ao judiciério, em seus atose decistes pablico, Se respeitam, 2 razio pablica, entdo os cidadios dispem de razbes piblicas que justificam as leis com as quais devem concotdar eas politicas que a sociedade segue. Mas iso no vai longe o bastante. ‘A democraciaenvolve, como jé assinalei, uma relagio politica en tte cidados no interior da estrorura bisice da sociedade na qual nas ceram e na qual narmalmence passam coda a sua vida; isso implica sinda uma parce igual no poder politico coercitive que os cidados, ‘exercem uns sobre 0s outros ao votar,e de oucras formas também, 266 yy Enguanto razoiveiseracionis, sabendo-se que endossam uma gran- de diversidade de douteins religisaseflosicasrazoiveis, 0s cia- igs devem estar dispostos a explicar a base de suas agbes uns para {5 outros em termos que cada qual razoavelmente espete que outros possam aceitar, por serem coerentes com a liberdade ¢ igualdade dos ‘idadios. Procurae satisfizer essa condigio € uma dis tacefis que ese ideal de politica democréticaexige de n6s. Entender como se com- porear enquanto cidadio democritico inclui entender um ideal de ‘aio pablica. ‘Além diss, os valores politicos realizados por um regime consti- tucional bem-ordenade sio valores muito importants, do Feil superi-los; 0s ideais que expressam nio devem ser abundonados le- vianamence. Assim, quando 2 concepgio politica &sustentada por lum consenso sobreposto de doutrinas abrangentese razaiveis, 0 pa- radoxo da razdo pablica desaparece. A unifo do dever de civilidade ‘com os grandes valores do politico produz o ideal de cidadios gover- nando a si mesmos, de um modo que cada qual aredita que seria ra oGvel esperar que os outros acitem; e ese ideal, por sua ver, €sus~ tentado pelas doutrinasabrangeaces que pessoas razoéveis defender, (Os cialis defender o ideal da r2230 piblica nio em consequncia de uma barganha politica, como num mada vind, mas em vireude de suas préprins doutrinas razodve's. 3. Por que o aparente paradoxo da razio publica no é um para- dora € algo que fica mais claro depois que nos lembramos de que exis- ‘tem casos conhecidos com respeito as quaisreconhecemos que & pee iso alo spelar para a verdade como um odo, tal como a vemos, mesma quando é de fil aceso, Considere como, no julgarsenco de lum crime, as regras da evidénca limitam o testemunho que pode ser Jneroduzido, com 0 propésito de assegurar ao acusado o direiofun- -damencal de ter um julgamento justo, Ni 36 as evidéncias baseadas ‘em rumores so excludas, como tambem as que sio obtias por bus- case aprecasies arbitririas, ou por abusos praticados contra 0s acusa- dor ao se lhes deter sem informié-los de seus direitos. Tampouco se pode obrigar uma pessoas testemunhat em um peocesso no qual seja scusada. Finalmente, para mencionar uma restrigo que tem um fun- 267 _damento muito diferente, nose pode obeigar que cBnjugestestemu- ‘ahem um conta o outro, pars procegero importante bem da vida fa nliare para mostra rexpeico publico pelo valor dos laces ative. Pode-se objetar que esses exemplos estdo muito distantes dos li= mites envolvids em recorrer somente 3 razdo publica. Talvez ese jam distances, mas a idéia€ conhecida. Tedos esses exemplos so ca- Sos nos quaisreconhecemos o dever de ado decid tendo em vista a verdad toda, pata dessa forma podetmas respeitar um direico ou de~ ‘ver, ou promover um bem ideal, ou ambas us cosas. Os exempls ser- ‘vem ao propérito, como muitos utros serviriam, de mostrar como, rmuitas vezes, € perfeitamenterezoivel prescindie da verdade como, tum todo, ekem-se aa forma pela qual o suposto parsdoxo da razio, pblica€resolvido, O que precss ser demonstrado é se ese respeito 0s limites da razio piblica por parte das cidadios em geral € uma texigencia de certs direitos eliberdades fundamencais e seus conres- [pondentes everes, ou se promove cetos valores imporcantes, ou am- bas as coisas O liberalismo politico apdia-se na conjectura de que os, direitos e deveres, assim como os valores em questio, m peso suf ciente para que os limites da razdo pablicasejam justificados pelas avaliagbes globeis des doutrnas abrangentes razofveis, uma ver que ‘esas doutrnas tenham se adaprado & concep de justia 4. Com respeito a questbes poiticas Findamentais, 2 idéia de azo ppblicarejita as visBes comuns do voro enquanto uma questio pri~ ‘vada ou aé pessoal. Um ponto de vista € ode que as pessoas podem ‘vorar apropriadamence em favor de suas peferéncase interesessociais © econdmicos, pars no falar de suas avesbes e 6dios. Dizem que a democracia € 0 governo da maiora, ea maioria poe fazer o que qui sec. Um outro ponto de vista, muito diferente, 60 de que as pessoas, podem vorar aaquilo que véem como certo e verdadeiro, tal como Tndicam suas conviegGes abrangentes, sem levar em conta as razbes prblicas, [No entanco, ambos esses pontos de vista so semelhantes, porque fnenhum dees reconhece o dever da civilidade, nem respeit os limi 268 ‘da eazio pibica quando se cata de vorar em questées de elemen- ‘os consicucionaisessenciaise de justca bisica. O primeira € guine do por notsas preferinciase ntereses, 0 segundo pelo que entende= _mos sera verdade coda, Em comparagio, a ruzio publica, com seu dever de civilidade,oferce uma visio sobre o voto a respeito de ques ties fandamentais que, de ceta forma, lembra Do contrat sia! de Rousseau, le va o voto como um ato que, em eermos ideas, expr ‘me nossa opinizo em relagio a qual das alternativas promove o bem ‘comum da melhor manera §3. Razdes ndo-piblicas 1, A natureza da pablicafcaré mais clara se considerarmos as diferengas entre ela eat razdesnfo-pablicas. Em primeiro lugar, hi ‘muitas razbes ndo-piblicas, mas apenas uma eazio pblica. Enere as, sazbes no-pablica,cemos as de todos as tipes de asociagSes:igeeas ce universidades,sociedades centficase grupos profissionais. Como jd disse, para agir de forma razoivel erespoasével, 0s 6rgioscoletvos,, sim como os individues, peecisam de uma forma de argumencasio, sobre o que deve se feito. Essa forma de argumentacdo¢ pablica com. respeito a seus membros, mss nZo-publica com eespeito a sociedade politica «aos cidadios em geral, As razbes nio-publicas compreen- dem as muita rzics da sciedade civil efazem parte daquilo que ch mei de “culeura de fundo" em contraste com a culeura politica pi blica. Essa rads so socais,e certamente no so privadas “Tadas as Formas de argumentagio — quer individuais,asociaci- tivas ou poliicas — precisam respeiear certos elementos comuns: 0 6 Thiel Cnrat io Nap. HA 7A ung publi palia ns eae diol ne pia eid na ‘nS rads um no pads ca ie beste O quest fc mus nates Seances seid ue coniuem a fn = ‘yer uma rane domain igumen — ao fms rome bond opciinde que com ane com sao ples gute 269 conceto de julgamento, os principios de inferéacia eas regras da evi- ‘déncia, € muitas outtas coisas, caso contrério nfo seriam formas de argumentagio, mas ealvex ecurses exéricos ou meios de persuasto, [Estamos interessdos na razdo,ndo simplesmente no discurso, Uma forma de argumentacio deve, entZo, incorporar os conceitos fundar -mentaise os principios da razio, einelui crtéros de corregio e de justificagio, A capacidade de dominar essas ids faz parte daz humana comum. No entanto, procedimentos e mécodos diferentes sio apropriades para diferentes concepcGes de si mesmos que tenhary individuos ¢ corpos coletivos, dadas as diferentes condigGes sob as quais essa argumentacio se eesiza, asim como as diferentes restr es a que esti sujeita, Tas restricbes podem surgi da necessidade de proceger certosditeicas ou de realizar certs valores, Exemplifico: as regras as notmas relatives a evidéncias baseadas em rumores no julgamento 3 julgar as evidéneias num eribunal — cde um ctime, eas que exigem que se prove a cups do eéu sem qual- ‘quer dvida razodvel — sto adequadas para o papel especial dos « bunais e necessirias para proteger odireio do acusado a um julga~ mento justo, Uma sociedade cienifica uriliza outas eegrasrelacivas a evidéncias;¢ diferentes corpos colecvos reconhecem autoridades diferentes con eelevantes ou lictas. Considere as diferentes autori= ddades cicadas num concilio eeligioso que estédiscutindo uma ques- 0 de doutrinateoligica, noma universidade que estédebatendo po- Titica educacional e na revnido de uma associaglo cientfica que esté procurande verificar os danos causados ao pablico por um acidente fnuclea. Os crtérios e mécodos dessus eazdes nio-piblicas dependem, fem parte da maneita de entender a natureza ( objetivo €o proble- ma) de cada associagloe a condigdes nas quais cada uma delas pro- cura reaiza seus fins. 2, Numa sociedade democrética, © poder ndo-pablico, tal como, por exemplo, a auroridade das igrejas sobre seus membros livre- ‘mente aceito, No caso do poder elessstico, como a apostasia & he- resia no sio ofensaslegas, aqueles que ndo reconhecem mais a au 270 totidade de uma igreja podem deixar de ser membros dela sem en- ‘ar em chogue com 0 poder «stata Sejam quais fore as douttioas religiosas, filosficas ou moras abrangentes que endossamos, elas também siolivremente aceias, em teemos politicos; pois, dadss as liberdades de conscigncia ede pensamenco,essas doutrinas 90s So Jmpostas por nés mesmos. Com isto no quero dizer que as impo- mos a 96s mesmos por um ato de liveeescolha, por assim dizer, n= dependentemence de todas as lealdades e compromissos,vinculos ¢ afeigdesanceriores, Quero dizer que, enquanto cidadioslivees igus, ‘fico de endossarmas esas visdes €considerado algo que esté no éen- Dito de nossa competéacia politica, especificeda por direitos e liber= dacs constitucionas fundamentas, CConcrariamence a iso, nfo e pode Fagie tauroridade do Estado ‘exceto deixando-se 0 terrtéro sobre o qual ele em poder, e, mesmo assim, nem sempre. O fao de a autoridade do Bstado ser guiada pe- Ia razio publica passo sério: envolve deixar a sociedade ea culeura cua lingua usa- ‘os para falar € pensar, para expressar e compreender a ns mesmos, 4 nossos objetivs, metas e valores; enos alijarmas da sociedade e da caleuta de cuja hisria, costumes © convengdes dependemos pars en= conerar nosso lugar no mundo social. Em grande medida, aceitamos ‘nossa sociedade eculeuta ecemos um conhecimento inkimo e inex io muda iso, Pos, em geral, deixar a patria € um primivel dela, mesmo quando a questionamos ou até a rejeicamos em muitos aspectos trains, Ee eum expo pone ao deo eben bio pane ‘dan ge Mtn» ene econ ter ‘vcona beds de ating pa le sues dope ena ‘tncts pons. to tag uate vot pend rvs Sm ana ann un act a mci oe ‘er dovonex ph crt ove que rent cyan pg mci pr i oe 271 ‘A autoridade do Estado no pode, por conseguince, ser livemen- te aceita, na medida em que os vinculos da sociedade e da culeura, da histéri e do lugar social de origem comegam to cedo a moldar ‘sa vida e normalmente si tio fortes que o ditcito de emigracio (com as qualiicagdes necessrias) no € suficiente para fazer com que sua aceitacio sea livee, em termos pablicos, na mesma medida em {que a liberdade de conscincia ésuficiente, em cermos politicos, pa- 1a rornae a aceitaio da autoridade eclesistica live. Apesar disso, 20 longo de nossa vida, podemos chegar aacetarlivemente, em decor réncia de um pensamento reflexive ede um juieo ponderado,os desis, principio critérios que especificam nossos diteitaseliberdades fun damentais,e efetivamente guias e moderar 0 poder politico ao qual ‘estamos submetidos. Esse € 0 limite exterior de nosst liberdade’ $4. O concetido da razio pablica 1. Pretendo eratar agora do conteide da azo publica, depois de ter considerado sua nacurezse esbocado a manera pela qual 0 para doxo apacente de eespeitar seus limites pode ser eesolvido. Esse con~ tecido€ formulado pelo que chamei de “concepsio politica de justi- a", que suponto ser de carster liberal em um sencido muito amplo. Com isso, quero dizer trs coisas: a primeira € que esse conteido es- pecifca certs direitos, liberdadese oportunidades fundamentais (do tipo que conhecemos nos regimes democriticos) a segunda é que attibui uma prioridade especial «esses dtetos, liberdadese oporeu- nidades, principalmente no que diz respeito as exigéacias do bem 9. Aguado com vie ain oi Kan deg so tacoma se na ee remo ponte No en pt bee igri, ne ‘Satu pn oma gee gin or omer fo Oster ied tesco fila neon evn dg, cohen tn fama tm ln ds mer Cm eer Gi po expen ot (Gap tva tv rede tre doce aia 2m ‘eral ede valores perecionstas; ea eteta€ que exe contedaen- dossa medidas que gaantem a todos o idadios 0s mos polivalen tesadequados para tomar efvivo 0 uso de suas iberdadese pore nidades bisicas. Os dois peincipios apresencados em :1.1-2estio dentro dessa dscrigtogeral, Mas cada um destes elementos pode er ‘isto de formas diferentes, €€ por isto que i tanto liberalism. ‘Ao dizer que uma concep de justiga é paliia, ambém quero der rs coisas (2): que €artculada de forma a se aplica exclsia- sence estrucurabisies da socedade, a suas principe ineccucdes policcas, sociais eeondmicss, como um sistema unfiado de coupe- ‘agi social que € presencads independentemente de qualquer dou- trina eligiss ou flosdicaabrangene e mais amplae que labors di em ccrmos de ideas politics fandamenti, vistas come idéias implicias macular politica e plied uma soiedade democtiica 2. esencal que uma concep politica liberal inclu lém de seus princpios de justic,dietriaes de indagagto que expeifiquem formas de agumentago¢ ritéis pra os tipos de informaglo pert nents is questies plies. Sem esas drerzes, 0 rinpios subs tancvos io podem se aplcads, isso deza a conc politic in- complete Fagmentria. Est concepio tem, portant, das pares: 1. principios subscancivos de jusiga para a estrurura bisicas D. dicetrizes de indagagio: principio de argumencagto¢ regras ‘deevidéncia luz dos quais os cidados devem julgar seo prin- ‘entam nossa aceitagio dos principios de justigae sua aplicagio a elementos consticucionaisessencaise& justigabisica devem repou- sar sobee verdades clara, hoje amplamenteaceitas pelos cidados em ‘eral, ou acessveis a eles. Caso contriri, a concepsio politica nfo ofereceria ums base publica de justificacio. ‘Como discuticemos mais adiante, em $5, gostariamos que o con ‘esi subscantivo eas direrizs de indagagio de uma concepto po- licica, quando vistos em conjunto, fossem completos. [80 signi ‘que os valores especificados por essa concepgo podem ser adequad 274 ‘mente equilibrados, combinados ou unidos de alguma ousea Forma, conforme o aso, de modo que somente esses valores déem umes posta piblica razoével a rodas ou quase todas as questdes que envol- vvem os elementos consticucionais essencais e a questBes béscas de justga. Se qusermes dispor de uma nogio de rszio publica, precisi ‘mos de uma resposta razodvel, ou temos de supor que, como tempo, ;povderemos encontrar alguma, pura codos ou quase todos of casos des- se tipo. Direi que uma coneepsio politica esté completa se la satis fier essa condigio 4. Na justiga como equidade c, a meu ver, em muitas outras vi- ses liberais, as diretsizes de indagasZo da tazio piblica, assim como seu principio de legiimidade, cém a mesma buse que os principios substancvos de ustga. Isso significa, na jusiga como eqUidade, que as partes, na posigio original, ao adotae pring ios de justiga pars a bisica, deve adorarcambém as diretrizes os critérios da razio piblica para aplica esses prineipios. O argumento em favor dessas diretrizes, e em favor do principio da legitimidade, € muito parecido com o argumento em favor dos prpriosprincipios de jus- tiga, € € ro forte quanto ele. Ao garanci os interesses das pessoas ‘que representam, a5 partes insistem em que a splicagio de prinespios substantivos seja norceada pelo julgamenco e pela inferénca, pelas razdes € evidéncias que é rxzoivel esperar que as pessoas que repre- sentam venham a subscrever. Seas partes no inssticem nisso, nfo ‘estario agindo como representantes responsiveis. Par isso temos 0 principio da legitimidade, Portanco, na justiga como eqUidade, a diretrizes da rio pica ‘€08 principios de justica tém essencialmence os mesmosalicerces, ‘Sto partes complementares de um mesmo acoedo. Nio hi raza pela {qual qualquer cidadio, ou associagio de cidadios, deva ter 0 direito cde usar o poder estacal para decidir sabre os elementos consticucio- ‘ais essencais da maneiea como manda a doutrinaabrangente defen. dida por essa pessoa ou associagZo. Quando igualmente representa dos, nenum dos cidados pode aribuir a outra pessoa ou associagio st autoridade politics, Nenhum sutoridade deste tipo dispde, por 275 ‘anco, de fundamento na rardo publica, e as douerinas abrangentes ‘az08veis reconhecem isso. 5 Tena em mente que o iberslismo politico € uma categoria de concepges. Adota muita formas, dependendo dos principio subs- tantivosusidos e da forma pela qual a ditettizes de investgacio sto cstabelecidas.Essas formas cém em comum principios de jusiga subs ‘antivos que so liberais e uma idéia de razio pablica. Conteddo e iia podem varie dentro desses limites. ‘Accitar a idéia de razto piblicae seu principio de legitimidade ‘lo significa, pois — o que € preciso deixar muito claro —, acei uma determinada concep liberal de justiga até nos minimos deta- hes dos prineipios que definem seu conceido. Podemos discordar a espe desses principios e, apesa disso, concordar em aceicar as ca- raceristicas mais geris de uma concepcio. Concordamos que 0s ci dadios compartilhem 0 poder politico em sua condicio de livees © Jguais, e que, enquanco pessoas razosveiseracionas, Em o dever da civilidade, o dever de apelar para a razio pablica , ainda assim, dis- cordamos em relasio a quais prinepios consticuem a base mais r2- ofvel de justificagio pblica. A visio que denominei “justia como equidede” ¢ apenas um exemplo de concepcio politica liberal; seu ‘conteido especifco no € nico possivel de eal pono de ‘O que imports no ideal de razio pablica € que os cidados deve ‘conduzi suas discusses fundamentais denteo daquilo que cada qual considers uma concepedo politica de justga, baseada em valores que se pode razoavelmente esperar que os outs subscrevam, € cada qual csté de bose, preparado pera defender aquela concepcio entendida dessa forma, Iso significa que cada um de nds deve tere deve estar preparado para explicar um creéro acerea de que principis edietti~ 2s pensimot que ve pode razoavelmente esperar que 0s outros cida- dos (que também sio livres e iguais) subscrevam junto conosco. Precisamos dispor de algum ceste, que estejamos disposts a explici ‘ar, para dizer quando essa condicio€ satisfeta, Em outro texto, su _eti como crtério os valores expresos pelos princlpiosediretrizes que seriam aceitos na posiclo original. Muitos vio peferir outro citrio, 276 Evidentemence, podemes descobrie que, na verdade, hi os que no subscrevem os prinefpiose direcrizes que nosso critéro seleciona Isso € algo que devemos esperar. A idéia € que necessicamos cer uf critéro dese tipo, es isso impe uma disciplina muito conside- sive discuss publica. Nao é de qualquer valor que se pode razoa- velmente dizer que passaci nese tesce ou que seré um valor politico; «nem codo equilfbrio de valores politicos érazosvel.E inevitével ¢ _muitas vezes desejvel que os cidadios cenham visdes diferentes 20 que diz respeito a concepsio politica mais apropriad, pois a cultura politica piblica estéfadada a concer difeventesidéias fundamentas, ‘que podem ser desenvolvides de formas diferentes. Um debate orde- nado entre elas ao longo do tempo € uma forma confsvel de deseo- brie qual éa mais rzodvel, se alguma 0 §5. A idéia de elementos constitucionais essenciais 1, Vimos anes (4.5 gu, pact descobrir uma concep politi completa, precisimes identifica um categoria de quests fut metas part 8 goat o valores politicos da concep oferecem ee posta tzfvet. Sugita que or elementos consttacionai seni € 25 questi de jogs sca onsite esa categoria Explico-me # da maior urgéncia que ox ciddos cheuem a um aor pic ‘0 20 julgar acerca das elementos constitucionas essenciis. Elessio de dois tipos 08 pr ipios fundamentais que especificam a estrutura geral do Estado e do processo politico: as prerrogativas do legisla vo, do executive edo judictio; o alcance da regr da maioria; . 0 direitos ¢liberdades fundamentaise iguais de cidadania ‘que as majoras legslaivas devem respiea, tas como o dire co.0 voco € perticipagio na politica, libedade de conscién- 2 liberdade de pensamento e de asociagSo, assim como as ‘gerancias do impéio da lei, 27 ses elementos fszem parte de uma histéria complexa; apenas su gto 0 que signifcam. No entanto, hé uma diferenca importante en: tre os elementos constitucionais essenciais em a), que especificam & exteutara geral do Fstado e do processo politico, eos elementos es senciais em b), que especificam os dieeitos liberdades fundamen- ‘aise iguais dos cidadios. 2, Os elementos essencais do primeiro tipo podem ser especiica- dos de virias formas. Uma prova disso & diferenca entre 0 goveeno presidencialista ¢ o governo parlamentarista. Mas, depois de esabe- lecida, € vital que a esteucara de governo s6 sejaalrerada se a expe- rincia mostrar que se crata de uma exigéncia da justica politica ou do bern comum, € a de algo inspirado pela vancagem politica de ‘um partido ou grupo que, no momento, pode rer mais poder. A con trovérsa frequence sobre a eserutura de governo, quando isso no & ‘uma exigncia da justiga politica e quando as alteragdes propostas, tendem a favocecer alguns partidos em detrimenco de outros, incen- sifica« conttovérsia politica e pode levar 3 desconfianga ea curbus aca que solapam 0 governo consticuconal. ‘Os elementos essenciis do segundo tipo dizem respeito, ao con- ttc, direitos eLiberdades fundamentais,e 86 podem ser especifi- ‘cados de uma dnica maneirs, em um médulo sujeito a relativamente poucasvariagdes, A liberdade de conscincia ede asociagzo, eo di reitos politicos de liberdade de expressio, de voto e de concorrer a cargos eleivos so caracerizados de formas parecidas em codos 0s re- sgimes lives. 3, Observe-se também que hi ums outa distinglo imporeanteen- tre 0s principios de justiga que especificam os ditetos e liberdades Fundamentaise iguais e os principios que regulam as questbes bis ‘as de juscigadisteibutiva, como a liberdade de movimento ea igual: dade de oporeunidades, a8 desigualdades sociaise econémicas, eas, bases sociis do auto-respito. {Um principio que expecifics 0s direitos ¢ iberdades fundamen tais abarca 0 segundo tipo de elementos consticucionas essencais, ‘Mas, embors algum princfpio de oporrunidade seja com certeza um, elemento essencial deste tipo, cal como, por exemplo, um principio 278 ue eq menos betas de movimento edie th de ocopt, gualade ava de oportunnes como ft defini ole dso, eno um element ese dose pa, Bemesnafrma, enbors um minimo social gue ara nee sides isis de todos had também sj ur elemento tec ail que drome prin de dren € mato mae tigen, no comitndo um elemento seni det tip ' dsingo ente oprinpos que share sees bias eagucles que ve aplicam ds desguldads sca condi no tstdem que ot primeios expres valves pots eo limos to. Arbor ere valores pllics A cena € que este. tua bica da oid te ds pape cordenad: pee pen ai abc st iberdaesfundamenaisepeieam opie pelo picpos questa despues so contin Specitcam o segundo. No prime papel es estar eecfin arnt cr drt iberdas fundamen gis do chan ‘lait pocedimenon politicos je: No segundo, cra inst tugs debe da utign sci econtimieapropiadas os i os em sua condo delve igus primes pape recap te com forma de aus do poder plltcoe como ime de tevexercci.Esperaron solver eo mene Ss quedes pla ee fEnca alors politicos que podem aerecer uma base pind ita Em que medida ot elementos consraciois essen que abu cam as verdad fandamenais so saists € algo mas ou menos Wise dante dor aranos consicionis da forma pel al po emo vos funconr ma pic. Mas, at gue pono a bjetivs dor principio que sbram wt desgualdade sca condi So realadn io alg meio mais if de veins. sas questo tsa gute sempre sue grandes diferega de opines men 10, Soe glide eqieni depot, eT pp. 72 Seo rip de Brena lf. Ascari ate ivr de sent soda ‘i rtm cpr ca que oe js spr, deve tap 279 -eis: eas envolvem complicadas infeéaciase jufzos intuitivos que recquerem de nds a avaligio de informagéessociaiseecondmicas com plexas sobre cdpicos mal compreendidos. Assim, embora as quests ‘Ge ambos os tipos devam ser discutidas em termos de valores poiti- os, € de se esperar haver mais acordo no cocante a saber se 0 princ- pics voleados para os direitos ¢liberdades fundamentas sio reliza dos do que acerca de se os principios voleades para ajustiga sociale fecondmica 0 sio, Nio se rata de uma diferenga sobre quais 0s prin- cipios coreeros, mas apenas de una diferenca na dificuldade para ve~ rifca se os principios so implementados. ‘Concluindo, gostaria de dizer que existem quatro motivos para sistinguir os elementos constiucionas ssencaisespeificados elas liberdades fundamencais dos prinefpios que governam as desigual- dadessocaiseecommicas. 8. Os dois ipos de prinefpios especificam papéis diferentes para a eserutua bisa: 'b E mais urgenceestabelecer os elementos essencais que lidam ‘com as liberdades fundamencais, muito mais facil arestar se estes elementos essencias estZo sendo eealizados; 2. £ muito mais fécil chegar a uma concordincia sobre quais de- "vem ser os direitos e iberdades Fundamentas,€ claro que no em todos os detalhes, mas no que se refee As linhas mestrss. sas considerages explicam por que a liberdade de movimento cea live esolha de ocupagio, ¢ um minimo social que abarque as ne~ cessdades minimas dos cdadies, ontam como elementos essenciis, 0 pasto que o principio da oportunidade eqlitativa ¢ 0 principio da dliferenga nfo sio considerados como tas. CObservo aqui que, se uma concepcio politia de justiga abrange os elementos consttuconaisessenciais eas questes de justiga basica — no presente momento, é edo quanto aspiramos —, jf de imen~ si imporeincia, mesmo que ela tha pouco a dizer sobre muitos pro- blemas econémicos esocsis dos quais os 6rgiosleislativos normal mente se acupam. Pars resolver esses problemas mais especificos € 280) detalhados 6, muita vezes, mais szoavel i elém da concep poli rica edos valores que seus principio expeessam e invocar valores no- politicos, os quais uma visio desse tipo no inclu, Mas, enquanto hhowver um acordo esivel sobre os elementos consticucionais essen ciaise 0s procedimentos politicos estabelecidos forem considerados ‘azoavelmente eqiitativos, a cooperagio politica e socal voluntécia ‘otre cidadios lives e iguas pode mancer-se normalmence. §6. 0 supremo tribunal como exemplo de razio piiblica 1. Observei no inicio (1.2) que, num regime consticucional com revisio judicial’, a razio publica € a razio de seu supremo eibunal” Esbogo agota das questées a ese respeito: a primeiea é que a eazio ppblica€ bastante apropriada para see a razio do eribunal no exerci- cio de seu papel de ineceprete judicial supremo, mas ndo 0 de ineée- rece Giltimo da lei mais alta" a segunda é que o supremo ribunal Go ramo do Estado que serve de caso exemplar de rio piblica, Para ‘esclaecer esses pontos, menciona sucintamente cinco principios do ‘onstitucionalismo! ‘0 primeizo €«discingéo feita por Locke, em Ty Treas, entre 0 poder consttuince do povo de estabelecer um novo regime eo poder 1s not ums dete Soon ue toma seni ema bn se 6- 9 dente 9) fe cae ee ee, sap 15, Agu eae Jb Agr, Ther Co dCi Dera ce Covell Unery Pr, 908) pple pp. 4-9, See ans ae Rl Ceili De. gins pro Eee Rae Sapa cab Cintedge Unrsy Prom 1987, Je Eh, Un ond th Sm Canbdge ‘Caras Unity Pes 1979) pe YM, DS Minh mere 2a ordinério das aucoidades do governo¢ do eleitorado, exercido na po- Tisicacoridiana. Aquele poder constiuince do povo (I:134, 141) es- tabelece uma estrutura pata fegularo poder ordinério, e entra em ce- 1a somente quando 0 regime existente fo dissolvido ‘A segunda dstingio € ence a lei mais alta ea lei comum. A lei _mais alta € a expresio do poder constiruinte do povo € tem a autoti= dade mais alea da vontade de “N6s, 0 Povo", ao passo que a legists- ‘fo ordingria tem a autoridade do poder ordinétio do parlamento © dloeleicorado, e€ uma expressio desse poder. A ei mais alta restrin- ‘gee guia esse poder ordindcio, Coma terceito principio, uma constituigio democritica € ex: presslo, ndada em prineipis, na lei mas alta, do ideal politico de lum povo de se governar de uma certa manciea. O objetivo da razio piiblica €0 de acicular esse ideal. Alguns des fins da sociedad pol tica podem set formulados no preimbulo da consttuigio ~ estabe- Iecer a justiga e promover o bem-estar geral —, e certas exigénciss so econhecidas nama carta de diteitos on estio implictas na esta tra do Estado — o devido processo legal ea igual protesdo das leis. JJuncos, pertencem aos valores politicos e sua rezio pablics. Esa ex Dressio da lei mais alta que se basen em priocipios deve cer um am plo apoio e, por esse e outros motivos, € melhor ndo sobrecaregila om muitos detahes e qualificages. Também deve ser possivel ror ieis nas insicuigbes bssicas rar seus prncipiosessenciais vi ‘Um quatto principio € que, por meio de uma constituigio ratifi- cada democraticamente e que disponba de uma carta de direitos, 0 Conjunto dos cidadios fixa de uma vee por todas certos elementos consctucionais essenciais como, por exemplo, os direitos eliberda des Fundamentais¢iguais, eas liberdades de expresso ede associa (lo, assim como aqueles direitos e liberdades que garancem a segu- fange e independéncia dos cidadtes, ais como as liberdades de ‘movimento ede escolhs de acupagio, eas garancias do império da torneo nee diego lememo enti see ‘ose eu come eae ler cm ts de ange a 3 282 lei Isso garante que as les ordindris sejam promulgadas de uma cerca forma pelos cidadios, enquanto livres e independentes. £ por ‘meio desses procedimentosfixos que © povo pode expressar, mesmo {que nfo ofasa, sua vontade democriticarefletids; na verdade, sem ests procedimentos alo ¢ possivel que tal vontade exist, Em quino e itimo lugar, 0 poder supremo de umm governo cons- ‘itucional nfo pode caber ao legislatvo, nem mesmo a0 supremo tri- ‘bunal, que é apenas o melhor intéeprete judicial da consttuigio, O poser supremo é deido pelos ees poderes, numa relagio devidamene te especifcada de uns com os outtos¢ sendo cada qual responsivel perante 0 povo”, E de conhecimento geral que, longo prazo, uma maiora slida do eleitorado pode acabar por fazer a consituigio se conformar a sua vontade politica, Tata-se apenas de um fo a respeito do poder pol ‘ico como tal. Nao hi como evitar esse fto, nem mesmo pela intro- dducto de cléusulas pétreas que procurem estabelecer os prin ‘mocriticos bisicos em bases permanentes. Nio existe nenhum procedimento constitucional que nZo poss ser transgredido ov dis ‘orcielo para promulgar estatutos que vialen 0s principios democré- ‘cos consttucionais bisicos" A ida de consticuigdes ¢ leis bisicas ‘cotrecas¢justas sempre € determinada pela concep pola de jus- ‘ga mais razodvel, ¢ no pelo resultado de um process politic real, Discuritei mais adiance ($6.4) uma questo levantada por ese pont. prom emtarores we De So 8579 cen es Dg fe Loe Sec nd Wi nga por Dua rte Ne es Layo ree dni tp 230. terse Umer eFC cl Seah ivare Bastar, Li un Cet Sd Uva By Tn enone sien pn een pe ‘crooner ssa malo fae 283 2. Portanto, a democracia constitucional € dualista: distingue 0 poder constituinte do poder ordinéco, assim como a lei mas alta do, jpovo da li ordindria dos 6g legislativos. A supremacia parlamen- tar é rejetada, ‘O supremo tribunal hsrmoniea-se com ess idéia de democracia consticucional dualiste, como um dos dispositivosinstcucionas para proceger lei mais alta” Ao aplicar a razio public, o tribunal deve vicar que a lei seja cortoida pela legislacio de maioras tansitérias ‘ou, mais provavelmence, por interests estreitos organizados bem: posicionados, muito bes na abtengSo do que querem. Quando 0 tti= bunal assume esse papel eo desempenha efeivamente”, €incorteto dizer que € francamente antidemocritico fzé-lo.E, de fat, antimajo- rititio no que se eefere lei ordingra, pois um tribunal com poderes dle revisio judicial pode declaae tal lei inconsttucional. Nao obstan te, aautoridade superior do povo di sustentagi asso. O eribunal ato £ ancimajoririo com respeito 3 lei mais alte quando suas decisieses- to tazoavelmente de score com a constituiclo em si, com as emen- das feta a cla e com as interpretagies politcamence determinadas. ‘Suponfa que concordemos em que os ts periods mais inovado- res de nossehistria consticucionalsdo a Fundagio, a Reconstrusio © (9 New Dea, Agu, 0 imporeante € que todos os cs parecem base se nos valores politicos da r4zdo pblica, esomente neles. A consti= tuigioe seu processo de emendas, as emendas da Reconstrugdo que procuraram eliminar 0 fagelo da escravidio, eo chamado utlfaresta- fe, moslerno e ativista, do New Deal, pacecem encaixarse nessa des- Crigio, embora seja preciso algum esforco para mostrar isso. Mas, 17 Wer Akos, “Cnn alcool aw” pa. «Wee Ppl Th pci die qu, iserkament, opr Cate cana mus eae ietea tics ves nese pins dn Enger e Sebi de 179 ‘ihtewe menoomr orn Bret Se (1497) Cato sr emend do Reon 20 Tago chord mor rom + trpeaio de Akerman om “Consus Ps Contra Lew or encima pp. 486 315.¢ Wel Paple oe Spin 284 aceitando-se esa afirmacio como verdadeira, ¢ vendo-se a Suprema Corce como o intérprete judicial supremo (ainda que nio o leimo) esse corpo de lei superior, 0 que se cem € que 0s valores policicos da ‘axio pablica fornecem 3 Corte os fundamentos para a interpeetagio ‘Uma concepgio politica de jusiga abarca as questOes Fundamentals, tratadas pela lei mais alea eestabeleceos valores politicos em cujos rermosessas questées podem ser decides” Alguns cercamente dirio que a supremacia parlamentar, sem ne- ‘shuma cara de direitos, é superior a nosso regime dualista Isso ofe- receria ur suporce mais firme para os valores que a lei mais alta do sistema dualisea procura assegurar. Por outro lado, alguns podem achat melhor que a consticuicio fixe uma lista de direitos fundamen- ‘ais, como faz a constituigio alema. A constituigio coloca esses di- reitos fora do aleance de emendas, mesmo daquelas feitas pelo povo, «¢imposigio dessesditeitos pelo supeemo cribunal alemo pode ser considerada antidemocritica. Entender eses direitos como cliusulas pétreas com essa conseqiéncia. Julgados pelos valores de uma con- cepgio politics razoivel de justig, estes regimes podem ser superio- resum regime dulisea po qual sus quests bisias so decididas pela lei mas alta de "Nes, o Povo” E preciso enfaiza qu liberalismo politico como tal no firma nem nega nena destar declares , por 0, no precisamos dis- ‘cutis. Nose questo aqui €simplesmente que, ej ul fora ma- tira de esaver ees problemas, 0 conteédo de uma concep plit- onic, Pgy a Pa Afr Gaven de 1992) pp. 96 © 3 199), dato ne tins Jone pnd ues moc De eta eet cntgur seated p17 aca grea exe in mt ‘ena Dire “Na dea uo gue xn onnealen melon dee ‘wigs politica coocets de um pai epee” (p.192). Tends cocenda com is, ¢ Senta Deon Thump or oi ih astm ra ene 285 | cade justigainelui os valores da eazio pablic,e €apelando para estes “leimas que os méritas dose tpos de regime devem ser avaliados 3, Volto-me agora para outra questio:o papel do tribunal ndo é rmeramence defensivo, mas também o de dar uma existéncia apeo- priada e continua a razio piblica, ao servir de exemplo insicucio= fal” sso significa, em primeito logat, ue a razio pablica€ a nica raxio que o tribunal exerce, Ele € 0 nico amo do Fstado que é di- feta evisivelmente a criaglo dese 20, e dela somente, Os cidadios 08 legisladores podem vorar de acordo com suas visBes mais abran- sgentes quando os elementos consticucionas essenciaise a justige Bé- ‘ica no estiverem em jogo; ndo precisam justficar, por meio da a= si pabli consiseencia a suas razbes ¢atticulé-las numa visio constitucional coerente, que abranja todes as suas decisées. O papel dos juizs &fa- tet exatamente is60¢, a fz, fo tém nenhoma outta euzio e nem, por que votem dessa ov daquela maneira, ow dat {quaisquer outros valores além daqueles de indole politica. A parte isso, devem agie de acordo com o que pensam estar sendo requerido, pelos casos, pica, tradigdesconsticucionas pelos cextos hist ‘cos cansticucionalmente sgnificativos. Dizee que Suptema Coree¢ a insticuigio exemplar da txzI0 pi blica significa também que é Fangio dos jufes procurar desenvolver express, em suas opinides rflecidas, as melhores interpretagdes {gue puclerem fazer da constituigo, usando seu conhecimento daqui- To que esta « os precedentes constitucionais requerem. Aqui, 8 me- thor interpretagio € aquela que melhor se acicula com o corpo pet- tinence daqueles materia constitucionais, e que se justifica nos ‘ermos da concep publica de jusiga ou de uma de suas variances, ‘azoiveis. Ao fazer isso, expers-se que 0s juizes possam apelar, © ape- lem de fato, pars os valores politicos da concepgio publica, sempre 2.0 jc om um supremo ua odo 6 nc ise gt fr io. se Cilio eninge ei coo en gm a ‘pv panties alr ep de bens pase en rr nea 286 {que a propria constituigzo invoque expresss ou implicitamence esses valores, como o fez, por exemplo, numa carta de direitos que geran- ‘0 livte exercicio da religito ou a igual proceso das leis. O papel do cribunal aqui é parce da publicidade da razio, e um aspecto do papel amplo ou educative da razio publica E claro que os julzes no podem invocar sua prépria moralidade particular, nem os ideas e vitudes da moralidace em geet. Dever consideri-los irelevances. Nio podem, igualmente, invocat suas vi ses religiosas ou filoséficas, nem as de outras pessas, Dever, isto sim, apelar para os valores politicos que julgam fazer parte do enten- dimento mais azodvel da concepsio piiblicae de seus valores polit 0s de justia erazio piblica. Estes Slo valores nos quaisacteditam de bos-fé, como requero dever da civilidade, valores que se pode es perar que todos 0s cidadios szovese racionais endossem’ ‘Mas, como jf disse (§4.5), ida de razdo pablica nio significa ‘Que 0s jues devam estar de acordo uns com os outros, mais do que 23 Eine d qt jes eos es pe sila Rnd Doin, tani co rel ear Caer exe em Tati hs Say art Har sory Pr 3 nan Epa ese ni tei a i at sal ‘cnet. Osler cs es pte toc tages gana se dee dn ey ane me etal ic. Cone es len spl demas. . Demy, Wedge Uns Law ry 199 bode 97 "ose pdeapelar pro pip de Sirena smea he ee aaen ee ‘Six um ears (33) Em mince, Dstin pons que ev gute dese ‘rim ou meno ina cml, ol ere dogs ep fron omen d concep pecs, ed am et ‘umes reenbecve: epee ee pono la ene, Tendo {len dosemeters dens ia erm deve propre Ici nee oe cece pls pes eons ‘Pieri do Dc eh ate te Dn ee 287 0s cidadilos em geralo sto, nos detathes sobre o modo de cada qual tentender aconstiuigio, No entanco, devem interpreta, ¢ ever pa- recer que intespretam, » mesma consticugio i luz daquilo que veer como as partes elevantes da concepcio politica e 2 luz daquilo que acreditam de boa-fé que pode ser defendido dessa forma. O papel do tribunal, enquanto intéxprece judicial supremo da consticuigfo, su pe que as concepcdes politicas dos julzes e sua visio dos elementos, consticucionaisessenciais situam a parte central das liberdades si ‘as mais ov menos no mesmo lugar. Nesses casos, pelo menos, suas ecisdesconseuem resolver as questes polities mais fundamentas, “4 Finalmence, papel do ribunal como instituigio exemplar da rao pablica tem wm terceiro aspecto: dar forcae vtaidade 3 raxio, piiblica no fram pblico; isso o tribunal faz por meio de seus jul aos sobre questies polcias fundamentais. O tribu- nal desempenha esse papel quando incerpreta clara eefecivamente a consttuiglo de uma forma razodvel; e, quando falha ness care, co ‘mo jf ocorreu muitas vezes com a Suprema Cort, colocase no cen= ‘ro de uma concrovérsia politica que 6 pode ser solucionada por va- lores pablicos ‘A consttuigio nilo 60 que a Suprema Corte diz que ela €,esim 0 que o povo, agindo constitucionslmeace por meio dos ousros pode= tes, petmitiré 3 Corte dizer que ela € Uma incerprecagio espectfica da constituigio pode ser imposta 4 Corte por emendas, ou por uma ‘maioria politica ampla e estével, como ocorreuno caso do New Deal Isso levanca uma questo: se uma emenda que objetive derrogar & Primeira Emends, por exemplo, etansformar uma determinada re- ligio na religio do Estado, com todas as suas conseqiéncias, ou det- rogar a Décima Quarta Emenda, com sua protegio igual das leis la deve se aceita pela Suprema Corte coma uma emends vida"? £ um rete» democratic gu Ca 288 ‘rulsmo dizer, como eu disse acima, que, © povo agir consticucio- ralmence,essas emendas so vilidas, Mas € suficience para a valida- de de uma emenda que ela seja promugada de acordo com o proce- dimento do Arcigo V*? Que razses a Corte ou 0 executivo ceria (supondo-se que 0 veto i emenda fosse derrubado) para considerar invilida uma promulgacio que stistizess esa condicio? Considere as segues raztes: uma emenda nio € spenas um alt= ‘ago, Uma forma de entender uma emenda €ajustar valores constitu pativel com a impatcislidade, mas uma visio kanciana busca mais do {que imparcilidade" ‘Assim sendo ics evidente por que 0 concrato social deve ser con= siderado hipotéticoe nlo-histérico, A explicagio € que 0 acordo fei- ‘to na posicio original representa o resultado de um processoracional de deliberagio em condigbesideais €nlo-hist6ricas que expressam, certs exigénciasrazodveis, NZo existe uma forma praticvel de con= cretizar esse proceso deliberaivo ede assegurar que seconforme 3s condigaes impostas, Porno, quando 0 esultedo €alcangado pela Aeliberasio das partes em ocasides reas, ele no pode ser corrobort do pela justiga procedimencal pura, Em ver de se basear em acordos ‘eas, € preciso chegar ao resulcado raciocinando-se deforma analiti= ‘a isto 6 posiglo original deve sr caractrizada com exatidosuli- ciente para que seja possvel descobrit, «parti da nacareza das par- tes eda situagio que enfrentam, que concepgio de ustga€favorecida pelo equiltorio de razbes. O contesido da justiga deve ser descoberto pela azo, isto 6, pela resolugso do problema do acordo que se apre- senea na posicio original Para preservaro tempo presence da incerprecacio de entrada na si- tuagio iniial,codas as questes de jusica slo enfrentadas com res uses ur mas 326 ‘rigdes que se aplicam aos contemporincos. Consider o caso da pou nga justa: como a sociedade é um sistema de cooperag traces ao longo do tempo, um principia de poupancafaz-seneces- sirio. Em vez de imaginar um acordo direco (hipotéicoe ndo-hist6- ico) entre todas as gerages, as partes podem ser chamadas a conc: dar com um principio de poupancasujeto a mais uma condicio: a de {que devem querer que codas as geragBes anterior o tenham abedeci- do, Desse modo, 0 principio correo €aquele que of membros de qual- ‘quer geragjo (de rodas, portanto)adoratiam como aquele que sua ge- ‘ago deve respeitar, e como o principio que gostariam que as geragoes anteriores tivessem respeitado (e que as préximas respeitem), por ‘maior que sejaa distancia no cempo, para eis ou para a frente’ (O fo de a seuasioinicial ser hiporéticae nio-histrca nfo apre~ senta nenhuma difculdade, desde que seu propésita teria seja come preendido, No tempo presence da interpretagio de entrada, pode- ‘mos, por asim dizer, entrar naquela stuagio a qualquer momento, simplesmence fazendo nosso taciocinio moral sobre os principios pri- rmeiros de acordo com as restricies procedimentais estipuladas, Considetamos os juizos em muitos aveis de generalidade, indo do ‘mais particular a0 mais abstato, Portanco, se endossamos os julzos ‘express por essa restrigGes€, por conseguinte, os valores expressos rn iia de eqdidade entre pessoas moras iguas, quando se erata de adocar os prinepos primeiros para a estrutura bisica, entio pecisa- ‘mos aceitar as limitagdes is concepsses de justign dai resulantes, A situagio inicial é uma rentativa de represcntare de unificar 0s ele- 12 Ea format coi an ache pein ops te ‘ov dar sesh Torr fp. 17R3 62915 Ladner a paste than de gure qu grt trates egos pnepe eee e Etna, tempted esc gues deonge, Pare cc je esa evi su tbe eerie Jane Eg, qu oes ee mate a Versio Jace Been crop 9 37 _mencos formais ¢ gersis de nosso pensamenco moral em via cons- truco pravicfvele ivida, a fim de empregar esses elementos para determina que principio primers de justicasfo 0s mais razofveis, Concluo observande que, uma vez que nos damos conta do papel distinsivo da eserutura bésica,abstraindo das vias concingéncias {que nela se encontram, afim de enconerar ume concepcio apropria~ da de justia para eeguls-la, algo como a nocio de posigio original, parece inevitivel. Tatas de uma extensio natural da idéia do con- trato social, quando a estrururabisica considerada o objeto primor- dial da justige {§7. Caracterfsticas especiais do acordo inicial [Neste ponto, examinatei por que 0 acordo inicial tem caracteris- cicas que 0 distinguem de qualquer outro acordo, Uma vez mais, a explanacio encontei-seno papel distneivo da estrutura bea: pre~ cisamos distinguie entre acordos especificos feitos eassociagBes for- adas no interior dessa estrurura € 0 acordo inical ea participa 1a sacedade enquanto cidadio. Considere, primeito, os acordos es pecificos: estes se basciam tipicamence nos recursos ecapacidades,, ‘oportunidades e interesses das partes, conhecidos ou proviveis, cl, ‘como se conformaram 90 incerior das instituigdes bisicas. Podemos, supor que cid parce quer sea um individuo, quer sea uma associa em viris alternativas diane de si écapaz de compara as van- ‘cagens e desvantagens proviveis desasalternativa eagir em confor ‘midade com iso. Em certs condigies,acontribuicio de um individo ‘para um empreendimento comum, ou para uma associagio perma nent, pode ser avaliads: basta observar como 0 empreendimento ou a associagio estar sem a partcipagio dessa pessoa; a diferenga re presenta valor dela para o empreendimento ou associaglo, A vanca- ‘gem da participagio pars os individuos € estimada por uma compas ragio com suas oportunidades. Desse modo, os acordos particulares So feitos no contexto de configuragBes existenteseprevisiveis de re- 328 lagdes no interior da eserutura bisica eso essasconfiguragdes que proporcionam uma base pars os cleus coneratuas, -contexto de um contrac socal €eadicalmente diferente e deve bri espago para eésftos, entre aueros: que pertencer& nossa socie dade € algo jd dado, que no sabemos como seriamos se no perten- céssemos a ela (calvez a prépria idéia carega de seneido), e ue a so- ‘iedade como um todo no tem fins ou uma ordem de fins da mesma forma que as asociagbes¢ os individues os tém, O significado desses facos fica claro uma vez que tentamos considera 0 contato social co- ‘mo um acordo ordinsrio, ¢ perguntamos come as deliberagdes que levam a cle devem ser feitas. Como a participagio em sua pedpria so- ciedade € ponto pacifico, no fez sentido que as partes estimem os atrativos de outras sociedades. Além disso, no ha como identifica. contribuigio potencial para a sociedade de alguém que ainda ‘membro dela, pois essa pocencialidade no pode se conbecida ,seja ‘como for, ¢irelevante para sua situacio presente, Mas no €s6 iso do ponto de vista da sociedad como um todo, aceito virni-is quale «quer membro dela, nfo hé urn conjunto aceito de fins por reeréncia a0 qual as contribuigoes sociais pocenciais de um individuo pode- Flam ser avaiadas. As associagbese 0s individuos tém esses fins, mas ‘no uma sociedade bemn-ordenada; embora tenha objetivo de pro piciarjustiga a todos os seus cidadios, este nio € um objetivo que bilerarquize as coneribuig&es esperadas dessescidadios e, com base nisso, determine o papel social ou 0 valor de umn ponco de vista so- cial de cada qual. A nogio da contribuiglo de um individuo 3 socie- dade vista como uma associagio (de modo que essa sociedad tem 0 direico de apresentarcondigées para. a partcipagio, derivadas dos ob- jetivos dos que jésio membros dessa asociagio) no tem espaco n= ‘ma visio kantiana. E necesivio, por conseguinte, conceber o contra~ ‘0 social de uma forma especial, que o distinga dos outros acordos. Na justga como equidade, isso ¢ feito por meio da formulagio da iia de posigio original. Esa formulagio deve reflec os contrastes fandamentais que cabamos de mencionar e deve apresentar os ele- ‘mentos que faltam para que sea possivelchegue a um acordo racio= ‘al. Considere, por outo lado, os ees fatos do parigrafo anerior. Em 329 telagio a0 primeiro, as pares na posicio original supdem que a par~ ‘icipasio-em sua sociedade jf esté dada. Esse pressuposco reflete 0 fi to de termos nascido em nossa sociedade e, em seu interior, realizar~ ‘mos apenas uma das muitas formas possveis de nossa pessoa; questio de nossa entrada em outta saciedade no se apresenta. Por conseguin- ce earefa das partes & chegar a um acordo sobre os prinepios reli- tivos destrutur bisica da sociedade na qual se supse que passario a vida, Embora os principios adotados sem duvida alguma permiram ‘emigracio (ujeita a qualificagSes adequadas), as partes nio aceta- to arranjos que s6seriam justos se a emigrasio fosse petmitida. Os ‘vnculos consticuidos com pessoas e lugares, com associasBes e come ridades, bem como of lgos culeuai, em geral slo fortes demais pa- ra serem abundonados,¢ esse fto ado deve ser lamentado. Desse mo- dlo,odireto de emigra nfo afeta aquslo que conta como uma estruturs bisicajusta, pois essa estrutura € considerada jsta enquanto espa inde as pessoas nascem e onde se espera que passer a vida rods. ‘Voltando-nos agora para 0 segundo faro mencionado acima, ob- serve que o véa de igoorincia nfo 6 estabelece a eqiidade entee pes Sous moras igus, como também, a0 exclu as informacbes sobre as, Capacidades e ineresses tess das partes, corresponde forma pela ‘qul,separados de nossa posicio e de nos historia na sociedade, nem. imesino nosss eapacidaes potenciis podem ser conhecidas, «nossos inceresses e career sinda eso por se formar. Desse modo, a scuacio ‘niialreconhece adequadamente que nossa natureza de sere raroi- ‘eis e responsiveis,& perce da sociedade, inclui apenas um porencial para toda uma série de possibilidades. Em terceiro edlimo lugar, info existem fins sociss, exceto aqueles estabelecidos pelos proprios princfpios de justia, ou autorizados por eles; mas esses principios ainda est por see adorados, "Apesa disso, embora of cileulos que eipicamente influenciam os acordos no intetior da sociedade nio tenham espaco na posigio oti= ‘inal, outros aspectos dessa situagioinicalconsticuem 0 ceo pa faa deliberagio racional. Desse modo, as alcernativas no incluem oportunidades par filiat-se a outras sociedades, mas limicam-se a ‘uma lisea de concep es de juscica para regular a estrucura bisice de 330 ‘nossa prépria sociedade. Os interesses e preferéncias das partes sto ‘dererminados por seu desejo de dispor de bens primérios Seus pré- Dios objecivos e fins dltimos jé esto formados, embora ndo sejam de seu conhecimenco; eso esses interests jf formados, assim como as condigGes necessivias pata preserva a personalidad moral, que 36 pares procuram proceger ao hirarquizar as concepsSes Com base em suas preferéncias (na posi original) concernences aos bens primé- rios. Finalmente, a existéncia de uma teoria social geral constitu ‘uma base suficiene para estimar a viabilidade e a conseqiéncias de ‘outras concepybes de justice. Em viseadesses aspectos da posigio or inal, a idéia do contrat social, enquanto um projeto raciona, pode ser mantida, apesar da narurera inustada desseacordo, §8. A nacureza social das relagies humanas Considere agora tr formas pelas quais o aspecto social das rla- humana eft no conte dos pri tiga. Em prim ioe de jus lugar, o principio da diferenca (que govern as de- sigualdades econdmicas € socais) ndo distingue entre 0 que & adquirido pelos individuos enquanto membros da socedade eo que teria sido adquirido por eles se ao fossem membros dessa socieda~ de" Na verdade, « nogZo daquela parce dos beneficios ociais de um {ndividuo que vai am do que teria sido sua stuagHo numa outra so- 13. ese dfs com st gb, sgunds peptide pig xg ‘ein que spares de uno ure els od ‘Sel Seven nem ea in i i a 11 Umebjevode§§78¢apeentr un opr coinexiedase Dn Gate sree do ifn de ifrengs, Jo and Nan Eolonen Sua They nd ‘Ponte 3378) 326 Meco ea dca ups ste Seed cade ese dicing ene gr € agin pelr nos ngune ees Sa ‘ine ro queen sid asi parce tm waded mies ee dito ‘etc de Gaui a gor pee der mateo ns enc coe {meine com a ober dr p25 nd pre deh dsc "oe cme vio antares eit na ded coc 331 ses acordos, ou as citcunstinciss que cles ratficam, estejam fadados 4 ser substancialmence afetados pelascontingéncias eacidentes do process histrico hipotético ("coma se") justo que ao tende a pre~ Sservar ou a se mover na direcio da jutiga bisica, Essa dificuldade € iluserada de forma notavel pela douteina de Locke, Ele supde que rem codos os membros da sociedade que espeitam o pacto socal tém dieeitos pol tude de possui propriedade, de modo que os que aio tém proprie~ dade no tém voro, nem 0 direito de exercer a autoridade politica’ Provavelmente, as diversas acumuagies do processo hist6ricohipo- tético ("como se") just, a0 longo das geracées, deixou muitos sem ios iguais 0 cidadios tém 0 direito de votar em vir- 24. Ve Send Tato Grr, con de F140 © 138 340 Perera propriedade, sem que tivessem culpa disso; , embora 0 conteato so ‘ial ea subsequence delegacio da autoridade politica seam perfita- ‘mente racionais do ponto de vista dessas pessoas, endo contradigam seu dever para com Deus, nio hes asseguram estes direitos politicos ios. De um ponto de vista kaneiana, a doutrina de Locke sujeita indevidamence as rlacdessociis de pessoas morais a contingén« hhstrica esociais que slo externa sua iberdade e igualdade, ac ‘bando por solapi-las. As restigdes que Locke impae ao process his- ‘6rico (como se") nio so rigorosas 0 bastante para caracterizar uma concepgo de justiga bésicaaceitével pare pestoas moras livtes € ‘guais. Iss0 pode ser demonstrado se supusermos que o pacto social deve sr feito imediatamence depois da ciagio dos seres hurnanos co- :mo pessoas livres e iguais no estado de naturezs. Supondo-se que situagio dessesseres humanos, uns em relagio as outros, representa sedequadamente sua liberdade ¢ igualdade, ¢eambém que (coma afie- ‘ma Locke) Deus no concede a ninguém o diteita de exercerauto- ridade policica, os seres humanos provavelmente reconhecerto os P 08) a todos durance rodo 0 processo histérico posterior. Essa incer- pretacio da visio de Locke faz dela uma douetina do pracessa hipo= ‘écico como se") nio-histérico, quando supomos que durante o Periodo celevante de tempo as pessoas estavam dispersas demais para ‘que algum acordo pudese ser alcancado. O fato de que Locke parece Io cer considerado essa possibilidade aleernativa mostra o aspecto histérico de sus eoria” ‘Também sugeri que toda teoria coneracualista deve reconhecer a necessidade de uma divisio de trabalho entre as operagies da esra- tur bisica na manucengio da jstiga de fundo e a defini e impo- sig pelo sistema legal de normas que se aplicam diretamente os individuos e as associagdes, e governam suas teansagBes particulates, Finalmente, a distingdo entre a sieuagdo dos individuos ao estado de ‘arureza e sua siruacio na sociedade no tem nenhuma uilidade em ‘uma teoria kaniana do contrat. Esse tipo de comparacio diz espe ipios que assegurem direitos bisicesiguais (inclusive os poiti- 25. Dew Quen Sine mua dev apts hit da eid ck 3a co exclusivamente sos acordos feits dentro da estrucur das insticui- «es bisicas,e nfo tem nenhum papel na determinagio dos direitos bisicoe dos membros da sociedade. Além disso, qualquer sistema de comparacio entre as vantagens relativas dos cidadios deve funda- mentar-se em suas rlagSes presences ena forma pela qual as insti= ‘igbessocaisfuncionam agora, e no de acordo com a manera pela ‘quil a sequéncia histérieaconcreea (ou alguma seqiéncia “como se” justa) de eansacies, que se estende peas geracbes anteriores, melho= rou (ou deveria melhora) a sieuagio de todos em comparagio com 0 estado de natureza (ox outro estado hipottic) inca. ‘Meu objetivo aqui do 6 criticar ouras teorias do coneraco, Fazer isso requer uma discussio em separado, Procurei, em vez disso, ex- plicar por que a jusica como eqiidade adora a estrutura bisicaco- ‘mo 0 objeto primordial da justgae renta desenvolver uma teori¢s- pecial para esse caso, Dadas as caractefsticas eo papel peculiares ‘dessa exteucura a idéin de um acoedo deve ser apropriadamente alte ‘ida, se quisermes realizar a incenclo da forma kantiana da douttina conteatualists. Procurei mostear como as alteragbes necessrias po- dem st fits, 342 [AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS E SUA PRIORIDADE' H.1. A. Hare observou que, em meu liveo Una trie da juice, incerpretagdo das iberdades fundamentais e sua prioridade concém, ‘enere outros defeitos, duas lacunas graves. Nesta conferéacia, pre- rendo fazer um esbogo, eno posto fazer mais do que isso, para sanar ‘sas falas. A primeica lacuna € que os fandamentos em relacio 208 ‘quais 2s partes, na posigio original, adocam as iberdades bisias € concordam a respeito de sua prioridade nio esti suficientemence | ei mio manga cea Lee” pi Une de Michiganem te eS Ape Tee FmSntin eo epee oe Fee ‘& Unrer de Machin ola pred dares een Goma israel nye pre esha ser sort ot ‘Sn nd mas orem ps a ous ra per ‘ase mit vi usenext acs ts ai flr are term sewn rnc era aa pi eH ‘ota ea eva, det paces Sena Si othny Ravan pl ea "ses inedtet des de ofr cone ie er Sp Ot Sein deg 0 R36 Os cet Se evan ee acme a ‘moo de $7. Age unten Baron Deen cer comet Sate ‘hur ui ce prec gue minh i ds ere nda Se tie eguendo wend ring cena dog dune du cae bere ‘em nese coms be abc oe Aton Melee toe 2) Mush tame ges cen pent em rea ipo de Pima que Melon ded polices dcr te de ia ‘ements dio eras mane ma die 3 bem explicados’, Essa lacuna esd vinculada a uma outra: quando 05, ppincipios de jusigasioaplicados nos estigios constitucional, legis lacivo ¢ judicial, nenbum creéviosavsfacSrio € apresentado pars = smaneira pela qual as liberdades Fondamentais devem ser mais espe- cificedas e ajustadas umas is outras, conforme as cicunstincias s0- ciais passam a ser conhecidas!,Tentarei resolver esses problemas fa endo as revises jé apresentadas em minhas Dewey Lectures. Vou tsbogar de que modo a liberdades fundamencaise os fundamentos para sua prioridade podem ser enconteados na concepsio dos cid dios enquanco pessoas Lives eiguais,juntamente com uma defini ‘Gio melhor dos bens primrios'. Essas revises mostram que as liber- dades fuandamentais e sua prioridade se ap6iam numa concep de pessoa que seria reconbecida como liberal eno, como pensou Hat, somente em considerages de interesesracionals!. Apesar disso, ae trututae 0 conteide da jstiga como eqjiidade ainda slo, em grande parte, os mesos; exceta por uma importance mudanga de formula Go do primeiro principio de justiga, a formulagio dos dois princi ios de justia continua inalterada, assim como a proridade do pri meito principio em relaglo 20 segundo, §1. 0 objetivo inicial da justiga como eqttidade ‘Antes de considerae a8 duas lacunas na interpretasio das liberda des bisias, é preciso Jevar em conea algummas questées preliminare. Em primeiro lugar os dois principios de justiga se expressam da se _ginee forma 2.1L A Han Rel bey mes Prati” Lert of Cy LR 403) (primer de 173) 994.55 em dane Hace eprom Relig Reh or Tato por Norman Dail(Noa York. Bae Bok, 1979) pp 24952 doer de 4, Verna Cecrrctvis in Moca Theory" onal of Phluipby 779) (eterna de 1980): 31930 344 4. Toda pessoa cem um direito igual a um sistema plenamente addequado de ibeedades fundamentaisiguais que seja compat vel com um sistema similar de liberdades para todos, b. As desigualdades sociis econdmicas devem satisfazer das condigGes. A primeica é que devem esta vinculadas a cargos € posigies abertos a todos em condicdes de igualdade equitaiva de oporcunidades; a segunda € que devem redundas no maior Deneficio possivel para ot membros mens privilegiados da sociedade, A alteracio do primeito principio de justiga mencionado acim € ‘que a expressio “um sistema plenamente adequado” substitu a ex pressio “sistema coral mais extenso possivel,usada em Teri’ Essa alteragio leva &insersHo das palaveas “que seja" antes de “compati- vel", AS razdes para essa mudanca sio explicadas mais adiante, ¢ 8 ogo de um sistema plenamente adequado de liberdades biscss é Aiscutida em §8. No momento, deixo essa questo de lado. ‘Uma outra questio preliminar € que a5 liberdades fundamentais ‘guais do primeiro principio de justiga sto especificadas por uma lis- a, que é2 seguinte:liberdade de pensamenta ede consciéneia; as liberdades policicase a libeedade de associacio, assim como as ibe ddades especificadas pela ibeedade e iategeidade da pessoa, final= -mente, os direitos eliberdades abarcados pelo império da lei, Nao se acribui nenhuma prioridade & iberdade como tal, como seo exer cio de algo chamado“liberdade” tivesse um valor preeminent efos- s€ principal, sendo a Gnica,finalidade da justiga politica e social, 1H, evidentemente, uma pressuposigio geral contra a imposigio de restrigdes legais e outros & conduca, sem razio suficience. Mas essa pressuposigio nio cria nenhuma prioridade especial para qualquer liberdade espectica. Contudo, Hare observou que, em Tria s vee 2s uciliz’ argumentose frases que indicam a prioridade da liberd de como ral, embora, como ele percebeu, essa ndo seja a interpreta- 6A xen “emis xen pesel wae pic armies des prieion fe jena dp. 60, 250 302 Ae 345 0 correta’, Ao longo de toda a hse6ria do pensamento democrsti- fo, 0 foco foi na aquisigdo de certas iberdades espectfcas e garantias consticucionais, como as enconeeadas, por exemplo, nas wirias cacas de direitos e declaracdes de direitos do homem. A interprecaio das Liberdades Fundamentas segue essa cad. ‘Alguns podem pensar que especificar as liberdades fundamentais ‘mediante wma lista & um expedience que uma concepsiefiloséfiea dle justia poderia dispensar. Estamos acostumados a doutrinas mo- ris apresencadas na forma de definigdes geraiseprincipios primei ts abrangentes. Mas note que, se pudermos elaborar uma lista deli berdades que, quando incarporada aos dois princpios de justia, leva as partes na posigio original a concordat com esses principios, em ‘ez de concordat com auczos principios de justiga w que tm acesso, ‘entZo © que podemos chamar de “o objetivo inicial” da justiga como teaiidade € atingido, Esse abjerivo é mostrar que os dois principios de justiga propiciam uma compreensio melhor das exigéncias da berdade e da igualdade numa sociedade demacriica do que os pri. «ipios primeirosassociados 2s doutrinas eadicionas do uilcarismo, do perfeccionismo ou do ineuicionismo. Sio esses princtpios, junto ‘com os dois principios de justiga, os que constituem a alternatives, dlisponiveis part as partes na posicio original, quando cal abjetivo inicial € defnido ois bem, uma lista de liberdades bisicas pode serelaborada de duas formas. Uma € histérica: pesquisamos as constituigGes dos Estados democriticosefazemos uma lista da iberdades normalmen te protegidas,eexaminemos o papel desss iberdades naquelas cons- tituigdes que eenham funcionado bem. Embora esse tipo de informa. Glo nif esteja disponivel pare as partes na posigio original, esté Aisponivel pars ads — pars voc@ e para mim, que estamos elaboran- doa justiga como eqUidade — e, por isso, esse conhecimento hist Cherm tne gun "era come Eo gto se Fo ‘apuneta malo pin mp. 0 em on page, aegis ‘fel eigenen daca tn M6 ‘ico pode influenciar 0 contesido dos principios de justca que per- ‘mirimos is pares como alternacivas". Uma segunda forma € consi- derar que liberdades slo condigées sociasessencais para o deseavol- ‘vimento adequado e pata o exercicio pleno das duss capacidades da personalidade moral ao longo de toda «vida. Fazer iso conecta as li- berdades fundamentais com a concepgio de pessoa utilizada na just ‘8.como eqidade, Voleareiaessas importantes questdes em §§3-6 ‘Vamos supor que chegamos a uma lista de iberdades fundamentais «que atinge o objetivo nical da justiga como equidade. Consideramos ssa lista um ponto de parcida que pode ser aperfeigoudo com a des- cobertade uma segunda lsc, uma lists eal que as pattes na posigo ‘original concordariam mais facilmente com os dois princ‘pios cone ‘endo a segunda lista do que com os dois principios contendo a lista inicial, Esse proceso pode concinvae indefinidamente, masa capac dade discriminativa da teflexo filoséfica no plano da posigto ori nal pode esgotar-se logo. Quando isa acontece, devemos fkar-nos ‘a lsima lists preferidae, depois, especificar melhor ess lista nos ‘estigios constituciona, legislative e judicial, quando o estado geral das inseituigdes socaise das citcunstinciassocais se dé a conhecer E suficiente que as consideraSes apresentades segundo a perspectiva dda posigdo original determinem a forma e o conteido geral das li berdades fundamencais eexpliquem a adocio dos dois principios de justiga, dando prioridade a ees, Assim, enquanto questdo de méeo- 4o, nada se perl pelo uso de um procedimento puso a passo para se chegar a uma lista deliberdadese sua especifiaso posterior, ‘Uma silcima observago sobre o uso de uma lista de liberdades. A acgumentagto em defesa da prioridade da liberdade, como todas as argumentagbes que partem da posigio original, é sempre relaviva & ‘uma dada enumerago das alernativa entre as quais as partes deve ‘oprar. Uma desasalernativs, os dos principios de justia, contém, como parte de sus especifcagzo, uma lista das iberdades fundamen ‘as e sua prioridade, A fonte das alternativas€ a tradi histérica 4 filosofia morale politica. Devemos considerar a posiio original ¢ 5 Ver Kansan Contac Marl Te’ at. S34 pp 36-65 M7 a sele- ‘ionar os pincipios de justia entre a alcernativasjéapeesentadas. E isso tem a imporcante consqiaca de, para estabelecer a prioridade da liberdade, nfo ser neceseio mostrar que a concepgio de pessoa, ‘combinada a vérios outros spectos da posico original, € suficiente por si mesma para derivar ima lista saisftéria de iberdades e dos principios de justia que Its dio prioridade. Também ni € neces- sério mostrar que os dois rneipios de justica (com a prioridade da libetdade includ) seriam octdos a paris de qualquer enumeragio le atesnativas, por mais anplamente que pudesse ser suplemencad por outros principio’. Estes preocupado aqui com o objetivo inicial a justiga como eqidade, gue, conforme a definicio acima, € apenas _mostrar que os prinipios de justigaseriam adotados em ver das de- mais alternativa eradicionis. Se iso puder set feito, podemos entio passa a refinamentasuleerores, 4 caraccerizagio das deiberses das partes como urn meio: {§2. O status especial da liberdades fundamencais DDepoisdessas observagies peebiminaes, inicio observando virss caracteracicas das liberdads fundamentais ede sua prioridade, Antes {e tudo, a prioridade da lnerdade significa que o primeiro principio de justcaatcibui ie liberates fandamentais, apresentadas em uma lisa, um statu especial, Fas témn um peso absoluco com respeito 38, razbes do bem pablico eds valores perfecionistas®. Por exemplo as liberdades politices igus no podem ser negadas a certos grupos sociais argumentando-seque o fato de disporem dessas liberdades les permiciria blaquear & poiticas necesirias para aeficigacia eo ‘rescimento econdmico, ima convocacio seleiva ediscriminatéri to. Aste “empl aoe pci” nds esi 6 (fo esse merle do elas edo pee on, ee ‘test Aim, ener heya pendent de ia db hs tence em € onc eteene de angi de en ounce ple ‘Sr dn ndiase Nera Te p22 348 a0 servigo militar também ndo pode se justificada (em tempos de _guerny alirmando-se que se trata da mancica menos desvancajoss so- ranga de evitar com uma nogio adequadamente circunsctita de prio- so fundamentais sejam sacisfaroriamence asseguradas 12. es Alesande Mees, Sch nds Ratio Sf Gorman Nos Yah Magee 8 nt a Te Apes ple de noon st" € apa eto Se Ka “What Enlghtemer’ 17 ene spr n ute pit: waa de Gree Snr BU9ID, pp 307, Ramco topo, go € cr ‘ese pvad, ut pote ne, No quo aspen Ge beer Foto 350 Fidade, Por isso, vou pressupor ao longo de todo o texto, € nem sm= re fare’ mengioa so, que as liberdadsfundamentis da lista sempee ‘Em provide, como muita vezes iar claro a partie dos argumen- ros em se vor ‘cima questo sobre a priridade da iberdade é que es prio- fidade nio€exigida em todas as condigbes. Mas, pa nss08 props siros aqui, suponho que sje exigida pelo que chamarei de “condic Ges razcavelmentefavorives", isto 6, a circunstncis socials que, desde que exsta vontade politica paraiso, permitem o estabeleci- mento eferivo plen exerccio dessa liberdades. Est condigaes slo deerminadas pela culeura de uma sociedade, poe sus trades © apacidadesadquirdes na administagb de institut, es nivel de desenvolvimento econémico (que mio precisa se particolarmente srande) ¢, sem dvd ambém por outas casts. Soponbo como suficienemente evident para nssospropésiton que hoje, nos EUA, condigGesrazavelmentefavorivesexistem de fat, de modo que, para nds, a provide desu iberdadesbisica € necessvia, claro «ques existéncia ou inexistécia da vontade politica € uma questio inweramence dierenee. Embora esa votade exist por dfniio n- rma sociedade bem-ordenada, em nossa sociedad, parte da tate po- Ucica consist em constitute, Depois ds abservagiesprecedentes sobre «priori da liberda- de, apresento um resumo de vias catacteftias do sistema de i betdades fandamenrais. Peimeieo: como jf dis, suponho que cada ‘uma desssliberdades cena 0 que chama de "eafrs central de apli- «aco. A proteso insticucional dese esera de apicagio & uma con- Adicio do desenvolvimento adequado e do pleno exerccio das duas ‘apacidades moras dos cidadfos, enquanco pesto livres e igus Precendo labora ess abservagi mas prximassedes. Segundo: a liberdadesbasicas podem ser compatibiliadas ums com ss outs, 20 menos em sua esfera central de aplcacio Em outras palais, em condigdes rzoavelmencefavoraves existe um sistema viel de le berdades que podem sr ineiuidas € no ul a esfera centeal de cada liberdade fea proved. Mas, que um sistema desse io exit, éa- ‘0 que no pode se derivado exclusivamente da concepgio de pes 351 soa como dispondo des dusscapacidades moras, nem exclusivamen- tedo fato de que certs iberdades e outros bens primios, em sua condi cde meios polivalentes, so necessirios para o desenvolvi ‘mento eexercicio dessascapacidades. Ambos esses elementos preci- sam baemonizar-se num arranjo constiucional praticivel, A expe> rigacia histica das instituigles democeticase a reflexio sobre os principios de desenho constirucional indicam que € possvel encon ‘ar um sistema praticsvel de liberdades. “Hobservei que o sistema de liberdades Fandamentais nto €espe= cificado em todos os seus detalhes pelas consideracBes disponiveis na posicio original, F suficience que a forma e o conte gerais das li- berdades fundameneais sejam esbogados ¢ os fundamencos de sua prioridade sejam encendidos. A especificagio posterior das iberda- des € deixada para os essios constitucional, legislaivo e judicial Mas, 20 esbogar ess forma e esse contetido geras, precisamos indi caro papel especial ea clase central de apicagto das liberdades fon- clamentais de maneitasuficientemente clara para orientar 0 processo de especificagio posterior nos estigios subsequentes. Por exemplo: ‘entre as iberdades fundamentas da pessoa esti odireito de adquitit ‘ede ter o uso exclusiv da propriedade pessoal, O papel dessa liber- dade é permitit uma base material suficiente para haver um sent ‘menco de independéncia pessoal e suco-respeito, ambos essenciais, para o desenvolvimento e exercicio das capacidades morai. Duascon- cepgtes mais abrangentes do direto de propriedade, enquanto uma liberdade fundameneal, deve ser evitadas. Uma dessas concep amplia 0 diteito de propriedade para que se incluam certos direitos _deaquisigioe heranga, assim como o diteito de possuir meios de pro- ‘duce recursos naturai, No tocante 2 ura concepsto, o diteito de propriedade inclu oditeito igual de pacicipar do controle dos meios de produsio ¢ recursos naturas, que devem considerar-se proprieda- de social, Essa concepsSes mais amplasnio deve ser usadas por- {que no podem, a meu ver, ser consideradas necessrias para o desen- volvimento eexercicio das capacidades moras. Os méricos dessas € de outras concepxses do direito de propriedade sioavaliados noses 352 q ‘igios posteriores, quando se dispe de muito mais informagies so- bre as circunstncis e tradigées histéicas de uma sociedade Finalmente, nio se supde que as liberdades fundamencaissejam ‘gualmence importantes ou valorizadas pelas mesma raxdes. Desse ‘modo, uma vertence da tadicio liberal considera a liberdades pol ‘cas como libecdades que tém menos valor intrinseco do que & li berdade de pensamento e de consciéncia, e do que a liberdades civis em geral, O que Constane chamava de “as liberdades dos modernos" slo mais valorizadas do que as "iberdades dos antigos"®. Numa gean= de Sociedade moderna, seja 0 que for que tena sido wiido para a ci: dade-Estado da época clissca, as liberdades politicas so vistas camo liberdades que ocupam um higar menos importante nas concepgies cdo bem da maioria das pessoas. © papel das liberdades politics tal- vex seja em grande parte instrumental para a preservaclo das outeas liberdades™ Mas, mesmo que essa visio sejacorreta, ela no consti- ‘ui um impedimenco para colocarceras liberdades poitcas entre a¢ liberdades bisicas procegé-as com a prioridade da iberdade, Pos, para ucribui prioridade aessas liberdades,s6€ preciso que elas se jam imporcantes o suficiente, enquanto meios insticucionaisessen- ciais, para garantie as eutras iberdades fundamentais nas citcuns- tncias de um Estado moderno. E, se atribuie-thes essa prioridade jude a explicar os julgamencos de prioridade que estamos dispostos a subscrever depois de cuidadosa reflex, tanto melhor. §3. Concepgdes de pessoa e cooperagio social Gostaria de discuir agora primeira lacuna na interpretagio da liberdade. Lembre-se de que ess lacuna dit respeito aos motivos pe- Jos quai, na posigio original s partes aceitam o primeito principio 14. Com pti ua clara dese pr ver dics Tap 27074 2 on pea ram ano on Op 1S Nersen ie Cnn ier des cet care da 89, one fiery"U958 ene Far Bay san Uae) 353 dle justiga€ concordam com a prioridade de suas liberdades funda tncntais, al como express pela primazia do primeito principio de jstiga sobre o segundo, Para sanar esa fala, apresenarei uma cera concepgao de pessoa, jantamente com sua concepcio afim de coope= ragio social”. Considere, primeiro, a concepgio de pessos hi muitos tspectos diferentes de nossa natureza que podem ser escolhidos co- smo particularmence signficativos, dependendo de nosso objetivo € ponto de vista, Esse fo & comprovado pelo uso de expresses como Hono politics, Home somomics © Homo faber. Na justga como eda de, o objetivo formula uma concepcio de justiga politica e social tafen As conviegbesetradigdes mais profundemence atraigadas de um Estado democriico moderno. © propésico de fazer isso €vetificar se povdemos resolver o impasse de nossa histéria politica recente, qual Seja, de que no hé concordincia sobre a forma pela qual as insticut- {Bes sociais bisicas deve see organizadas para se hamonizatem com ‘ liberdadee igualdade dos cidaios enquanto pessoas. Assim sendo,, desde 0 comeso, a concept de pessoa &considerada parte de uma ‘oncepgao de justiga politica e social, ito é, caracteriza como os dads devem ver a si mesmos € uns 20s outros em suas relacbes po= Iicicase sociais, da maneita especificada pela estrucura bisia. Essa concepsio nio deve ser confundida com um ideal para a vids pessoal (um ideal de arizade, por exemple), nem com um ideal para os mem- bros de alguma associagdo,e muito menes com um ideal moral, co soo ideal est6ico de homem sibio. ‘A conexio entre a nogio de cooperagio socal ea concept de pes- soa que vou apresentar pode ser explicada da seguinte maneira 8 n0- ‘io de cooperaglo social io € sieplesmente aquela de ums aivida de social coordenada,onganizada de maneieaefiiente eorientada pot ‘aormas publicamentereconhecds para atingie um determinado fim igeral. A cooperagio socal sempre existe em beneficio matuo,e sso de dois elementos: primeiro € uma nogio Compartilhada de termos equitarivos de cooperagio, que € razodvel significa 2 implica ‘esperar que rodo parcicipanceaceee, desde que todos os oueros 0 fi ‘gam também, Os termos equitacivos de cooperasio aticulam uma ‘dia de eciprocidade e mucualidade: todos 0s que cooperam devem beneficiae-se, ou compartilhar encargos comuns, de alguma forma ‘que seja apropriada, segundo um padrio adequado de comparacio, CChamo de “o razovel” esse elemento da cooperagio social O outeo clemento corresponde «"o racional”:reere-se ao beneficio racional de cada participante, aquilo que, enquanto individuos, os partici- pantes esti centando fazer. Enquano a nocio de eermos eiiativos de cooperacio & compartithada, as concepgBes daquilo que os p cipantes consideram ser seu benefico racional em geraldiferem. A ‘unidade da cooperacio social reside no fao de as pessoas concorda- rem com a nocio de temas eqiitativos envolvid, Pois bem, a nogio apropriada de termos equitatives de coopera- ‘io depende da natuceza dla atvidade cooperativa em si: de seu con exto social bisico, dos abjetivos e aspragies dos participanees, de como véem 2 si mesmos e aos outros como pessoas ¢ assim por di te. Os cermos que sio equieativos puta patceras associages, 00 a= 1 pequenos grupos e equipes,ndo sio adequados para a cooperscio social. Pois, neste dleimo cas, partimos da peecepcio da esteueura basics da sociedade como um todo como uma forma de coopera, ssa estrucura compreende as principaisinstiuigBessociais —a cons- tieuigio, o regime econémico, a ordem legal e sua expecificasio de propriedae econgeneres, ¢ como esas instituigdes se combina p= ‘formar um sistema. O que é caraceeristico da estrucurs bésica & {que ela oferece o quadto para um sistema auto-suficiente de coope- ‘aco para todos os objeivosessenciais da vida humana, objtivos«s- ses realizados pelo grande niimero de associagBes grupos no inte- ror desse quadro. Como suponho que a sociedade em questioseja, fechada, eos de imaginar que no hi entrada nem sada, exceto pe- lo nascimento pela mort; desse modo, as pessoxs nascem na socie- dade entendida como um sistema auto-suficiente de cooperagio, © devemos concebé-Ias como individuos que tém a capacidade de ser rmembeos normais e plenamente cooperatives da sociedade ao longo de coda a sua vida. A pattie desss estipulagdes,concluimos que, em- 355 bora a cooperacio social possa ser consentida e harmoniosa e, nesse sentido, voluntiria,ndo é voluntéia no mesmo sentido que 0 € 0 fax Co de participermos ou pertencermos a associacBes grupos no inte= rior da sociedade, Nig hi alcernativa & cooperagio social, exceto & aquiescénciaressentida e contra a vontade, ou resisténcia © a guer racivil. "Nosso foco recs portanto, nas pessoas enquanto individuos pezes de set membros normaise plenamente cooperatives da socie~ dade ao longo de toda sua vida. A capacidade de cooperagio social ‘vise como fundamental, uma ver que se adote a escrutura bisica 1a sociedade como o objeto priemeeo da justice. Para ese aso, 08 ter- ‘mos equitaivos da cooperagio social especifiam o contetido de uma concep politica e social de justica. Mas, para que as pessoas sejam vistas des maneirs, atribuimos a elas duas eapacidades da perso lidade moral Ess duae capacidades slo a capacidade de rerum sen~ so de justica (a capacidede de espeitarcermos equitaivos de coope- ragio ¢, por isso, de ser razaivel) ea capacidade de cer uma concep «do ber (e, por isso, de ser racional), Detalhando mais, diramos que a capacidade de ter um senso de justiga €a capacidade de entender, aplicar ser em geral mocivade por um desejoefetivo de agirem fan- ‘lo dos (e fo apenas de acordo com) principis de justia, enquanco termos eqiixativos de cooperagio social. A capacidade de ter uma ‘concep do bem € «capacidade de formar, revisar ecentar racic ‘lmente realizar tal concepsio, isto é, uma concepsio do que consi- deramos que seja para 6s uma vida humana digna de ser vivida. Uma concepgio do bem normelmence consiste em um determinado siste- rma de objecivose fins weimos, ede desejos que certas pessoas €35- socingSes, enquanto objetos de afeicées ¢ lealdades, floresgam. ‘Também se inclui suma concepgio dessa indole uma visio de nossa relagio com 0 mundo — religios,filoséfica ou moral — por ree éncia A qual esses fins e afeigbessio compreendldos. (© passo seguinte € romar as duas capacidades morais como a con- digo necesséra esuficiente pars alguém see considerado um mem= bro pleno ¢ igual da sociedade em questées de justiga social. Aqueles aque posem tomar parte da cooperagio social durance toda a vida, € 356 ‘que estio dispostos a respeitar os termos eqitativos e apropriados dle cooperagio,sio considerads cidadios iguais. Aqui, supomos que as capacidades moras se realizam no geau minimo necescio e vio a [par em qualquer momento dado, de uma deveeminada concepgio do ‘bem, Daclos esses presupostos, as variagdes ediferengas nos talencos « capacidades naturais sto secundias: ado afetam 0 status das pes sous, enquanto cidads iguais,e 6 se ormam relevantes quando a pitamos a certos cargos e posgées, ou pertencemos ou quetemos par Ficipar de cerasassociagbesno interior da sociedade, Desse modo, & justiga politica diz respeito a estrucura bisica enquaneo quadro ins- Ficucional abrangente, no interior do qual os calentose capacidades desenvolvidos e exercidose as vitae astociagdes dso ciedade exister, ‘Até agora no dissemos coisa alguma a respeita do contedido dos ‘termos eqhicativos de cooperagio, ou, 0 que nos preacupa aqui, s0- bre as liberdades fundamencas e sua prioridade. Para abordar essa ‘questo, vamos fazer um resumo: 05 teemos eqiiacivos de coopera ‘fo social slo ermos em fungdo dos quais née, enquanco pessoas iguas, estamos clispostos 2 cooperar de bos-F com todos 0s membros da sociedade 20 longo de coda a Vida, A isso actescentemos estamos dispostos a fazé-lo sobre uma base de respeico micuo, Acrescencar ssa cldusula explicita que os termos eqiitativos de cooperagio po- dem ser acetos por todos sem ressentimenita ou humilhaio (ou ma «onsciéncia), quando os cidadios consideram gue eles proprios ¢co- os os outros cém 0 grau necessicio das duas capacidades morais que consticuem a base da cidadania igual. Contra ese pano de fundo, 0 problema de especificae as liberdades fundamentais de justificar sua prioridade pode ser visto como o de determinat os temo equi- {ativose apropriados de cooperago com base no rspeito miituo. Até as guerras religiosas dos éculos XVI e XVI, esses vemos eqiitati- vos eram muito restritos: a cooperagio social com base no respeito ‘micuo ers consierada impessivel entre aqueles que professavarn uma fé diference; ou (nos termos que use) entre aqueles que afirmavam uma concepgio do bem fundamentalmente diferente, Enquanto dou ‘tina filos6tica,o liberalismo tem sua origem nesses séeulos, om 0 397 desenvolvimento de virios argumentos em favor da colerincia reli- ios". No século XIX, a doutrina liberal fo formulada em seus ele ‘mentos essencis por Constant, Tocqueville e Mill, cendo em vista 0 contexto do Fstado demacrético moderno, que consideravam imi niente. Uma suposigio crucial do liberalismo € que cidadios iguais, tém concepges do bem diferentes eaté mesmo ireconciligveis ein comensuriveis". Numa sociedade democeitica moderna, «existéncia, esses formas de vida distineas€ vista como uma condicéo normal, {que s6 poderia ser eliminada pelo uso autocritico do poder esac Assim send, o liberalismo aeita a pluralidade de concepgbes do ber ‘como um faco da vida moderna, desde que, evidencemente ess con cepgbes respeiem os limites especificados pelos principios apropria- dos de justiga. © liberlismo procura mostra tanto que ums plura- lidade de concepyées do bem é desejével quanto a manera pela qual uum segime de liberdade pode acomodar essa pluralidad, de modo a ‘que se akcancem os muitos beneficos a diversidade humana, ‘Meu objetivo nesea conferéncia & esbocar a conexdo entre as liber- dades fundamentais com sua prioridade eos termos eqitativos da cooperagi social enete pessoas iguais, conforme a descricio acima, ( objetivo de inceoduzir «concepo de pessoa que sei, ea concep de cooperagio que Ihe éafim, €teneaelevara visto liberal a dar ‘ais um passo, isto 6, fondamencar suas suposigbes em das concep ies filossficas subjacentese, depois, moserar como a liberdades fun- ‘damentais com sua prioridade podem see consideradas elementos que fazem parce dos tetmos equiaivas de cooperacio social, quando a ‘natureza desss coopera saisfaz as condigbes que tas concepsies, 18 Um rae inet des argues nconte-e et Allen Hs of Pia Fmt Pol Thal 1601660 anes Meh, 1939), p399-209- Avo de Lnkecr Taig 89), Monee Th St Lew 738), CGlneps ef tesy pp 1071, Reeo qu €mpemene ate el exes 358 Jmpaem. A unio socal alo se fandamenta mais numa concepgio do bbem, cl como dada por uma fé religioss ou uma doustina filoséfica, ‘mas numa concepgio pblica ¢ compartlhada de justia apropriada 2 concepgao de cidados de um Estado democrético coma pessos lic res igus §4. A posigao original Para explicar como isso pode ser feito, gostaria de resumir agors, ‘muito sucintamence, 0 que disse em outta passagem sobre o papel ‘do que chamei de “posgio original’, «a forma pela qual esta mode- la a concepsio de pessoa” A principal ida € que a posi original conecta a concepszo de pessoa e sua concepgao afim de cooperacio social com certos prinefpios especificos de justia (esses princtpios ‘specificam 0 que chamei ances de “termos equitativos de coopera io social"). A conexio entre essas duas concepsdesfilosficas e 05 Principios especificos de justica€ estabelecida pela posicio orginal dda seguinte maneira: nesta posigZ, as partes slo deseritas como re- presencantes racionalmence autdnomos de cidadios da sociedade, ‘Como tas eepresencantes, as partes devem fazer 0 melhor que pude- em por aqueles que representam, sujeitas is restrigdes da posigio ‘original. Por exemplo: as putts situam-se simetticamente umas em relasio as oucras e, ness sentido, sio igus; e o que chamei de “véu de jgnorinca" significa que as partes ndo conhecem a posiio social, ‘11a concepgio do bem (seus objetivos e vinculos particulaes), ou a6 ‘apacidades e propensdes psicoldgicasreslizadas, ¢ muito mais, das [pessoas que representam. Como jé observe, 2s partes devem concot dar com certs principios de justca,selecionando-os de uma peaque- na lista de alernativas dada pela eradiggo da filsofia morale pl «a, O acordo das pares sobre cetos prnetpios espectficosestabelece uma conexdo encre esses principios¢ a concepgzo da pessoa represen 20. Soe pn ii ver ari se ame epg model once dp. sca eat Cot Mal Tey 339 tua pla posiio original. Des forma 0 contedido ds vermos ea tatvos de coopeaco para pessoas usim concebida € determinado preciso faze uma distinc cukdadosa entre dus partes dferen- «es da posigio original. Esas partes correspondem i duss capac des da personalidade moral, ow agulo a que chamei de “capacidade dese azoével”¢“capacidade de ser raion”. Embora a pesigio ot ginal como um todo represcnce amb as capacidades morss, € por iso represent 4 concepgio completa de pesso, as partes, enquanco representantes racionalmenceautinomos de pessoas em sociedade, fepresentam apenas oracional as partes concordam com aqueles prin- ipios que areditam se os melhores pra aqules que representam, tal como sio vistos a partic da concepgio do bem dessas pessoas e de sua capaciade de formar, evisu e procuarracionalmente realizar tums a concep, tanto quan as partes possam saber esis coisas O raznsvel, ou capacidade das pessoas de er um senso de just, fue aqui é sa capacidade de respeitarcexmoseqlitativos de coope- faci social, €represeneado plas wis restigbs As qua spares tstdosujeitas na pogo original, e plas condicGesimposas 3 sus deliberagio, Quando os prinefpios de justia adotados pela partes So aceits¢ aplicadas oa sociedade por cidadios iguais,entio pode tmos dizer que 0s cidadios ager, entZ0, com plena autonomia. A di- fecenga entre aufonomiaplena€ 2 autonomia racional €seguint: ‘ auconomia racional consist em agi exclusivamenteem Fungo de nossa capacidade de sermosracionas eda concepgio espectfica do bem que emos em qualquer momen dado. A auronomiaplena i clu no apenas essa capaciade dese racial, mas também a capa- Cidade de promover nossa concep do bem de formas compatves om o respito as termos eitacivos de coperago social, ito, 8 Principos de justiga, Numa sociedade bem-ordenad, na qual osc {adios saber que podem coneat com o senso de jusiga uns dos ou tres, poremos supor que uma pessoa em ger quits agir deforma juseae também ser reconhecida pelos outros como alguém em querd se pode confi, enquanto membro plnamence ooperativo da sci dae a longo de coda asa vida. Portanco, as pessoas plenamente futdnomas reconhecem publicamence e agem em fungio de termes 360 ” © ‘eqitacivos de cooperagio social, motivadas pels razdesespecitica das pelos principios compartilhados de justiga. Mas as partes so au ‘boomas apenas racionalmente, uma ver que as restrigbes do razoi vel sio simplesmence impostas a partie de fora, Na verdade, a suconomia racional das pares € apenas aquela de agentes atificiais {que habitam uma consteugio destinada a modelat a concepgio plen de pessoa, canto como ser eazoivel quanto como ser racional. Os c= adios iguais de uma sociedade bem-ordenada & que sio plenamente aucdnomos, pois aceitam livremente as restrigdes do razoivel e, 30 fazé-lo, sua vida politica eeflete aquela concep de pessoa que su- Oe ser fundamental a apacidade de cooperagio social desses mes- ‘mas cidadios. £ auconomia plens de cidaiosativos que expressa 0 ideal politico a ser realizado no mundo social Portano, podemos dizer que as partes na poisio original sio, en- ‘quanto representantes racionais, racionalmente aueénomas em dois, sspectos, Primeiro, no se requer, em suas deliberacdes, que sejam {uiadss por, ou spliquem, quaisquer principios prévios ou antece- dentes de direto e justia. Segundo, ao chegar a um acordo sobre uais principios de jusciga adotar a pacir das alternacivas disponi- vei, as partes devern ser guiadasexclusivamence pelo que julgam set ‘© bem especifco das pessoas que representam, tanto quanto os lime «es informagio Ihes permicam determinar isso. O acordo na posi (fo original sobre os dois principios de justiga deve ser um acordo fandamentado em razbes racionalmente autaomas nesse sencido, Desse modo, estamos realmente wtilizande as deliberasies racional- ‘mente aucOnomas das partes para selecionar, a parc de certa alter- nativas dadas, 0s cermos equitativos de cooperagio entre as pessoas que representam, ean coma uae wad peters dete poeta Cpe pla epson. x qr cea eras oes Sor pnga ce tn: per empl deepen monn oes, komen tere decal mee gus ic dl ale ‘pero citaci oleae rs to, Pa ci tana src dese ipo ef qs amp en or anos, 361 ‘Muico mais eta que ser dito para explicar adequadamente 0 re- sumo que acabemos de apresentat. Aqui, porém, preciso volrar-me para as consideragdes que mocivam as partes na posiclo original Evidentemente, o objetivo geral das partes €cumprir sua responss- bilidade¢ fazer 0 melhor que puderem para promover o bem especi- fico das pessoas que reptesentam. © problema € que, dadas as restri- «Besdo vende ignosineis, pode ser impossivel para as pares discernir f bem desas pessoas e, assim, fszee um acordo racional em favor de- las, Para resolver esse problema, introduzimos a nogéo de bens pri- ios eapresentamos uma lista de vias cos que entram sob ess ‘deniominasio, A idéia central € que os bens primatos so seleciona dos perguntando-se pela cosas que s¥o geralmente necessirias co ‘mo condigies sociais € meios polivalente para posibiliar is pessoas realizar suas concepgbes especificas do bem e desenvolver e exetcet suas dus capacidades morais. Aqui precisamos examina os tequisi- {os socias e a circunstincias normais da vida humana numa soci ade democrcica, 0 fato de os bens primarios erem condigGes neces- siias para realizar as capacidades mois, eserem meios polivalentes ‘aa um lequesuficientemence amplo de Fins iltimos, pressupde wi Fios fatos gers sobre as necestidades e capacidades humanas, suas fases caracteristicase requisites de desenvolvimento relagbes de in- cerdependéncia social e muito mais, Precisamos pelo menos de uma incerprecagio geal dos planos racionais de vida que mosere por que les normalmente tém uma certaestrurura€ dependem dos bens pri= ‘matos pata sua formagio, evisdo e execusio. O que deve ser consi ‘erado como bens priméris no € decidido perguntando-se que meios _gerais slo essenciais para realizar aqueles fins Gltimos que uma pes- ‘Quist empfrica ow histéricaabrangence mostacia que as pessoas ha- bicual ou normalmente tém em comum. Talver haja poucos desses fins, se houver algun; eos que existiem podem nio se prestar 205, propdsitos de uma concepgio de justiga A caracterizagio de bens pti= Inros nio depende de tas fatoshistricos ou sociais, Embora a de- ‘erminagio dos bens priméciosiavoque 0 conhecimento das circuns- tincias eexigencias gers da vida socal, invoca-o somente& luz de uma coneepgto de pessoa formulada de ancemio. 362 (Os cinco cipos de bens primérios enumeridos em Teri (acompe nhados de uma indicagio do porque cada um deles € wsado) sio 0s seguinces: 4 As liberdades fandamentais(liberdade de pensamento, cons= cincia econgéneres): esas liberdades So a condigSes institu cionaisessencais e necessivis para o desenvolvimento e exet- cicio pleno © bem-informado das duss capacidades morais (rincipalmente o que, mais atde, em §8, chamo de “os dois ‘casos fundamentais); essa liberdades também slo indispensi- vis para a protegio de um amplo leque de concepyses espect- feas do bem (dentro dos limites dajusig) A liberdade de movimento a livre escolha de ocupagio num contexto de oportunidades vaiadas:essas oportunidades per- ‘miem a realizagio de diversos fins dimos ea possibilidade de levara cabo uma decisio de revisi-los « mudi-ls, e 0 de- sejaemes. «Os poderes e prerrogaivas de posises e cargos de responsabi lidade: eles abrem espaco para viias capacidades socais ede autonomia do 44. Renda ¢ riqueza, entendidos em sentido amplo, como meios polivalentes (que tém um valor de troca) renda eriqueza sio rnecessirios para realizar direta ou indicetamente uma grande variedade de fins, quaisquee que sejam, «As bases socis do auto-respeico: esas bases do aquelesaspec- ‘os das instcuigdesbésicas em geral essenciais para que os ci= adios tenham um vigoroso seatimento de seu proprio valor ‘como pessoas, ¢ paca que sejam capazes de desenvolvere exer- cer suas cepacidades moras ede promover seus objerivos e fins om autoconfiance Observe que os dois principio de justigaavaliam a estrutura bie sica da sociedade em funcio da maneira pela qual ss inticuigdes, 363 protegem e distribuem alguns deses bens peimérios, como, por exem= plo, as liberdades Fundamentais, e regulam a producto edivisio de ‘outros bens primérioe, como arenda ea riqueza, por exemplo. Assim, fem geral, o que é preciso explicat € por que as partes usim ess lista dd bens primatios e por que éracional pata elas adotar os dois prin cpio de justga ‘Nesta conferéncia, nfo posso discuie essa questio geral. Exceto ‘em relagio Bs liberdades fundamentais, pressuponho que a8 razBes para contar com os bens primérios eso suficientemente claras para nossos propésitos, Meu objeivo nas prOximas secBes éexplicar por ‘que, dada a concepcio de pessoa que caraceriza 0s cidadios repre- sentados pelas pares, as liberdades fundamentaissio, na verdade,, bens primatios; e,além disso, por que 0 principio que garance esas liberdades deve tr prioridade sobre o segundo principio de justiga [As vezes, a razio para esa prioridade corna-se evidence a parcir da txplanagio de por que tna liberdade € bisica, como no caso da igual liberdade de conscigncia(discutida em §§5-6). Em outros casos, a prioridade deriva do papel procedimental de ceras liberdades e de ‘seu lugar fundamenesl na regulamentagio da estrutura bisica como lum todo, como no caso de liberdades politica iguas (discutidas em §8). Finalmente, ceria liberdades fndamentais so condigdes inst tucionais indispensiveis, uma vez que outras iberdades fundamen ‘ais enham sido garancida; deste modo, a iberdade de pensamento a liberdade de asociagio sio necessrias para oexercicio da liber- dade de conscéncia e das liberdades poiticas (esa conexo & esboga ‘da no caso da expresso politica livee e das liberdades politicas em {§§10-12), Minha discusslo é muito sucineaeilustra apenas 05 tipos de cazies que as pares t2m para considerar cerasliberdades como fandamentais. Ao considera fundamentas vitasliberdades dst. tas, cade qual jusificada de uma forma um pouco diferente, espero cexplicar o lugar dis liberdades fundamentais na justiga como equi- dade as azdes para sua prioridade 364 = 85. provide das iberdades, I: segunda capacidade ‘Agora estamos prontos pats invest n 1 0 morives pelos quai as parces, na posigio original, alocam principios que garancem as liber ddades fundamentais e dio prioridade a elas. Nao quero apresentat ‘aqui a argumentagZo em favor desses princfpios de maneira rigoross € convineente, mas apenas indicar como isso podera ser fit, _ Observe, em primeiro lugat, que, dada a concepcto de pessoa, hd ‘és pos de consideragdes que as partes precisam distinguir quando deliberam & respeiro do bem das pesoas que representam, Hi consi deragiesrelaivas ao desenvolvimento exercicio plenoe bem-infor- ‘mado das duas capacidades morais, e cada uma delas leva «um tipo distinto de considracio; , Finalmente, consideragdesrelativas 3 con- cepgio especifica do bem professada por uma pessoa. Nesta S630, discuto as consideracdesrelativas 3 capacidade de ter uma concepgio do bem e concepeio especifica que uma pessoa tem do bern. Comego con altima, Lembre-se de que, embora as partes ssibam que as pes- soas que representam tém determinadas concepgoes do bem, nao co- ‘hecem 0 conteido dessasconcepges, ist é nfo sbem quais so 0s ‘objtivos e fins ilcimos especificos que estas pessoas querem reali ‘ar, nem os objecos de suas afeiges¢ lealdades, nem sa visio da te lagio que tém com o mundo — religiosa,filoséfica ow moral —, com teferéncia A qual esses fins lealdades so entendidos. No entanto, a5 partes conhecem a esteururageral dos plans ce vida de pessoas cionais (dados os faros gerais da psicologia humana e do funciona ‘mento das instiuig&es socias) e, por conseguinte, os principals ele- ‘mentos de uma concepgdo do bem. O conhecimento desses assuntos 8 compreensio ¢ uso dos bens primros, eis como previamente ex- plicados, vio de par. Para esclarecer as ides, concentro-me na iberdade de consciéa- «ia € investigo os morivos que as partes tém para adotar princ(pios ‘que garantem ssa liberdade fundamental, tal como se aplica Bs vi bes religiosss,filoséficas e moras de nossa relasio com 0 mundo 23. Nese eo dois else epee de maein m pco ee ip agumeae spent ier sere eesti or $5 365 F claro que, embora as partes nfo possam ter certeza de que as pes- soas que representam profesem essas vise, suponho que em geral, fests pessous 0 fagam € que, em todo o caso, a8 partes devem admitir tessa possibilidade. Pressuponho também que esas visbes religiosa, fitoséfias e morais jf estejam forradase ejam firmemente defendi- dase, nesse sentido, que sejam deteeminadas. Pois bem; se apenas, lum dos distineos peincipios de justiga 4 disposigio das partes garan- te igual liberdade de conscigncia, esse principio deve ser adotado. (Ou, pelo menos, isso € vilido se « concepgio de jusciga A qual per tence esse principio for uma concep five patil, uma vee que x debilita sas enerias ao digas para uma ‘multplickde de objets, Mas homem tem o pdr de evita nite: fade, etando de ni as feuldades de a nature, (ue si} distnes peralment exerciser septa, faendo com que Conviriam pars um foopetaloespontines em cada peviod de sua vida, as centelhasagoDi= ‘antes de uma aividadecaqueas gue o fut far ecledite procurando fmenea diversfice a auld com a usis wablha combinando-ss armoniosamente em vz de buscar a mera vatedade de objetos para seu ace em epurao, © ques sonsegue no as d individu, pla unio {fo pasado edo futuro com o presen, produ Sociedade pela cope ‘to muta de seus difeentes membros; porque, em feos segs de ‘fn vida, ada iv poe ating apenas uma daqueas pris, que representam a fies pssives do canier hurmano. pela uni sca, poreanto,buseada has aecesiadese capacidadesincermas de sus mem: bos. que cade qual em condigbee de participa dos precios recursos co leis de rods 8 cut aa ilustrar a idéia de uni social, considere um grupo de mi sicos talentosos, tados eles com o5 mesmos dons natura © que po- eriam, portant, cer aptendido a tocar igualmente bem todos 0s is trumentos da orquestra. Por meio de longo aprendizado € muita 51, a grt ii 9p 525-24 de Th Lain of Sie Acid pot J. oe tage Cpe Unset PRS 969 6.1 376 pritica, cornacam-se excremamente eficientes no insceumento que sdotaram, reconhecendo que as limitagSes humanasexigem isso; nun- ‘a chegario a ser suicientemente hébeis em muicosinstramentes, € ‘muito menos chegario a rocé-los todos de uma vez. Assim sendo, esse caso especial em que os talentos naturais de tados slo idénti- ‘os, 0 grupo chega, por uma coordenago das atividades encre pares, A mesma coralidade de capacidades latence em cada um, Mas, mies. mo que esses doces musicais naturas nfo sejam iguais e difiram de pessoa para pessoa, um resultado semelhane pode ser acingido, des- ‘de que esses dotes Sejm adequadamente complemencareseapropris: ‘damente coordenades. Em ambos os css, as pessoas precisam umes das outras, pois € apenas com a cooperagio aiva dos outros que 0 = lento de cada um em particular pode set rslizado, e, por conseguin~ re, em grande parce, com os esorcos de todos. Somente nas atvide des da unio social o individuo pode ser completo. NNesse exemplo, a orquestea & uma inifo social. Mas existem tan {05 tipos de unides sociais quanto hi tipos de atividades humanas ‘que satisfazem as condigBes necssicias, Além disso estrutura bisic ‘cada sociedade oferece um quadro no interior do qual cada ume des- sas atividades pode ser eealizada, Desse modo, chegamos 3 idéia de Sociedade como uma unio socal de unides so ses divers ips de acids humana orm adequaamente complementtesc podem set spropiamene corlenaien Ou tora pose uma ni scl de une sos to es speed ts lO pinto coplanar tos iis leno humans, qo posi os tsi de a vidas hirano sss is formas de orpanitagto O segundo se ecto € que aqulo qu somes cipuzes de ser fer é muito mai {ue aqulo que poderon fer eaerem wma Unica vida rst pela {ual dependemos don sores cooperatives ds out, pense fi rrmos dor meio mers deBemestar mas tan pate es lsat oq pderamos ter soe ete. O vere spec € neces cidade de er um senso de os let. que pode tomar como Sea conti prinis de jute qe icuam una ns prope dh de reipaidade, Quand exes rips so elinar em ine 377 tieaigdessociais €respeitados por todos 0s cidados, isso € publica- mente reconhecido, a5 atividades de mutas unides sociis io coor ddenades ecombinadas numa uni social de unies scias, 'A questio €: que principio disponiveis spares na posigioorigi- ral fo os mais efetivos para a coordenagio e combinagio das muitas ‘unides socias em uma unigo social? Aqui hi dois desieratos:primei- ‘0 eses principios devem ser conectados de forma reconhecivel com 1 concepgio dos cidados como pessoas livres € iguais, concepio 53, “que deve estar implica no conceidoe aparecer a frnte deses prin Cipins, por assim dizer, Segundo, esses principios, enquanto peinet- pics pea ¢estrutura isica da socedade, devem conter uma nogio de reciprocidade apropriada a cidadios enquanto pessoas livres eiguais ‘engajadas na cooperagio social ao longo de toda a vida. Se esses desi-

Você também pode gostar