minha dor um anjo ferido

de morte

voc um pequeno deus verde

& rigoroso

horrios de morte cidades cemitrios

a morte a ordem do dia

a noite vem raptar o que

sobra de um soluo"

(Roberto Piva Coxas)

A Razo o instrumento de uma vontade de vingana contra a realidade sensvel, um
meio de a destituir de qualquer valor, de desprezar tudo o que na realidade difcil de
dominar ou controlar: o corpo, os sentimentos, as paixes, o carcter imprevisvel do
dever, no qual a vida consiste; coisas to incontrolveis quanto as imagens reproduzidas
no zine "Para o Amor", que foi lanado primeiramente em preto e branco durante a
primeira feira plana com fotos de um rio fotografado durante uma visita Cordilheira
dos Andes; depois em 2014 rolou uma nova tiragem, s que dessa vez colorida, com
cores que expressavam bem o trabalho do artista plstico Eduardo Sancinetti. Na capa,
uma foto feita em Via del Mar no Chile onde uma revoada de pssaros danava
enquanto o sol se punha. A primeira pgina j entra com uma foto da Cordilheira dos
Andes em sua magnitude solitria, depois o zine segue criando relaes entre as fotos
desses lugares dos quais o Eduardo passou com os desenhos da srie. Os desenhos
falam de uma possvel relao que dois corpos podem criar quando juntos, criando
relaes de prazer e dor, confundindo essas relaes, no sabendo quando por exemplo
um afago pode na verdade trazer dor mas que ao mesmo tempo pode tambm ser prazer,
tentando entender como esse tipo de relao se desenvolve. As cores e os traos passam
a ser afetos e afeces que os corpos trocam, por vezes veneno por vezes vontade de
potncia. Os corpos se unem nessa ligao assim como o pico da montanha parece
revelar uma proximidade com algo maior. As cores tambm camuflam o sarcasmo
quando se fala da unio de dois corpos. Enquanto a srie passa, as paisagens
fotogrficas vo se alterando e comeam a aparecer fotos com mais plantas, duas feitas
durante uma estadia em Ubatuba (litoral de So Paulo) no meio da mata e um plano
aberto em Itamambuca (em Ubatuba). O desenho que fecha a srie mostra um corpo,
agora sozinho olhando para cima e fincando uma faca no peito, deixando em dvida a
existncia desse outro que antes habitava os primeiros desenhos e ao mesmo tempo
falando sobre isolamento. Ao lado uma foto de Piraju - interior de So Paulo - cidade da
qual vrios amigos do Eduardo nasceram e que, de certa forma, o nico momento de
tranquilidade do trabalho. Solitria, como a dor apresentada.