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WILLIAMS, Tennessee. margem da vida. Traduzida de The Glass Menagerie.

Rio de
Janeiro: Bloch Editores S.A., 2edio, 1968. pp. 190-191.
TOM
No fui para a Lua. Fui para muito mais longe... pois o tempo a distncia maior que
existe entre dois lugares...
Pouco depois daquela noite, fui despedido por escrever poemas na tampa de uma
caixa de sapatos.
Parti de So Lus. Desci os degraus desta escada de incndio pela ltima vez e segui,
da em diante, os passos de meu pai, tentando encontrar no movimento, na mudana,
o que eu perdera no espao... Viajei bastante por esse mundo afora. As cidades
giraram em torno de mim como folhas mortas caindo, folhas de cores deslumbrantes
mas cortadas de seus ramos.
Muitas vezes eu quis me deter, mas era impelido para diante por alguma coisa.
Era algo que me colhia sempre de surpresa, de repente. Talvez fosse uma melodia
conhecida, talvez fosse apenas um pedao de vidro transparente...
Ou, s vezes, estou andando por uma rua, noite, numa cidade desconhecida, antes
de encontrar amigos ocasionais. Passo pela vitrina iluminada de uma loja de
perfumes. A vitrina est cheia de pedacinhos de vidro colorido, garrafas pequenas,
transparentes, de cores delicadas, fragmentos de um arco-ris destrudo...
Ento, repentinamente, minha irm toca meu ombro. Volto-me e a olho fundo nos
olhos...
Oh, Laura, Laura! Tentei tanto deix-la para trs, no passado, mas eu lhe tenho sido
mais fiel do que pretendia!
Tiro um cigarro do mao, atravesso a rua, vou ao cinema ou entro num bar, bebo
qualquer coisa, falo com o estranho que me est mais prximo - fao qualquer coisa
para apagar as velas que voc acendeu!
(LAURA curva-se sobre as velas)
pois hoje em dia o relmpago que ilumina o mundo! Sopre suas velas, Laura, e
agora... adeus!

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