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O SONHO DO REI KARNA-VOOTRA

Conto de Lord Dunsany


Tradução de Rogério Silvério de Farias

O rei Karna-Vootra, sentado em seu trono de onde dominava tudo, disse:

“Na noite passada eu vi claramente a majestosa Vava-Nyria. Apesar de estar


parcialmente encoberta por grandes nuvens que continuamente giravam em torno
dela, seu rosto estava descoberto e resplandecia ao luar.

“E disse-lhe:

“Passeia comigo pelos grandes lagos da formosa e cheia de jardins Istrakhan, onde
flutuam lírios que produzem deliciosos sonhos; ou, baixando as cortinas de orquídeas
suspensas, vem comigo através de um caminho secreto que leva a outra selva
impenetrável que cobre a única senda através das montanhas que cercam Istrakhan.
Cercando-a e contemplando-a com júbilo pela manhã, até o anoitecer, quando os lagos
não estão habituados à luz e, por vezes, em sua alegria, derretem a fatal neve que
mata os homens das montanhas nos cumes solitários. Esses lugares são mais velhos
que as crateras da lua.

“Venha comigo, e iremos para terras românticas, dessas que os homens das caravanas
evocam em suas músicas, então caminharemos em uma terra tão encantadora que
mesmo as borboletas que revoluteiam se admirarão com sua beleza refletida nos lagos
sagrados; e à noite ouviremos inúmeros rouxinóis, cantando em coro com as estrelas
até morrer. Se te decidires, enviarei arautos bem longe, com noticias de tua beleza, os
quais se apresentarão e chegarão a Séndara, e falarão dela aos homens que cuidam
dos rebanhos de ovelhas marrons; e desde Séndara rumores se espalharão pelas
margens do sagrado rio Zoth, e até mesmo os construtores de cercas das planícies
ouvirão falar de tua beleza e a cantarão. Mais tarde os arautos irão até o norte
atravessando as colinas até chegar a Sooma. E nessa cidade de ouro informarão aos
reis, sentados arrogantemente em seus tronos de alabastro, de teu estranho sorriso. E
muitas vezes tua história será contada em mercados distantes pelos comerciantes de
Sooma, entre outras historias contadas para atrair fregueses.

“E os arautos chegarão também a Ingra, onde as pessoas estão sempre dançando. E


ali falarão de ti, de maneira que teu nome será cantado naquela alegre cidade. E
pedirão, ali, camelos emprestados, e atravessarão as areias do deserto, até alcançarem
a distante Nirid para falar da tua beleza aos homens solitários dos mosteiros das
montanhas.”

“Vem comigo agora, pois é primavera.”

“E, quando eu disse isso, ela moveu sua cabeça, ligeira, mas significativamente. E só
então me lembrei que eu tinha perdido a minha juventude e ela estava morta há
quarenta anos.”
FIM
Fonte: site www.rogsildefar.tk

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