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A UMA ESTRELA INDISCRETA

Por que me contemplas desta forma, estrela longnqua, toda vez que cismo em deter meus
passos? Eis, sempre, tua luz inexorvel olhando-me, entre nuvens e rudos, a me interrogar,
incomodamente: Aonde e por que vais?
Por que meus olhos teimam em voltar-se para ti, estrela distante, apesar de todo o esforo
de msculos cansados, qual ovelha que insiste em seguir o pastor plena de confiana e f,
aps um dia de labuta?
Por que ests sempre a, estrela insistente? Por que no mudas de lugar, de repente, j, e
me ds o alvio de saber que minhas certezas so apenas sonhos, vs fantasias que o
vento, inescrupulosamente, levar para longe?
Por que vigias minhalma, estrela indiscreta, e, sem que eu nada possa fazer, desnudas-me
por completo, fingindo no saber de minha angstia, de minha Saudade de Casa, de quo
incertas so minhas certezas, de quo pobre minha f, e fugaz minha alegria?
Por que ficas muda, fechada em copas, a me olhar sem a menor cerimnia, enquanto que,
ao meu redor (vs?), almas seguem rumos csmicos, misteriosos, disfarados de humana
elegncia, de estudada indiferena, em diligente discrio e formal distncia (como se
distncia houvesse...)?
Por que, cruelmente, te transformas, de quando em vez, em luz de esperana em meu
corao, de paz em meu ser, para, num instante, qual brincadeira sem graa, transmutar-te
novamente naquilo que s em mim: distncia, luz inatingvel, simplesmente, um sonho do
qual se desperta, apenas uma estrela distante?
Ah, cu... mar... estrela distante... Eis-nos aqui, novamente e sempre. Quando nos uniremos
de uma vez por todas? Quando esta saudade dar lugar plenitude, alegria e paz?
Quando o mistrio oculto em meu corao ser revelado, e a Paz Mais Profunda estender
suas asas, alvas qual Columba, sobre minha sombra escura e a transformar em Luz, plena
de Vida e Amor?
Antonio de La Maria
delamaria@gmail.com

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