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zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch Pepper Touch "Once you have seen it, you will never be the same" ~ Metallica Simbologia da Serpente Publicado em 15 de maio de 2009 por Flavia (http://peppertouch files. wordpress.com/2009/05/deusa_serpente.gif) A serpente, tanto quanto o ser humano, mas contrariamente a ele, distingue-se de todas as espécies de animais. Se o ser humano esta situado no final de um longo esforco genético, também sera preciso situar essa criatura fria, sem patas, sem pélos, sem plumas, no inicio deste mesmo esforso. Nesse sentido, o Ser Humano e Serpente sio opostos, complementares, Rivais. Nesse sentido, também, ha algo da serpente no ser humano e, singularmente, na parte de que o seu entendimento tem o menor controle. Um psicanalista diz que a serpente é um vertebrado que encarna a psique inferior, 0 psiquismo obscuro, o que ¢ raro, incompreensivel, misterioso. E, no entanto, néo ha nada mais simples do que uma serpente. Mas sem ditvida nao ha nada mais escandaloso para o espirito, justamente em virtude dessa simplicidade. Nas origens da vida: serpente, alma e libido Viajando pelo sul da Republica dos Camarées, observa-se que os pigmeus, na sua linguagem de caca, representam a serpente com uma linha no chao. Alguns grafites da época paleolitica certamente tém a mesma significacao. Pode-se dizer que eles restauram a serpente & sua expresso primeira. Ela ndo passa de uma linha, mas uma linha viva; uma abstracdo, mas uma abstracao encamada. A linha ndo tem comeco nem fim; é sé movimentar-se para tornar-se suscetivel a todas as representacées, a todas as metamorfoses. Da linha sé enxergamos a sua parte préxima, presente, manifesta. Mas sabemos que ela continua, de um lado e de outro, pelo invisivel infinito. O mesmo acontece com a serpente. A serpente visivel na terra, o instante de sua manifestagéo, é uma hierofania. De um lado e de outro “sentimos’ que ela continua nesse infinito material que nada mais é do que primordial indiferenciado, reservatério de todas as laténcias, subjacentes & terra manifestada. A serpente visivel ¢ uma hierofania do sagrado natural, nao espiritual, mas material. No mundo diurno, ela surge como um fantasma palpavel, mas que escorrega por entre os dedos, da mesma forma como desliza através do tempo contavel, do espaco mensuravel e das regras do peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ans. zrvosi Simbologia da Serpnte « Pepper Touch razoavel para refugiar-se no mundo de baixo, de onde vem e onde a imaginamos intemporal, permanente e imével na sua completude. Rapida como o relampago, a serpente visivel sempre surge de uma abertura escura, fenda ou rachadura, para cuspir morte ou vida antes de retornar ao invisivel. Ou entéo abandona os impetos masculinos para fazer-se feminina: enroscar-se, beija, abraca, sufoca, engole, digere e dorme. Esta serpente fémea é a invisivel serpente-principio que mora nas profundas camadas da terra. Ela ¢ enigmatica, secreta; ¢ impossivel prever-lhe as decisées, que sao tao stibitas quanto as suas metamorfoses. Ela brinca com os sexos como com os opostos; é fémea e macho; gémea em si mesma, como tantos deuses criadores que em suas primeiras representagdes sempre aparecem como serpentes césmicas. A serpente nao apresenta, portanto, um arquétipo, mas um complexo de arquétipos ligados a noite fria, pegajosa e subterranea das origens: todas as serpentes possiveis formam, juntas, uma tnica multiplicidade primordial, uma Coisa primordial indivisivel que nao cessa de desenroscar-se, desaparecer e renascer. Mas 0 que seria essa Coisa primordial senéo a vida na sua laténcia ou a camada mais profunda da vida? Ela é 0 reservatério, potencial em que se originam todas as manifestagdes. A vida do submundo tem, justamente, de se refletir na consciéncia diurna sob a forma de uma serpente, os caldeus usavam a mesma palavra para vida e serpente. O simbolismo da serpente esta efetivamente ligado prépria idéia de vida; em arabe, a serpente é el-hayyah e a vida, el-hayat; El-Hay, um dos principais nomes divinos, nao deve ser traduzido por vivo, como se faz comumente, mas por o vivificante, aquele que da a vida ou que ¢ o préprio principio da vida. A serpente visivel s6 aparece, portanto, como breve encarnacao de uma Grande Serpente Invisivel, causal e atemporal, senhora do principio vital e de todas as forcas da natureza. E um velho deus primario que se reencontra 4 origem de todas as cosmogéneses, antes que as religides do espiritos a destronem. E aquilo que anima e que mantém. No plano humano, é o simbolo duplo da alma e da libido: a serpente é um dos mais importantes arquétipos da alma humana. No tantrismo, ¢ a Kundalini, enroscada na base da coluna vertebral, sobre o chacra do estado de sono, ela fecha com a boca o canal do pénis. Quando desperta, a serpente sibila e se enrijece; opera-se, entdo, a ascensio sucessiva dos chacras: é a subida da libido, a manifestacao renovada da vida. A serpente césmica Do ponto de vista macrocésmico, a Kundalini tem como homélogo a serpente Ananta, que encerra em seus anéis 0 eixo do mundo. Associada a Vixenu e a Xiva (Shiva?), Ananta simboliza o desenvolvimento ¢ a reabsorcao ciclica, mas, enquanto guardia do nadir, é carregadora do mundo, cuja estabilidade ela assegura. Para construir a casa indiana que, como toda casa, tem de situar-se no centro do mundo, introduz-se uma estaca na cabeca do naga subterraneo, cuja localizacao é determinada pelo geomante. Os carregadores do mundo as vezes sao clefantes, touros, tartarugas, crocodilos, etc. Mas nao apenas substitutos ou complementos teriomérficos da serpente na sua fungio primeira. Assim, a palavra sanscrito naga significa, ao mesmo tempo, elefante e serpente, 0 que é comparavel 4 homologia da serpente e do tapir da representagao do mundo dos maia-quichés. Esses animais de forga sao freqiientemente representados apenas por suas goelas, com um corpo de serpente, ou entdo se apdiam, eles proprios, sobre uma serpente. Em todos 0s casos, exprimem o aspecto terrestre, a agressividade e a forca da manifestagdo do grande deus das trevas que a serpente representa universalmente. Ha duas maneiras de manter: tanto pode ser carregado como abragando a criacdo num cfrculo continuo que impede a sua desintegragao. E 0 que a serpente, sob a forma de Urdéboro, a serpente que morde a propria cauda. Aqui, a circunferéncia vem completar o centro para sugerir a propria idéia de Deus. A Urdboro também é simbolo da manifestacao e da reabsorcao ciclica; é a uniao sexual em si mesma, autofecundadora permanente, como o demonstra a sua cauda enfiada na peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ans zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch boca; é transmutagao perpétua de morte em vida, pois suas presas injetam veneno no préprio corpo oua dialttica material da vida e da morte, a morte que sai da vida ea vida que sai da morte. Se ela evoca a imagem do circulo seria sobretudo a dinamica do circulo, a primeira roda, de aparéncia imével, uma ver que sé gira em torno de si mesma, mas cujo movimento ¢ infinito, pois leva perpetuamente a si mesma. A Uréboro, animadora universal, nao ¢ apenas promotora da vida, mas da duragao: cria o tempo, como a vida, em si mesma é freqiientemente representada sob a forma de uma corrente retorcida, a corrente das horas. Responsavel pelo movimento dos astros, & sem duvida, a primeira figuragdo, a mae do Zodiaco. A Uréboro, velho simbolo de um velho Deus natural destronado pelo espirito, permanece uma grande divindade cosmografica e geografica: como tal, esta gravada na periferia de todas as primeiras imagens do mundo, como o disco de Benin, sem duivida a mais antiga imago mundi negro-africana, em que, com a sua linha sinuosa, associando os contrarios, ela encerra os oceanos primordiais no meio dos quais flutua o quadrado da Terra Temivel em sua ira, ela se torna o Leviata hebreu, o Midgardorm escandinavo, “mais antiga que os proprio deuses”, segundo os eddas; quando bebe, provoca as marés; quando bufa, as tempestades. Ainda a nivel das cosmogéneses, é 0 préprio Oceano, de que nove espiras cercam 0 circulo do mundo, enquanto a décima, furtivamente introduzida por baixo da criacao, forma o Estige, segundo a Teogonia de Hesiodo. Se diria uma Mao que recolhe, no final, o que a outra langou; e é este o sentido dessa emanagao do indiferenciado primordial, de onde tudo provém e aonde tudo volta para regenerar-se. Os infernos e os oceanos, a gua primordial ea terra profunda formam apenas uma prima matéria, uma substancia primordial, a da serpente. Enquanto espirito da 4gua primeira, ela é 0 espirito de todas as Aguas, as que correm debaixo ou na superficie da terra, e as que vém de cima. Inuimeros rios da Grécia e da Asia Menor trazem o nome de Ofis ou Draco; ela é também o Pai Reno, o Sena Deus Sequana, a Mae Ganges, cuja importancia religiosa é conhecida, a Mae Volga, o rio-deus. Muitas vezes os atributos teriomorfos especificam a fungao terrestre ou celeste desta divindade das aguas: assim se explica o Tibrecornu de Virgilio, imagem em que a serpente assume a forga do touro, representada por seus chifres; da mesma forma, Achel6o, o maior rio da Grécia antiga, tina alternadamente a forma de serpente e do touro para enfrentar Heracles. A serpente, divindade das nuvens e das chuvas fertilizadoras, assume as vezes, os poderes do carneiro, 6a serpente criocéfala, comum da iconografia céltica, sobretudo gaulesa; ou do passaro: so os dragées alados do Extremo Oriente e seus homélogos do pantedo meso-americano, as serpentes com plumas. Conhece-se a importancia fundamental de que se reveste essas imagens simbélicas nas duas grandes civilizacées agrarias, que reservam uma aten¢do especial aos fenémenos meteorolégicos. O dragio celeste é no Extremo Oriente, 0 pai mitico de numerosas dinastias, ¢ os imperadores da China traziam-no bordado sobre os seus estandartes para significar a origem divina de sua monarquia. Nas mitologias amerindias, do México ao Peru, 0 mito do passaro-serpente coincide com as mais antigas religides do cultivo do milho; ela é associada a umidade e as 4guas da terra, entretanto, nas suas formas mais elevadas, esta sempre ligada ao céu. Nao é apenas a serpente de plumas verdes e a serpente nuvem com barba de chuva, mas também o filho de serpente, a Casa dos Orvalhos e 0 Senhor da Aurora. A serpente de plumas é, primeiramente, a nuvem de chuva e, de modo privilegiado, o ctimulo de reflexos prateados do meio do verdo; dai o seu outro nome: Deus-Branco, cujo ventre negro deixa escapar o suor da chuva. No Novo México, é representado como um corpo de serpente que carrega nas costas 0 climulo e cuja lingua é o relampago recortado. Nao se deve esquecer que o dragao chinés nada no meio de ondas de cimulos exatamente iguais. peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ans 27082 ‘Simbologia da Serpente « Pepper Touch O Velho-Deus, 0 Antepassado mitico Transformada em antepassado mitico e heréi civilizador, cuja forma mais conhecida é 0 Quetzalcoatl dos toltecas, mais tarde retomado pelos astecas, a serpente de encarna e se sacrifica pelo género humano. A iconografia india esclarece 0 sentido deste sacrificio. O Codex de Dresde apresenta a ave de rapina mergulhando as suas garras no corpo da serpente para dele extrair o sangue destinado a formar o homem civilizado: aqui, o deus (serpente) dirige contra si mesmo o seu atributo de forga celeste, de ave solar, para fecundar a Terra dos homens, pois esse deus é a nuvem, e seu sangue, a chuva nutritiva que tornara possivel o milho e o homem de milho. Haveria muito a dizer sobre esse sacrificio, que ndo é sé 0 da nuvem mas também a morte do desejo, no cumprimento de sua missio de amor. Num plano mais especificamente cosmogénico, e que, no sufismo, torna-se a base de uma mistica, é a dilaceracao da unicidade primeira, que se desdobra e se divide nos seus dois componentes para tornar possivel a ordem humana. Para alguns, o sacrificio de Quetzalcoatl é uma retomada do esquema classico da iniciacdo, feita de uma morte seguindo-se ao renascimento: ele se transforma no Sol e morre no ocidente para renascer no oriente; por ser dois em um e dialético em si mesmo, é 0 protetor dos gémeos. O mesmo complexo simbélico é encontrado na Africa negra; para os dogons, Nommo, deus da gua, representado sob a forma de um angiiipede, é o ancestral mitico e herdi civilizador que traz aos homens os seus mais preciosos bens culturais: a forja ¢ os cereais; também ele é duplo em um e se sacrifica pela nova humanidade. Pode-se citar ainda muitos exemplos das tradicdes africanas, notadamente o de Dan ou Da, grande divindade de Benin e da costa dos Escravos, que ¢ a serpente € 0 fetiche arco-iris. Transformada em Damballah-Weddo no vodu haitiano, ela preside fontes e rios, pois sua natureza é, ao mesmo tempo, movimento e agua. A pedra do raio lhe é consagrada; ela nao aceita que os seus “servidores” (seus possuidos), invoquem divindades que fagam o bem e o mal, com excecao dos gémeos, que Ihe sao préximos. E também relampago e, por exceléncia, o deus da forga e da fecundidade. No Daomé, ainda hoje, Dan é 0 velho deus natural, a Urdboro do disco de Benin que descrevi um pouco acima, ele proprio andrégino e gémeo. Assim se explica o culto das pitons sagradas conservadas dos templos Abomé, a quem sao dedicadas jovens que noivam, ritualisticamente, com os deuses, na época das sementeiras. Para os iorubas, Dan é Oxumaré, 0 arco-itis, que liga a parte de cima do mundo & de baixo e sé aparece depois das chuvas. Os povos da costa da Guiné invocam a serpente nos periodos de seca ou de chuvas excessivas. Todos esses exemplos, tirados das civilizagées que se elaboram independentemente de outras, explicam as origens dessa fungio meteorolégicas da serpente, que também tem vestigios no folclore francés e estadunidense: ¢ universalmente difundida a idéia de que 0 arco-ris é uma serpente que mata a sede, no mar, idéia encontrada na Franca, mas também entre os peles-vermelhas de Nevada, os bororos da América do Sul, na Africa do Sul e na fndia. Todas essas acepgdes nao passam de diferentes aplicagdes, em determinadas areas, do mito da Grande Serpente Original, expresso do indiferenciado primordial. Est4 no alfa, mas também no émega de toda manifestagao; 0 que vem explicar a sua importante significagao escatolégica, pela qual se retorna a evolugao tao complexa do simbolo da serpente na propria civilizagao. Para os bataks da Malasia, uma serpente cdsmica vive nas regides subterraneas ¢ ira destruir 0 mundo. Para os huichols ela tem duas cabecas, na verdade duas monstruosas mandibulas abertas para 0 Ocidente e 0 Oriente, pelas quais cospe o sol nascente e engole o sol poente. Chega-se, assim, ao mais antigo deus criador do mundo mediterraneo, a serpente Atum, pai de Enéade de Heliépolis. No inicio dos tempos, Atum cuspiu toda a criagio, depois de ter emergido sozinha das aguas primordiais. Como estava s6, os textos hesitam a respeito da origem dessa cuspida; alguns dizem que veio, ndo de sua boca, mas do seu sexo, para isso tendo se masturbado. Surgiu, assim, 0 primeiro par de deuses Chtu e Ptenis, que puseram no mundo Geb e Nut, o ar ¢ a umidade, a terra peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ans zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch © 0 céu, respectivamente. Depois, tendo esses deuses procriado o detalhe da Terra e dos homens, tudo passou a existir. Entao, diante da sua criagao, Atum falou, conforme relata 0 Livro dos mortos: Sou aquilo que permanece;... o mundo voltaré ao caos indiferenciado, e ento eu me transformarei em serpente, que nenhum homem conhece, que nenhum deus vé! Nenhuma mitologia foi tio severa na sua ilustragéo da Grande Serpente Original. Atum nao se arrisca a engolir 0 Sol. Nao tem © que fazer desse ctoniano, desse inferno cotidiano em que a nossa vida se desfaz e de regenera. $6 & a serpente antes e depois da totalidade do continuum espaco-temporal, ali onde nem deuses nem homens tém acesso; ela é verdadeiramente o primeiro “velho deus’, o deus otiosus natural na sua transcendéncia implacavel. Entretanto, no Egito e em outros lugares os infernos terrestres que os astros do dia tem de atravessar diariamente para assegurar a sua regeneracao so inteiramente colocados sob signo da serpente. Embora Atum nao tenha um lugar dentro desses acontecimentos, ¢ ele quem os ilumina de fora; despojado de sua forma ofidica, toda noite transforma-se no deus do sol poente que indica, ao oeste, a via de acesso as profundezas. Em seguida, afunda-se na Terra, numa barca repleta de toda a sua corte celeste. A idéia de que todo 0 ventre da Terra, onde se operaré a alquimia da regeneracio, seja offdico por exceléncia aparece em cada detalhe da minuciosa descri¢ao dado pelo Livro dos mortos: 0 caminho a ser percorrido é dividido em doze cémodos, correspondendo as doze horas da noite. A barca solar inicialmente atravessa extensOes de areia habitadas por serpentes; logo, ela prépria se transforma em serpente. Na sétima hora, aparece uma nova figura ofidica, Apéfis, encarnagdo monstruosa do senhor dos infernos e prefiguracao do Satanas biblico, cujas espirais preenchem uma eminéncia de 450 cévados de comprimento, e sua voz dirige os deuses para sie estes o ferem. Este episédio marca © ponto maximo dos acontecimentos. Na 11° hora, a corda que puxa a barca transforma-se em serpente. Durante a 12 hora, por fim, no cémodo do crepusculo, a barca solar é puxada através de uma serpente de 300 cvados de comprimento e, ao sair pela boca desta serpente, o sol nascente aparece no seio da Terra-mie, sob a forma de um escaravelho: 0 astro do dia nasce mais uma vez, para empreender a sua ascensao, Em resumo, o Sol tem entao de transformar-se em serpente para lutar contra outras serpentes, uma, em particular, antes de ser digerido e expulso pelo intestino em forma de serpente da Terra. Haveria muito o que dizer sobre esse desenvolvimento de um complexo de engoli-engolido, comparado ao qual a aventura de Jonas parece simples. Globalmente, a serpente aparece como a grande regeneradora ¢ iniciadora, a senhora do ventre do mundo, e como o préprio © ventre, a0 mesmo tempo que inimigo do sol e assim (no sentido dialético do termo), da luz; portanto, da parte espiritual do homem. A fim de melhor desenvolver essas faces contraditérias da entidade simbélica inicial, 0 livro sagrado dos egipcios as separa em varias serpentes. Mas o papel proeminente reservado a Apéfis mostra que, dentro de todas as caracteristicas da serpente originalmente confundidas, distingue-se a de uma forca hostil. Assemelha-se a valorizagao positiva do espirito e a valorizagdo negativa das forcas naturais, inexplicaveis, perigosas, pelas quais se elaborara gradativamente o conceito, no mais ico, mas moral do Mal, de um Mal intrinseco. Com Apéfis ainda nao se chega la, mas se prepara a trilha que mais tarde viré a tornar-se uma via real. Pois a significagao de Apéfis permanece ambigua: por um lado, na sétima hora, ela prépria dirige contra o seu corpo os deuses que irdo feri- la; desempenha, portanto, um papel positivo e, afinal, contrario ao seu interesse egoista, no cumprimento da regeneragao solar; por outro lado, os sacerdotes de Heliépolis a consideram a Inimiga quando, durante as ceriménias conjugatérias, pisoteiam e esmagam a sua efigie no chao de seus templos para ajudar Ré (Ra), principe da luz, a derrotar esse primeiro principe das trevas: isto se realizava pela manhi, a tarde e A noite, e em certas épocas do ano, ou entao, durante uma peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ons zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch tempestade, quando chovia abundantemente, ou num eclipse solar: esta eclipse significava que Ré (RA) acabava de perder na sua luta contra Apéfis. Vivifis Aqui, mais do que um desejo de hegemonia do espirito em detrimento das forcas naturais, ¢ preciso ver uma preocupacao em equilibrar esas duas forcas fundamentais do ser, impedindo que uma, a que nao é controlavel, tente prevalecer sobre a outra. A mesma preocupacao é encontrar na mitologia grega, com o episédio da luta de Zeus e Tifao, outro Apéfis. Tifao, filho de Gaia (http://flaviasilva. wordpress.com/2008/05/22/a-primeira-fase-do-universo-do-caos-a-pontos- mitologia-grega/) (a Terra) ou de Hera, j4 nao é uma serpente, mas um monstruoso dragdo de cem cabecas, cercado de viboras, da cintura até embaixo, e maior do que as montanhas. Assim, ele encarna bem a enormidade das forgas naturais insurgidas contra o espirito. E significativo que para vencer este rebelde Zeus sé disponha da ajuda de Atena, a Razao, sua filha, enquanto os demais deuses olimpicos, apavorados se refugiam no Egito (esse Egito mitico que vird a tornar-se o simbolo da natureza bestial) onde transformam-se em animais. A natureza infernal de Tifao é confirmada pela sua descendéncia: ele gera Hidra de Delfos, a Quimera e dois cdes, Ortos e Cérbero. Mas Cérbero nao é maligno em si. Desempenha um papel dialeticamente positivo nesses infernos gregos onde se cumpre o ciclo perpétuo da regeneracao. Portanto, o pensamento grego, como o egipcio, s6 ataca a serpente na medida em que esta quer desenvolver 0 cosmo ao caos. Na medida em que, pelo contrério, ela permanece a outra face indispensavel do espirito, a vivificadora, a inspiradora, através da qual a seiva sobe das raizes a clipula da Arvore, é aceita e até glorificada. Assim, todas as grandes deusas da natureza, essas deusas maes que no cristianismo voltarao sob a forma de Maria, mae de Deus encarnado, tém a serpente como atributo, Mas a mae de Cristo, segunda Eva, esmagara a cabeca da serpente ao invés de escuté-la. Primeiramente, isis que traz na testa a Naja real, o uraues de ouro puro, simbolo de soberania, conhecimento, vida e juventude divina; em seguida, Cibele e Deméter; e a deusa das serpentes, de Creta, época de Amenéfis II, Uraeus também seja representado como a base do disco solar. A propria Atena, com toda a sua origem celeste, tem a serpente como atributo. E que simbolo mais claro pode haver da alianga entre a razao e as forcas naturais do que o mito de Laocoonte, em que as serpentes saem do mar para punir o sacerdote culpado de sacrilégio e vao em seguida enroscar-se ao pé da estétua de Atena? O papel inspirador da serpente aparece claramente nos mitos e ritos relativos & histéria e ao culto das duas grandes divindades da poesia, da mtisica, da medicina e, sobretudo, da adivinhacéo, Apolo e Dioniso. Apolo, o mais solar, o mais olimpiano dos olimpianos, inaugura, de certa forma, a sua carreira libertando © ordculo de Delfos dessa outra hipertrofia das forcas naturais que é a serpente Piton. Nao se trata de negar que haja alma e inteligéncia na natureza como o enfatiza Aristételes. Ao contrario, trata-se de libertar essa alma e essa inteligéncia profunda e inspiradora que devem fecundar o espirito e assim assegurar a ordem que ele se propée a estabelecer. Apolo, nesse sentido, est4 longe de opor-se a Dioniso ¢ a maior parte dos os autores modernos hoje concorda neste ponto. Ele apenas vem do pélo contrario do ser e sabe que a complementacao dos dois pélos ¢ indispensavel & realizacao da harmonia, que é a meta suprema. Assim, o transe e 0 éxtase, por mais dionisfacos que sejam, ndo esto excluidos do mundo apoliniano: a Pitia que 6 profetiza em transe éum exemplo disto. Significativa sob este aspecto € a histéria de Cassandra, por quem Apolo viria a se apaixonar. Cassandra nasce com um irmao gémeo, Heleno; seus pais os esquecem num templo de Apolo, depois das festas celebradas em honra ao seu nascimento. No dia seguinte, quando vém buscé-los, pwppertouch wordpress com/20081051S/smboloia-da-srpentol ans zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch sdo encontrados adormecidos com duas serpentes tocando-lhes os érgos dos sentidos com a lingua para purificd-los. Com os gritos assustados dos pais, os animais retiram-se aos seus loureiros sagrados. Depois disso, as criancas revelam seu dom de profecia, transmitido pela purificacao das serpentes. Essa purificagao parece bem préxima da catarse pitagérica em que se reconhece uma influéncia apolinea. Geralmente diz-se que Cassandra era uma profetisa inspirada. O Deus a Ppossuia e ela emitia os seus ordculos num delirio. Heleno, ao contrario, interpretava o futuro a partir dos passaros e de sinais externos, Pode-se dizer sem equivocos que as duas faces da adivinhacao, a apoliniana e a dionisiaca, originaram-se igualmente da serpente. Também significativo é 0 mito de famo, filho de Apolo e de uma mortal: criado por serpentes que 0 alimentam com mel, torna-se sacerdote e pai de uma longa linhagem de sacerdotes. Melampo, ao mesmo tempo adivinha e médico, tem os ouvides purificados por serpentes a fim de compreender a linguagem dos passaros. E chamado de o homem dos pés pretos, pois diz a tradi¢ao que, ao nascer, sua mae 0 colocou 4 sombra mas por inadverténcia deixou os pés expostos ao Sol. Aqui, a ciéncia da serpente também estende seu poder ao reino das sombras e da luz, concilia a alma e o espitito, as duas zonas da consciéncia, o sagrado esquerdo eo sagrado direito. Mas, no mundo grego, é a figura de Dioniso que encarna mais completamente o sagrado esquerdo, fundamentalmente associado 4 imagem da serpente. Guthrie especifica que 0 apogeu do culto dionisiaco coincide, na Grécia, com o da perfeigao literdria, e que o maior dom de Dioniso era um sentimento de liberdade total. Assim, o Grande Liberador aparece historicamente no momento em que, com a perfeigéo da escrita, instaura-se na cidade o triunfo do Logos helénico. Os éxtases coletivos, os transes, as possessdes, insurreigGes da serpente do ser, aparecem desde entdo como uma vinganca da natureza sobre a Lei, filha s6 da razo, que tende a oprimi-la. E, no final, um retorno harmonia através do excesso; ao equilibrio por uma loucura passageira; é uma terapéutica da serpente. Os éxtases, transes e possessdes sem diivida existiam bem antes da vinda de Dioniso; nasceram com as religides naturais e o culto das Grandes Deusas ctonianas que, como disse, tinham, todas, a serpente como atributo. Mas é nesse momento histérico, em que se esbogam em Atenas 0 pensamento e a sociedade modernos, que elas vao reganhar tal fervor que os seus vestigios subsistirdo para sempre neste mundo em que o dominio da sociedade patriarcal se tornam cada vez mais fortes. esta vontade tenaz de libertar a natureza humana da ditadura da razo que dard nascimento as seitas gnésticas, As confrarias de dervixes e, no mundo cristao, a toda uma categoria de heresia que combatera a Igreja Romana. Cada um desses movimentos luta 4 sua maneira contra a condenacao da serpente: nenhum ser, (proclamam os pératas gnésticos do século II), nem no céu, nem na terra, nem nos infernos, formou-se sem a serpente|[1] (http://flaviasilva. wordpress.com/wp-admin/#_ftn1) E 0s ofitas, cujo nome, por si s6, 6 uma profissio de fé, acrescentam: nés veneramos a serpente a porque Deus fez dela a causa da gnose para a humanidade... Os nossos intestinos, gracas aos quais nos alimentamos e vivemos, nao reproduzem = a__— figura’ da __serpente?[2] (http://flaviasilva. wordpress.com/wp-admin/#_ftn2) Essa analogia, que nao deixa de lembrar a analogia entre a serpente ¢ 0 labirinto, antecipa de modo espantoso as descobertas modernas a respeito da base do psiquismo. Ao mesmo tempo, esclarece a origem das praticas adivinhatérias fundadas sobre o exame das visceras. Certas sociedades animistas que o mundo moderna ainda nao destruiu persiste em manter viva e ativa essa corrente de pensamento paralelo que, em outros lugares manteve um esoterismo estéril. Assim ¢ 0 Zar abissinio e, sobretudo, 0 vodu daomeano e haitiano. Mas tudo isso est contido e é perfeitamente explicado em imagens pela histéria do préprio Dionis peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ms zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch Sob os nomes de Zagreu ou Sabizio, ele nasceu, segundo as tradicdes cretense, frigia ¢, finalmente, érfica, da unido de Zeus e Perséfone, da alma e do espirito, do Céu e da Terra. Para realizar essa uniao, a tradicao diz que Zeus se transforma em serpente. Isso equivale a dizer que o Espirito, por mais divino que seja, reconhece a anterioridade no incriado primordial, do qual ele proprio originou e onde teré de mergulhar para regenerar-se e dar frutos. Mas Dioniso é também, essencialmente, 0 Iniciado que deverd sacrificar-se para renascer e agir. Por isso, é dilacerado pelos Tits, para renascer pela vontade reafirmada de Zeus, o Espirito. Sé entdo, as bacantes e os cortejos de possuidos poderiio, como Atena, ter a serpente na mao. O apdlogo ¢ claro: mostra que a serpente, em si, no é boa ou mé, mas que possui duas valéncias, pois o ser da serpente foi uma grande forca; & 0 que sabem os sdbios conhecedores da natureza: que hd, na serpente, uma excelente arte ¢ até virtude no seu ser. A serpente ndo médica, é medicina, assim deve ser entendido o caduceu, cujo bastio é feito para ser tomado na mao. O espirito é 0 terapeuta que deve primeiro experimenté-lo em si mesmo, para aprender a usd-lo em beneficio do corpo social. Sendo mata, ao invés de curar; traz 0 desequilibrio e a loucura, ao invés de harmonizar as relacdes do ser e da razio. Dai a importancia dos guias espirituais, chefes das confrarias iniciatérias. Eles so, de certa forma, terapeutas da alma, no sentido grego da palavra, psicanalistas antes da época, ou melhor, psicogogos. Se nao tiverem feito a serpente neles morrer e renascer, passam a praticar uma psicandlise selvagem e nociva. E 0 que acontecerd com a decadéncia das sociedades dionisfacas, consecutiva a clandestinidade em que 0 mundo moderno as encerra. Quando este mundo de declara o dos Antigos, parece esquecer-se da lico da temperanca, que se destaca do conjunto de sua mitologia em todos os casos em que esta trata da serpente. Essa temperanga, uma condigao para qualquer equilibrio, sob certos aspectos parece préxima da sabedoria da serpente, da qual Jesus fala Os maios livros esotéricos inspiram-se na serpente: como o Taré, em que o arcano 14, a Temperanga, embora situada entre a Morte e 0 Diabo, tem uma significagao manifesta: um anjo vestido metade de vermelho, metade de reto, metade Terra e metade Céu, despeja um liquido incolor e serpentino alternadamente em dois vasos, um vermelho e outro azul; esses dois vasos simbolizam os dois pélos do ser; o trago-de-unido, o veiculo de sua troca, repetido indefinidamente, ¢ o deus da gua, a serpente. Essa imagem ¢ simbolo da alquimia, expressando de modo evidente 0 dogma da transmigragao das almas e da reencarnacao. Basta lembrar que em grego classico (metagiosmos) 0 ato de despejar algo em um vaso em outro é tomado como sinénimo de metempsicose. Isto corrobora com essa teoria de que o fluido da temperanca representa a serpente. Pois as tradigdes greco-latinas mostram constantemente reencarnacées sob a forma da serpente: esta era a crenga ateniense referente 4 serpente sagrada da Acrépole, supostamente defensora da cidade; ela representava a alma de Erecteu, homem-serpente, considerado um antigo rei, de Atenas e freqiientemente identificado com Poseidon. Uma lenda estranha fazia dele um heréi civilizador que teria levado 0 trigo do Egito. Do mesmo modo, acreditava-se em Tebas que apés a morte, os reise rainhas da cidade transformavam-se em serpentes. Em toda a Grécia, o costume popular ditava que se fizessem libagdes de leite sobre os timulos para as almas dos defuntos reencarnados em serpentes. A morte de Plotino, dizia-se que uma serpente havia saido da boca do filésofo com o seu liltimo suspiro, Por fim, em Roma o simbolo do génio ou espirito-guardiao era uma serpente. Seria possivel multiplicar os exemplos atuais, emprestados as culturas animistas de Nova Guiné, Bornéu, Madagascar, da Africa banto, etc. Essas comparasées mostram de modo evidente que essas culturas s6 se distinguem pelo fato de terem continuado a manifestar abertamente as crengas simbélicas que viram-se ocultas por uma pressio histérica (judaica, e, posteriormente, crista), sem por isso desaparecerem. E, portanto, no curso da filosofia ou do pensamento sito paralelo que se deve procurar para descobrir a funcao arquetfpica da serpente. Assim, dizia-se que a serpente havia visitado a mae de Augusto em sonho; peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ans zrvosi Simbologa da Sarponto « Pepper Touch a mesma lenda explicava o nascimento milagroso de Cipidio, o Ancido de Alexandre, o Grande. Nao é de se espantar que essa lenda tenha penetrado nas vidas apécrifas do proprio Cristo; segundo Elien (de natura animalium), no tempo de Herodes, falava-se da visita de uma serpente a uma virgem judia e, de acordo com Frazer, tudo levava a crer[3] (http://flaviasilva.wordpress.com/wp- admin/#_ftn3) que se tratava da Virgem Maria. Seja como for, é conhecida a afinidade que une a serpente ao pombo na simbologia sexual. O que dizer, entdo, desse costume dos nancis da Africa oriental, também relatado por Frazer, segundo o qual se uma serpente for ao leito de uma mulher no se deve maté-la, pois é considerada a reencarnagao do espirito de um ancestral, ou do falecido pai ou mae, vindo informar a mulher que o seu préximo filho nasceré em boas condigées.[4] (http://flaviasilva. wordpress.com/wp-admin/#_ftn4) ‘A universalidade das tradigdes que fazem da serpente o mestre das mulheres, por representar a fecundidade, ressalta que na Africa este é um traco caracteristico das sociedades matriarcais, Assim, os tcho-kwes (Angola) colocam uma serpente de madeira sob o leito nupcial para assegurar a fecundagéo da mulher. No circulo voltaico, quando as mulheres senufo concebem, sao levadas a casas decoradas com representacdes de serpentes e os nurumas de Gugoro dizem que uma mulher engravidard se uma serpente entrar em sua cabana. Na india, as mulheres que desejam ter um filho adotam uma naja. Os tupis-guaranis, no Brasil, tornavam fecundas as mulheres estéreis batendo em seus quadris com uma cobra. Em outros lugares, as serpentes sio guardias dos espiritos das criangas, que sio distribuidas & humanidade conforme as necessidades. Na Australia central, duas serpentes ancestrais percorrem incessantemente a terra, ¢ a cada parada abandonam alguns mai-aurli, espirito de criangas. No Togo, uma cobra gigante que mora num lago pega as criangas da mao de Deus supremo e as traz & cidade. Aambivaléncia sexual da serpente se traduz sob 0 aspecto do seu simbolismo, pelo fato de ser ao mesmo tempo matriz e falo. Este fato é comprovado por um grande mimero de documentos iconograficos, do neolitico asidtico como das culturas amerindias, no quais 0 corpo do animal (falico, na sua totalidade) é ornado de zunidores (simbolos da vulva). Eliade registra um mito negrito em que o simbolismo de matriz aparece nitidamente: no caminho do palacio de Tapern vive uma serpente, sob o tapete que ela confecciona para Tapern. No seu ventre encontram-se trinta mulheres muito belas, aderecos de cabelos, pentes, etc. Um Chinoi chamado de arme-Chaman vive nas suas costas, como guardiao deste tesouro. O Chinoi que quiser penetrar no ventre da serpente tem de suibmeter-se a duas provas do género da porta magica que, portanto, tem carater inicidtico. Se conseguir, poder escolher uma esposa. A serpente, mestre das mulheres e da fecundidade, também é fregiientemente considerada responsavel pela menstruagao, que resulta da sua mordida. Alguns historiadores, Krappe entre cles, resaltam a antigiiidade dessa crenca comprovada nas lendas relativas a Anhiman e de origem pré- masdeista. E encontrada nos meios rabinicos que atribuem a origem da menstruagao as relagdes de Eva com a serpente, segundo Salomon Reinach; também continua ativa entre os papuas da Nova Guiné. Todos esses exemplos mostram a afinidade simbélica da serpente com a sombra, também considerada uma alma fecundadora e um dom-juan. Na {india central, o meda de ser fecundada pela sombra ¢ muito comum, entdo as mulheres gravidas evitam pisar na sombra de um homem, com medo que a crianga nasca parecida com esse homem; assim, a sombra é o simbolo da fora procriadora do homem eu nao s6 representa a procriagdo, em geral, como a ressurreigdo nos seus descendentes. s crengas nao deixaram de conservar alguns vestigios no folclore europeu. Hoje em dia ainda se peppertouch wordpress. com!2008V06)18/simbologia-da-sorpento/ ons zinera ‘Smboloia da Seronte« Poppor Touch conta nos abruzzis que a serpente tem relagdes sexuais com as mulheres. Na Franga, na Alemanha, em Portugal, etc, as mulheres de certas regides temem que uma serpente Ihes entre pela boca durante o sono, especialmente na época da menstruagao, e que as engravide. A condenacao da serpente Embora a cristandade sé tenha, na maior parte das vezes, retido 0 aspecto negativo e maldito da serpente, os textos sagrados do cristianismo comprovam os dois aspectos do simbolo. Assim, no livro de Numeros, embora as serpentes terrestres enviadas por Deus tenham feito perecer muita gente em Israel, 0 povo eleito reencontra vida através da prépria serpente, de acordo com as instrugdes que Deus da Moisés: Entio Deus enviou contra 0 povo serpentes abrasadoras, cuja mordida fez perecer muita gente em Israel. Veio o povo dizer a Moisés: “Pecamos ao falar contra Jeova para que afaste de nés estas serpentes”. Moisés intercedeu pelo povo e Deus respondeu-Ihes: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar vivera. Moisés, portanto, fez. uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém fosse mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia” (Niimeros 21:6-9). Na época crist, 0 Cristo que regenera a humanidade algumas vezes é representado como a Serpente atravessada na cruz, como aparece novamente nos séculos XII e XIII, em um poema mistico traduzido por Rémy de Gourmont. Entretanto, nao é essa a serpente 4 qual se refere com maior freqiiéncia 0 pensamento da Idade Média, mas & serpente de Eva, condenada a arrastar-se e a serpente, ou dragao-césmico, cuja anterioridade o apéstolo Jodo nao contesta, em Apocalipse, mas cuja derrota proclama: “Foi expulso 0 grande Dragiio, a antiga serpente, 0 chamado Diabo ou Satanas, sedutor de toda a terra habitada, foi expulso para a terra, e seus Anjos foram expulsos com ele” (Apocalipse 12:9). A partir de entio, de sedutor passa a repugnante. Seus poderes, sua ciéncia, que ndo podem ser contestados na sua existéncia, 0 sao na sua origem. Foram considerados como o fruto de um roubo; tornaram-

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