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OFICINA DE FORMAÇÃO: Práticas e Modelos de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares

28 de Outubro a 28 de Dezembro de 2009

O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares: metodologias de operacionalização (conclusão)

Análise e Comentário Crítico a Relatórios de Avaliação Externa das Escolas – Referências à Biblioteca Escolar

Adamastor, BE Pedro da Fonseca

Formanda: Isabel Margarida Teixeira Dias de Bessa Garcia


“A actividade de Avaliação enquadra-se no âmbito da avaliação organizacional e pretende assumir-se como um contributo
relevante para o desenvolvimento das escolas e para a melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos numa perspectiva
reflexiva e de aperfeiçoamento contínuo”
(ME, Portal da Educação, Inspecção Geral da Educação)

1. Enquadramento:

Partindo do enquadramento que a Inspecção Geral de Educação faz quanto ao processo de avaliação das escolas, do seu quadro de referência para avaliação de escolas e
agrupamentos e dos pressupostos subjacentes ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, nos seus quatro domínios, procurámos:

- conhecer os resultados da avaliação externa de uma amostra de escolas com bibliotecas escolares integradas na RBE;

- identificar as referências à BE e os campos de análise/domínios recorrentemente focalizados;

- (re)conhecer o grau de institucionalização das BE na escola/agrupamento, considerando os pressupostos do Modelo de Auto-Avaliação.

2. Amostra seleccionada

- 12 relatórios de escolas da área de intervenção da DREN, DREC e DRELVT, alguns aleatoriamente seleccionados, outros por ligações de cariz pessoal às escolas ou
simplesmente aos territórios, elaborados pela IGE em 2006/07 e 2007/08.

Os doze relatórios analisados reportam-se a escolas de tipologia agrupada, com uma ou mais bibliotecas integradas na RBE, e não agrupada. Tratam-se de escolas
implantadas em áreas geográficas diferenciadas, com características específicas e, em alguns casos, por incluírem agrupamentos com bibliotecas do 1º ciclo.

Nos dois quadros seguintes, apresentam-se os dados recolhidos, quer no que diz respeito aos resultados das escolas em análise, quer, no seu âmago, a referências
específicas à Biblioteca Escolar:
Quadro 1 – Resultados obtidos pelas diferentes escolas

Prestação do Organização e Capacidade de


Concelho Escola Ano Resultados serviço educativo gestão escolar Liderança auto-regulação e
melhoria do Ag.

Terras de Bouro AE de Rio Caldo 2007/08 Bom Bom Bom Suficiente Suficiente

Paredes ES/3 Daniel Faria 2006/07 Suficiente Suficiente Bom Bom Suficiente
- Baltar
AE Campo de 2007/08 Bom Bom Muito Bom Muito Bom Bom
Besteiros
Tondela
AE do Caramulo 2007/08 Suficiente Suficiente Bom Bom Suficiente

Santa Comba ES/3 de Santa 2007/08 Suficiente Bom Bom Bom Suficiente
Dão Comba Dão

AE Cabanas de 2007/08 Suficiente Suficiente Bom Bom Suficiente


Carregal do Sal Viriato
ES/3 de Carregal 2007/08 Bom Bom Bom Bom Suficiente
do Sal
Tábua AE de Escolas de 2007/08 Insuficiente Suficiente Bom Suficiente Suficiente
Midões
ES de José Falcão 2007/08 Bom Bom Bom Bom Suficiente
Coimbra
ES/3 de D. Dinis 2007/08 Suficiente Suficiente Bom Bom Bom
AE de Golegã,
Golegã Azinhaga e 2007/08 Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente Suficiente
Pombalinho

Almada AE Elias Garcia 2007/08 Bom Bom Bom Bom Suficiente


Quadro 2 – Referências à Biblioteca Escolar nos relatórios analisados

Prestação do Organização e Capacidade de


Concelho Escola Ano Resultados serviço educativo gestão escolar Liderança auto-regulação e
melhoria do Ag.

Terras de Bouro AE de Rio Caldo 2007/08 2.2 2.2 4.3 (?) 3.3
4.1
4.3
Paredes
ES/3 Daniel Faria 2006/07 2.2 (?) 1.2 4.2 (?)
– Baltar 1.6 (?) 4.3 (?)
AE Campo de 2007/08
Besteiros 3.3 4.3
Tondela

AE do Caramulo 2007/08 1.4 2.2 3.2 4.2


3.3 4.3
Santa Comba ES/3 de Santa 2007/08
Dão Comba Dão 3.2 4.3

AE Cabanas de 2007/08 3.3


Carregal do Sal Viriato
ES/3 de Carregal 2007/08 2.2 3.3 4.3
do Sal
Tábua AE de Escolas de 2007/08 3.2 4.3
Midões 3.3

Coimbra ES de José Falcão 2007/08 3.3 4.3


5
ES/3 de D. Dinis 2007/08 3.3

Golegã AE de Golegã, 2007/08 6.1 1.4 2.1 (?)


Azinhaga e 3.2 2.1
Pombalinho 2.1 2.2
2.2 (?) 3.1
1.2 (?) 3.2
5.1
5.2
6.1
6.2 (?)

Almada AE Elias Garcia 2007/08 4.1 (?)

3. Análise da situação:

No que concerne à análise global constante no Quadro 1 – Resultados obtidos pelas diferentes escolas, sobressai a mediania das escolas observadas, sendo que
apenas uma atingiu Muito Bom em dois domínios e apenas duas atingiram Bom na capacidade de auto-regulação. Constata-se, deste modo, a inexistência de uma prática
sistematizada de auto-avaliação no seio das escolas, o que justifica parcialmente a grande ausência de referências à Biblioteca Escolar nos relatórios. Contudo, temos por
certo que essa não será a única justificação, ainda que muito importante.
Numa perspectiva de abordagem global, os relatórios primam mais pela ausência de menções precisas à Biblioteca Escolar, no que respeita às funções educativas
que possam/devam desempenhar no cumprimento das metas da própria escola/agrupamento, do que pela exposição clara e límpida dos possíveis graus de integração e/ou
interacção com as restantes estruturas da escola. Existem, porém, excepções. Delas também daremos conta.

Salienta-se também que, curiosamente, e apesar de estarem em análise sete relatórios da IGE relativos a Agrupamentos de Escolas, apenas três, no Ponto II.
Caracterização da Escola/Agrupament, referenciam a existência de biblioteca escolar e outras bibliotecas, mormente em escolas do 1º ciclo. Situação demonstrativa de
uma falha na observação geral das condições e características dos recursos existentes. Não querendo imputar falhas, temos consciência que tal ausência se deverá também
em grande medida às próprias escolas/agrupamentos, cuja preocupação primeira não seja demonstrar as mais valias que disponibilizam no acesso a recursos de
informação e de como as mesmas podem contribuir para elevar os níveis de literacia da sua comunidade discente. Ainda assim, talvez não seja de excluir liminarmente,
em exercício meramente hipotético, o facto de a própria IGE poder estar pouco sensibilizada para a existência de bibliotecas cuja dimensão seja muito mais do que a de
simples espaços físicos repositórios de livros e computadores.

Analisando com alguma acuidade o Quadro 2 – Referências à Biblioteca Escolar nos relatórios analisados, constatamos que:
- no que respeita aos Resultados, a biblioteca apenas aparece referida em duas das doze escolas, e apenas uma com a identificação de uma actividade em que os alunos
que mais participam são reconhecidos anualmente. Tal ausência, neste domínio, às possíveis actividades desenvolvidas em articulação, mesmo que se desenvolvam
esporadicamente em algumas escolas, denota que de um ponto de vista efectivo a BE ainda não “provou” o impacto que pode ter nas aprendizagens dos alunos, pelo que
não lhe é reconhecido esse “mérito”;
- relativamente ao Serviço Educativo, apenas quatro das doze escolas mencionam a importância da biblioteca no apoio aos alunos (os pontos de interrogação, da nossa
responsabilidade, constituem-se como possíveis alusões à biblioteca escolar, resultantes da nossa própria e possível interpretação), sendo que destas apenas uma salienta
um aspecto mais próximo do processo de ensino-aprendizagem, com implicações na gestão curricular: “de salientar, também, a visão estratégica, integradora e
abrangente da coordenação da Biblioteca/Centro de Recursos fomentando a aproximação dos Departamentos e dinamizando os diferentes órgãos do Agrupamento com
o desenvolvimento de estratégias de melhoria.” (AE de Golegã, Azinhaga e Pombalinho). Em mais nenhum relatório se vislumbra de forma tão evidente, neste domínio,
a existência de articulação entre o trabalho desenvolvido pela biblioteca e as restantes estruturas de orientação educativa. Somente num relatório é mencionado o trabalho
inerente à articulação com o PNL. Acreditamos, contudo, que apesar de não se verificar de forma sistemática, sabemos que existem efectivamente iniciativas/projectos
mais consistentes não vislumbrados nos relatórios;
- O Campo 3 – Organização e gestão escolar é, por excelência, o que apresenta o maior número de referências (excepção de uma escola), curiosamente uma daquelas em
que a biblioteca até é salientada de forma mais positiva e que surge também no campo da Liderança.
Todavia, a maioria das alusões surge ao nível da Gestão de Recursos Materiais e Financeiros (3.3) e concomitantemente são focados aspectos mais ligados às
instalações e recursos disponibilizados, sem grandes inferências às aprendizagens que os mesmos podem proporcionar. Constatamos que, neste ponto, foram incluídas
apreciações várias, embora muito ligeiras, sobre actividades, o papel de dinamização da biblioteca, plano de acção da mesma, projectos de parceria, uma única vez
referenciada como pólo dinamizador da escola e do agrupamento com os recursos disponibilizados e/ou os projectos.
Embora as frases tipo utilizadas deixem transparecer a existência, em mais de metade dos relatórios analisados, de actividades, mais ou menos esporádicas,
realizadas na e com a biblioteca, e dos equipamentos que disponibilizam, e que podem ter um impacto na aprendizagem, não é líquido pela leitura dos relatórios que a
biblioteca seja encarada como indutora de mudança nas práticas e como uma efectiva estrutura educativa transversal a toda a escola. A verdadeira espinha dorsal que se
pretende que venha a ser.

No Campo 4 – Liderança, o termo “biblioteca” aparece referido seis vezes de forma literal, salientando-se as referências à concentração no 4.3 (projectos em que a
escola se encontra envolvida, integração no programa da RBE). Vislumbram-se algumas referências que podem induzir a uma interpretação de que a Biblioteca possa
estar envolvida na concretização das metas do Projecto Educativo, embora esse aspecto não seja assumido de forma clara e óbvia. Num número reduzido de escolas é
salientado o “impacto da utilização dos recursos informáticos disponibilizados pela BE”.

Em matéria de parcerias, protocolos e projectos, somente alguns são enumerados. Na verdade, apenas em duas escolas surge de forma clara e inequívoca a ligação
da BE à autarquia/BM/SABE e rede concelhia de bibliotecas escolares (AE de Midões, AE do Caramulo). Curiosamente, a BE surge referida como ponto forte, nas
considerações finais. Assim também acontece com uma outra escola (AE de Golegã, Azinhaga e Pombalinho) que, de forma inequívoca, atesta como ponto forte “a
coordenação e funcionamento da Biblioteca/Centro de Recursos na promoção de estratégias de melhoria”.

Um aspecto que, para nós não é de somenos importância, é a quase invisibilidade da BE nas escolas secundárias contidas na amostra, de que se pode depreender
que, talvez nestes casos ainda se faça sentir de modo mais veemente o peso da “biblioteca-armazém de equipamentos”, tidos em alguns casos, também, por obsoletos.
Em jeito de reflexão final

Sem que seja possível extrair grandes ilações (o constrangimento temporal coarcta uma análise mais cuidada e detalhada da amostra seleccionada, que poderia ser
menor, contudo não nos permitiria visualizar cabalmente a realidade das bibliotecas escolares em boa parte do território nacional, conquanto nos tenhamos cingido um
pouco mais à zona centro), dado o número alargado de relatórios analisados e a parca sistematicidade na metodologia de recolha de informação, há aspectos que importa
salientar:
- na sua generalidade (à excepção de um, ainda anterior), tratam-se de relatórios elaborados entre 2007/08, em que ainda não existia a figura do professor
bibliotecário a tempo inteiro e o Modelo de Auto-Avaliação não era uma realidade, factos que seguramente terão a sua relevância;
- Na maior parte das escolas analisadas, o coordenador da BE não integrou nenhum dos painéis com os inspectores da IGE (informação colhida externamente,
aliás, situação que parece voltar a repetir-se nos próximos tempos, já que nos documentos disponibilizados na plataforma para a 7ª sessão de trabalho desta oficina de
formação não vislumbramos essa presença de forma clara, contudo …);
- não nos foi possível estabelecer uma relação de evidência entre as escolas que apresentam melhores resultados e o maior número de referências à BE, em campos
diversos. Aliás, há várias situações nos relatórios analisados de ocorrência de bons resultados sem referenciar a BE. Este aspecto prende-se não apenas pela supracitada
mediania dos resultados, mas sobretudo pelas referências vagas e fluidas que emanam dos relatórios. No caso em que a BE mais vezes é referida (AE de Golegã,
Azinhaga e Pombalinho), em tom de veemência, diria elogiosa, os resultados apresentam-se com nível suficiente. Quiçá, se ela não funcionasse tão bem estes mesmos
resultados pudessem ser muito piores…

Estamos convicta, apesar de tudo, que existe alguma falibilidade notória ao nível do processo de avaliação. Direcções de Agrupamentos e de Escolas,
Coordenadores (incluindo os Coordenadores das BE) e demais participantes no processo, não tinham definido linhas de acção comum na concretização das intenções
educativas dos projectos pedagógicos das escolas/agrupamentos, nem um plano concertado ao nível da auto-avaliação. A avaliação ainda não era assumida como um
processo que pode/deve (é a sua mais elementar função) contribuir para a melhoria das acções educativas, pelo que urge esta inversão de mentalidade. Da análise geral,
podemos inferir que a biblioteca escolar ainda não é devidamente valorizada (que o digam quantos de nós …), independentemente da tipologia da escola e da zona
geográfica nacional. Muito embora as diversas e parcas referências, directas ou indirectas, feitas nos relatórios da IGE apontem no sentido da sua importância. Após uma
verdadeira auto-avaliação, constante e sistemática, talvez as bibliotecas sejam capazes de impor a sua presença também nestes relatórios. Será essencial, não só para as
bibliotecas escolares, mas também para as escolas/agrupamentos que elas sejam uma marca fundamental dentro destes e, com isso, incorporem o processo de auto-
avaliação do próprio agrupamento, dada a estreita relação com os seus objectivos e a sua missão e os objectivos e missão do Projecto Educativo das
escolas/agrupamentos.
Só assim se poderá conceber/reconhecer a Biblioteca Escolar como um instrumento indispensável num plano de desenvolvimento de qualidade total das
escolas/agrupamentos.
Só sabendo o que somos e o que temos é que poderemos definir os trilhos a percorrer … Uma verdade para as bibliotecas, mas também para as escolas e para o
próprio ministério que nos superintende.

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