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Artigo técnico

Utilização de redes
neurais na
precificação de
opções
Sander Oliveira de Freitas
Antônio Artur de Souza

Este trabalho tem por objetivo verificar se o modelo de


precificação baseado nas técnicas de redes neurais é capaz de
superar o método de Black e Scholes na determinação dos
preços das opções. A partir dos resultados obtidos, constatou-se
que isso ocorre nas opções: fora do preço (out-of-the-money),
no preço (at-the-money) e dentro do preço (in-the-money).

Introdução delo adequado à realidade do proble-


O modelo de Black e Scholes, B&S ma, a utilização de redes neurais tem
(1973), foi desenvolvido para pre- se apresentado como solução, uma vez
cificar qualquer derivativo dependen- que desenvolvem métodos matemáti-
te de ação sem dividendos. Os auto- cos intrínsecos a partir de dados
res obtiveram fórmulas exatas para os empíricos, por meio de processo de
preços de opções européias de com- aprendizagem.
pra e de venda, que passaram a ser A aplicação de redes neurais na
amplamente utilizadas. No entanto, precificação de opções e na previsão
alguns de seus pressupostos não são da volatilidade implícita despertou o
confirmados na prática – o que tem interesse de pesquisadores de diferen-
levado a diferenças significativas en- tes áreas. Os trabalhos analisados são
tre o valor da opção calculado por convergentes ao concluir que a técni-
esse modelo e o valor realmente veri- ca de redes neurais é importante fer-
ficado no mercado. ramenta para a compreensão do mer-
Uma premissa básica do B&S é cado de opções. A Tabela 1 relaciona
que a volatilidade do preço das ações alguns desses estudos.
é constante. Porém, Adler et al. (1999)
e La-nari (2000) constataram que esse Redes neurais
princípio não é observado no mercado De modo geral, uma rede neural
brasileiro, resultando em desvios é uma máquina construída para mo-
empíricos do método de Black e Scholes. delar a forma pela qual o cérebro rea-
Devido à elevada volatilidade, esses liza determinada tarefa ou função
desvios podem ser ainda mais significa- (Haykin, 1999). Pode ser implemen-
tivos do que os ocorridos em cenários tada por meio de componentes ele-
de menor volatilidade (Lanari, 2000). trônicos ou de software.
Em áreas do conhecimento em Como o cérebro humano, as re-
que não foi possível elaborar um mo- des neurais são constituídas de um

Resenha BM&F nº 150 63


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Tabela 1 – Trabalhos que aplicaram redes neurais ao mercado de opções


Autoria Descrição

Hutchinson et al. (1994) Utilizaram redes neurais na precificação e no hedge de opções sobre futuro de índice
S&P 500, entre 1987 e 1991.
Lajbcygier et al. (1996) Aplicando-se ao mercado australiano de derivativos, compararam o modelo de
Hutchinson et al. (1994) com um de quatro parâmetros de entrada: S/X, T, r e σ.
Garcia e Gençay (2000) Propuseram variação do modelo de Hutchinson et al. (1994), dividindo a função de
precificação em duas partes: uma controlada pela razão S/X e outra, por uma função
do tempo até o vencimento.
Malliaris e Salchenberger (1996) Desenvolveram um modelo de redes neurais back-propagation para estimar a
volatilidade futura, aplicando-o ao mercado de opções sobre índice S&P 100.
Yao et al. (2000) Construíram modelos de redes neurais back-propagation para precificar opções sobre
futuro de índice Nikkei 225, em negociação no Singapore Exchange-Derivatives
Trading (SGX-DT).
QI et al. (1996) Por meio de rede MLP, precificaram opções de compra sobre índice S&P 500,
negociadas entre dezembro de 1994 e janeiro de 1995.
Ormoneit (1999) Utilizou modelo de rede neural MLP na precificação e no hedge de opções de compra
sobre DAX, índice alemão de ações.
Burgess e Refenes (1999) Empregaram redes neurais para estimar a volatilidade implícita de opções sobre o
índice Ibex35, que contém as 35 ações mais líquidas negociadas na bolsa de valores
espanhola por meio do sistema Cats.

conjunto de unidades de processamento conectadas en- determinar sua organização estrutural: número de cama-
tre si, chamadas de neurônios artificiais ou, simplesmen- das da rede e de neurônios em cada camada, e tipo de
te, de neurônios. conexão entre os neurônios e a topologia da rede (Braga,
A Figura 1 representa um neurônio artificial, em que Ludermir e Carvalho, 2000).
X1, X2 e X3 correspondem aos valores de entrada e Y Normalmente, as redes neurais são estruturadas em
equivale ao valor de saída do neurônio. Observa-se que, camadas, contendo um ou mais neurônios. Todas elas pos-
após a multiplicação dos valores de entrada pelos respec- suem camada de entrada, que recebe os sinais de entra-
tivos pesos W1, W2 e W3, os produtos obtidos são soma- da, e camada de saída, que armazena o resultado final da
dos, resultando no potencial de ativação ν. Posteriormen- rede. As camadas intermediárias localizam-se entre estas
te, o valor de ν é submetido a uma função de ativação, duas.
cujo resultado Y é o valor de saída do neurônio. A função Quanto ao tipo de conexão, as redes neurais podem
de ativação tem como objetivo limitar, dentro de uma es- ser feedforward (acíclica) ou recorrente (cíclica). A recor-
cala de valores, a amplitude do sinal de saída. Portanto, rente diferencia-se da acíclica por possuir pelo menos
matematicamente, tem-se: um link de realimentação (feedback), pelo qual a saída
de algum neurônio de uma camada i é utilizada como
entrada para um neurônio de camada de ordem menor
n
 n 
ν = ∑ Wi × X i e Y = ϕ( ν) ⇒ Y = ϕ  ∑ Wi × X  (1) ou igual a i.
i =1  i =1  As redes neurais podem ser completamente conec-
tadas, quando todos os neurônios estão conectados en-
A função de ativação, representada por ϕ(.), é apli- tre si, ou fracamente conectadas, quando pelo menos dois
cada ao potencial de ativação ν para a produção do valor neurônios não apresentam ligações entre si. A Figura 2
de saída Y do neurônio artificial. Segundo Haykin (1999), ilustra uma rede neural acíclica completamente conectada.
a função mais utilizada na construção de redes neurais
artificiais é a sigmoidal. Um exemplo desta é a função Processo de aprendizagem
tangente hiperbólica: Para que as redes neurais sejam capazes de fornecer
soluções a determinado problema, é necessário que pas-
ϕ(ν ) = tanh( ν ) (2) sem por processo de aprendizagem – durante o qual os
parâmetros da rede são automaticamente ajustados a cada
valor de entrada fornecido às redes neurais. O ajuste do
Arquitetura de redes neurais peso atribuído a cada conexão é mecanismo mais utili-
Definir a arquitetura de uma rede neural consiste em zado.

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Figura 1 – Modelo de neurônio artificial Figura 2 – Modelo de rede neural

X1
X1
W1
X2
W2 ν X3
X2 Y Y
W3 X4
X3
X5

Três conceitos são importantes para compreender o to será interrompido. Isso evita que a rede neural seja trei-
processo de aprendizagem: nada excessivamente, resultando em over-fitting. A amos-
tra para avaliar se a rede é capaz de solucionar a questão
• algoritmo de treinamento ou algoritmo de aprendiza- é chamada de grupo de teste.
do: conjunto de procedimentos utilizados para ajustar
os parâmetros das redes neurais, de maneira que pos- Metodologia
sam realizar determinada função; Para construir o modelo de precificação de opções
• número de épocas: número de vezes que os padrões baseado em redes neurais e compará-lo ao de Black e
de treinamento serão apresentados às redes neurais, a Scholes, foram utilizados dados referentes às opções de
fim de que se faça a atualização dos pesos; compra européias sobre a ação Telebrás PN (preferencial
• taxa de aprendizado: controla a intensidade das altera- nominativa), negociada na Bolsa de Valores de São Paulo
ções dos pesos – uma alta taxa de aprendizado acelera (Bovespa) entre 1º de janeiro de 1995 e 20 de dezembro
o processo, mas pode reduzir a capacidade de genera- de 1999.
lização da rede neural. Ressalta-se que, a partir de 21 de setembro de 1998,
as informações estão relacionadas às opções sobre o reci-
Modelos de redes MLP bo representativo de carteira de ações Telebrás, instru-
As redes MLP (multilayer perceptron) são redes ací- mento criado pela Bovespa após a privatização dessa
clicas (feedforward) com uma ou mais camadas interme- empresa. As opções sobre ação Telebrás PN foram nego-
diárias, o que permite a solução de problemas mais com- ciadas até 19 de junho de 2000. No entanto, embora os
plexos. dados relativos a esse semestre estivessem disponíveis,
O algoritmo de treinamento mais popular aplicado às decidiu-se não utilizá-los por pertencerem a um período
redes MLP é o back-propagation – que segue o paradigma bastante atípico. Posteriormente, essa decisão foi justi-
de aprendizado supervisionado, no qual são fornecidos ficada pela constatação de erros de precificação significa-
valores de entrada às redes neurais com as respectivas tivos, quando se aplicou o modelo de Black e Scholes às
saídas desejadas. Por meio desse algoritmo, a aprendiza- opções desse período.
gem é realizada em duas etapas. Na primeira, a forward, Os dados foram organizados de acordo com as prin-
os valores de saída da rede são calculados a partir dos cipais variáveis que influenciam o preço das opções sobre
valores de entrada fornecidos. Na segunda, a backward, ações: o preço corrente da ação, o preço de exercício da
os pesos associados a cada conexão são atualizados con- opção, o tempo para o vencimento da opção, a volatilidade
forme as diferenças entre os valores de saída obtidos e do preço da ação e a taxa de juro livre de risco. Dessas
os valores desejados, da última camada à camada de variáveis somente a volatilidade não pôde ser diretamen-
entrada. te observada, precisando ser estimada. Para isso, utilizou-
Durante a fase de aprendizado das redes MLP, pode se como estimativa a volatilidade histórica, que foi calcu-
ocorrer overfitting; ou seja, a rede especializa-se nos pa- lada como sendo o desvio-padrão dos retornos diários
drões de treinamento e perde sua capacidade de genera- continuamente capitalizados da ação Telebrás PN, apura-
lização. Para contornar esse problema, pode ser utilizada, dos durante os 40 dias de negociação anteriores ao dia de
dentre outras, a técnica de early stopping – que consiste cálculo da volatilidade histórica.
em treinar a rede neural com determinada amostra (de- Destaca-se que, antes de 1998, a Bovespa ajustava as
nominada grupo de treinamento) e em validar seu de- séries de opções em decorrência de algum provento so-
sempenho periodicamente, empregando outra amostra mente no momento de exercício. Posteriormente, estas
(denominada grupo de validação). Se os dados obtidos eram ajustadas, no caso de dividendo e subscrição, no
com a validação atingirem nível satisfatório, o treinamen- momento em que o papel-objeto da opção passasse a ser

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negociado ex-direito. Portanto, para as séries de opções 1


negociadas antes desse ano, realizou-se o ajuste decor-  1 N  Cm − Ct 2  2

rente de dividendo e subscrição conforme as fórmulas EQRM =  ∑  i i


  (3)
 N i =1  Cmi  
empregadas pela Bovespa.
Como taxa livre de risco, fez-se uso da Taxa Média de
Depósitos Interfinanceiros de Um Dia, apurada pela Cen- onde:
tral de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Cm = preço de fechamento observado;
(Cetip). Essa taxa foi anualizada (252 dias) e transformada Ct = preço teórico obtido pelo modelo;
para o regime de capitalização contínua. N = número total de observações.
Para a apuração do tempo até o vencimento da op-
ção, foram considerados somente os dias de negociação, Além do EQRM, calculou-se o coeficiente de determi-
ignorando-se os dias em que a bolsa esteve fechada. Além nação R2 da regressão linear dos preços de mercado sobre
disso, assumiu-se um ano de 252 dias. Todos os dados os preços teóricos.
foram obtidos diretamente da Bovespa e do Economática. A Tabela 2 descreve os sete modelos de redes neurais
que obtiveram, com base no EQRM e no R2, os melhores
Análise de modelos de redes neurais desempenhos na precificação de cada amostra de opções:
Para a construção e aplicação das redes neurais, utili- fora do preço, no preço e dentro do preço.
zou-se a Neural Network Toolbox, do software Matlab, Na Tabela 3, verifica-se que a precificação das op-
um ambiente integrado para computação numérica e ci- ções a partir do modelo M4 obteve melhor resultado
entífica. Trata-se de um conjunto de funções do Matlab para a maioria das amostras de dados. Para os grupos
implementado para solucionar determinada classe de de opções no preço e dentro do preço, o M4 conse-
problema. guiu os menores EQRM (0,3970 e 0,1083, respectiva-
Foram desenvolvidos e comparados diferentes mode- mente) e os maiores R2 (0,9881 e 0,9744, respectiva-
los de redes MLP back-propagation, que se diferenciaram mente). No grupo de opções fora do preço, o
por número de neurônios e de camadas, algoritmos de desempenho de M4 (EQRM = 1,5599) ficou abaixo do
treinamento, funções de ativação, número de épocas, tipo dos outros dois modelos. No entanto, observa-se que
de normalização dos dados e taxa de aprendizado. A de- o coeficiente R2 apurado para M4 (0,8587) ficou bem
finição das variáveis de entrada e saída evoluiu a partir de acima dos coeficientes calculados para os demais
análises de sensibilidade que consistiam, principalmente, (0,2903 e 0,7445). Isso significa que, embora tenha
em avaliar as alterações de desempenho da rede resul- obtido um EQRM mais alto, o modelo M4 capturou
tantes da inclusão ou exclusão de uma ou mais variáveis. melhor o movimento dos preços de mercado.
Também foram realizadas análises de correlação entre as Considerando esses resultados, escolheu-se o mode-
variáveis de entrada e as de saída, com o intuito de selecio- lo M4 para validar a aplicação da técnica de redes neurais
nar as relações mais importantes para a compreensão do na precificação de opções. No próximo tópico, o modelo
problema em estudo. M4 será descrito em detalhes.
Na análise dos modelos, foram utilizados dados cor-
respondentes ao período de 2 de janeiro de 1995 a 28 de Modelo de rede neural
novembro de 1997, ordenados, seqüencialmente, pelo
Dentre os vários modelos construídos, selecionou-se
tempo. Esse conjunto foi dividido em três amostras, con-
o de rede MLP, com uma camada intermediária contendo
forme o grau de moneyness (M): opções fora do preço (M
quatro neurônios e uma camada de saída com apenas um
≤ 0,95), no preço (0,95 < M ≤ 1,05) e dentro do preço (M
neurônio. A camada de entrada é formada por cinco
> 1,05). Todos os modelos construídos foram treinados e
parâmetros: o grau de moneyness da opção (M), o tempo
testados com cada amostra de dados. Pretendeu-se, com
até o vencimento da opção em anos (T), o preço de exer-
isso, observar o desempenho de cada modelo na
cício da opção (X), o preço anterior da opção (canterior ) e o
precificação de opções fora do preço, no preço e dentro
preço anterior da ação-objeto (S anterior ). As conexões entre
do preço.
os neurônios são do tipo feedforward, ou acíclica, sendo
Em alguns deles, fez-se uso da técnica de early
a rede completamente conectada. A Figura 3 ilustra esse
stopping. Em decorrência disso, cada amostra foi dividida
modelo.
em três grupos: de treinamento (70% dos dados da amos-
O grau de moneyness refere-se à relação entre o pre-
tra), de validação (20% dos dados da amostra) e de teste
ço de exercício da opção e o preço a vista da ação:
(10% dos dados da amostra).
Foram comparados os preços teóricos das opções,
Moneyness = S/X × e –r(T) (4)
obtidos por meio de cada modelo; e os preços realmente
observados no mercado. A diferença entre os valores foi
capturada pelo cálculo do erro quadrático relativo médio onde:
(EQRM): S = preço da ação;

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Tabela 2 – Modelos de redes neurais com os melhores resultados, segundo EQRM e R 2


Camadas Função de Variáveis Função
intermediárias ativação na de de
Modelo Variáveis de Nº de Função de camada de saída treino Nº de Normalização
entrada neurônios ativação saída (Matlab) épocas dos dados

M1 T e S/X 3 Sigmoidal Sigmoidal c/X Trainbr 1.000 Intervalo [–1,1]


logística logística
M2 T, X e S 6 Tangente Rampa C Trainbr 1.000 Inexistente
hiperbólica
M3 r, T, S/X e volati- 4 Sigmoidal Sigmoidal c/X Trainbr 1.000 Inexistente
lidade histórica logística logística
M4 T, X, moneyness, 4 Tangente Rampa c/S Trainbr 1.000 Intervalo [–1,1]
canterior e Santerior hiperbólica
M5 T, X, S e 4 Tangente Linear c Trainlm 1.000 Intervalo [–1,1]
retorno diário hiperbólica
M6 T, X e S 3 Tangente Tangente c Trainbr 1.000 Intervalo [–1,1]
hiperbólica hiperbólica
M7 r, T, S/X e volati- 10 Sigmoidal Sigmoidal c/X Trainlm 1.000 Inexistente
lidade histórica logística logística

Nota: para outros parâmetros relacionados às funções de treinamento, foram utilizados os valores previamente definidos pelo Matlab. Para mais
detalhes, consultar Demuth e Beale (2000).

Tabela 3 – EQRM e R 2 associados aos modelos de redes neurais


Fora do preço No preço Dentro do preço

Modelo EQRM R2 Modelo EQRM R2 Modelo EQRM R2

M2 1,0540 0,2903 M4 0,3970 0,9881 M4 0,1083 0,9744


M3 1,4114 0,7445 M3 0,7222 0,9783 M7 0,1188 0,9607
M4 1,5599 0,8587 M2 0,7226 0,9735 M1 0,1383 0,9601
M5 1,9521 0,4458 M5 1,3018 0,9714 M2 0,1545 0,9632
M7 2,1190 0,6724 M6 1,3564 0,9736 M3 0,1609 0,9417

X = preço de exercício; A função de ativação dos neurônios da camada inter-


r = taxa de juro livre de risco; mediária é a função tangente hiperbólica. Na camada de
T = tempo até o vencimento da opção, em anos. saída, fez-se uso da função rampa, limitada entre –1 e 1.
O algoritmo de treinamento Levenberg-Marquardt,
O preço anterior da opção (canterior ) corresponde à co- utilizado para acelerar o tempo de treinamento, é uma
tação mais recente do preço de fechamento da opção variação do back-propagation. A função trainbr, dispo-
com vencimento e preço de exercício iguais aos daquela a nível no software Matlab, implementa o Levenberg-
ser precificada. O preço anterior da ação-objeto (S anterior ) Marquardt com regularização bayesiana, cujo objetivo
refere-se ao preço de fechamento da ação do dia de apu- é evitar o problema de overfitting (Foresee e Hagan,
ração de c anterior . Para contornar o problema de dados 1997).
faltosos, não foi incluído nas amostras o registro referente
à primeira cotação de cada série. Comparação entre os modelos
Para a saída da rede, empregou-se a relação entre o Para confrontar o desempenho do modelo baseado
preço de fechamento da opção (c) e o preço de fecha- em redes neurais com o método de Black e Scholes, fo-
mento da ação (S), dado por c/S. A utilização de relações ram comparados os preços teóricos das opções obtidos
em redes neurais reduz o número de variáveis, facilitando por meio de cada modelo e os preços realmente observa-
o processamento dos dados. Com o objetivo de tornar o dos no mercado. A diferença entre esses valores foi cap-
treinamento da rede mais eficiente, todos os dados foram turada pelo cálculo de R2, do erro quadrático relativo mé-
escalonados para o intervalo [–1,1]. dio (EQRM) e do erro quadrático médio (EQM):

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1 Figura 3 – Modelo de rede neural


1 N 2
2
EQM =  ∑ ( Cmi − Ct i )  (5) selecionado
N
 i=1 

onde: M
Cm = preço de fechamento observado;
T
Ct = preço teórico obtido pelo modelo;
N = número total de observações. X c/S
cAnterior
Enquanto o EQRM está centrado no erro percentual,
o EQM capta a diferença em valores absolutos, que, nesta s anterior
pesquisa, equivale a valores em reais (R$).
Na comparação, foram utilizados os dados perten-
centes ao período de 1º de dezembro de 1996 a 20 de
dezembro de 1999, ordenados, seqüencialmente, pelo
tempo. Dessa amostra, foram extraídos os dados do gru- grupo 1 (M ≤ 0,95), grupo 2 (0,95 < M ≤ 1,05) e grupo 3
po de treinamento da rede neural e os correspondentes (M > 1,05). Portanto, pode-se dizer que, para cada série
ao grupo de teste. de opções, foram construídas três redes neurais com a
mesma arquitetura (número de camadas, neurônios etc.),
• Grupo de teste mas treinadas com diferentes subgrupos de dados classi-
Para compor o grupo de teste, foram escolhidas sé- ficados conforme o grau de moneyness. Isso significa que
ries de opções dos anos de 1998 e 1999. Estas foram a precificação de uma opção com grau de moneyness
classificadas conforme o grau de moneyness (M): fora do menor ou igual a 0,95 foi realizada por meio da rede cujo
preço (M ≤ 0,95), no preço (0,95 < M ≤ 1,05) e dentro do treinamento foi feito a partir de dados de opções perten-
preço (M > 1,05). Analisou-se cada série de opções e cal- centes ao grupo 1.
culou-se o grau de moneyness de cada uma de suas co-
tações no período. Dessa forma, para cada vencimento, Resultados e análise
selecionou-se a série que possuía mais de 29 cotações Para cada série de opções (grupo de teste), foram
e que mais tempo havia permanecido em um dos gru- comparados os preços teóricos das opções obtidos por
pos de moneyness: fora do preço, no preço ou dentro meio dos dois modelos e os preços realmente observados
do preço. no mercado. As Tabelas 5, 6 e 7 relacionam os EQRM,
A Tabela 4 relaciona essas séries, informando o ven- EQM e R2 resultantes da precificação das séries de opções
cimento, o preço de exercício e seu grau de pertencentes, respectivamente, aos grupos de opções no
representatividade (GR) no grupo de moneyness ao qual preço, fora do preço e dentro do preço.
foi relacionada. Por exemplo, verifica-se que 94% das Destaca-se que, na Tabela 5, estão os valores de EQRM,
cotações da série de opções com vencimento em 18 de EQM e R2 apurados para as séries de opções que estive-
outubro de 1999 e preço de exercício de R$150,00 per- ram a maior parte do tempo no preço. Constata-se o equi-
maneceram no preço. líbrio entre o desempenho dos dois modelos com base no
EQRM, já que cada um obteve melhor resultado em 50%
• Grupos de treinamento das séries. No entanto, esse equilíbrio não prevalece quan-
As amostras para treinamento foram formadas com do se analisam os resultados a partir do EQM e de R2. Para
dados relativos aos 12 meses anteriores ao mês da primei- nove das 12 séries de opções preci-ficadas, a aplicação do
ra cotação presente no grupo de dados da série a ser ana- modelo de redes neurais resultou em menores EQM. Além
lisada. Por exemplo, para precificar a série de opções com disso, a comparação com base em R2 demonstra a superi-
vencimento em 18 de fevereiro de 1998 e preço de exer- oridade desse método na precificação de 67% das séries
cício de R$130,00, a rede neural foi treinada com dados de opções. Portanto, esse modelo capta melhor o movi-
das cotações diárias das opções e das ações Telebrás PN mento dos preços das opções no preço e com erros abso-
de dezembro de 1996 a novembro de 1997, já que a co- lutos menores.
tação mais antiga, pertencente ao grupo de dados dessa A precificação da série de opções com vencimento em
série, é de 4 de dezembro de 1997. Para as demais, se- 21 de dezembro de 1998 e preço de exercício de R$100,00
guiu-se o mesmo procedimento. apresentou o maior EQRM quando se utilizou o modelo de
Procurando aprimorar o processo de aprendizagem, redes neurais. Na Tabela 5, percebe-se grande diferença
cada grupo de treinamento foi subdividido em três entre o EQRM da precificação dessa série pelo modelo de
subgrupos, de acordo com o grau de moneyness (M) : redes neurais (3,2723) e o EQRM da precificação via Black

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Tabela 4 – Séries selecionadas para avaliar o modelo baseado em redes neurais


Fora do preço No preço Dentro do preço

Vencimento Preço de GR Vencimento Preço de GR Vencimento Preço de GR


exercício (R$) (%) exercício (R$) (%) exercício (R$) (%)

18/2/1998 150 100 18/2/1998 130 65 18/2/1998 110 100


20/4/1998 170 100 20/4/1998 150 86,7 20/4/1998 120 100
15/6/1998 170 100 15/6/1998 140 44,8 15/6/1998 110 100
17/8/1998 160 100 17/8/1998 130 50 17/8/1998 90 100
19/10/1998 130 100 19/10/1998 90 39,5 19/10/1998 70 86,1
21/12/1998 130 98 21/12/1998 100 39,6 21/12/1998 80 100
8/2/1999 130 83 8/2/1999 100 33 8/2/1999 90 79
19/4/1999 170 100 19/4/1999 140 71,4 19/4/1999 120 100
21/6/1999 190 100 21/6/1999 160 51,1 21/6/1999 120 100
16/8/1999 180 100 16/8/1999 160 62,79 16/8/1999 120 100
18/10/1999 170 100 18/10/1999 150 94 18/10/1999 130 100
20/12/1999 200 73,8 20/12/1999 180 38,7 20/12/1999 130 100

Nota: GR = grau de representatividade.

Tabela 5 – EQRM, EQM e R 2 resultantes da precificação das séries


Vencimento Preço de EQRM EQM R2
exercício (R$) RN B&S RN B&S RN B&S

18/2/1998 130 0,1169 0,5451 0,88 4,22 0,9311 0,8800


20/4/1998 150 0,2220 0,2552 0,49 0,95 0,9694 0,8293
15/6/1998 140 0,4391 0,3241 1,48 1,55 0,9195 0,9287
17/8/1998 130 0,6802 0,3317 0,67 1,55 0,9744 0,9756
19/10/1998 90 2,6410 0,7599 2,43 1,78 0,9445 0,9318
21/12/1998 100 3,2723 0,8657 1,78 5,33 0,9683 0,6409
8/2/1999 100 0,1454 0,2248 1,43 1,39 0,9781 0,9858
19/4/1999 140 0,1798 0,8710 1,87 8,53 0,8240 0,0145
21/6/1999 160 0,1768 0,2154 1,15 1,28 0,9685 0,9651
16/8/1999 160 2,8500 0,5572 0,44 0,80 0,9920 0,9863
18/10/1999 150 0,7169 0,3175 0,54 1,85 0,9589 0,8245
20/12/1999 180 0,1683 0,2888 0,96 0,55 0,9927 0,9931

Nota: RN = redes neurais; B&S = Black e Scholes.

e Scholes (0,8687). No entanto, o EQM apurado para o o comportamento do mercado. Nos últimos cinco dias
modelo de redes neurais (1,78) é significativamente menor de cotação, enquanto os resultados de Black e Scholes
do que o EQM calculado para o de Black e Scholes (5,33). continuam captando os movimentos dos preços de mer-
A Figura 4 descreve o movimento dos preços previs- cado, ocorre queda de desempenho do modelo de redes
tos pelo modelo de redes neurais (crn) e dos preços obti- neurais.
dos pelo modelo de Black e Scholes (cB&S) em comparação Ao longo de todo o período, pode-se verificar que,
com os preços de mercado (cm) apurados para a série com durante a maior parte, o modelo que demonstra preços
vencimento em 21 de dezembro de 1998 e preço de exer- teóricos mais próximos aos preços de mercado é o de re-
cício igual a R$100,00. des neurais, o que explicaria o fato de este possuir um
Analisando-se a Figura 4, observa-se, durante os 19 EQM (1,78) bem inferior ao calculado para o método de
primeiros dias de cotação, grande diferença entre os pre- Black e Scholes (5,33). Embora, pela própria visualização
ços. Os preços previstos pelas redes neurais são os que gráfica e comparação do EQM, possa ser constatado o
mais se aproximam dos preços de mercado. A partir do melhor desempenho do modelo de redes neurais, seu
20º dia, ambos os modelos passam a apresentar resulta- EQRM (3,2723) é bastante superior ao que foi apurado
dos semelhantes entre si, captando com boa qualidade para o de Black e Scholes (0,8657). Isso porque os maio-

Resenha BM&F nº 150 69


Artigo técnico

Figura 4 – Movimento de preços previsto pelos Em contrapartida, no 46º dia de co-


tação, o preço de mercado da opção
modelos e o de mercado
e o preço teórico obtido pelo mode-
lo de redes neurais foram, respecti-
vamente, R$0,05 e R$1,52. A dife-
rença entre os preços resultou em
erro absoluto de R$1,47, bem abai-
xo do verificado na situação anteri-
or. Todavia, o erro relativo apurado é
muito superior, atingindo 29,4. Nes-
te trabalho, esse desvio foi denomi-
nado erro extremo em baixo valor.
Para as séries com vencimento em
19 de outubro de 1998 e 16 de agos-
to de 1999, observou-se também o
efeito do erro extremo em baixo
valor.
Na Tabela 6, pode-se observar
que o modelo de redes neurais obte-
ve, para a maior parte das séries de
opções fora do preço, resultados me-
lhores do que os de Black e Scholes.
Constata-se, ainda, que teve melhor
res erros de precificação do modelo de redes neurais ocor- desempenho (menor EQRM) em oito das 12 séries
reram em opções com preços muito baixos, o que resul- precificadas. Para as séries com vencimento em 15 de ju-
tou em elevados erros percentuais. Por outro lado, os er- nho de1998, 19 de outubro de 1998 e 16 de agosto de
ros do método de Black e Scholes, embora bem superiores, 1999, embora tenha implicado maior EQRM, garantiu me-
concentraram-se nas opções de maior valor, reduzindo, nor EQM e maior R2. Isso significa dizer que, mesmo para
comparativamente, o erro percentual. Por exemplo, no essas séries, o modelo de redes neurais explicou melhor os
sexto dia de cotação, o preço de fechamento da opção movimentos de preços do mercado (maior R2) e calculou
foi R$8,80 e o de Black e Scholes, R$19,25, resultando preços mais próximos aos verificados no mercado (menor
em erro absoluto de R$10,45 e erro relativo de 1,1875. EQM).

Tabela 6 – EQRM, EQM e R 2 da precificação das séries de opções do


grupo fora do preço
Vencimento Preço de EQRM EQM R2
exercício RN B&S RN B&S RN B&S

18/2/1998 150 0,6691 2,1617 0,33 4,42 0,9406 0,9324


20/4/1998 170 0,4459 0,7572 0,18 0,34 0,9495 0,7614
15/6/1998 170 1,8164 0,7140 0,18 0,60 0,9736 0,8572
17/8/1998 160 1,6114 3,1442 0,10 1,52 0,8666 0,8471
19/10/1998 130 3,7654 1,2001 0,30 0,51 0,9270 0,7960
21/12/1998 130 0,7796 7,7720 0,35 4,17 0,7323 0,2882
8/2/1999 130 0,3715 1,8219 0,80 2,22 0,7617 0,8883
19/4/1999 170 0,5296 5,0886 0,26 7,71 0,9429 0,8618
21/6/1999 190 0,5412 0,7333 0,21 0,40 0,9522 0,8703
16/8/1999 180 0,9700 0,6430 0,14 0,16 0,9869 0,9870
18/10/1999 170 0,4091 0,6623 0,15 0,38 0,9641 0,7829
20/12/1999 200 0,5031 0,4668 0,50 0,24 0,8489 0,9533

Nota: RN = Redes Neurais. B&S = Black e Scholes.

70 Resenha BM&F nº 150


Artigo técnico

Figura 5 – Erro quadrático relativo modelo de redes neurais foi decor-


rência, predominantemente, do erro
de precificação ocorrido no 44º dia
de cotação analisado (15 de outubro
de 1998).
Analisando-se os dados da Ta-
bela 7, em comparação aos das Ta-
belas 5 e 6, conclui-se que o me-
lhor desempenho dos modelos, com
base no EQRM, ocorreu na preci-
ficação das séries de opções que
permaneceram a maior parte do
tempo dentro do preço. O modelo
de redes neurais atingiu os melho-
res resultados, superando os de
Black e Scholes na precificação de
oito das 12 séries de opções, o que
equivale a 67%. Se os modelos fo-
rem comparados a partir do EQM
ou do R2, o número subirá para dez,
correspondendo a 83,33%.
A série com vencimento em 19 de outubro de 1998 e A Figura 6 traz os preços de mercado (cm) da série
preço de exercício de R$130,00, para a qual o modelo de com vencimento em 20 de abril de 1998 e preço de exer-
redes neurais apresentou o pior desempenho com base cício de R$120,00 e os preços previstos pelo modelo de
no EQRM (3,7654), caracterizou-se pela ocorrência de erro redes neurais (crn) e de Black e Scholes (cB&S).
extremo em baixo valor. Observa-se que, em relação ao A precificação dessa série, por meio do modelo de
EQM (0,30) e ao R2 (0,9270), a mesma série demonstrou redes neurais, resultou no menor EQRM verificado entre
desempenho significativamente superior ao do modelo de as séries do grupo de opções dentro do preço.
Black e Scholes, cujos EQM e R2 foram, respectivamente, Para a série de opção com vencimento em 20 de
0,51 e 0,7960. abril de 1998 e preço de exercício de R$120,00, ocorre
A Figura 5, que mostra os erros relativos para cada um fato interessante: o R2 calculado a partir da regres-
cotação, explicita o efeito do erro extremo em baixo valor. são dos preços teóricos do modelo de redes neurais so-
Constata-se que a distorção do EQRM apurado pelo bre os preços do modelo de Black e Scholes (0,9787) é
maior do que o R2 obtido pela re-
Figura 6 – Comparação entre os preços previstos pelo gressão dos preços de mercado so-
bre os preços do modelo de redes
modelo e o de mercado
neurais (0,9693) e sobre os preços
do modelo de Black e Scholes
(0,9531). Isso explica os movimen-
tos dos preços teóricos previstos
entre o 19º e o 34º dia de cotação.
Observa-se que, nesse período, os
preços calculados pelo modelo de
redes neurais estão mais
correlacionados com os preços ob-
tidos com o modelo de Black e
Scholes do que com os preços de
mercado.
Na Tabela 8, encontra-se o valor
percentual do número de vezes em
que os modelos acertaram o movi-
mento de preços de cada série de
opções. Por exemplo, o modelo de
redes neurais previu corretamente

Resenha BM&F nº 150 71


Artigo técnico

Tabela 7 – EQRM, EQM e R 2 da precificação das séries de opções dentro do preço


Vencimento Preço de EQRM EQM R2
exercício (R$) RN B&S RN B&S RN B&S

18/2/1998 110 0,0480 0,1493 0,82 2,64 0,9690 0,8444


20/4/1998 120 0,0306 0,0378 0,83 0,88 0,9603 0,9531
15/6/1998 110 0,0834 0,0963 1,67 2,00 0,9612 0,9520
17/8/1998 90 0,0327 0,0356 1,35 1,51 0,9706 0,9578
19/10/1998 70 0,1680 0,1202 2,18 1,91 0,9685 0,9460
21/12/1998 80 0,1178 0,2643 1,89 4,35 0,9708 0,8323
8/2/1999 90 0,0793 0,1545 1,47 1,49 0,9868 0,9916
19/4/1999 120 0,0825 0,0570 1,90 6,81 0,9064 0,0781
21/6/1999 120 0,0603 0,1072 2,16 2,23 0,9138 0,9081
16/8/1999 120 0,0645 0,3165 1,58 1,64 0,9700 0,9678
18/10/1999 130 0,0675 0,0642 1,16 1,85 0,9248 0,8748
20/12/1999 130 0,0782 0,0453 4,88 1,45 0,9778 0,9957

Nota: RN = redes neurais; B&S = Black e Scholes.

Tabela 8 – Acertos dos modelos na determinação do movimento do


preço das opções (em %)
Fora do preço No preço Dentro do preço
Vencimento RN B&S RN B&S RN B&S

18/2/1998 77,55 48,98 85,71 59,18 95,45 86,36


20/4/1998 64,71 64,71 74,42 74,42 80,49 82,93
15/6/1998 62,30 57,38 86,15 87,69 86,67 86,67
17/8/1998 72,50 40,00 86,96 78,26 85,37 85,37
19/10/1998 81,82 72,73 60,98 80,49 85,29 91,18
21/12/1998 75,00 52,27 75,56 71,74 83,72 76,74
8/2/1999 57,14 57,14 83,87 87,10 77,42 80,65
19/4/1999 63,64 50,00 72,34 68,09 73,68 71,05
21/6/1999 75,61 73,17 80,39 84,31 74,00 74,00
16/8/1999 80,56 75,00 75,61 68,29 90,32 90,32
18/10/1999 72,09 60,47 87,50 66,67 97,78 77,78
20/12/1999 63,16 84,21 83,33 85,71 84,21 78,95

Nota: RN = redes neurais; B&S = Black e Scholes.

95,45% dos movimentos de subida ou queda do preço


Conclusão
da opção com vencimento em 18 de fevereiro de 1998 e
A partir dos resultados deste trabalho, foi constatado
pertencente ao grupo de série de opções dentro do pre-
que o modelo baseado em redes neurais superou o de
ço. Percebe-se equilíbrio entre os modelos quando aplica-
Black e Scholes na precificação de opções fora do preço,
dos aos grupos de série de opções no preço e dentro do
no preço e dentro do preço, tendo melhor desempenho
preço. Para o grupo fora do preço, o modelo de redes
quando aplicado às séries que permaneceram mais tem-
neurais conseguiu, na maioria das vezes (75%), percentual
po dentro do preço. Para as séries mais no preço e fora do
de acertos maior do que o obtido por Black e Scholes.
preço, o desempenho das redes neurais, embora superior
Verifica-se que o percentual de acertos obtido pe-
ao do método de Black e Scholes, foi inferior ao observa-
los modelos de redes neurais e B&S variou, respectiva-
do para as séries mais dentro do preço.
mente, de 57,14 a 97,78% e de 40,0 a 91,18%. O
A superioridade do modelo baseado em redes neu-
modelo de redes neurais não só atingiu percentual máxi-
rais não ocorreu apenas com base nos erros absolutos
mo de acertos maior, como também obteve percentual
e relativos e no coeficiente de determinação, mas tam-
mínimo bem acima do limite mínimo observado para o
bém na determinação do movimento de preços das
modelo B&S.

72 Resenha BM&F nº 150


Artigo técnico

opções mais fora do preço. Para as opções mais no mathworks.com; acesso em 12/11/2001.
preço e dentro do preço, verificou-se certo equilíbrio
FORESEE, F. D., HAGAN, M. T. Gauss-Newton Appro-
entre os dois modelos.
ximation to Bayesian Regularization. Proceedings of
A precificação de algumas opções, utilizando o mo-
the 1997 International Joint Conference on Neural
delo de redes neurais, resultou em altos EQRM. Esse fato
ocorreu devido à concentração de erros absolutos maio- Networks, pp. 1930–1935, 1997.
res nas cotações de preços mais baixos, o que elevou, con- GARCIA, R., GENÇAY, R. Pricing and Hedging Derivative
sideravelmente, os erros relativos. Atribuiu-se a esses des- Securities with Neural Networks and Homogeneity
vios a denominação de erro extremo em baixo valor – que Hint. Journal of Econometrics, v. 94, pp. 93–115, 2000.
pode estar associado à dificuldade de previsão em perío-
dos próximos ao vencimento da opção. Nesse caso, o com- HAYKIN, S. Neural Networks: A Comprehensive Foun-
portamento menos típico, aliado ao número reduzido de dation. EUA: Prentice Hall, 1999.
ocorrências, dificultaria a modelagem por meio das redes HUTCHINSON, J. M, LO, A.W., POGGIO, T. A
neurais. Nonparametric Approach To Pricing and Hedging
Um fato interessante observado, durante a análise das Derivative Securities Via Learning Networks. Journal
séries mais dentro do preço, foi a obtenção de um coefici- of Finance, vol. 49, n. 3, pp. 851–889, July 1994.
ente de determinação R2 maior entre os preços obtidos
pelos modelos do que entre os preços teóricos de cada LAJBCYGIER, P., BOEK, C., PALANISWAMI, M., FLITMAN,
modelo e os de mercado. Isso significa que as redes neurais A. Neural Network Pricing of All Ordinaries SPI
replicaram melhor os resultados do modelo de Black e Options on Futures. In: REFENES et al. Neural
Scholes do que o comportamento real do mercado. Esse Networks in Financial Engineering. Proceedings of
fato, embora não-conclusivo, pode indicar que o modelo 3rd International Conference On neural Networks in
de Black e Scholes capta, corretamente, o modo como the Capital Markets (Oct 1995), pp. 64–77. London:
estão relacionadas entre si algumas das variáveis que in- World Scientific, 1996.
fluenciam os preços das opções. No entanto, em ambos
LANARI, C. S., SOUZA, A. A. e DUQUE, J. C. Desvios em
os modelos, falta contemplar outras variáveis, ou carac-
terísticas, presentes no mercado. Relação ao Modelo de Black e Scholes: Estudos Re-
lacionados à Volatilidade dos Ativos Subjacentes Às
Bibliografia Opções. Anais, XIX ENEGEP. Rio de Janeiro, 1999.

ADLER, A. S., FARIA, H. B., SANTOS, L. F.; LEMGRUBER, E. MALLIARIS, M., SALCHENBERGER, L. Using Neural
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Sander Oliveira de Freitas é mestre em Administração pela UFMG. E-mail: sander@face.ufmg.br.


Antônio Artur de Souza é professor de Finanças da Universidade Estatual de Maringá. E-mail: aa_de_souza@uol.com.br.

Resenha BM&F nº 150 73

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