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A Fé Sem Expectativa está Morta

A. W. Tozer

Expectativa e fé, embora semelhantes, não são a mesma coisa. Um cristão


instruído não confundirá as duas.
A fé verdadeira jamais estará sozinha; ela sempre estará acompanhada pela
expectativa. O homem que crê nas promessas de Deus espera vê-las cumpridas. Onde
não existe expectativa, não existe fé.
Contudo, é bem possível existir a expectativa sem que exista a fé. A mente é
perfeitamente capaz de confundir um forte desejo com a fé. Na verdade a fé, da forma
em que é comumente entendida, não passa de um desejo combinado com um agradável
otimismo. Alguns escritores conquistam bons lucros promovendo essa pretensa fé que
se supõe criar um pensamento "positivo", em oposição à atitude mental negativa. Os
seus ensinamentos são muito bem recebidos pelo coração daqueles afligidos por uma
compulsão psicológica para crer, e que lidam com os fatos pelo simples expediente de
não levá-los em conta.
A fé verdadeira não é formada do mesmo material de que são feitos os sonhos;
antes ela é consistente, prática e totalmente realista. A fé vê o invisível, mas ela não vê
aquilo que não existe. A fé ocupa-se com Deus, a grande Realidade, que deu e dá
existência a todas as coisas. As promessas de Deus estão de acordo com a realidade, e
qualquer que confia nelas entra num mundo real, e não fictício.
Na experiência normal, chegamos à verdade por meio da observação. Tudo o que
se pode verificar por meio de experimentos é aceito como verdade. Os homens crêem
nas informações dos seus sentidos. Se a ave caminha como um pato, parece um pato
e emite sons como de um pato, então provavelmente é um pato. E se dos ovos que
choca saem pequenos patos, praticamente se conclui o teste. A probabilidade dá lugar à
certeza; essa ave é mesmo um pato. Essa é uma forma válida para lidar com nosso
ambiente natural. Ninguém ousaria reclamar desse método, já que todos agem assim. É
o jeito que lidamos com este mundo.
Mas a fé introduz um outro elemento em nossa vida, radicalmente diferente. "Pela
fé entendemos" é a palavra que alça nosso conhecimento a um nível superior. A fé se
ocupa com fatos que foram revelados do céu e que, por sua natureza, não reagem a
testes científicos. O cristão conhece como verdade alguma coisa não porque a verificou
por meio de alguma experiência, mas porque Deus a declarou. As suas expectativas
nascem da sua confiança no caráter de Deus.
A expectativa sempre esteve presente na igreja nos tempos em que ela mais
manifestou poder. Quando ela creu, ela esperou, e o seu Senhor jamais a desapontou.
"Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da
parte do Senhor" (Lucas 1.45).
Todo grande mover de Deus na história, cada avanço incomum na igreja, cada
reavivamento, foi precedido por um senso de forte antecipação. A expectativa sempre
acompanhou as operações do Espírito. As Suas intervenções dificilmente surpreenderam
o Seu povo, porque eles aguardavam com expectativa o Senhor ressurrecto e
aguardavam confiantemente o cumprimento da Sua Palavra. As Suas bênçãos seguiam as
suas expectativas.
Uma característica que é sintomática nas igrejas normais de hoje é a ausência de
expectativa. Os cristãos, quando se reúnem, não esperam que aconteça nada fora do
comum; em consequência, só acontece o costumeiro, e esse costumeiro é tão previsível
como o pôr-do-sol. Uma mentalidade de não-expectativa impregna a reunião, uma
quieta disposição de tédio que o ministro de várias formas tenta dissipar, meios esses que
variam conforme o nível cultural da congregação e particularmente do próprio ministro.
Um recorre ao humor, outro apela para um assunto do momento que divide a
opinião pública, como o uso de flúor na água, pena de morte ou a prática de esportes
aos domingos. Outro, que talvez duvide de suas habilidades como humorista e que não
esteja tão seguro quanto a que lado da controvérsia deve defender, tentará gerar
expectativa no povo tratando de alguma programação futura: o churrasco dos homens,
na próxima terça-feira; ou o piquenique e o jogo entre casados e solteiros, cujo resultado
o alegre ministro modestamente se recusa a prever; ou o anúncio do lançamento de um
novo filme religioso, cheio de sexo, violência e falsa filosofia, mas adoçado com insípida
moralidade e frouxas sugestões de que a extasiada platéia precisaria nascer de novo.
Dessa forma, as atividades dos santos são estabelecidas por aqueles que se
presume saberem melhor aquilo de que eles precisam. E esse procedimento, esse
joguinho se torna aceitável até pelos mais piedosos, pela estratégia de adicionar no final
algumas palavras de dedicação religiosa. Isso é chamado de "comunhão", embora se
pareça pouquíssimo com as atividades dos cristãos de antigamente, a quem se aplicou
primeiro a Palavra.
A expectativa do cristão, na igreja normal, segue o programa, não as promessas.
As condições espirituais do momento, embora pobres, são aceitas como inevitáveis. O
que vai acontecer é o que sempre aconteceu. Os cansados escravos da estúpida rotina
julgam impossível esperar alguma coisa melhor.
Precisamos hoje de um novo espírito de antecipação que venha das promessas de
Deus. Temos de declarar guerra à disposição de não-expectativa e temos de adotar uma
fé infantil. Somente então poderemos outra vez experimentar a beleza e a maravilha da
presença de Deus entre nós.

Extraído do livro “God Tells the Man Who Cares”, capítulo 32.

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