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Revista do Departamenta de Geograia, 1? (2006) 101-111, MORFOLOGIA ORIGINAL E MORFOLOGIA ANTROPOGENICA NA DEFINICAO DE UNIDADES ESPACIAIS DE PLANEJAMENTO URBANO: EXEMPLO NA METROPOLE PAULISTA Cleide Rodrigues Resumo: Esso estudo representa parte do desenvolvimento e aplcacao da metodologia para @ abordagem do melo fsico antépice propesta por RODRIGUES (1980, 1967, 1999 2009). Nessa abordagem, colaca-se, entre ouras necossades, ado reconhecimento de sistemas geomofolgicos om sous diversos estégios de inteen¢3o antiga, tal como os estgios de pré-perurbacan, da perurberdo alva e de pos-perturbayso, Incu-se também a perspetiva analitca na qual as inlervengdes humanas para a censtugao © manitencSo desses ambientes so avalades enquanlo apts geomerfolgicas, portant, passives de serem esiudadas como infervengdes em formas, matarais © proceseos, Nessa pesquisa, em panicle, ‘demonsta-se como formas originals semelnantes de alguns selores da mettépolo gaulta podem sor progressivamente dervadas em diverse formas antopogéricas. Partese do reconhecimento cartografica das unidades merloligicas ariginals para posteriomente considerar a saquencia de Invervengdes anrpicas nas formas ena dstibuigdo de materials superficas, lo foi desenvoldo am fetes para do's principals complementares ‘ecovies escalares. Um deles foi realzado para a escala metropoliana, em 1:250000 pare um perioda aproximado de Gem anos e, 0 outa, pare a scala de bacashidrograicas de segunda eterceraordens, predoninantemente nas escalas 1:25000 e 110000 e periodos de tinta anos, rocuta se emonstrar como ¢ possivel ientiiar unidades espaciais semelhantes em suas cambinapdes de motfologia aginal e entropogérica © como 0s rocess0s aluais so dependentes do histérco da produgda dessa nova morolgia urbana, Com isso, propde-se a iealficanBo dessas unidades para ‘ompor dversos insrurentos de planejamento urban, Palavras-chave: Gecmorfolgia Anl‘opogénica; Impacto da utbanizagto; Gecinicadores da urbenizagdo; Avalon’ de impacts; Ptanejamento urban, Introdugao AA patti de_um conjunto de revises da iteratura em geomortologia pura © aplicada, de experiéncias praticas de avaliag8o ambiental em diferentes regides brasileras € de testes, redlizados em diversas areas do Brasil e Regido Metropolitana de ‘S40 Paulo (RMSP), fl sendo progressivamente defrida e aper- feigoada uma metodologia para o estudo do meio fisico em seus dlversos graus de intervenao antépica, Nessa construgdo meto- dolégica, testes no meio urbano vém tendo maior destaque. As orientagbes basicas dessa metodologi, expostas em RODRIGUES (1999 ¢ 2008}, reforgam a necessidade de supera- 80 de abordagens com énfase nos elementos exclusivamente definidos pela natureza e apontam a importincia de tratamento simuitaneo e sistemtco das interferéncias antropicas, Para denominar essa nova énfaso © essa maior complexidade na abordagem geomorfotégica, vem sendo ulizada 2 denominagao antropogeomorfologa,orginalmente proposta por NNIR (1982), Em concordancia com esse e outros autores, oren- tagGes bésicas foram sistematzadas @ propostas, das quals destaca-se @ adequagao generalzada da utlizagdo das ferra- mentas clssicas da geomorfologia, inclusive para a abordagem das agdes antidpicas a0 longo do tempo e do espaco e para 0 dimensionamento des mudangas no ambiente fisico por elas gerade Dente oultas apicagbes desses principio @ orentagbes basicas, destacados em RODRIGUES (2003), foram testados alguns dos procedimentos propros da cartografia geomorfolégica para diversas escelas e sistemas geomorolégoos da RMSP. Essa cartografia geomorfologica, denominada ‘geocartografia geomorfolégica retrospective" ou “evolu, aptia-se no estudo sistem&tco do tripé morfoldgico: formas, materiaise processos da superficie tereste (HART, 1986). A diferenga fundamental para cutras sbordagens € @ consideragao da propria intereréncia antiépica como ago geomorfoligica, ago essa que pode: rmodiicar propriedades e localizagao dos materiais superciais; infertert em vetores,taxas e balangos dos processos e gerar, de forma deta e indieta, oulra morologia, aqui denominada de morfologia antropogénica Desa cartografia geomortoligica evolutva, que incu, dentre outtos aspectos, a morfologia original e @ morfologia an- tropogénica, foi sendo evidenciada a importancia desses iitimos contetdes para a compreenséo de varios processos hidro- geomortoligioes atuais em areas uibanas. Puderem ser melhor dimensionados compreencidos determinados processos © até 101 ‘Gloide Rocigues / Revista do Departamento do Goograti, 17 (2006) 101-11 ‘mesmo melhor discririnados agentes sociais responsaveis pela produgdo dessa vasta superficie urbana, de alta. derivagéo antrépica no meio tropical umido. Esses estudes tm também conttibuido com a dscussio € aperfeigoamento da lista dos geoindicadores de mudangas ambiental, iniciatva internacional vinculada a IUGS (International Union of Geological Science) conforne RODRIGUES ¢ COLTRINAR! (2004) ‘A proposta aqui apresentada consti parte dos resultados de estudos carlogrticas da regido melropottana que foram reaizados em duas escalas complementares, ambas tratando de idenificar @ representar a mortlogia original (morfologia representatva de fases pré-inlervengdo morfoligica, nesse e280, pré-rbana)e a seqléncia de inervencbes nas formas e materiais supericais (morfologias representatvas de fases de perturbacto ativa © de fases pos-perurbagac). Da correlagéo entre esses conteidos cartograficas, foram identficadas.outras unidades espaciais, de cardtor mais complexo, que retnem simultanea- mente, caracleristicas semelhantes quanto @ esses dois conjuntos, de dados. Foram identficadas unidades morfldgicas complexas ‘que se revelaram semelhantes quanto & sua dindmica hidrogeo: morfologica nos testes realzedos até 0 momento, Assim, chege: se a propor a ulizag’o dessa metodologia de suas categorias © conteides como forma auxiar no planejamento urbano, seja para instrugdes de cardterpreventivo ou de recuperagéo. Métodos e Técnicas A revisto da literatura nas areas de geomorfologa pura & aplicada constitu procedimento basico para que os testes, fossem progressivamente realizados © a metodologia constulda, Essa constugao foi fundamentada numa conoepgao de geomor- fologia que permite abordar as recentes e profundas mudangas impostas pelas sociedades humanas na superficie tereste, Essa concepgfo de objeto, significativamente presente na lteratura geomorfoldgica contempordnea ingles, deine o estudo geomor- foldgico como 0 estudo das formas, dos materiais superficials, {Tochas, solos e demais materials) e dos processos da superficie {erteste, lomadas em suas diversas expresses espago-lempo- rais (HART, 1986). Experiéncias com avaiagdes de impacto no me’ofisico realizadas desde 1984 em vastas areas do teritério brasicico @ com intervengGes de grande porte (inhas de trans misso, usinas hidreétices, ferrovias e dutos) também formam 0 substrate dessa proposiqao e de sua apicagao, Da literatura em geomorfologia apicada, s80 relevantes ‘algumas obras, das quais orientagbes basicas foram obidas, So clas: "Geomorphology, Pure and Applied’ de HART (1986), “Antnropogeomerphology’ de NIR (1983), “Applied Geomor- phology: Geomorphotogical Survey for Environmental Develop- ment’ de VERSTAPPEN (1983), “Géomorphologie Aplcabl” de TRICART (1978), “Geomrphology and Reclamation of Disturbed Lands’ de TOY e HADLEY (1987). © uso dos terms antropogeo- morologia, fases de perturbagao antrpica tipos de perturbagao ‘ou intervengéo, marfologia antropogénica, materials tecnogénicos, advem desse revisto. Alguns procedimentos, como 0 de reconheceriniialmente @ morflagia orginal representaiva de fase pré-serturbardo ou a morfloga das fases de nerturbagao ava, foram também selecionados dessa revisao. A revisdo alcangou também a Iieratura de avalagao de impactes no meio fisico em experiéncias em todo © mundo, mesmo diante da difeuldade de acesso, do grande volume, da auséncia de sistomatizagéo, pois se tata, na maior parte dos casos, de material biblagrfico ou relatos téenicos de fora do melo académico. Da revisdo do estudos geomoroligioos © gedlégens aplcados em dreas urbanas, merece destaque os que procuziam ingtrumentos de planejamento com conteidos geomorflégicns, {sis como: cata geotécnica, carta de aptidéo ao assentamento ur tano e zoneamento urbano. Também foram revsados estudos voltados ao reconhecimento de mudangas de taxas de processos em ambient urbanizados. Dessa revisd0 especiia também se pode constuir a metodoiogia em seu conjunto RODRIGUES (1999, 2003) apresentou orientagées basicas para se estudar os eetos das apbes antrpicas no meio fisico 2) observar as apbes humanas como a¢bes geomarfoldy- cas na super terest, ) investigar nas agdes humanas padrdes sigifeativos para a morodinémica ) investigar a dindmica @ a histéria cumulatva das inter- vengdes humanas,iniiendo com os estagios pré-perturbagto; 4) empregar cversas e complementares escalas espago- tempos: } empregar ¢ investigar as possibildades da carografa geomorfolegica de deta 4) explorar a abordagem sistémica 4g) usar a nogio de limiar geomorfolégco e a andlse de magnitude e feqiénciay hh) dar énfase & andlise inegrada em sistemas geomer- folbgios; i) levar em consideragdo as partculaidades dos contextos morfocimatcas e morfestuturais; |) ampliar 0 monitoramento de balangos,taxas © googralia 102 Moroiogia original e morfoogia antopogénica na deinigSo do unades espacas de planejamento urhano: exemplos na metpate pavista dos process0s derivados e nao derivados de agoes antépicas, Os provedimentos especifcos, ora apresentados, so apenas parte dessa busca mais ampla que incul 0 conjunto de alivdades praticas em processos de planejamento. Representa, contudo, alguns dos testes mais signifcativos que podem ser ‘considerados.simultaneamente procedimento e resultado, A ‘condugdo baseou-se, dé forma geral, nesses principios © ‘ientagies. adotando-se efeivamente: (a) a utlizagdo da carlograia geomorfologica {ainda que em alguns casos, parcialmente reaizada}; (b) a utlizagao de escalas diversas ccomplementares para a analise; (c) a utlizagdo e produgéo de ‘conhacimento geomorfoldgicn das condigdes originals da superficie estudada, ou seja, da morfologia original ov representaliva de estigios pré-intervencao; (4) a identiicagao © uilizago de padres de intervengéo humana signfcativas para a morfodindmica; (e) a andiise das interferéncias humanas como inlereréncias de natureze geomorfoldgica; (f) a produrdo de conhecimento ¢ andlse das seqitncias © sobreposigtes de intervengo urbana; (@) © reconhecimento dos. contetidos em diversas e complementares escalas; (h) a utlizagao de sistemas geomorfolégioos com o reconhecimento cartogrfico de seus limites em cada escala estudada como referéncias-chave da correlagao subseqiente, Morfologia Original A etapa inicial da pesquisa deu-se com 0 reconhecimento ‘da morfologia orginal nas escalas 1:250000, 1:25000 e 110000, or melo de técnicas tradicionais da cartografia geomoroligica, (4 seja, sensoriamento remota (princialmente flografias aéreas) conjugado com reconhecimento ¢ levantamento de campo. Enlende-se por morfologia original, ou pré-intervencao, aquela morflogia cujos alrbulos como extensdo, dediiidades, Tupluras @ mudangas de declves, dentre outs, no softeram ateragées.signifcativas por intervencdo antépica deta ou india. Modifcagdo signifcativa € aquela que ja implica em dlimensdes métricas nos atributos mencionados, Em LIMA (1990) existe uma classifcagao de categorias de imlervengéo que parte de um prineito grupo de inervengbes, rmorfolégicas, denominadas intervengaes de primeira ordem, nas quais a urvanizagao & uma das principals. Outra importante Categoria, também de primera order € a intervengdo para retrada da vegelacdo original ‘Subdiviindo-se a5 categorias de primeira ordem, outros tipos de interferéncia podem ser detalhados. Por exemplo, a categoria de intervengao urbanizagao poderd ser detaada por padréo de arrvamento, por densidade de ediicagdes, densidade de loles ou por fases de consoidagao urbana. Pode ser ainda mais detalhada de acordo com a extensdo, profundidade, densidade dessas novas formas ou pelo volume de remanejamento ov substitigao de materais supercais originals (RODRIGUES ¢ COLTRINAR|, 2004). Pera outras categorias de primera ordem, como mineragdo, intervengdes tineares de sistema virio ou intervenges por uso agricola, NIR (1283) advaga que outros detahamentos também devem ser realzados, oro eign! oscrminads ra escala 25000, FEE ons emi smn 20 Fae Capote spa ohn Gat, FSP Fate MA) 103 Cleide Rodrigues / Revista do Departamento de Geogr, 17 (2005) 101-111, CTT JPaTUARES PCS TREES res [Paras RTECS | emo cas AT ‘asses cawoarovoaa arooroctwot GERGRS WERPSSECRS] | TGua 2 Legenda Jo mapeamento goomototbgica revrospacve da Bata do Rio Guavituba, Fonte: RODRIGUES, 2004 Foto 1 Levantamenio de paris em eas de modologiacriginal peser: vada, Abertura de picada e uso de pantégrao, cordas © bissoa, Foto: Clelde Rodtigues. Foto 2 Cortes aproveliados para a caracerizanl0 rmorfmética, pedlégica iolgica, marfolégica e dos materias anropo- agésicas. Foto: Waldrene do Carmo, Assim, 2 morfologi original & a que néo sofrey intervengo direla nas formas orginais, ou seja, os sistemas geomarfolégicos podem ter sido objeto de interfaréncias importantes do ponto de vista dos processos, como no caso da aco do desmatamento, mas no sofreram remanejamentos dietos significativos de mate- rial como aqueles que ocorrem em areas com aragem, pastagem Intensiva @ uso de trator (supertiies agricolas) ou cortes,aterros «e substitugdo por materials teonogénicos (supericies urbanas) © reconhecimento da morfologia original das escalas malo- res baseov-se no uso de catas lopogrioas nas escalas 1: 25000 © 1:10000 (Fig. 1) e de Fotografias aéreas em 1:18000 e 1:10000 (Fig, 2}, Foi selecionada documentagao mais antiga, ou sea, aquela com maiores condigdes de apresentar janelas ou chaves, para a ceractrizagdo e reconhecimento da distribuigdo espacial dessa morfologia. Dentre outros contetido, foram levantados: a geometria de vertentes.(relinidades, convexidades, conce: \idades), @ posigao (tego superior, mécio ou infrin), sub Unidades de vertentes (anfteatros de nichos de nascentes, rupturas, mudangas, etc.) conforme exempo das Figs. 1 € 2 Em campo, além de verifcar a fotointerpretagdo, foram lo- vatados pers e caracterizadas as vertentes em seus atrbutos pedoligios e ltoldgicos (Fotos 1 ¢ 2). Esses estudos de maior cinerea rowan Clouosusos JR amsccrores Wa ceomainnsn Figura 4 Marclogiaantopogénica - RMP (es. orig. 1500000), Fonte: RODRIGUES (2004) e BATISTA (2008). “Tabela 1 Moroogia originale seqléncia de intervengies ubanas na metipole paulsta SHEASMENTOSEDNENTHR. | EBASHNENTOCASTALNG Seo TERRAGOS FLU. —_ CARRS reo e | eens |uornos |asmmas ——_esoatas nora rexionos Sonennanes EXPANSHO URBANA i % io % io © im’ 1% ae % aE ast ae [it ae [is Jo om ono fom [awe fa DE 1929 1962 223 [2423 [ai7a0 | 4276 [32830 [591 va foat [arr |acuga | 1294 Te 17 rearr [m6 | wear | 1605 [erase [1522 [ena [1840 |ooo oor — [omer] ass CUTRAS WTERVENGDES | sta14 [saan [n60 [suey [east [7030 [ames [aura [suse [soz _[sowoar [ras Tora anizo [roo [ara | woo |s2na6 [10000 |eers6 | onan | 5356 [100m |resour_[ ono Fonte: RODRIGUES (2004) 106 Merfologiaeriginale morologiaentropegécice na defnigo de unidades especais de planejamenta urbano: evemplos na metrpole paulsta A identficagdo da morfologia antropogénica nas escales de ‘menor deta (Fig 4 foi realizada de acordo com as orentagdes, anlerionmente descrites, ou seja, teve que ser levantada em diversas e subseqiientes fases de intervengd0 urbana, Para isso foram uliizados documentos antigos e recentes, como cartes {opogrfiea, mosaioos efolograias aéreas antigas e as cartas de evolugdo do uso da terra (Estado de $40 Pavlo/SNMIEMPLASA, 1982 apud BATISTA, 2003), BATISTA (2003) pesquisou as cateyorias € os procedi rmentos utlizados em cartografia do uso da terra para verfcar a possibildade de uso, simpificagao e correlagao com as unidades ‘da morfologia original da carta organizada por RODRIGUES BATISTA (2004). Mesmo sem poder cantar com a discriminagdo de categorias de urbanizagio sugeridas na metadologia€ discer- niveis na escata adotada (como, por exemplo, rea de vertcaiza- (80 densa, rea de loleamento de classe pobre, area de parque, loteamento inicial com arruamento), foi usada a simpiticago de BATISTA (2003) veriicada por outros documentos Dessa forma, @ categoria "intervengdo urbana’ 80 pode ser carlografada em detalne devido as restitas possibldades de generalizagdo dos mapeamentos disponiveis. Todas as infor- mmagies de intervengao urbana foram reunidas numa mesma categoria, area urbanizeda, O mefito da escolna reside na possibilidade de corelagdo carlogréfica com a morflogia origina Outro procecimento importante que merece ser descrito & 0 da correlagéo cartogréfica desses documentos em escales 1 250000 que trazem informagies da morfologia anttopogénica eda morfologia orginal. Essa correlagdo permit identficar as ‘unidades geomorfoldgicas mais preservadas ou mais transgre didas 20 longo do tempo pela expansao urbana (Tab. 1). Esse procedimento auxiiou a obtengao de visdo de conjunto para a posterior identficagao de unidades morflégicas complexas, ou soja, a8 que agregam caracterisicas de sua sitvagdo prévinter- vengdo e de seqléncias de intervengdo urbana semelhantes irdo constr a5 unidades de planejamento urban. Resultados 0s resultados do estudo podem ser considerados substan. tivos @ metodolégicos pois se referem tanto ao conhecimento {eritoral em si, como também a avangos no método, incluindo a possbilidade de sua aplicagdo. Destacam-se a seguir resultados. Na escala metropolitana (a) Da sistematizagéo cartogrtica em 1:250000 da morfo- logia criginal da RMSP foi possivel discriminar as seguintes unidades da morfologia original: planicie de inundagao, teraqos fluvial, colinas em embasamento sediment, mors, serras & escarpas. (b) Sistematizagdo cartogria da morfologa antropogénica na escala 1:250000, representativa da categoria de intevengao urbanizagéo numa seqiéncia temporal de cerca de cem anos. Apesar de ter sido reaizada com simpiicandes e dados secunderios veriicados em aerofolos e imagens de satdte, além de usar apenas a categoria urbanizagéo de forma indscriminada, essa sislematzaggo demonstiou grande potencial de leituras © interpretagbes, ainda ndo plenamente explorads (6) Corretagao cartografica em 1:250000 da motologia ‘orginal da morfolagia antropogénica e a posterior identficagao de unidedes complexas. As simpltfcagdes utiizadas n08 conte dos mostraram-se importantes para a oblengio de uma leiura cartogrtica sem ruidos signifcativos. Vricou-se, contudo, que a correlagdo cerlografica comportaria a inclusdo de algumas catogorias de intervengo urbana ainda nessa escala cartografica, tais como: verticaizagao com ata densidade, loteamentos em implantagdo, aerros de grande porte, dentre outas. A corelagao cattogrética revelou grande potencial de lituras geomortoldgicas, também ainda pouco exploradas. Por exemplo, foi possival identfcar a apropriagdo seletva de compartimentos geomor- foldgioas até as décadas iniciais do século XX e 0 posterior maior nivel de tansgressio em uridades menos propicias & rbanizagdo, tais como: as planicies de inundagao € 0s marros do embasamento crstaino que passam a ser ooupados intensamente a pati das décadas de sessenta, Esse documento foi fundamental para a proposigdo de algumas das unidades complexas, desctitas adiante a titulo de exemple Nas escalas de detalhe (@) Levantamentos cartogréficos e de perfis opogréfcos da ‘morfologa original dos arredores do reservatério de Guarepiranga, fem 1:10000 e em 1:25000, de bacia hidrogréfica de primeira cordem pertencente ao cértego Pirajussara (Favela Nova Rept blica), de intervie bacia de primeira ordem no Municipio de Riterdo Pres, da bacia hdrogréfica de teosia ordem nos bao de Jardim Sofa ¢ Jardim Popular no Municipio de Diadema e da regio de M'Boi Mirim, Esses levantamentos permiiram identfiar correlagdes relevantes entre deteiminados valores de atibutos rmarfologioos (decividades, extenséo de vertenles, dimensio de anfiteatos de cabeceiras de drenagem, etc) com 08 tpos tol icos. Permitiam também reconhecer dlferengas merfoldgicas importantes e recorrentes entre as margens direita e esquerda de bacias hidrogrficas nas regibes da borda da bavia sedimentar de $0 Paulo © em areas com predominio de micaxistos e migma- 107 CGleide Roorigues / Revista do Departamento da Goograi, 17 (2005) 101-11 tos. © recanhecimento dessa morfologia original da superficie, bem coma a morfologla dos materials supericiais e rochas, possibiiiou também verifcar a imporléncia dos sedimentos Tercitrios @ de suas descontnuidades intra‘ormacionals no de- senvolviment dos maiores mais ingremes anfitzatros céncavas de cabeceiras de drenagem. Esses reconhecimentos © corre lagdes apresentam grande valor pata o planejamento. Por exemplo, so encontadas associagdes de fatos da morfologia, original © da morologia antropogénica onde ha maior fequéncia de detemminados episédios de movimentos de massa em areas, Uurbanas. Ha forte correlagao entre 08 anfiteatros de nichos de nnascentes, 08 mais amplos @ ingremes sub-elementos das vertentes origina, com aterros no compactados e heterogéneos, {morflogia antzopogénica) na maior parte desses escorregamen- tos, {0} Levantamentos da mocologiaantropogénica, que foram inicamente sistematizados por cartografia_geomorfoldgica ‘evolutva em escales de detalhe e posteriormente veriicados em trabalhos de campo, Nesses, disciminaram-se pacrées de urbanizagao de acordo com a densidade das formas antropicas, ‘como, por exemola, cores @ alertos, edifcagées e suas ‘imensées, profundidade de remanejamenio de mateias superfciis, volume de materials remobiizados in situ, volume de materais teonogénicos importados de outras areas ou sistemas geomortologios, estigio de consoldagdo urbana, dentre outros parmetros descitores. Esses documentos cartograficas © levantamenios de campo auxiiaram a identficagao de padrbes de intervengo como a defnigdo das unidades morolégicas complexas Nas duas escalas Com todos esses levantamentos e experiéncias, fl possivel inicar um trabalho de identiieagdo des. unidades rmorfolégicas complexas de maior relevéncia na_mettopole. Dessas unidades, destacaram-se como importantes para 0 planejamento, unidades espaciels complexas situadas em cconcavidades superores nos espigbes, em concavidades superiores na botda da bacia sedimentar de S30 Paulo, em rmorros, uma unidade no espigio, diversas unidades em antigas planicies de inundagéo, unidades em divisores interfuviais nos mortos, denire outras. A cartografia completa dessas unidades nBo foi realzada, contudo, a metodologia para sua identiicagso foi plenamente proposta testada. Seguem exemplos de unidades morfolégicas complexas identficadas (também denomi- rnadas de unidades espacais de planejamento} resultantes esse combinagao de conteidos. Figura 4 Cinturio meanctico do Rio Pineios e éreas de backswamps. Fonte: AB'SABER, 1957 Foto 5 Exompo do rrflgia anapoginica e malarial tecnogérico na aniga backswomp no alval Parque Via lbs, Loca @sinaado com ‘agua Fig 4 Foto Edvard dusiniano. (2) Na planicie de inundago foram mapeadas unidades {que originalmente eram backswamps, areas mais rebavadas da Planicie de inundagao original e que foram drenadas por retticagao fluvial, retirada ou substida sua vegetagéo original e ‘lerrada com material tecnogénico diversificado (botas-foras, desassoreamento, entulho, ixdes, ett.), por exemplo, 0 Parque 108 Moroiogiaoniginal e merfolgia anttopogénica na doing de unidades espace de elanofameno urbano: oxemplos na metépolepaulsta Via Lobas e arredores (Fig. 4 € Foto 3). A morfodinémica atu dossa_ unidave complexa apresenta. problemas. semelantes: problemas de drenagem inleme, necessidade de compactayao © de instalagdo de sistema de drenagem para os equipamentos uranes, necessidade de tratemento topogréico e de importagao de terra vegetal para intervengbes palsagistcas. Nos aredores, conde ndo se observa a sesimentagdo e consrugdo desse terra teonagénico, existe a tendéncia de mator ocorréncia de inundagdes ¢ cues difcuades de drenagem e de seneamento Folo 6 Exemplo de matfologa lista, Foto: lian Rosa de Jesus. {0) Nos espigbes foram mapeadas unidades morfolégicas oviginais de interfdvios assentados sobre sedimentos Tercirios da Formagao S80 Paulo, incaimente sistemas geomortolégicos dsporsores e que sotferam desmatamento, remanejamento de materisis superfciais por arruamentos ¢ loteamentos nica, substiuigdo de vegelardo orginal por espécies exdgenas, eeiicag ricial de média densidade com materais tecnogéricos, ¢ de beixa profundidade de intervengbes sublerréneas, depos zo de material tecnogénico de sub-eto e leto de pavimentagao, posterior interferéncia de grandes edficagdes e de fundagdes profundas, sistemas subleréneas (abastecimento, saneamento © comunicagdo), sistema vidro superficial ¢ subleraneo com met e tines. Essa unidade também apresenta hoje problemas igados a0 rompimente de dutos subteréneos e de drenagem subtorénea concentrada,cujo porte pode colacar em isco @ estbilidade da supericie em loceis crcunseritos, princpalmente os locals mais prOximos & antiga morfologia de concentragdo de fhxos. que antecedem as antigas cabecciras de drenagem das. duas ‘verontes dos tos Pinhelos e Tiel? adjacentes (Foto 6) Foto 7 Exemglo de pa urbana classe pobre, morloya onal de inaoles em embasamento cristal, estgis pre e posintewencéo. Foo: lee Rodsges Folo 8 Exemplo de pedo urbano classe pobre, morflogla original de mmorrotes em embasamento crstaino e coinas em endasamenta sedi mmentar Terria, estgio pos intervenga. Foto: Angela Garcia. Um exemplo de anfteatro amplo na interface sedmentos lercidrios (embasamento gndissico), com deposigeo de materiais teonogénicos diversiicados @ no compactados foi apresentado em RODRIGUES (2004). O mesmo exerciclo de corelagao de conteidos e de leituras sobre o comportamento. moro-hidro- inamico foi realizado nessa unidade ¢ nas demais unidades complexas identicadas. 409 Clee Recrigues / Revista do Depadamento de Geogr, 1? (2006) 101-111 Folo 9 Exemplo de padréa urbano classe médla, morfloga original d= ‘espigo em terrenes sedimentares Tecivios, estigio pés-nervencdo, Folo: Angela Garcia, Consideragoes final Este estudo propée a consideracio simutanes da morfologia original (com todos os conteidos morflégcos discriminados) e da seqléncia de intervengdes morfologicas urbanas pata aidentiicagSo de unidedes com hisrodindmicaatual semelnante. Uma vez identifcadas essas unidades com compor tamento isco unfrme (as denominadas unidades espacais complexas}, estarao identificadas formas de intervengao e de rmitigacéo de impactos mais adequadas a cada uma delas. 0 fato de ser possivel espacialzar ou cartografar, coloca a metodologia ‘num plano ainda mais adequado & produgdo de instumentos de planejamento fisico-teitrial urbano. ‘Considera-se que a propasigdo de categorias de andlse, de ‘conceltes-chave, de terminologia, de procedimentos e instu- mental de pesquisa sejam os principais resultados de ordem me- todolagica dos estudos sumariamente relatados. rmariolgia original de espigSo em tarenos sedimentares Teriios, fslgio pos intervengo. Foo: Angola Garcia, 110 (Clee Rocigues / Rests do Departamento de Geogr, 17 (2008) 101-111 RODRIGUES, C. (2008). Original and anthropogenic morphology to identify units of urban planning; the case of $30 Paulo, Revista do Departamento de Geografa,n. 17, p. 101-111 ‘Abstract: This study isan example of apnlietion of methodology to approach min interferences in terestial surface, propased by RODRIGUES (1990, 1997, 1999, 2003). That methodology implies arang others needs to consider the geomorphological systems ins diferent stages of disturbances such 28 preistubance, active disturbance and post-dsturbance, It also includes the view in witch man interferences are analyzed as geomorphological ‘actions and should be considered as interferences informs, materials and processes. It demonstrates how the same type of crgial landforms in $30 Paulo Metropoltan area can change into diferent derivative and anthropogenic landfoms and stats wih cartographic recognizaton of original ‘morphologic units moving on fo te consideration ofthe sequence of human interferences in forms and materials. The prooedure is presented in two ferent and complomenary scales fs, In big scales, such as 1:25000 and 1: 10000 censiering a period of hity years and futher in small scales such as 1: 100000 and 1:250000 considering a period of one hundred years, The tests demonstrale how the diferent combinations of oginal and ~anthzapegeniclndlors can result in complex urban unis and why those ris should be taken into aocount so as fo explain the derivative processes ‘and o adopt urban planing procedures Key words: Anithopogenic geomorphology Anthropic morphology; Impact in ghysical environment, Urban glaning; Environmental cartography; Urban gecindicatos Reoebido em 7 de setembro de 2005, aceito em 10 de dezembro de 2006. Referéncias AB'SABER, AN. (1957) Geomorfoiogia do Sitio Urbano de So Paulo. S30 Paulo, Universidade de Sao Paulo, Tese de Dau- torado, COLTRINAR, L. (1996) Natural and anthropogenic interactions in the braziian tropios in: Geoindicators. 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