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M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MIGRACAO DE AVES NO BRASIL PAULO T. Z. ANTAS PALESTRA - IT ENAV, Rio de Janeiro, julho de 86 tema Migragdes de Aves no Brasil vem cada vez mais sendo objeto de ateng&o nos Ultimos anos. A tradugao que o CEMAVE-IBDF promoveu do trabalho ja classico de Hel- mut Sick, Migragdes de Aves na Anérica do Sul Continental, impresso em 1984, 0 proprio livro de Sick (1984), apublica Go Migrant Birds in the Neotropics (Keast & Morton, ed. 1980) © Neotropical Omithology (Buckley et al. ed. 1985) sdo as referéncias basicas gerais sobre o assunto. Durante o TI2 ENAV, foi apresentado um trabalho por Jacques Vielliard (Vielliard & Cameiro) sobre a migra- g&o de beija-flores no interior do Estado de Séo Paulo. Um dos aspectos mais importantes do trabalho foi a preocupagao em verificar e caracterizar a estacionalidade dos movimen ~ tos dos beije-flores na Area especifica do levantamento. Es te é um dos pontos basicos em termos de migragéo; ha que se determinar um movimento estacional; nao é uma coisa esporé- dica ou nomidica. Outra caracteristica basica é0 retorno as regides de reprodugio e a repetigéio do ciédo. De uma ma neira geral, pensa-se em migragdes quando as distncias per corridas sdo de grande magnitude. Isto, entretanto, nao é primordial. Existem espécies que se movimentam por poucos quilémetros, como aqueles migrantes altitudinais de cadei- as de montanhas ou aqueles que migram de um tipo de vegeta- Go a outro, fendmeno tipico de algumas espécies da regiao do cerrado, por exemplo. Assim, grandes ou pequenas dist@n— clas podem ser cobertas pelas aves migratérias. Outros movimentos de aves até agora ndo possuem terminologia técnica estabelecida em Portugués. Dentro do espirito desta palestra proponho o uso de movimento de arri. 153 M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO bagao para os movimentos esporadicos, nao estacionais, co- mo irrupgGes de espécies, inteiramente imprevisiveis. Isto dentro da definig&o do verbo arribar como regressar ao pon to de partida ou entrar em outro que ndo seja o da escala ou de destino .......; desviar-se da derrota previamente escolhida, em razo das condigées de tempo ou mar" (Ferrei, ra, sem data). Esta $ a idéia destes tipos de movi@tntos » Aparecem motivados por qualquer outro fator, mas sem esta- cionalidade. Desta forma, fica proposto para discusséo 0 uuso desta terminologia, movinentos de arribsgéo, para 0 grupo de movimentos aonde fatores de motivagéo sio imprevi siveis. Desta maneira busca-se separar estes movimentos do grupo das diversas migragées. Estas sim, ciclicas, repetin do-se ao longo das estacées e dos anos. A motivacio para migrar, a causa primeira para migrar foi, ou ainda é, o problema da oferta de alimento.A Fluluado desta oferta & que leva ou levou, no passaco, a0 infcio dos movimentos das aves. Posteridmente, via selegao natural, passou-se a um controle endécrino das migragases. Por isso, hoje varias espécies migratorias iniciam seus mo vimentos antes da queda da oferta alimentar. Nas espécies de regides temperadas os controles endécrinos esto basea~ dos no padréio classico da diferenga da duragao do dia e da noite ao longo do ano. Ja nas regides tropicais e subtropi cais estes controles endécrinos dever: ser influenciados Por outros fatores anbientais, j4 que a diferenca da exten sdo_do dia para a noite 4 menos prommeiada. Talvez a flo rago/frutificagéo de algunas espécies ou commidades este Ja ligada ao inicio do movimento migratério. Estes ainda so detalhes que precisan ser mais detalhados no futuro. Entretanto, em linhas gerais, os estimilos em regides tem- peradas provém da diferenca dia/noite e nas latitudes bai- xas outros estimilos esto em jogo. Para o assunto especifico desta palestra, te- 154 M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO mos que iniciar lembrando a grande amplitude latitudinal do Brasil, iniciando-se pelo paralelo 4° N até o paralelo 348 S. Da mesma forma, longitudinalmente iniciamos na Ilha da ‘Trindade e Martin Vaz (+ 282 W) e finalizamos na fronteira com o Peru em 742 W, Tal extensdo geografica, abordando qua~ se metade do continente sulanericano, traduz-se na existén - Cla de grande némero de fenwenos migralories, eam un bu 1c, mero de espécies chegando até nés, além daquelas que se movi mentam dentro de nossas fronteiras. Como um critério basico, divide-se as migragdes pelas regides biogeograficas aonde as espécies se reprodu- zem. O primeiro grande grupo a ser abordado so as aves do Neartico, sobre as quais também temos mais informagdes. Sao aves que chegem ao Brasil para passar im periodo do ano - se manas ou meses. N3o se reproduzem no pais, tendo aqui sua 4rea de invernada ou parando por pouco tempo para logo reto— marem & migraco. Para mostrar seus varios padrées de migra- Go, alguns exemplos forem sepados buscando evidenciar as di versas estratégias de migragao. 0 trinta réis Stema hirundo é o primeiro deles. A populag&io que inverna no Brasil provem das colénias de re- produg&io da costa leste norte americana e canadense, bem co- mo dos grandes lagos da América do Norte. Essas aves so tan to marinhas de Aguas costeiras quanto dos grandes corpos d'& guas interiores. Chegem ao Brasil por volta do final de se- tembro, na costa norte, e vem descendo para o sul com pontos de parada principais na foz do Rio Amazonas, regido de Sao Luiz, MA, RecSncavo Baiano, Baia de Guanabara e costa do Rio Grande do Sul. Estes so os pontos basicos do S. hirundo no pais. Durante a movimentagdo para o sul, as recuperagoes de anilhas norte anericanas mostran claranente uma passagem pelo interior do Nordeste (Lara Resende & Leal, 1982; dados do Bord:Banding Laboratory, inéditos). Esta passagemé ainda mais evidente pela raridade de Stema hirundo na costa entre 155 II ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES ‘UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO as salinas do Rio Grande do Norte e a foz do Rio Sao Fran- cisco (obs. pess.). Varias aves surg também nos corpos d'agua im portantes do interior do Brasil. Na regiao central, peque- nos grupos de S. hirundo aparecem rotineiramente no Panta~ nal, Recuperayoes de anilhas norte anericanas ocorren ainda em diversos pontos do interior (Lara Resende & Leal, op. cit.). Se estas so aves passando em migrag&o ou se ja es- t&o em suas areas de invernada, sao pontos para os quais faltam mais informagdes. 0 mesmo ocorre no interior da ba~ cia amazénica, onde aparecem esporadicamente. Hm resumo, a migragao dos adultos (aves com 3 anos ou mais) da-se de se~ ‘tembro (costa norte) até, provavelmente, novenibro (quando devem atingir o Rio Grande do Sul), com areas de invernada espalhadas ao longo de toda a costa brasileira, pelo menos. Os adultos retornam em sna totalidade em mango/abril do ano seguinte. Anteriormente, acreditava-se que os adultos retor navam para o Hemisfério Norte a cada estagio reprodutiva.Da dos recentes do trabalho do IBDF na Lagoa do peixe, RS, su- gerem que parte da populagéo adulta pode ficar sem se repro duzir a cada ano. Ja as aves sexualmente imatures (jovens de 1 ano e a matoria das aves de 2 anos) permanecem conosco durante todo o ano (Sick, 1984, obs. pess.). Assim, dentro da mesma espécie, existem dois tipos de movimentagZo a cada ano. Adultos retornando as colénias de reprodugZo migrando para o norte a cada abril e aves imaturas ou sem condigdes reprodutivas permanecendo conosco. Deste Ultimo grupo nada Sabemos sobre seus movimentos durante o inverno austral. Pe Jo menos no Rio Grande do Sul, na area da Lagoa do Peixe, estas aves permanecem até maio/junho, com uma queda popula- cional posterior (praticamente ausentes em setembro). 0 que @contece a elas, para onde se dirigem, é algo a ser respon- dido mais tarde, via recuperag&o de anilnas desta popula- so. 156 Il ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Stema hirundo tem, portanto, uma zona de inver— nada muito ampla, da foz do Rio Amazonas ao Rio Grande do Sul, com concentragées em locais especificos e rarefagao nas regides intermediarias. Aves ndo reprodutoras permanecem no nosso litoral, pelo menos. Fica clara a pergunta que teremos a responder no futuro. Qual a alimentagao nos varios pontos dc invernada. Ela é uniforme do Para ao Rio Grande do Sul? Os mecanismos endGcrinos de controle de migragdo devem ser estimilados do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul pelo pa- drdo classico enquanto que da Bahia para o norte outros esti mulos devem estar em jogo. Outro trinta réis proveniente do Hemisfério Nor te é Sterna dougalli. Sua reprodugdo é simp@atica com S. hi- rundo e, no Brasil, sua zona de invernada vai de Salvador ‘ate @ Guiana Francesa (Lara Resende & Leal, op. cit. ;Nisbet, 1984). Este é um dos trinta-réis com menos informagfo no pais © recebe pouca aleng@y au campo pela dificuldade em i- dentifica-lo em sua plumagem de eclipe reprodutivo, quando fica ainda mais semélhante eo S. hirundo. Além deste fato, @ populagao néartica de S. dougalli caiu de 30 a 40% no pe- riodo de 1968 a 1977 (Nisbet, op. cit.). Tambem a populagao européia sofreu acentuado declinio (Nisbet, op. cit.). Esta queda populacional,pelo menos para a populagao européia, es- ta associada a uma pressdo de cacga seletiva, feita na costa do Golfo de Guiné, na Africa. Ali, nas vilas de pescadores, ela é intensamente capturada para alimentag&o. Para as Améri cas, fendmeno parecido ocorre na costa da Guiana, devido ao comercio de came de caga (Nisbet, op. cit.). Na costa brasi leira falta qualquer informagao sobre a existéncia de uma forte pressao sobre a espécie, aparentemente mais suscetivel captura que suas congéneres. Outro complicador para as observagées de $+ dou- galli so seus hdbitos na area de inverfiada, quando parece = Aguas mais profundas, de melhor visibilidade, — sendo 157 Ml ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO mais peligica durante o dia e retornando 4 terra —_ somente para repousar ao entardecer (Nisbet, op. cit.). Essa busca de 4guas claras para pescar leva-a, na costa norte, a z0- nas distantes da costa, pela quantidade de sedimentos em suspensao, carregados pelo Rio Amazonas ou levantados pe- las fortes marés da Regido Norte. Os jovens de 1 ano nao devem chegar &s voldiias de reproduglio no ano seguinte.Pou co mais sabemus de S, dougalli. Ainda no grupo dos trinta-réis, aparece o can pedo mundial das migragdes, Stema paradisaea, Reproduz-se nas zonas setentrionais do Holartico e passa pela nossa costa em diregao a Antartica, sua zona de invernada. Ao mi grar para o sul, a populagdo norte americana acompanha a corrente do Golfo até a Europa e dai desce para o sul a0 longo da costa africana, voltando a atravessar o Atlantico na altura da corrente da Guiné. Poucos dados existem sobre ela no Brasil, dada a dificuldade de identifica-la e por ser totalmente pelagica na migracio. Existem registros des te trinta-réis da Behia até o Rio Grande do Sul, e sonente isto conseguimos determinar. Entéo, trés espécies de trinta-réis, trés es- truturas diferentes de movimentacéo Sterna hirundo, basten te costeira e até em aguas interiores; S. dougalli usando aguas fora da costa, mas vindo & terra para passar a noite ou em periodos de repouso e S. paradisaea, pelagica e que pouco frequenta a costa. Associada &s concentragées de Stema hirundo a parece outra ave migratoria neartica. £ a gaivota-rapinei- ra, Stercorarius parasiticus, perseguidor dos trinta-réis © outras aves marinhas para que estes regurgitem os pei- xes capturados. Esta sempre associada as concentragdes de Sterna spp. Da mesma forma que nos trinta-réis, os imatu- YOS permanecem conosco, provavelmente até o terceiro ano 158 MW ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIOADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. de vida (falta ainda informagZo segura em termos da composi, cdo etaria deste grupo que no migra para o norte). ‘Ainda sobre aves costeiras, cabe destacar a gai- vota Lams atricilla, reproduzindo-se na costa leste norte americana € migrando para a nossa costa, invernando da foz do Amazonas ate a Baia de Sdo Marcos no Maranhao. Sua rea de invertusia @ bastante reslila, ao inverso de Sterma hirun do, com area de reprodugo relativamente pequena em. relagao @ amplitude da area de invernada. Pouco se sabe sobre Larus atricilla, por usar a regio da costa brasileira que ebriga os maiores manguezais do continente. Tanbém de distribuigao neartica, a marreca Anas. discors tem uma migrag&o interessante no Brasil. Da sua area de reprodugSo (regio centro norte da Anérica Setentrional), migra para o sul no final de agosto, chegando dos cempos inundaveis da Ilha de Marajé e Baixada Maranhense. Dispersa— se destas 4reas pelo Nordeste no final de setembro. Em ter mos anbientais, isto significa chegar no pico da seca da re~ gio semi-arida, teoricamente, o pior momento para uma ave aquatica. Na realidade, parece que este é um efeito colate- ral inesperado de extensa agudagem feita na regio desde as secas do século pasado. A movimentaco da gua para uso hu- mano foi de tal montaggm que criou condigées para esta ave aquatica, Aparentenente, a colonizagao do Nordeste por Anas discors @ muito recente, sendo uma nova area de invernada cm quase um séwulo de existéncia. A grande maioria destas marre, cas inverna na Clénbia ¢ Venesuela, com outra pequena popula, go invernando na Argentina e exemplares esporadicamente en- contrados no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e na Lagoa de Quissema, RJ (Coimbra Filho, 1969; Lara Resende & Leal op. cit.). A ocorréncia de recuperagao de anilha no Acre sugere © uso da Amazonia Ocidental como rota migratoria da popule~ ao qua atinge a Argentina. Também associada a ambientes aquaticos aparece @ 159 HI ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Aguie-pescadora Randion halidtus, proveniente de seus 10 cais de reprodugao na costa leste americana (populagio que atinge o Brasil). Os padrées da recuperagéo de anilhas nor te anericanas mostram claranente sua preferéncia pelo vale emazénico (Lara Resende & Leal, op. cit.); recuperacéio de anilhas norte americanas no Brasil (fornecidos pelo ind Banding Laboratory, indian) Was recentenente nals fous tem sido observada nas barragens de hidrelétricas do Bra- sil Central. Aparece, tanbém, nos lagos artificiais do Dis trito Federal, criados apés a construcZo da cidade para Paisagismo e fornecimento de agua. A aguia pescadora inver na, ainda, nas recentes barragens contruidas em Sao Peulo e Minas Gerais. Esse uso de um ambiente artificial- barra~ gem ~ ¢ dos peixes associados a elas (geralmente, espécies exoticas & bacia sao introduzidas) favorecen a expansio da Populagio de 4guias pescadoras usando a regio meridional de sua zona de invernada. Registros ao sul da Bacia Amazd- nica eram historicamente raros. Da mesma forma do que em outras aves neérticas, 0s imaturos permanecem conos.o 0 ano inteiro, sendo que al guns exemplares migram para o norte no seu segundo ano de vida. A dguia pescadora foi a espécie que denotou o Sinal de alerta sobre os efeitos negatives de organoclora- dos no ambiente, apés 0 inicio de seu uso no pos - guerra. Junto com 0 falc&o peregrino Falco peregrinus, sua popula- $0 declinou drasticamenteydqvide aos embrices mortos no ovo e pela quebra da cascaéo enfraquecinento das paredes. Enbora hoje exista um controle rigido gobre 0 uso dessas substancias na Anérica do Norte, a pergunta que fica é so- bre os efeitos que podem estar ocorrendo com 0 grande ai mento deste uso de organo-clorados nas Areas de invernadas, @ partir dos anos 60. Estaré @ populagio reprodutiva, ain a, sujeita ao acimilo dessas substéncias de vida média al 160 Il ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ta? Recentemente parte desses produtos foram proibidos em regides do pais para em seguida serem liberados. Vamos agora No grupo de aves migratorias que mais atengio atrai ‘st@ncias percorridas, a rapidez com que 0 fazem e pelas concentragdes ao longo das rotas mi- gratérias. Os macaricos e batuiras logo atraem a atencdo pe- la sua miltiplicidade de estratégias migratorias. Essas aves possuem pelo menos quatro rotas prin- cipais de passagem no Brasil (Antas, 1983), sendo de leste para ceste, a saber: a) Rota do Atlantico, ao longo da costa do Amapa até o Rio Grande do Sul; b) Rota do Brasil Central, iniciando-se na foz dos rios Tocantins e Xingu, passando pelo Brasil Central atingindo 0 Vale do Rio Parana na altura de Sa Paulo; ¢) Rota do centro de Amazinia/Pantanal, com seu comego no Rio Negro e seguindo pelo vale dos Rios Madeira e Tapajés até o Pantanal; @) Rota da AmazGnia Ocidental, com as aves prove nientes da Colémbia pelos vales dos Rios Japura, Ica, Purus, Jurud e Guaporé, entrando a partir dai no Pentenal. Estas sao as rotas basicas, com um segmento da rota Atlantica no interior do Nordeste, em um atalho entre © sul de S&o Luiz e a Baia de Todos os Santos, sobre o inte- rior nordestino. Este atalho é demonstrado pelo aparecimento de Calidris minutilla e C. pusilla no interior do sertSo nor destino através de recuperagdes de anilhas e por peles cole- tadas. Tanbém, sobrevéo feito recentemente por Derek Scott Paul Roth na baixada maranhense evidenciaram magaricos da zona costeira em grupos nas aguas interiores.. Esta movimen- tago deve ser rapida, simplemente como Stema hirundo tan bém faz para encurtar a migraclo. As rotas sao seguidas diferencialmente pelas va 161 IW ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO vias espécies em termoS de migrag&o para o sul e da migra oS para o norte. Existe uma diferenga estacional na ofer— ta de habitat de alimentagao e pouso. Quando os primeiros magaricos e batuiras chegam ao pais, no final de agosto e até o final da onda migratéria em novembro, a regiao sul do vale Amazénico e, principalmente, o Brasil Central, es- to no inicio da estagao chuvusa, iste &, os rius © legos est&o no seu nivel minimo de aguas. Apds o inicio das chu- vas ainda decorre algun tempo antes da inundag&io das prai~ as e planicies aluvionais. Desta maneira, os magaricos e batufras encontram 0 maximo de area de alimentagao. Ao pas sarem novamente pela regiéo, de fevereiro até o final de abril, encontram os rios no pico das aguas, cono minimo de area de alimentagdo e repouso. Para fazer frente a esta redugo de Area til, varias espécies devem ter outra es- trategia de migracéo, seja usando mais a rota costeira,con tornando a Area problema, seja migrando diretamente sobre © Brasil Central, sem pousar, em diregéio ao norte do conti nente ou, talvez, até a Anérica do Norte. Os traballhos de captura e anilhamento da Lagoa do Peixe evidenciaram, em termos de peso, a possibilidade de magaricos migrarem, sem escalas, até a Venezuela ou até mesmo © sul dos Estados Unidos. para isto, usando-se a for mula basica de McNeil (1972), coloca-se 0 peso médio obti- do na populagao na formila mencionada e descobre-se a esti mativa da distncia que estas aves poderiam voar sem esca~ las. Para Calidris fuscicollis, por exemple, o peso médio sugere a possibilidade das aves atingirem a costa sul do Texas (Harrington et all, no prelo; dados IBDF inéditos). De qualquer maneira, as aves poderian atingir facilmente a costa norte sulamericana, sem paradas, 0 que casa-se mito bem com as observagdes de Spaans (1978) demonstrando a e- xisténcia de um pequeno pico de passagem de C. fuscicollis ma costa do Suriname no final de abril, inicio de maio. 162 M ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL 00 RIO DE JANEIRO. Dados de Calidris canutus, tanto por peso (Har- rington et all. op. cit.) como pela observagao de aves marca~ das com bandeirolas coloridas demonstrem, em 1984, que existe uma grande possibilidade desta espécie atingir, pelo menos em alguns anos, a costa leste norte anericana sem paradas. Duas aves anilhadas na Lagoa do Peixe, RS, foram observadas 13 dies depois na costa de Nova Jersey (Harrington et all, op. cit.). £ importante notar que dificilmente tais aves sairan do Bra- sil no dia exato do anilhamento e tampouco foram cbservadas no dia exato da chegada na América do Norte. Entao este tre- cho, bastante longa do paralelo 31? S até cerca do paralelo 402 N, foi percorrido em, no maximo 13 dias. Este periodo 6 pequeno 0 bastante para sugerir um véo direto, sem qualquer parada intermediaria substancial. Os dados para a mesma espé- cle em 1985 e 1986 (inéditos) na Lagoa do Peixe, no mesmo pe~ iodo do ano, demonstram que esta estratégia talvez nao possa ser seguida todos os anos, uma vez que em 1986 condicgdes lo- cais destavoraveis devico 4 cneia na Lagoa aurante o periodo migratorio. C. canutus abandonou suas areas tradicionais de alimentagdo no interior da Lagoa e dirigiu-se para a praia. Neste Gltimo habitat n3o chegou a atingir o peso médio de 1984 e 1985 durante o periodo de trabalho de campo, ficando abaixo do minimo tedrico para o vo sem escala. Dessa forma, esta populac&o ou nao migrou para o norte, isto é, nao se re- Produziu em 1986 ou outros pontos existem ao longo da rota, ainda desconhecidos. Observagdes de @rian Harrington (com. ess.) na costa leste anericena indicam uma queda acentuada Ros numeros de C. canutus dirigindo-se para o Artico,em 1986. Assim, so dus estratégias de migragio que estas aves usam. Ao abandonarem suas areas de reprodugao tem um maior nimero de paradas intermediarias, traduzindo-se em um movimento de maior lentidio até chegarem as areas de inverna- da, Na migracio para o norte, entretanto, os pontos interme- diarios sao em menor nimero e, pelo menos algumas espécies,mi gran rapidamente. £ importante ressaltar que embora alguns ma 163 I ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO garicos tenham populagdo altas, elas esto densamente con centradas em pontos esfecificos ao longo da rota migratéria ‘A perda destes pontos podera ter efeitos bastante danosos A conservacéio deste grupo de aves. Nas Américas existem lis tados onze pontos basicos de concentracgéio de magaricos em migragao. As estratégias de migragdo variam, ainda, den- tro do mesmo género. Tomando Pluvialis como exemplo, vamos ver que © batuirugu P. dominica tem una migracdo basicenen— te costeira fora do Brasil e que ao chegar no pais usa qua~ se exclusivamente 0 interior, seja na Amazénia, seja no Bra sil Central. Atinge os pampas do Rio Grande do Sul, Argenti na e Uruguai, sua area de invernada,frequentando normalmen- te a praia e zona de dinas costeiras nesta regio. Na migra go para o norte, sai do Rio Grande do Sul em janeiro e ra— pidamente atinge o norte da América do Sul e, em seguida, o sul dos Estados Unidos, migrando ai pelas Pradarias em dire Bo ao norte. J o outro batuirucu P. squatarola usa unicamen te a regio costeira e sai mais tarde que P. dominica. No sul do Brasil seu pico de passagem para o norte, situa-se no final de margo/inicio de abril e na costa norte até ini- cio de maio observa-se P. squatarola em plumagem de reprodu So. Essas variagdes de estratigias dio, tenbém, en tre classes de idade. Varios desses macaricos que nao atin- giran a idade reprodutiva, aves geralnente de 1 ano até 2 anos nfo chegan até a area de reproducdo ou algumas a alcan cam sem se reproduzirem, entretanto. Trabalhos usando os pa Grées de midas de primérias no nordeste do Brasil, feitos em conjunto pelo IBDF e a Universidade Federal Rural de Per nambuco no 1itoral da Paraiba, demonstrem que para Chare~ drius semipalmatus existe uma concentragéio de parte da popa ‘LagGo imatura na nossa costa. Isto demonstra que além das 164 1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO observagdes de campo e anilhamento, o uso sistematico dos padrées de midas das penas de voo pode e deve ser utilizado para evidenciar as estratégias da espécie trabalhada. Dentro dos magaricos, o maior mistério em termos migratérios é a movimentag&o de Limosa haemastica, uma ave de porte cujo peso médio das fémeas gira em torno de 350- 400g na época de migrago. Apesar do seu tamanho, & muito pouco conhecida. Sabe-se que apds a reprodugdo no Artico, L. haemastica concentra-se na baia de Hudson entre o final de Julho € meados de agosto. Em seguida ela desaparece do Cana~ d& e poucos exemplares sao observados nos Estados Unidos,mas © grosso da populag&o nao é mais visto até o final de outu - bro, inicio de novenbro, quando chegam & Patagonia, onde es- to seus locais de invernada. A Lagoa do Peixe, RS, é um dos poucos locais do mundo onde esta ave & observada rotineira- mente em grendes nimeros durante a migragéo para o norte e & provavel seu uso também na migragZo para o sul (ods. pess.). Outras ocorréncias da espécie no Brasil séo dois exemplares coletados, um no Rio Guaporé, Rondénia, e outro em Iguape, So Paulo, (Pinto, 1978). Limosa haemastica possui habitat muito especifi- co, usando lagunas con salinidade e pH altos ou praias cos~ teiras com tais caracteristicas. E 0 caso tipico da necessi- dade de sorte para localizar-se seus pontos de concentragao. Falta alguém experiente no local exato e no momento certo, que pode ser somente 2 ou 3 semanas do ano, para localizar o Ponto ou pontos intermediarios de sua migracéo. Pelo menos, parte das aves com 2 anos e a totali dade das aves de um ano ndo migram para a reprodugéo no Cana pude Laver com P, subis, do Hemisfério Norte. P. modesta é maior que P, subis ‘as femeas so diferentes. varias outras andorinhas migrem para o norte do continente e América Central, mas pode haver, simplesmente, uma substituig&o de populagdes (veja Sick, 1984a) ou popula~ des meridionais que migram sobre populagoes: ieee Nes— te caso é importante ressaltar o que acontece com — Progne chalybea e fhaeoprogne (=Progne) tapera, maitas vezes com con centragoes tipicas de migragao no mesmo local onde vocé tem reprodugao em andamento. Ai, novamente, a capturae andlise de mudas pode auxiliar (veja Antas et all. 1986a). Deixendo as migragSes originadas na regio andino ~pafagénica, vanos ver alguns casos de aves marinhas da suban tartida e Antartida, So aves pelagicas-albatrozes, petréis, etc., chegando & nossa costa, junto com a corrente das Malvi- nas no invemno, ou por aqui passandé ‘en diregao ao Atlantico 177 M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Norte. Como um rapido exemplo, fica o alma-de-mestre Ocea- nites oceanicus, migrente antartico para o Estreito do La~ brador, no Canada. Outros casos existem sendo este o mais tipico. Finalizando este apanhado sobre o assunto, va- mos voltar a ateng&o para migragdes existentes em sua qua se totalidade, ou mesmo, totalmente dentro de nossas fron teiras. A mais corhecida destas aves é a Tesourinha Tyran- mus savanna. Sua area de invernada séo os cempos do norte do Brasil (Roraima e Anapa), além da Gran Sabana da__Vene- zuela e Guianas. Migram para o sul desde 6’valé do Rio Sao Francisco até o Pantanal, possivelmente, em rotas de passa gem ainda nao estabelecidas. Chegam ao Planalto Central no final_de julho/ inicio de agosto de cada ano, sendo este primeiro contigente das aves que ali reproduzem. De meados de setenbro até o final, passa o segundo pico migratério , possivelmente de aves com reprodugéo na Argentina, Uruguai e sul do Brasil. As aves do Brasil Central est&o con ni-~ nhos em outubro e filhotes por novembro, a grosso modo. Mu dan retrizes em dezembro (adultue) e logo em janeiro/feve reiro seguem de retomno ao norte. J& a populagao do sul do Brasil, ainda est4 com filhotes nos ninhos, em janeiro (obs. pess.), deixando o Rio Grande do Sul em fevereiro/ margo (Belton, op. cit.). Existe, portanto, uma nitida d: ferenca no calendério reprodutivo/migratério das popula~ ges do Brasil Central e aquelas do Sul do Brasil. Note-se A auséncia de registros de T. savanna, em Brasilia, apos @ segunda semana de fevereiro, sugerindo que as aves suli nas migrem por outras zonas. 7 © primeiro caso de migragfo evidenciada pelo uso de anilhas no Brasil, veio da regiao Nordeste. Ali, os anilhamentos promovidos pelo IBDF, em convénio com varias Universidades, especialmente a Escola Superior de Agricul- ‘tura de Mossoré , RN, ¢ a Universidade Federal de Pernanbu 178 M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES ‘UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 0, PE, demonstram os padres migratérios da avoante ou arri acd, Zenaida auriculata, na regiao semiarida (Antas et all, 986). A caatinga, situada na faixa pluvionétrica anual édia de 550 a 750mm, possui um padrao estacional de chuvas ovendo-se do centro-oeste até o Rio Grande do Norte, O tri- estre mais chuvoso, vai lentamente dirigindo-se de sudoeste ara nordeste (Nimer, 1977). 0 padrao de recuperagZo de avo~ ntes anilhadas mostrou una movimentagdo dentro da caatinga, a mesma forma que as chuvas, embora, a associagao nao seja ireta, Isto é, a chuva leva a caatinga a rebrotar, flores - er, frutificar, e é quando as sementes maturam € caem 20 5 © que aparece 0 periodo ideal para a avoante, uma ave grani ora de solo. Este padrlo de movimentos repete-se ano @ ano, egundo as recuperacdes de anilhas dentro do total de cerca e 26.000 aves marcada. Existe, ainda, uma zona de invernada 4 Uivisa Paraiba, Rio Grande do Norte ¢ médio Rio Joguarib&, elo menos. Além de 2, auriculata, existe toda una comnida- e de aves granivoras na caatinga que pode e deve — mover-se e maneira semelhante para sobreviver ao pericdo estacional fe estiagem. Enbora de forma mais amena que na caatinga, © vasil Central também sofre uma seca estacional de abril a etembro. A agua do subsolo, abundante, quebra um pouco este feito de seca, mas existe flutuagdes de oferta alimentar a0 congo do ano, especialmente para granivoros especializados n gramineas e ciperéceas, como Sporophila spp e Volatinia acarina, Este grupo de aves pequenas possui, certamente, mo imentagoes ao longo do Brasil Central, ainda desconhecidas ara fazer frente a queda durante a seca. A existéncia de ecossistemas diversos no Brasil entral, como a mata ciliar e o cerrado, propriamente dito, 179 MW ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO leva ao aproveitemente estacional de embos, por ima commit dade de aves que, entZo, migra entre tais formagdes. A ma ta ciliar cresce em torno de cursos d'agua anuais, tendo 7 com pices meneres que o cerrado. Os ca sos mais tipicos das aves, usando estacionalmente ambos, sao os beija-flores Eupetonena macroura e Colibri. serrirostris duas espécies do cerrado que entram no anterior da mata ci liar durante a seca. Este feriimeno pode ser mais comm do que até agora recorhecido pelo pequeno nimero de trabalhos regulares com aves dos dois anbientes. ‘ Se 0 perfodo seco afeta as aves granivoras, é de se esperar efeitos maiores ecbre a commidade aquatica, Da mesma maneira que com os magaricos durante a sua migra Go pelo Brasil Central, usando reas com pouca Sguae as praias, varias aves aquaticas dependem de padrées diferen- tes de agua para alimentar-se. A estag&o chuvosa da caatin ga, do Brasil Central ¢ até da Grea meridional do vate uma zénico causan cheias e baixas ciclicas nos rios destas a reas, com formagdo de legoas estacionais, praias, etc. As subidas e descidas de dguas so estacional mente aproveitadas pelas aves aquaticas de maneira diferen te, com migragées ao longo das principais bacias ou entre elas. Carlos Yamashita ira apresentar neste Encontro dados JA levantados para o Pantanal de Mato Grosso. Vale, entre tanto, levantar o problema da marreca-cabloca Dendrocygna autumalis, com enorme$populagdes no Pantanal. A mesma espe cie, na Venezuela, agrupa-se aos milhares nos tiMenos para a mda de remiges (degasagem). As aves ali anilhadas origi nam-se de varias regides da Venezuela e Colénbia, sem que um padro especifico tenha sido delineado (Chang et all, 1985). Nas nossas aguas tropicais habitam aves mari "has com reprodugao nas ilhas associadas & cadeia — Meso- Atlantica ou & plataforma continental. Pouco sabemos sobre 180 M1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL 00 RIO DE JANEIRO seus movimentos migratérios. Pedro Scharer Neto apresentou hoje a recuperagao de uma fragata Fregata magnificens anilha da no Parana e encontrada no Caribe. Este @ um dado completa mente inesperado, necessitando agora de outras informagdes para a determinag&io de um padréio migratério, ou se este foi um caso isolado de nomadismo, ou uma disperséio de jovens. De qualquer maneira, aves destes marés tropicais tem movimentos de grande amplitude. Nos abrigamos no Atol das Rocas uma das maiores col6nias atlanticas do trinta-réis Sterna fuscata. Estimativa feita em marco de 1982 situa a Fe pulagdo reprodutiva em torno de 120 mil aves (obs. pess.). nilhamentos desta espécie no Golfo do México resultou na evi déncia que os jovens saem das colénias e, nos primeiros enos de vida, dirigen-se para o Golfo da Guiné, na Africa. £ una espécie com maturagéio sexual tardia, em torno do sexto ano para as aves do Pacifico. Nags ainda, paradoxalmente, para unt ave peldgiva, falta-lhe @ protegéo das penas contra a agua do mar, Caso a ave pouse por mito tenpo na superficie da gua, ira molhar-se e afogar-se. Aves imaturas chegan a voar sobre as ilhas, iniciando, inclusive, os vos territori, ais e de corte, mas nao pollsan em terra entes da maturagao sexual. Assim, um jovem sai de sua colénia, atravessa 0 A~ tlantico até & Africa, retora nos anos seguintes, mas no pousa, até chegar 4 idade reprodutiva. Voa durante todo esse tempo ininterruptanente. Sobre as S. fuscata do Atol das Ro- cas, ainda nao sabemos o que fazem, para onde se dirigem @- pis a reprodigin, ete.. Este, também, é 0 caso de outras a ves marinhas que aqui reproduzem. Deixando o mar, nos vamos encontrar no sul/sudes, te do Brasil, uma cadeia de montanhas altas, proximas a cos- ta conhecida cono Serra do Mar. Dentro desta cadeia, da Man- tiqueira e do bordo leste da Serra Geral, ocorrem migracdes altitudinais similares dos movimentos dentro do sistema endi, no, se bem que em escala menor. Sabi&como o uma Platycichla 181 1 ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL 00 RIO DE JANEIRO flavipes e de-coleira Turdus albicollis so exemplos des— tes movimentos, levando as aves a sairem das regides altas ocupadas na primavera e veréo para os sopés, usados duran, te 0 invemo, Trabalhos como o que Elio Gouveia vem reali zando dentro do Macigo do Itatiaia, poderao demonstrar va— rios outros desses casos, espécies envolvidas, _ periodos, ete... Muitas vezes consideramos migragdes, sumule, wovl— mentos de grande amplitude geografica e, na migracao alti. tudinaly movimentagées de poucos quiléretros, tém’o mesmo significado biologico de migragdes de centenas de quiléme- tros. Wais atengdo deveria ser dada a estes movimentos, en volvendo psitacideos e beija-flores, além de outras aves. No interior da regio Nordeste, na faixa semi- 4rida, existem montanhas capazes de modificar, localmente, © clima. So muito mais baixas que as do Sudeste, mas a Chapada da Ibiapaba, Chapada do Araripe e Serra do Baturi ¥é, no Ceara; a Uhapada Diamantina, na Bahia e até mesmo a Serra Negra, pequena montanha de Pernambuco, so enclaves climaticos Wa vasta zona da caatinga. Nestes enclaves pre Soninem, em maior ou menor extensfo, a flora e a fauna com origens associadas & Floresta Anazénica ou 4 Mata Atlanti ca. Formam commidades relicto da antiga expanséo das ma- tas durante o periodo interglacial anterior. Periodicamen te, algumas espécies da caatinga penetran nesses canmida des. Na Reserva Biolégica de Serra Negra, trabalhos de cap tura e anilhamento, mostram a chegada de aves do sopé du- rante 0 perfodo ecco (Artur Galileu, cul. pess.). Neste pe queno relicto, com cerca de 160ha, de floresta natural existem indicios de una migraco altitudinal, provavelmen- te um pouco mais pronunciada nos outros enclaves climati - cos, de maior extensdo, Para finalizar, gostaria de repassar a grande Giferenga do conhecimento que temos entre a migracéio da re gido neartica, © pouco que sabemos de Paleartico e da re= 182 HI ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO gido andino-patagénica, algumas informagdes de migragdes den tro do Brasil e a quase auséncia de dados sobre as aves mais tropicais do pais. Estas aves devem ter padrées de movimen - tos associados aos Ses de chuva e seca predominantes nes tas zonas, mesno da Anazinia, Para catalogarmos estas migra- cfes © conpreendermos suas motivagées temos varios métodos, ndo exclusives entre si. 0 primeiro é a anotacdo sistenatica da presenca, treqéncia e auséneia de espécies ou redugdes drasticas de nimeros, como demonstrou Jacques Vielliard no seu trabalho sobre beija-flores. Fazer listas de campo com sistematica, mantida ao longo do tempo. Capturar e anilhar aves, anotando datos sobre sua mada, principalmente,das penas de véo. A mada & extremamente importante para compreen— Germos migragSes por ser um processo que demanda muita ener gia. € jmto com a propria migracéo e o acasalanento, un dos momentos de maior demanda @nergética da vida de uma ave. importante verificar as mudas de primaries, as remiges funda mentais para o voo. Ave com muda de primaria ndo ira mi- grar, devido 20 "buraco" aerodinfmico criado na asa pela au séncia temporaria da pena. Este buraco acarreta em uma maior frequéncia de batimentos alares, solicitando mais energia que 0 normal. para o deslocamento. Tanbém pela mda _podemos saber algo sobre 0 grupo etario sob estudo e a medida que ou tras especies sao analisadas, padrées especificos de muda po Gero surgir. Dentro do anilhamento, h& que se buscar sempre © aumento do nimero marcado para aumentar a chace de recupe ragdes. Tanbém com o mesmo intuito, algumas espécies podem receber anilhas coloridas; mas, atengéo, que isto deve ser feito coordenadanente para evitar-se duplicagao de cédigos ou uso de mareadores que indo afetar a vida Util da ave ani— Inada. Este método pode ser aplicado, por exemplo, para aves aquatica’ grandes ou aves de ambientes abertos. Aves de mata 162 II ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 44 seriam mais problenaticas em temos de observagio. Ainda dentro deste quadro basico, levantamento de informagdes sobre a migragao de aves silvestre pode ter desdobramentos inesperados, como, por exemplo, 0 estudo feito pelo Instituto Evandro Chagas, do Para, e Instituto Adolfo Tuttz, de S&o Panlo, sobre dispersao de viroses via aves migratorias. Informagdes detalhadas sobre aves migratérias tém, também, aplicacéio no campo da pesquisa sobre orienta G0, que o Ronald Ranvaud ira mencionar neste ENAV. AGRADECIMENTOS Cabe aqui agradecer aos organizadores do II ENAV pelo convite pata cata palestra, bem como agradecer 20 Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal pelo apoio que vem dando ao trabalho de anilhamento de aves sil vestres no,pais e, especificamente, pelo apoio financeiro para efetivagao da palestra, 184 MW ENCONTRO NACIONAL DE ANILHADORES DE AVES ‘UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO BIBLIOGRAFIA Antas, P.1.Z. 1983. Migration of Neartic Shorebirds (Chara dridae and Scolopacidae) in Brasil, flywys and their different seasonal use ~ Water Study Group Bulletin 39 52-56. , C. Yamashita & M.P. Valle, 1986a. First Record of Purple Martin (Progne subis) in Mato Grosso State, Brasil. Journal or Field ornithology 57 (2): 171-2. » E. Bucher, H. Mathews & S. Mendes Junior .1986b. The Migration Patterns of the Eared Dove in Northeastern Brazil. XIV Congressus Internacionalis Ornithologicus , Ottawa, junho 1986. Belton, W. 1985. » Birds of Rio Grande do Sul, Part 2. 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