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ANISIO MIGUEL DE SOUSA SARAIVA A Propriedade urbana das confrarias e hospitais de Coimbra nos finais da Idade Média Separata da Revista de Ciéncias Histéricas N.° X Universidade Portucalense REVISTA DE CIENCIAS HISTORICAS, UNIVERSIDADE PORTUCALENSE, Vol. X, 1995, PP. 155 - 194 A PROPRIEDADE URBANA DAS CONFRARIAS E HOSPITAIS DE COIMBRA NOS FINAIS DA IDADE MEDIA ANISIO MIGUEL DE SOUSA SARAIVA* SOMMAIRE: Ce travail est fait & partir de I’étude du Tombo Velho do Hospital Real de 1504 qui continent linventaire des biens appartenat & six institutions dassistance de Coimbra, et il porte surtout sur la propriété urbaine, L’auteur étudie des aspects si variés que ceux de la cartographie, la localisation, le type et la surface de dites proptiétés, 1a fagon dont elles étaient exploitées, les rentes qui leurs correspondaient, 1a fagon dont ces rentes étaient payées et méme la condition des locataires de ces propriétés. L'objectif de auteur est de contribuer & mieux connaitre Mhistoire, le tissu urbain et Ja toponymie de Coimbra, & partir de l'étude des propriétés detenues par des instutions d'assistance y existant aux fins du Moyen Age. SUMMARY: The author studies the “Tombo Velho do Hospital Real de 1504 containing the inventory of the property belonging to six social welfare institutions from Coimbra and directs his analysis mainly to urbane property. Aspects relative to those properties, such as its cartography and localization, its type and area, the way those properties were explored, the rents paid for them and the way such rents were paid and also the social condition of their holders are referred and analised in the article. The author's aim is to contribute for the clarifying of some aspects of Coimbra’s history and toponymy basing himself on tne study of the property owned by welfare institutions by the end of Middle Ages. INTRODUCGAO Para o trabalho que agora apresentamos utilizamos como fonte documental o Tombo Velho do Hospital Real de 1504 conservado no Arquivo da Universidade de * Licenciado em Histéria pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 155 Coimbra!. Fonte que se mostrou ser de grande interesse para a hist6ria das confrarias € hospitais de Coimbra e do seu patriménio. E foi, atendendo particularmente a este iltimo aspecto que realizémos o estudo da proptiedade urbana das seis instituigdes de assisténcia que constam da documentagdo. Para a nossa escolha deste tipo de propriedade, pesou o facto de nos ser fornecido um manancial de informago de primeira ordem para o esclarecimento da hist6ria urbana, da toponimia e da zona envolvente de Coimbra medieval. Assim, encontramos na fonte analisada, uma colec¢ao de seis tombos2, referentes a confrarias e hospitais de Coimbra’, estando estes repartidos da seguinte forma: Confraria de Santa Maria da igreja de $, Bartolomeut; Confraria de Santa Maria da Vera Cruz5; Confraria de $. Lourengo§; Confraria de S. Marcos?; Confraria de S. Ni- colau8 ¢ Hospital dos Mirleus?. Cada tombo € iniciado com um auto de abertura, nfo datado!®, seguido do traslado do compromisso antigo!!, Seguem-se ento, os registos ! AUC - Tombo Velho do Hospital Real de 1504, dep. IV, sec. 2B, est. 7, tab. 5, n°l. Que daqui em diante passamos a indicar pelas siglas: TVHR. Tivemos 0 primeiro contacto com esta fonte, aquando da realizagdo de um trabalho de Jeitura transcrigao no ambito da cadeira de Paleogratia ¢ Diplomatica sob orientago do Dr. Sati] Anténio Gomes. Mas, tomando conta das potencialidades de trabalho que nos oferecia tal documento, procedemas & conclusio da leitura e transcrigdo do tombo mas, desta feita, j4 no nosso Seminério de Licenciatura regido pela Prof, Doutoca Maria Helena da Cruz Coelho, no ambito do qual realizémos este trabalho. De ambos somos devedores, 0 que muito agradecemos. Resta-nos ainda sublinhar, todo 0 apoio prestado pela Doutora Maria José Azevedo Santos e Dr. Joaquim Ramos de Carvalho no apontar de sujestoes ¢ esclarecimento de davidas. 2° No final dos quais foram, posteriormente, intercalados o foral de Seia e 0 tombo da Confraria de S, Pedro e dos Clérigos de Montemor-o-Velho. Num total de 110 félios em pergaminho e escritos em gética cursiva tardia, medindo cerca de 300x239mm. Estio agrupados em quaterniones . O niimero de linhas utilizado varia entre 33 © 42, sendo a numeragdo dos félios a modema érabe. (AUC - TVHR 1504, 1. 1 a 19), Do fl. 19 2 27 v. segue-se um arrolamento dos nomes das pessoas a quem as propriedades das confrarias ¢ hospitais esto emprazadas, descriminando propriedades e os félios onde se encontram registadas. (AUC - TVHR 1504, f1. 29 a 46). (AUC - TVHR 1504, f1. 55 a 70). (AUC - TVHR 1504, fl. 77 a 86). (AUC - TVHR 1504, fl, 91 2 95 v9. (AUC - TVHR 1504, f1. 99 a 108). 10 “Do qual consta que por ordem de D. Manuel o desernbargador Diogo Pires, dotado pelo rei de amplos poderes, veio a Coimbra proceder & execugio ¢ reforma dos compromissos das confrarias e hospitais assim como, inteirar-se do fiel cumprimento das determinagdes dos instituidores e tombar os bens pertencentes aos referidos estabelecimentos de assisténcia, Excepefio para o Hospital dos Mirleus no qual nao foi encontrado qualquer compromisso ‘ou documento de instituigo, (AUC - TVHR 1504, fl. 100). No caso do tombo da Confraria de §, Bartolomeu o compromisso é ainda acompanhado pelo traslado do testamento de Constanga ‘Anes (AUC - TVHR 1504, fl. 2 v.° a 6) e no de Santa Maria da Vera Cruz pelo de Lourenca Pires (AUC - TVHR 1504, fl. 30 v.? a 33), ambos em beneficio das respectivas confrarias. wwe Ug 156 dos bens de cada instituigaio finalizando com a reforma do compromisso ¢ respectivo termo de encerramento!2, Feita uma suméria descrigio dos documentos estudados, destacamos, pela primordial importancia que representa para o nosso estudo, o registo dos bens arrolados por cada instituig&o!3. O que nos permitiu identificar a composigao da propriedade quer urbana quer nistica das principais instituigdes de assisténcia conimbricenses. Neste iltimo caso, procedemos apenas & sua cartografia, }4 que a atengfio do nosso estudo recaiu sobre a propriedade urbana que tentémos explorar na totalidade!4, tendo em conta a sua localizagao, particularizando 0 tipo e drea da propriedade, a forma como ela se mostrava explorada, a renda e 0 modo do seu pagamento. A partir da tenda cobrada e da dimensao da propriedade tentémos, posteriormente, estabelecer a relagao entre uma e outra variavel em determinados locais da cidade. Por tltimo, analisamos a vertente social da propriedade, ou seja, a condigiio social dos seus detentores. E desta forma, nosso objectivo contribuir para um maior conhecimento da propriedade e do tecido urbano coimbréo, dominado, no caso conereto, pelas instituigdes de assisténcia, nos finais da Idade Média. 1. Evolugaio das Confrarias e Hospitais Medievais de Coimbra A assisténcia medieval dos carenciados esteve na origem de muitas associa oes voluntérias constituidas por leigos ou religiosos. A nocio de auxilio e de acolhi- mento ao necessitada por parte de uma sociedade profundamente imbuida da mentalidade cristé, fez da Idade Média wm periodo em que a pratica caritativa, nas suas variadas formas, assumisse uma grande importincia, Explicando 0 surgimento e multiplica- 40 de hospitais ou albergarias destinados a receber os pobres errantes, que abundavam nas urbes medievais, ou os enfermos e prestar-Ihes os cuidados de higiene, alimentagdo, repouso ou cura. Acompanhando-os mesmo até ao enterramente € nas missas pelas suas almas!5, Muitos destes hospitais estavam anexos a confrarias e, de facto, essa ligagao quase constitui uma regra, dando as confrarias muitas vezes lugar A fundaclo de 12 Datado o de $. Lourengo, S. Marcos ¢ S. Nicolau de 1503 € o de S. Bartolomeu, Santa Maria da Vera Cruz e dos Mirleus de 1504. Nos registos encontramos a discriminagdo de todos os prédios urbanos e nisticas, seguido de um formulério que contempla a localizagao toponimica, a forma como a propriedade é administrada, ou seja, 0 tipo de contrato, a sua durago, 0 nome e, por vezes, a categoria s6cio- -profissional dos detentores dos contratos, o montante da renda, a data do seu pagamento bem como a descri¢o do prédio, as suas medidas e confrontacdes. Por motivos que nos obrigaram a limitar a amplitude deste trabalho, optémos por deixar para um posterior estudo as confrontagdes das propriedades, embora conscientes da sua relevancia para © nosso trabalho. Maria José Ferro Tavares, Pobreza e Morte em Portugal na Idade Média , Lisboa, ed. Presenga, 1989, p.102. a hospitais, sob a invocagéo de um santo patrono, Assim se justifica a utilizagao do termo confraria como sinénimo, praticamente, de albergaria ou hospital!®, Coimbra no deixava de se enquadrar e de participar nesta tendéncia assistencial, encontrando-se para os finais da Idade Média um grande ntimero de instituiges constituidas por pequenos hospitais, albergarias e confrarias num total de quatorze, sem contar com a gafaria de S, Lazaro que se localizava fora de portas pelas suas carac- terfsticas Gbvias. Assim, contavam-se: o Hospital de Santa Isabel de Hungria, fundado pela Rainha Santa; 0 Hospital de Nossa Senhora da Vitoria; 0 Hospital de Montarroio, instituido para pobres e peregrinos pelo prior-mor de Santa Cruz, D. Joao Teoténio; @ Albergaria de S. Gido; a Confraria e Hospital de Santa Maria da Graga; 0 Hospital de S. Cristévio; a Albergaria da Mercé; a Albergaria de Santa Luzia e, por fim, as instituigdes que foram alvo do nosso estudo: a Confraria e Hospital de Santa Maria de S. Bartolomeu; a Confraria e Hospital de Santa Maria da Vera Cruz; a Confraria e Hospital de S, Lourengo; a Confraria ¢ Hospital de S. Marcos; a Confraria e Hospital de S. Nicolau e 0 Hospital dos Mirleus!7. Constituiam estas as instituigdes que efectuavam a assisténcia publica em Coimbra nos finais da Idade Média. As mais antigas remontam aos séculos XII-X¥Il, caso da Confraria de S. Nicolau, cujo compromisso data de 114418 e da Confraria de S. Marcos que data de 1290!9. A Confraria de S, Bartolomeu data de 134320 enquanto as Confrarias de Santa Maria da Vera Cruz e de S. Lourengo se localizam ja no século XV, ambas com a data de 14342!, Do Hospital dos Mirleus nao conhecemos quaisquer vestigios do documento instituidor22, porém tudo indica que a sua origem remonta aos séculos XI-XII, fazendo parte do escol das primeicas instiuigdes hospitalares da cidade?3. 16 Bernardo Vasconcelos e Sousa, A Propriedade das Albergarias de Evora nos finais da Idade Média , Lisboa, INIC, 1990, p.32. 17” Alberto Pessoa, «Hospitais de Coimbra», in Boletim dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Il, Coimbra, 1931, p.4. Sobre a origem do termo Mirleus, José Pinto Loureiro, Coimbra no Passado , I, Coimbra, 1964, pp.49-50, diz-nos, fundamentando-se no Eluciddrio de Viterbo, o seguinte: «tem 0 significado de frangés ou estrangeiro. Os numerosos estrangeiros que a Portugal vinham, principalmente de Franga, tratar dos seus negécios enquanto aqui [em Coimbra] se encontravam, careciam de hospitais ou albergarias em que se recolhesem e tratassem, quando necessério, E quanto & origem (...) encontrado em Mirle, ave migradora do norte da Europa que, vindo para os paises do sul na Primavera, regressava (...) terminada a estacao (...), aqui analogamente ao gue. se passava com os homens de negécios estrangeiros», 8 (AUC - TVHR 1504, f1. 92 va 93), 19 (AUC - TVHR 1504, fl. 78 v2 a 79 v.). 20 (AUC - TVHR. 1504, fl. |v? a 2 v.%). 24 Pasa a Confraria de Santa Maria da Vera Cruz, veja-se ( AUC - TVHR 1504, fl. 41 a 42 v.°) e para a de S. Lourenga (AUC - TVHR 1504, fl. 56 v.” a 58). © Documento mais antigo de que no tombo da Hospital dos Mirleus se faz mengio é uma sentenga judicial de D. Afonso V de 1468, expulsando da administracio do hospital um «Joham Vaat pela falta de cumprimento dos seus deveres e nomeando outro, chamado «Rodrigo Afomsso». Esta sentenga vem inserida numa carta de confirmagio, dada por D. Manuel ao dito «Rodrigo Afomsso» em 1496, (AUC - TVHR 1504, fl. 100 a 101), 158 Bram estes hospitais, na maioria, produto de doagées ou deixas testamentdrias de particulars, geralmente motivados por yma causa religiosa, temor da morte e a salvagio da alma?4, Deixando, por isso, alguns dos seus bens ao encargo de uma confraria com 0 intuito de com eles se fundarem ou manterem pequenos micleos de assisténcia. Foi certamente esse o espirito que motivou Constanga Anes, mulher do almoxarife de Coimbra, a doar umas casas A Confraria de S. Bartolomeu para nelas se fazer um hospital?5, e Lourenga Pires?6 a instituir uma capela, na igreja de Santa Justa, que tinha anexa um pequeno hospital que devia passar, como de facto veio a acontecer, para a administragaéo da Confraria de Santa Maria da Vera Cruz caso a geragiio da instituidora se extinguisse?’, Era importante a acc&o dos particulares, mas revelou-se de nao menos importancia a acedo régia da qual temos 0 exemplo do Hospital dos Mirleus que tudo indica ser de instituigio real, visto ser confiado a um administrador nomeado pelo rei, podendo ser considerado o primeiro hospital do Estado em Coimbra, excluindo a gafaria8, Contudo estes estabelecimentas nao possuiam estruturas suficientes para fazer face as suas fungdes com a eficiéncia desejada. Tratavam-se na maioria, de instituicdes que nao atingiam para além das cinco camas29, fundadas por doagdes de particulares e suportadas por estruturas muito pequenas. Concluindo-se que, por estas condicionantes, a assisténcia nao fosse a mais apropriada assim como a sua administracio mal orientada e até andrquica?0, Esta precaridade veio a constituir um dos factores que impulsionou a necessidade de em Quatrocentos se proceder 2 respectiva reestruturago e concentragio das instituigdes de assisténcia. Inicia-se uma nova atitude e um novo perfodo. Da caridade particularista dos fundadores e atomista das instituigdes passa-se para uma politica uniforme ¢ bem delineada, desta feita pelo cunho real — estabelecem-se os Hospitais Gerais3!, Trata-se de um movimento de centralizagdo e, mais concretamente, de padronizagio da assisténcia publica portuguesa. Pois, mais do que dotar os institutos 24 Maria Helena da Cruz Coelho, «A Acgiio dos Particulares para com a Pobreza nos sé- culos XI e XII», in A Pobreza ¢ a Assisténcia aos Pobres na Peninsula Ibérica durante a Idade Média, Actas das I*5 Jomadas Luso-Espanholas de Histéria Medieval , 1, Lisboa, 1973, 234, 3 (auc - TVAR 1504, #1 2 v2 2 6. 26 Mencionamos estes dois exemplos porque so os tnicos de que possuimos provas documentais. 27 (AUC - TVHR 1504, fl. 30 v.° a 33). 8 A.A.Costa Simbes, Noticia Historica dos Hospitais da Universidade de Coimbra , Coimbra, 1882, pp.18-19. Sabemos que 0 hospital da Confraria de $. Bartolomeu tinha quatro camas (AUC - TVHR 1504, fl. 6), 0 da Confraria de Santa Maria da Vera Cruz, cinco camas (AUC - TVHR 1504, fl. 33); 0 da Confraria de S. Marcos tinha cinco quartos cada um com a sua cama (AUC - TVHR 1504, fl. 79 v." ) € 0 Hospital dos Mirleus trés camas (AUC - TVHR 1504, fl. 102). 30 Alberto Pessoa, ob. cit, p.4. 31 A, A. Banha de Andrade, Diciondrio da Histéria da Igreja em Portugal , 1, Lisboa, pp. 641-644, 159 de estruturas organizativas capazes, a Coroa procura definir modos de organizagao e de funcionamento32. Provocando a modificagio do tecido assistencial coimbrao, a criagio por D. Manuel do Hospital Real em 1504 vem no seguimento do que j4 havia acontecido em Santarém, Evora e Lisboa, onde ao jé fundado Hospital de Todos-os-Santos foram anexadas quarenta e trés unidades medievais33. Aplicando entéo, D. Manuel, a sua politica reformadora, mandou em 1504 o desembargador Diogo Pires, inquirir sobre os bens e rendimentos, ¢ fazer tombos de todos os hospitais, capelas, albergarias, confrarias e gafarias da cidade34, Dando-se conta da desordem e da inoperdncia das casas de assisténcia, decidiu-se incorporar no recém criado Hospital Real todos os hospitais existentes em Coimbra, com os seus bens e rendimentos. Excepto o dos Mirleus, que 86 veio a ser extinto e incorporado por D. Joio UW em 1526, ¢ a gafaria de S. Lazaro, que continuou independente até ao século XIX?9. Compraram-se umas casas na Praga de S. Bartolomeu (hoje Praga do Comércio)6 onde se instalou um «grande» hospital para os moldes da época e para o tipo de estrutura assisténcial que a cidade conhecia até entao. Foi este o destino dos hospitais e a origem do Hospital Real de Coimbra37 dotado de amplas estruturas ffsicas e administrativas bem como de todos os bens e rendimentos daquelas diferentes casas de assisténcia. Mas, independentemente das diferengas organics e administrativas, € com a fusio dos vérios hospitais ¢ a criagio de um unico hospital — 0 Hospital Real — que se encerra o ciclo de vida de parte das instituigdes de assisténcia medievais coimbras ¢ se abre uma nova fase em que a actuagio desconexa dos particulares, pautada por instituigoes doagées, sucede um novo conceito de assisténcia publica uniforme e racional que marcaré os tempos modernos. Importa, agora, enquadrar no tecido urbano da cidade os hospitais das confrarias por nds estudadas, Para isso, tentdmos localizd-los com o rigor que a documentagao tornou possivel. Assim, o Hospital de Santa Maria de S. Bartolomeu situava-se «no terreiro damte. as portas das cassas que fforom do marichall e ora ssam do comde de Camtanhede»38, 32 Idem , p.661. Idem , pp.665-666. Compreende-se agora 0 contexto histérico e as tazdes da realizagao do TVHR 1504, fonte em que nos basedmos para realizar 0 nosso estudo, Alberto Pessoa, ob. cit., p.4, Contudo, dessa totalidade s6 temos conhecimento documenta pelo TVHR 1504 dos seis por nds estudados. A. A. Costa Simées, ob. cit., pp.19-20, também dé-nos conta que s6 encontrou no arquivo dos hospitais da Universidade documentos referentes As seis instituigdes mencionadas. Nao dando qualquer pista do destino ou da existéncia de documentacio respeitante as outras instituigdes assisténciais de Coimbra. José Pinto Loureiro, Toponimia de Coimbra , U1, Coimbra, 1964, p.234. Apatece designado por diversos nomes nos documentos da época: Hospital Novo, Hospital de D. Manuel, Hospital Pablico, Hospital Geral, Hospital da Praca e Hospital da Nossa Senhora da Conceigéo. A. A. Costa Simdes, ob. cit., p.16, 38 (AUC - TVHR 1504, fl. 6). 160 ou seja, onde hoje se chama Pago do Conde, a meio da Rua Adelino Veiga; o Hospital de Santa Maria da Vera Cruz tinha lugar na Rua de Tinge-Rodithas#9, a actual Rua da Louga4l; 0 Hospital de S. Lourengo, na Mancebia-Velha‘?, préximo da capela do Senhor do Arnado, ao fundo da actual Rua Direita43; 0 Hospital de $. Marcos, na Porta Nova, actual Béco de S. Marcos45; o Hospital de S. Nicolau, de qual a documentagao analisada nada nos diz, sabemos apenas que se localizava nas imediagdes do mosteiro de Santa Cruz‘; e, por fim, 0 Hospital dos Mirleus que se situava «na Almedina junto com os Pagos del rey»47, mais concretamente, em frente da porta principal da antiga igreja de §. Pedro junto da Universidade*8, A partir destas informagées, tentmos cartografar as seis instituigdes49. Encontrando- -as_um pouco dispersas pela cidade, levantamos algumas hipsteses que possam servir de justificagdo para essa distribuigao, Verifica-se entGo, que as instituigdes mais antigas, que remontam aos séculos XII-XIII, se localizam ou na Almedina, caso do Hospital dos Mirleus, ou préximo das 39. A. Cameiro da Silva, «As Estalagens Coimbris ¢ do seu Termo», in Munda, n°15, Maio, Coimbra, 1988, pp.79-94. Refere-se a uma importante estalagem que se estabeleceu em 1622 no gue fora rico Papo do Conde de Cantanhede, onde hoje se chama 0 Pago do Conde, (AUC - TVHR 1504, f1. 33), José Pinto Loureiro, ob. cit., Ul, p.89. 42 (AUC - TVHR 1504, fl. 58 v."). 43 José Pinto Loureiro, ob. cit., 1, p.304, 44 (AUC - TVHR 1504, fl. 79 v.°). 45 A.A. Costa Simées, ob. cit., p.163. 46 Embora, também ignorando a sua exacta localizagio, A. A. Costa Sim6es, ob. cit, p.162, avanga com a nica informagao que conseguimos seunir, ou seja, que «tinha a sua casa junto ao mosteiro de Santa Cruz», 47 (AUC - TVHR 1504, fl. 102). 48. Onde hoje se encontra a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, A. A. Costa Sim6es, ob. cit, pp.163-164, 49° (vid. Apéndice - MAPA I), Os mapas que apresentamos neste trabalho, tém como base a Planta Topogréfica da cidade e arrabalde de Coimbra levantada ¢ desenhada por Izidoro Emilio Baptista , reproduzida por A, da Rocha Brito — «Uma Carta Topogréfica de Coimbra em 1845», in Arquivo Coimbréo, VIII, Coimbra, 1945, pp.134-146. Trata-se, de facto, de uma planta dos infcios do século XIX adaptada por nés para cartografar tecido urbano de Coimbra medieval. que se justifica, por set a primeira planta topogréfica da cidade (embora existindo algumas gravuras dos séculos XVI-XVII, como a famosa estampa de Braunio, mas nfo s6 nfo so mapas como siio muito fantasiadas e com algumas incongruéncias que no oferecem credibilidade © a minima possibilidade de servirem de suporte a qualquer cartografia) e a tnica que ainda nos dé, grosso modo, a configuragao € a toponfinia medieval de Coimbra que perdurou até meados do século XIX, aquando de obras de ampliagao € demoligfo de algumas ruas. Desta forma, tentémos indicar as ruas € alguns dos quarteirGes que existiam nos finais da Idade Média (sem tet qualquer pretensio nern a possibilidade de uma rigorosa exactidao, visto a complexidade tipica do urbanismo ¢ da toponimia medieval bem como a frequente falta de informagio) como também delimitar a cintura urbana de Coimbra de ento, que jé se havia alargado do nicleo inicial da Almedina para o atrabalde em direcei0 ao rio, 161 primitivas muralhas de Coimbra, caso do Hospital de S. Marcos e, com as devidas precaugdes, do Hospital de S, Nicolau. Assim, encontramos S. Marcos junto a uma das portas da cidade, lugar privilegiado para a afluéncia de gentes®? e o Hospital dos Mirleus, que sendo de instituigdo régia, se edificou junto aos pagos reais (bem no cimo da Almedina), onde porventura o rei teria algumas casas e terrenos em que pudesse fazer © hospital. Por outro lado, os hospitais das confrarias mais recentes, dos séculos XIV-XV, encontram-se j4 distribuidos pelo arcabalde, lugar para onde a cidade medie- val se estendeu, nas encostas das antigas muralhas em direcgdo ao rio, Af se encontrava a «outra cidade», repleta de vitalidade, vivendo em torno dos mercadores, artifices, horteldos , do povo humilde e dos miserdveis, Era af que Coimbra se exprimia na cor e no bulfcio tipico das urbes medievais; distinguindo-se da silenciosa Almedina, entao reservada A cleresia episcopal e a alguns fidalgos, daf se encontrarem os melhores edificios e as mais antigas igrejas da cidade5!, Mas é nesta «outra cidade» que encontramos as instituigdes mais recentes, localizadas em ruas de alguma importancia, como o Hospital de S. Lourengo (que se encontrava junto a um dos principais eixos de entrada e de saida da cidade — Rua Direita com a Rua da Figueira-Velha)52, 0 Hospital de Santa Maria da Vera Cruz ¢ o de S. Bartolomeu. Nao sera também por acaso, que sao as instituigdes patrimonialmente mais ricas, como veremos em seguida, aquelas que se encontram precisamente nesta area da cidade, onde o dinamismo comercial ¢ artesanal, a afluxo € a permanéncia de gentes, sao factores a ter em conta. 2. O Patriménio das Confrarias e Hospitais 2.1. Composigao da Propriedade A partir do registo dos bens de cada confraria ou hospital, que se encontra na documentagao analisada, podemos delinear o cadastro das propriedades urbanas e rdsticas, e estabelecer a relagio de grandeza entre umas e outras, bem como a composigao de cada um destes conjuntos. Neste sentido, elaborémos um quadro53 que contempla os dois conjuntos, propriedade urbana ¢ propriedade ristica, analisados por instituigdo e na sua globalidade, Da observacio do Quadro I ressalta o facto de as seis instituig6es possuirem um 50 Bemardo Vasconcelos e Sousa, ab. cit., p.31, encontra a localizagao dos hospitais eborenses junto as entradas da cidade, salientando que esta atraceo dos hospitais pelos principais eixos vidrios tem haver com o carécter itenerante dos pobres durante os séculos finais da [dade Média, verificando-se uma correspondéncia directa entre a fungiio e a localizagao. José Branquinho de Carvalho, «Coimbra Quinhentista», in Arquivo Coimbrao, X, Coimbra, 1947, pp.212-213, Veja-se a nota 50. (wid. Apéndice - QUADRO 1), 162 ntimero quase equivalente de bens urbanos e risticos. Para um total de 98 propriedades urbanas, temos 106 risticas, numa relago de grandeza de (48%) para as primeiras (52%) para as segundas. © que leva a considerar que ambas as propriedades se equivalem em ntmeros absolutos. Em termos de cada instituigao, é notério o poder patrimonial de confrarias como a de S. Lourengo ¢ S. Bartolomeu, em relagéo a mediania de Santa Maria da Vera Cruz e de S. Marcos, ¢ 4 parqueza da Confaria de S. Nicolau e do Hospital dos Mirleus. No conjunto da propriedade urbana, destacam-se as casas e os cortinhais®, constituindo a esmagadora maioria (95%) deste tipo de propriedade5>, como nos prova © gréfico que a seguir apresentamos. O que nao seré de estranhar visto a horticultura € os cortinhais terem conhecido durante os séculos XIV e XV um grande e répido desenvolvimento, ligado ao também incremento urbano®, Quanto & propriedade nistica, os olivais ocupam aqui o primeiro lugar com (73%) da propriedade, seguindo-se, em inferior nimero, as vinhas com olivais, vinhas, terras, terras de pao e ovtras sem grande expressividade numérica, O quantitativo dos olivais destaca-se nitidamente, assim como 0 facto de todas as instituigdes os possuirem. Aparecendo estes também em associacdo a vinha prefazendo, no total de olivais e vinhas com olival (81%) da propriedade ristica. GRAFICO I PROPRIEDADE URBANA Lagar de Vinho § 1,02% Forno de Pao | 1,02% Chios E 4,08% — Cortinhais Casas 0% 20% 40% 60% 80% 54° Maria Rosa Ferreira Matreiros, Propriedade Fundidria e Rendas da Coroa no reinado de D. Dinis. Guimaraes, 1, Coimbra, Faculdade de Letras, 1990, p.268, define cortinhais como terras com produtos horticolas, de pouca extenso, cercadas, por vezes, de paredes. 5 Por este facto, so estes exemplos que vao merecer a nossa atengao, na consequente andlise da propriedade urbana, no ponto 2,2. deste Capitulo. Iria Goncalves, O Pasriménio do Mosteiro de Alcobaga nos séculos XIV e XV , Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1989, p.89. 163 Com 0 intuito de verificar a sua distribuigdo geogréfica, procedemos a respectiva cartografia deste tipo de propriedade. Assim, dos 78 olivais que trabalhémos, foi possivel cartografar 63, correspondentes a (81%). Quanto as vinhas, vinhas com olival e demais propriedades foram cartografadas na totalidade, excepto uma terra e uma terra de pao que nao foi possivel localizar‘?, Da andlise da distribuigaio da propriedade, verificamos uma mancha de olival com algumas presengas de vinha, em torno de Coimbra num raio maximo de 5 quilémetros®®. Raio que considerdmos compreender a zona peri-urbana de Coimbra neste periodo%. © que nos leva a concluir que as instituigses de assisténcia detinham a esmagadora maioria das suas propriedades risticas® na drea de influéncia da cidade, ou seja, na zona peri-urbana. Zona cuja produgia agricola se destinava primordialmente ao seu abastecimento®!, o que atesta 0 cardcter vincadamente urbano destas casas de assisténcia, bem como a sua inserg&o na economia citadina. Tanto mais, que algumas chegavam a vizinhar a cintura urbana da cidade em locais como a Conchada, Montarroio e Fonte da Rainha. © predominio do olival vem ao encontro da hegemonia da cultura da oliveira na zona peri-urbana de Coimbra, onde também se encontra associada 3 vinha mas em menor ntimero. Visto a oliveira ser preferida a Vinha pois, além de nao carecer de muitos 57 (vid. Apéndice - MAPA I), No mapa que apresentamos com a cartografia da propriedade nistica, nfo constam 2 casais localizados em S.Fipo e 1 terra em Valada, lugares a sul no termo de Coimbra perto de Condeixa, que pela sua particular distancia em relaglo 8 cidade, nfo se tornou possivel inserir neste mapa, Para a indicagao do termo, seguimos o «numeramento joanino de 1527», Armando Carneiro da Silva, «Evolugao Populacional Coimbra», in Arquivo Coimbra, XXIII, Coimbra, 1968, pp.209-217. 58 Bemardo Vasconcelos e Sousa, ob. cit., p.61, considera esta distncia para Evora, a correspondente a uma hora de marcha cumprida pelos citadinos que possuiam ¢ cultivavam uma parcela no aro urbano, distancia essa que permitiria a ida-e-volta da cidade ao campo sem prejudicar o trabalho agricola. © conceito de zona peri-urbana que seguimos, foi o também adoptado por: Amélia Aguiar Andrade, Um espago urbano medieval, Ponte de Lima , Lisboa, Livros Horizonte, 1990, pp-81- 82; e Bemardo Vasconcelos ¢ Sousa, ob. cit., 9.61, nota 88, Ambos seguem 0 conceito de zona peri-urbana, compreendida num raio de 4,5 Km em torno das cidades, que fora desenvolvido por Jean-Pierre Leguay, «Le paysage péri-urbain au XV® sitcle, !'aspect et le role de la campagne voisine dans la vie des cités bretones au Moyen Age», in Mémoires de la Sociéte d'Histoire de Bretagne, t. LVI, 1980, pp.64-95; considerando ser perfeitamente adequado as zonas envolventes das vilas € cidades medievais portuguesas. 0 4, todavia, que considerar ainda as propriedades nio identificadas, assim como os 2 casais € 1 terra a sul no termo de Coimbra, nfo cartografadas mas gue se inserem fora da zona peri- urbana. 61 Sobre a organizacao e exploragao agricola das dreas peri-urbanas, em relagdo directa com © abastecimento das cidades, veja-se 0 ilucidativa estudo de Maria José Lagos Trindade e Jorge Gaspar, «A utlizagdo agréria do solo em torno de Lisboa na Idade Média», in Actas de las Jomadas de Metodologia Aplicada de las Ciéncias Histéricas , ll, Histéria Medieval, Santiago de Compostela, 1975, pp.89-94. 164 cuidados, oferecia um fruto mais pereneS2, Embora a vinha tivesse sido a primeira cultura a ter alguma projeccao®3, foi a oliveira que se suplantou conhecendo-se um grande cultivo para os séculos XIII e XIV, constituindo desde entao o principal produto ¢ rendimento agricola de CoimbraS4. Por outro lado, a consolidagéio desta ligag&o da oliveira a cidade e, no caso concreto do nosso estudo, as instituigdes com cardcter assisténcial e religioso, prende- -se de certa forma quer com o seu valor®5 quer com a importancia que o azeite detinha para fins de iluminaco, Ou seja, a doagao de olivais, bem como a sua forte presenga no patriménio destas instituig6es, justifica-se, em grande parte, por ser a forma que os doadores tinham para manter uma lamparina acesa em sua alma®7, 2.2. A Propriedade Urbana 2.2.1. Localizagaio Para o estudo da propriedade urbana, no qual se centra o nosso trabalho, ¢ para a sua relagio com o tecido urbanistico em que se insere, tornou-se indis- pensavel conhecer a sua localizac&o, Tarefa que a partida no se mostrou facilitada devido ao cardcter, por vezes, vago ¢ impreciso das informagées que os documentos nos fornecem. Para além da identificagéo das reas medievais ser complexa, acres- cente-se a isto o facto de nao nos ser indicado o local exacto em que se situavam nas respectivas ruas®’. Limitémo-nos por isso a colocé-las aleatoriamente nas res- 62 Maria Helena da Cruz Coelho, O Baixo Mondego nos finais da Idade Média , 1, Lisboa, INCM, 1989, p.172-176. 3 Gérard Pradalié, «Occupation du sol et cultures autour de Coimbre au XII° sigclen, in Actas de las I48 Jornadas de Metodologia Aplicada de las Ciencias Historicas, U1, Historia Medieval, Santiago de Compostela, 1975, pp.79-87, indica a vinha como a cultura inicialmente desenvolvida, mas mercé dos condicionalismos militares e sociais da Reconquista, a populacio mogérabe vinda do sul leva a cabo a introdugdo ¢ desenvolvimento da oliveira que cedo se veio a suplantar. 64 Antonio de Oliveira, A vida econdmica e social de Coimbra de 1537 a 1640 , 1, Coimbra, 1971, p84, nota 1. . Iria Goncalves, ob. cit., pp.88-89, calcula que uma 4rvore grande e boa podia ascender na primeira metade do século XV entre 500 a 700 reais. 6 Gérard Pradalié, ob. cit., p.87, entre outras explicac6es para o predominio da oliveira em torno da cidade, salienta as necessidades de azeite que as inmeras igrejas, que Coimbra possuia, tinham para manterem as lamparinas acesas nos altares, 67 Robert Durand, Les Campagnes Portugaises entre Douro et Tage aux XII* et XII® siécles, Paris, Fundacao Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Portugués, 1982, p.178. Por sua vez, na documentacao por nés estudada, encontrémos um exemplo ilucidativo; Constanga Anes, instituidora do hospital da Confraria de S. Bartolomeu, deixa & confraria um olival para que com o azeite se mantivesse perpetuamente uma luz acesa em sua meméria, AUC - TVHR 1504, #1. 3 v.°). Embora nos fornegam as suas confrontagées, que nés no analisémos, todavia nfo deixa de ser complexo e, por vezes, impossivel de resolver 0 imbricado tecido urbano medieval. 165 pectivas ruas sem ter sido possivel determinar a sua \ocalizagdo no inicio, meio ou no fim. Elaborémos, entio, um mapa que nos permite visualizar a localizagio da propriedade (hegemonicamente constituida por casas, cortinhais, um ou outro chao, forno de pio e lagar de vinho) ¢ avaliar a sua distribuigéo e concentragéo por ruas®, Das 62 casas contabilizadas, s6 1 nao foi possivel cartografar, assim coma, de 4 chaos s6 dois se encontram cartografados. A restante propriedade foi toda localizada. Assim, apenas numa primeira andlise do mapa, verifica-se que a maioria da propriedade urbana, exceptuando os cortinhais, se encontra dentro da cintura urbana ja por nés delineada’®, Concretamente, concentcada no arrabalde citadino, onde curiosamente também se encontram localizadas as respectivas confrarias proprietérias?!, Referimo-nos 4s Confrarias de S. Lourengo, S. Bartolomeu e Santa Maria da Vera Cruz que, do conjunto das seis instituigdes estudadas, so as que detém a maioria da propriedade urbana (82%). Paralelamente, € na Almedina onde encontramos a Confraria de S. Marcos e o Hospital dos Mirleus bem como a maioria dos seus prédios??. A Confraria de S. Nicolau que se localizar-se-ia perto do mosteiro de Santa Cruz, nas imediagdes da Almedina, detém as suas propriedades no arrabalde, Posto isto, a mancha que a concentrag’o da propriedade nos fornece leva-nos a particularizar as rwas onde ela predomina. Ou seja, em ruas pautadas pela estreiteza tipica das cidades medievais portuguesas73, situadas no arrabalde, onde se verifica a maior concentragiio da propriedade. Era aqui ¢ através delas que a cidade fazia correr grande parte da sua actividade econémica’4. A rua além de lugar de habitagdo era um cenério do labor quotidiano, onde no interior das casas ou as suas portas, homens © mulheres se dedicavam aos seus variados oficios. envolvidos numa atmosfera de cor e de cheiros, conferindo as ruas uma grande vivacidade e animagao?5. E neste ambiente citadino que vemos as confrarias e hospitais possuirem as suas casas, e em ruas como a de Tinge-Rodilhas (hoje rua da Louga)’6, na Rua da Madanela ou Madalena (onde hoje se situa 0 fundo da Rua da Moeda e da Rua da Louga), Rua 89 (vid. Apéndice-MAPA I-A). Nao sendo tecnicamente possivel inserir a toponimia neste mapa, remetemos para 0 MAPA I onde se encontra indicada. Sobre a cintura urbana veja-se o que j4 referimos no comentério ao MAPA I, no ponto 1. Sobre a localizagHo das instituigdes veja-se 0 ponto I. Bemardo Vasconcelos ¢ Sousa, ob. cit. p.57, encontra também para Evora esta tendéncia, Fara a concentragdo dos respectivos prédios perto de cada albergaria 3 A.H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval. Aspectos da Vida Quotidiana, Lisboa, Sa da Costa, 1987, p.66. José Branguinho de Carvalho, 0b. cit., pp.212-215. 3 Amélia Aguiar Andrade, Um percurso através da paisagem urbana medieval, Lisboa, Universidade Catslica, 1987, p.75. Para a identificagao © localizagto da toponimia de Coimbra medieval foi de insu- bstitufvel utilidade 0 estudo de José Pinto Loureiro, Toponimia de Coimbra, 2 vols., Coimbra, 1964, que utilizamos exaustivamente © para o qual remetemos todas as actualizagdes to- ponfinicas 166 de S, Giao (hoje Rua das Azeiteiras), Rua da Enxurrada (hoje Rua dos Esteireiros), Rua dos Pintadores (hoje Rua Eduardo Coelho, ainda por muitos conhecida por Rua dos Sapateiros), Rua Nova, onde fora a judiaria, e Rua da Moeda que ainda conservam os seus topdnimos medievais. Na Adega Pintada (hoje corresponde, grosso modo, ao Largo do Pogo), no Largo de Sansfo (actual Praga 8 de Maio) e na Praga da Cidade (actual Praga do Comércio), dois centros nevralgicos do tecido urbano coimbrao para ‘onde convergem a maior parte das ruas Ainda no arrabalde, mas j4 no limite da cintura urbana com o espago peri-urbano, possuiam casas no Montarroio (ainda hoje conserva esse nome), na Rua dos Oleiros (em parte coincide com a actual), no adro da igreja de Santa Justa e Rua do Quintal (no actual Terreiro da Erva), no Arnado e na Mancebia-Velha junto 4 Rua da Figueira- -Velha (corresponde ao fundo da Rua Direita). Por fim, e nao casualmente, na Rua das Carnicarias vizinha da Rua das Alcagarias. Duas presengas quase obrigatorias nas nossas cidades medievais. Localizavam-se, isso mesmo, proximo do espago peri-urbano, como forma de afastar das ruas mais movimentadas 0 nao muito agraddvel ambiente de cheiros e de cér que ofereciam os oficios dos carniceiros ¢ dos curtidores de peles77. Procurando preferencialmente a proximidade de recursos de agua, € af, precisamente, que os vamos encontrar na Coimbra medieval, perto do rio. E também, no limite da cintura urbana com a drea peri-urbana que encontramos a maior concentragio de cortinhais (Arnado, fundo da Rua da Figueira-Velha, Rua dos Oleiros, e fundo da Rua da Madalena, perto do rio), embora se detecte a sua presenga no interior citadino, aqui quase sempre em associagao a casas. Esta tendéncia para a localizagao dos cortinhais obedece as necessidades naturais de consumo das cidades. Encontrando 0 espago que talvez jé nao existisse em abundancia no interior, muitos citadinos possuiam e cultivavam nas imediagées da cidade, a poucos minutos de trajecto de suas casas, uma parcela de terra donde extraiam os legumes e frutas para o consumo diario. Estabelecendo-se uma relago directa entre o tipo de produto e a necessidade do seu rapido consumo que a localizagio vem de todo justificar”®, Resta, por ‘tltimo, particularizar a localizagio da propriedade noutra area bem destinta do arrabalde, a Almedina. Aqui, embora em ntimero reduzido, encontramos algumas casas principalmente junto as imediagdes da Porta Nova e onde se chamava Chao de Jane Mendes (hoje identificam-se com as ruas do Colégio Novo ¢ Carneiro Jacinto), na Rua da Sobre a Riba (hoje Sub Ripas) e proximo dos Pagos Reais e da antiga Porta do Castelo onde actualmente se encontra a Universidade e os edificios das faculdades que fizermos daqui em diante, Por seu turno, vimos algumas diividas, muito pontuais, serem resolvidas com a consulta do estudo de Amadeu Ferraz de Carvalho, «Toponfmia de Coimbra Arredores», in Colecténea de Estudos organizada pelo Instituto de Coimbra, Coimbra, 1943, pp.87-151; € de Anténio Correia, «Toponimia Coimbra», in Arguive Coimbrdo, VII, Coimbra, 1945. 77 Amélia Aguiar Andrade, ob. cit., p.76. Iria Gongalves, ob. cit., pp.89-91 167 2.2.2, Tipo e Area Deserita a localizagao da propriedade urbana, importa agora analisar em pormenor os dois tipos que a constituem maioritariamente — casas © cortinhais. Determinar as suas dimensées e calcular a respectiva area, 0 que se tornou possfvel em relagdo & quase totalidade da propriedade em andlise”9. ‘No que toca &s casas, teunémos os dados num quadro®®, F a partir daqui verificamos que a 4rea varia um pouco consoante g.casa em questiio, com valores desde (9,68 m2) para uma casa sobradada®! a se 46 m2) para um pardieiro®2, Calculando 0 valor médio total em cerca de (50,43 m: Procedendo a um ee das dreas das casas por classes, com a exclusdo das dependéncias, expressas nos documentos®3, elabordmos 0 Gréfico Il. Da sua andlise verifica-se que (71%) das casas tém uma 4rea que medeia entre (20 e 60 m), Se a este grupo Juntarmos, ‘© anterior, verifica-se que (77%) das casas t¢m uma 4rea que nao ultrapassa os (60 m2), Embora reduzido seja 0 nimero das outras classes, saliente-se a percentagem das casas com mais de (100 m2). Fécil é, entio, de perceber a reduzida dimensio das casas analisadas, que alids seguem a tendéncia para o resto do pais#4. 79 $6 nao se tornou possfvel em relagdo a uma casa que nao indica as medidas (AUC - TVHR 1504, fl. 10), assim como a dois cortinhais que indicam as medidas incompletas (AUC - TVHR 1504, fl. 58 e 102 v.°). 80 (vid. Apéndice - QUADRO II). Sao fornecidas as medidas de «comprido» (que fizemos corresponder a0 comprimento) e de «largo» (que utilizémos como sendo a largura). As dimensdes so, regra geral, expressas em «varas», sendo-o muito pontualmente em «cévados». Para a redugo das dimensées medievais ao sistema métrico seguimos as equivaléncias vara = 1,1 metros, cévado = 0,673 metros, indicadas para o concelho de Coimbra por José Ferreita da Matta e Silva, Tabellas comparativas de todas as Medidas Antigas usadas no districto de Coimbra com as do systema métrico, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1859, pp.47-49. No caso em que sao indicadas mais do que uma largura ou comprimento, operou-se com o valor médio. (AUC - TVHR 1504, fl. 62 v.°). 82 (AUC - TVHR 1504, fl, 93). Excluimos da contagem a drea das dependéncias quando nos indicam a Area total das casas em que se incluem. Apenas, num caso, considerdmos a Area de um sobrado por 86 referir esta, tomando-a entéo como referéncia (AUC - TVHR 1504, fl. 6). Iria Gongalves, ob. cit., pp.112-113, refere-se a casas que nao ocupariam mais do que 16 ‘metros quadrados. Bernardo Vasconcelos e Sousa, ob. cil., p.74, calcula uma média de 30 metros quadrados para as casas de Evora. Sail Anténio Gomes, O Mosteiro de Sania Maria da Vitsria no século XV, Coimbra, ed. Instituto de Histéria da Arte da Faculdade de Letras, 1990, p.210, embora encontrando no seu estudo valores superiores, d4-nos os valores para Obidos (cerca de 40 metros quadrados) © para Tomar (60 metros quadrados), 168 GRAFICO IT DISTRIBUICAO DAS CASAS POR AREAS >100 m2 9,83% 81-100 m2 19% 61-80 m2 4,91 al 41-60 m2 24,594 20-40 m2 45,90% — <20 m2 =-————_+—__—___+——_| 0% 10% 20% 30% 40% 50% Quanto aos cortinhais, e através de um quadro onde condens4mos os dados coligidos85, detectémos uma grande amplitude de dimensGes compreendidas entre os (36,3 m?)86 ¢ os (874,52 m2)87, calculando-se 0 seu valor médio em cerca de (223,27 m?), Por conseguinte, agrupando as suas dimens6es por classes®®, verificamos uma relativa equidade de valores. Podendo-se considerar que (68%) dos cortinhais detém uma 4rea superior a (100 m2). O que poderé encontrar explicagdo no facto de, como vimos no ponto anterior, a maioria dos cortinhais se localizar na confluéncia do espaco urbano com a 4rea peri- -urbana, onde com certeza a disponibilidade de espago determina a sua dimensao. Este facto, conjugado com informag6es acerca da existéncia de érvores de fruto®, vem reforgar as fungdes que estes desempenhavam ao nivel do abastecimento da cidade. 85 (vid. Apéndice - QUADRO III). Veja-se o mesmo comentério para 0 QUADRO II. 86 (AUC - TVHR 1504, f1. 37). 87 (AUC - TVHR 1504, f, 60 v. 88 (vid. GRAFICO IID. 89 (AUC - TVHR 1504, f. 93 e 102). 169 7 GRAFICO II : DISTRIBUIGAO DOS CORTINHAIS POR AREAS >300 m2 14)29% 251-300 m2 17,86% 210-250 m2 14429% 154-200 m2 14429% 101-150 m2 714% 50-100 m2 17,86% <50 m2 14,29% 0% 5% 10% 15% 20% Ainda no respeitante as casas, ¢ aproveitando as informagdes que dispomos, ¢ possfvel caracterizarmos o tipo de construgdes urbanas que as instituigdes estudadas possuiam, Eram, normalmente, casas que se pautavam por uma grande simplicidade formal. A grande maioria (51,61%) possui apenas um piso seguida das casas com dois pisos e em pequeno mimero cam trés pisos. Por outro lado, e tendo em conta o ntimero de divisées contabilizadas por casa, &-nos possivel indicar duas tendéncias?!, Assim, é 0 tipo de casa com um piso e uma tmica divis&éio que aparece em destaque, ou seja, a «casa térrea»92; seguido das casas do tipo, dois pisos com duas ou mais divisdes, «casa sobradada» ou «casa com loja e sobrado», Aqui predominam ‘as duas divisdes, uma por piso. 90 (vid. GRAFICO IV), (vid. QUADRO I-A). Que nds estabelecemos em fungo das tipologias apresentadas por Maria Manuela Santos Silva e Manuel Silvio Alves Conde, «Recursos econémicos de al- ‘gumas instituigdes de assisténcia de Santarém nos finais da Idade Média», in 1383-1385 e a Crise Geral dos Séculos XIV/XV. Jornadas de Historia Medieval, ed, Hist6ria & Critica, Lisboa, 1985, pp.68-107. Considerémos «casa térrea» também aquelas que nos eram indicadas s6 como «casa» sem mais qualquer outra especificagao ou descrigfo, visto quando se tratam de «casas sobradadas» & dado grande énfase A descrigdo do seu interior. Assim, também consider4mos os pardieiros @ duas lojas (AUC - TVHR 1504, fl. 6 ve 7). 170 GRAFICO IV PISOS POR CASAS 6,4: 41,94% eee Piso El 2Pisos 3Pisos O restante ntimero de divisdes varia em fung&o do numero de lojas e de repartimentos no sobrado, onde também encontramos «casas dianteiras»93 que dariam para a rua e onde se desenrolava a vida doméstica?4, «cdmaras»95, «cozinhas»96, ou a simples meno a «repartimentos»97, Aparecendo em alguns casos a «casa dianteira» juntamente com a «loja» no piso térreo%8, A tendéncia para a «casa térrea» e «casa com loja e sobrado», constitui a regra encontrada para o resto do pais®, Dotadas de uma estrutura simples, pouco especializada e sem grandes particularidades arquitecténicas exteriores, eram um pouco semelhantes umas as outras!0, Apenas a diferencié-las, alguns acess6rios que Ihes dariam mais comodidade: um «alpendre»!01, um «pétio»!02 ou uma «sacada»!03, No entanto, encontramos excepgées. Estas dizem respeito 2s casas com trés pisos e prendem-se, por um lado, ao fenémeno do alteamento verificado nos tiltimos séculos da Idade Média motivado pelo aumento da populagdo citadina!4 e, por outro, ao valor 93 (AUC - TVHR 1504, fl. 7 v., 8, 33, 33 v." © 35). 94 Tria Gongalves, ob. cit. p.112. 95 (AUC - TVHR 1504, f. 7 v., 8 33, 33 v., 35 € 79 v."), 96 (AUC - TVHR 1504, fl. 33 v." € 35). 97 (AUC - TVHR 1504, fl. 7, 8 v2, 9 v2, 33, 59, 61 v.°, 62, 82 v.°, 83 © 102), 98 (AUC - TVHR 1504, fl. 33 © 33 v.). 99 AH Oliveira Marques, ob, cit., p.67; € Iria Gongalves, ob. cit., pp.109-113. 100 Amélia Aguiar Andrade, Um espaco urbano medieval. Ponte de Lima, Lisboa, 1990, p.38, 101 (AUC - TVHR 1504, fl. 60). 102 (AUC - TVHR 1504, fl. 79 v.9. 103 (AUC - TVHR 1504, fl. 6 e 82 v.’. 104° ria Gongalves, ob. cit., p.113. 171 locativo da rua ou da zona em que a casa se inseria'®S. & nesse sentido que trés das quatro casas de trés pisos que detectémos se localizam em locais da cidade onde o valor da propriedade se acentua: Largo de Sansao!®, Praca da Cidade!07 e Porta do Castelo!8, como mais adiante veremas!09, QUADRO L-A PISOS E DIVISOES EXISTENTES NAS CASAS Divisées ee Gye) Pisos 1 Piso 2 - - | 32 2 Pisos la) 10 4 4 #3 - 1 2 i 26 3 Pisos a. hl - 1 : 4 Total 33010 5 G6 4 1 3 i Gp a) Considerdmos neste tipo, um sétdo pertencente a uma casa sobradada, (AUC - TVHR 1504, fl. 93). Resta, por fim, salientar que a par da simplicidade estrutural dominante das casas medievais coimbras, pelo menos a julgar pelas que pertenciam as confrarias e hospitais estudados, verificdmos a existéncia de alguns pardieiros!!0, O que est4 certamente telacionado com a utilizagio de materiais de construcdo pereciveis e facilmente deterioréveis como a madeira, adobe, palha e barro, que propiciavam 0 estado de ruina que os caracteriza!!!, Por este facto era vulgar quando se fazia um contrato de emprazamento, estabelecerem-se clatisulas que obrigavam os detentores dos prazos a 105 Maria Manuela Santos Silva ¢ Manuel Sitvio Alves Conde, of. cit., p.74, também constatam esta relagdo do alteamento com as zonas de Santarém de maior valor locativo, Assim como, Maria da Conceigio Falco Ferreira, «Uma rua de elite na Guimardes medieval 1376-1520», in Revista de Guimardes, Guimaries, 1987-1988, p.239, mostra que o alteamento em Guimardes se circunscreve as ruas onde os pregos se revelaram mais elevados. 106 (AUC - TVHR 1504, fl. 35). 107 (AUC - TVHR 1504, f1. 6 v9). 108 (AUC - TVHR 1504, a. 81 v.”). 109 No ponto 2.2.4, Valor da Propriedade, em que procedemos ao célculo do valor do metro quadredo em algumas ruas da cidade. 10 (AUC - TVHR 1504, fl. 35 v2, 68, 93 e 102). 11} Maria da Conceigio Faleso Ferreira, ob. cit, pp.242-243. A pedra e a telha estariam reservadas, devido ao seu custo, as casas ou edificios de maior prestfgio. 172. repararem ou a beneficiarem as casas!!2, Foi com esse intuito que, no tinico mas ilucidativo exemplo encontrado, a Confraria de S. Marcos emprazou uma casa a um «Gill Louremgo» com a obrigagao de colocar a divisa da confraria na soleira da porta!!3 2.2.3. Exploragio da Propriedade Na anélise da administragfio do patriménio, desde logo ressalta o facto de as casas de assisténcia estudadas explorarem indirectamente a sua propriedade, através de um regime de contratos de emprazamento. Contratos esses, que pressupunham a cedéncia a outrem do dominio util de um dado prédio, a titulo tempordrio e definido em vidas, mediante 0 pagamento anual de uma determinada renda!!4, Foi esta a tendéncia que encontrémos, a realizagio de emprazamentos com a durag&o da vida de trés pessoas! '5, que alids era prética corrente nos contratos relativos a prédios urbanos!!6, Contando-se para o efeito marido, mulher e outra pessoa a nomear pelo que mais vivesse; assim como, foi frequente ver-se consignada & primeira vida © direito de escolher livremente a segunda, e esta o de apresentar a derradeira. Esta Ultima modalidade dizendo respeito, principalmente, a mulheres vitivas ou a titulares solteiros. Importa referir, que apenas um cortinhal, da propriedade urbana analisada, se encontra sob o regime de aforamento, perpétuo € hereditétio, sendo por isso a nica excepgio!!7, O que se poder explicar, pelo facto de o aforamento constituir um processo menos rentdvel de pr em valor os ediffcios possuidos!!8, neste caso, pelas confrarias e hospitais. No que diz respeito a uma das principais componentes dos contratos — a renda. Constatémos que apenas de 1 casa sobradada se cobra a renda em géneros!!9, Num panorama totalmente dominado pela renda fixa em numerério (reais) tanto nas casas como nos cortinhais!20, 9 que demonstra uma clara importincia por parte da economia monetéria em Coimbra. Este dominio do real é explicado pela conjuntura monetaria portuguesa de meados do século XV, quando foi uniformemente adoptado!?!, Por outro 112 Amélia Aguiar Andrade, ob. cit. p.34, 113 gob pena de dois mil reais de multa e de perder o prazo, (AUC - TVHR 1504, fl. 82) 114° Maria da Conceigio Falcdo Ferreira, ob, cit, pp.114. 115. (vid. Ap@ndice - QUADRO IV). 116 Maria Manuela Santos Silva e Manuel Silvio Alves Conde, ob. cit., p.84. 117 (AUC - TVHR 1504, f. 13). 118 Maria da Conceigéo Falco Ferreira, ob. cit. pp.118. 119 A renda consiste em 7,5 alqueires de azeite & cafra (AUC - TVHR 1504, fl. 33 v.°). 120 (vid. Apéndice - QUADRO IV). 121 A. H. de Oliveira Marques, «A Moeda Portuguesa durante a Idade Média», in Ensaios de Histéria Medieval Portuguesa, Lisboa, 1965, p. 205. 173 lado, a crescente necessidade de dinheita sentida nos finais da Idade Média, levou & proliferagéio das rendas em numerério, tendo sido a propriedade urbana a primeira onde isso se verificou, e que se torna obrigatério apartir do reinado de D. Manuel!22. Sendo-nos possfvel calcular as rendas das casas e cortinhais que cada instituicio auferia, ¢ estabelecer as respectivas comparagdes, procurémos avaliar, em termos aproximados, a capacidade econémica de cada uma delas!23, Assim, verificAmos que sila, como seria de esperar, as instituigdes com maior ntimero de casas e cortinhais aquelas que auferem maior rendimento, destacando-se as confrarias de S, Bartolomeu, de Santa Maria da Vera Cruz e de S. Lourengo como as de maior capacidade econémica. 6 de notar, que embora o Hospital dos Mirleus nfo tenha qualquer casa emprazada, nao auferindo daf qualquer rendimento, é aquele que s6 com um cortinhal!24 detém a maior fenda neste grupo, Variando os valores totais, auferidos por instituigfo, no grupo das casas entre os 150 ¢ 2220 reais, sendo francamente mais baixos para os cortinhais com rendimentos entre os 110 e 700 reais. GRAFICO V DATAS DE PAGAMENTO DAS RENDAS pales 1% 80% 60% 40% 20% ih 4% 19, 7 2% 0% Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set, Out, Noy. Dez. Rg Estes rendimentos advinham de rendas pagas anualmente e por inteiro em datas fixadas nos contratos, geralmente relativas a festividades litdrgicas!25, Encontrando deste modo o pagamento de rendas em datas como 0 S, Miguel 322 Shia Gongalves, ob. cit, pp.203-204, exceptuam-se as direituras que podiam ser pagas em aves. 123 (vid. Apéndice - QUADRO V e VI). 124 (AUC - TVHR 1504, f. 102 v.9). 125 (vid. Apéndice - QUADRO IV) ¢ A.H. de Oliveira Marques, ob. cit, p.85, 174 de Setembro, o S. Joio Baptista, 0 Natal, 0 1 de Janeiro e o Carnavall26, © que & partida pode denotar uma relativa repartico das rendas ao longo do ano econdmico. Saliente-se 0 caso da Confraria de Santa Maria da Vera Cruz, em que a cobranga das rendas se reparte por todos os casos apontados, menos no 1 de Janeiro. Mas, contudo, a tendéncia é para a concentragao!27, sendo a data majoritéria, o S. Miguel de Setembro (87%) 128, Acrescentavam-se ainda algumas rendas pelo Ide Janeiro (4%) que se podem ligar As do Natal (2%), pelo S. Jotio (6%) e, excepcionalmente, uma renda pelo Entrudo (1%). Esta iltima diz respeito ao tinico prazo encontrado cujo pagamento se efectuava em azeite}29, visto esta ser uma das datas privilegiadas para o pagamente deste tipo de renda!30, 2.2.4, Valor da Propriedade Tendo jé efectuado a anélise da localizagio, da area e da explorago da propriedade, chegou o momento de fazermos estabelecer a relagio entre o valor ¢ a sua dimensio num determinado local. E como estamos ciente da relatividade desta andlise, efectudmo-la somente para as casas. Desta feita, elaborémos um quadro!3! onde procedemos A selec¢o de alguns locais tendo em conta quer a concentragiio da propriedade!2 quer a sua importincia na estrutura urbana da cidade, e em fungio da rea e da renda calculdmos o valor por metro quadrado em determinado local da cidade. Sublinhamos, no entanto, a precaugo dos valores apresentados, pois nada mais sabemos acerca da qualidade e do estado de conservagdo das casas, a ndo ser que € pardieiro!33, assim como, se o valor da renda indicado para alguns casos se se encontra devidamente actualizado, podendo este nao corresponder ao verdadeiro valor locativo do sitio onde se localiza a casa, Estes entre outros aspectos, como o facto de em alguns locais s6 possuirmos uma casa como referéncia, tém de ser tidos em conta juntamente com a leitura dos valores por nés determinados. Deste modo, poderemos afirmar que habitar em locais como a Porta do Castelo 126 Acrescente-se ainda, o dia de Nossa Senhora da Conceigao, em Dezembro, no qual era pago um censo que a Conffaria de S. Marcos detinha sobre uma casa, (AUC - TVHR 1504, fl, 84). 127 (vid. GRAFICO V). 128 Maria da Conceigao Faledo Ferreira, ob, cit., p.119, encontrou esta tendéncia para Guimaraes, ‘onde também os prazos so pagos na sua maioria em numerdrio. 129 (AUC - TVHR 1504, fl. 33 v.%). 130 Iria Gongalves, ob. cit., p.300. 131 (vid. Apéndice - QUADRO VII), 132. Referente a casas emprazadas, as tinicas que pela renda nos € possfvel saber o seu valor, eas que nos fornecem as medidas. 133 Para esta andlise apenas entrou na contabilizago um pardieiro no Montarroio, (AUC - TVHR 1504, f1, 35 v.), 175 (na Almedina), o Largo de Sansao, a Rua dos Pintadores e a Praga da Cidade (no arrabalde citadino)!34 representava usufruir de um espaco cujo Ga era superior ao da média de todos os locais seleccionados, ou seja, (3 reaisim2). Destes quatro, sa- lienta-se : Praga da Cidade e a Porta do Castelo com os valores mais elevados (7 & 5 teais/m2), e o facto de se situarem, embora diametralmente opostos, em locais privilegiados da estrutura de qualquer cidade medieval — numa Praga e numa Porta. Além dissso, saliente-se a particularidade de trés deles se encontrarem precisamente no arrabalde citadino, zona da cidade que temos vindo a sublinhar pela importante dinamica econémica ¢ social que imprime & cidade. Por outro lado, os locais de maior concentragdo de casas, se exceptuarmos o Largo de Sansao, sio aqueles que apresentam o mais baixa valor locativo (1 e 2 reais/m~), caso do Arnado, do Montarroio e da Rua de S. Gifio que ou se encontram ou se dirigem para a linha que limita a cintura urbana de Coimbra!35, Finalmente, efectuando a média da renda no total das casas (tendo em conta a nossa amostragem), encontrémos para Coimbra o valor médio de 124 reais por casa que se encontra no parametro de valores j4 calculados para outras cidades, em estudos efectuados no Ambito do fenémeno urbano portugués na idade Médial36, 2.2.5. Detentores dos Prazos Importa, por fim, conhecer a condig&o social dos detentores dos prazos da propriedade urbana analisada. Embora com limitagdes, pois nem sempre a documentagaio refere a profissiio ou o estatuto social dos titulares, conhecendo-se apenas para (51%) dos casos. Dos restantes (49%) importa referir que (21%) dizem respeito a mulheres, que constatémos corresponderem & sua totalidade. Concluindo-se, entdo, que as indica- ges no caso das mulheres so praticamente nulas!37, Assim, dos casos conhecidos, que j4 sabemos pertencer aa totalidade a homens, procurémos enquadrar!38 a grande variedade de profissdes detectada, por grupos!39, a saber; mesteirais, comerciantes, trabalhadores agricolas, pequeno e médios funciondrios 134° (vid. Apendice - MAPA 1). (vid, Apéndice - MAPA I e I-A). 6 Maria da Conceigéo Falcdo Ferreira, ob. cit., pp-105-113, dé-nos conta dos valores entcontrados para Guimardes neste perfodo, 120 reais, € para outras cidades como: Silves, 100 reais; Evora, 2 libras; Guarda, 93,3 reais; Lisboa e Porto face 8s particularidades das zonas estudadas sfo as cidades que apresentam valores mais elevados, entre 0s 172,2 ¢ 1200 reais ano. 7 Apenas encontrémos 3 casos de mulheres vitivas que referem 0 estatuto ¢ a profisso dos maridos, (vid. nota c), d) e e) Apéndice - QUADRO ViID. (vid. Apéndice - QUADRO Vill), Para o agrupamento das profissbes seguimos o critério adoptado por Iria Goncalves, «Aspectos econémico-sociais da Lisboa do século XV estudados a partir da propriedade régia», in Revista da Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas, 0°, 1980, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1980, pp.190-203; principalmente no que respeita ao grupo dos comerciantes. 176 e nobres. Neste tiltimo para os casos em que s6 nos indicam este particular estatuto social. Desta forma, destaca-se 0 grupo dos mesteirais!40 que veune a maior variedade de profissdes (63%) com maior realge para a de cordoeiro, ourives, sapateiro ¢ alfaiate. © grupo dos trabalhadores agricolas e do pequeno e médio funcionalismo aparece em segundo plano com (13%) © (11%) respectivamente, com profissdes que dificilmente ultrapasam 0 Unico exemplo. Em menor niimero temos 0s comerciantes (5%), onde enquadrémos 0 tinico camiceiro e almocreve detectado, por fim, o grupo dos nobres com (8%) constiwtido por 1 cavaleiro © 2 escudeiros. GRAFICO VI CONDICAO SOCIAL DOS DETENTORES DOS PRAZOS 8% Comerciantes i trab. Agricolas 13% O Peg. e Méd. 63% Funciondrios Em suma, a nitida predominancia dos mesteirais na detengéo dos prazos, & facilmente compreendida pelo contexto urbano em questdo, assim como pela zona onde encontramos a maior concentragao da propriedade urbana — o arrabalde da cidade. Local de eleigéo, na Coimbra de finais de Quatrocentos, para oficiais mecfnicos, encontrando- -se af também comerciantes, trabalhadores agricolas vendendo os produtos cultivados nos arredores, ¢ um conjunto de pequenos e médios funcionérios!#!. 140 (vid. GRAFICO VI). José Branquinho de Carvalho, ob. cit., p.212. 177 Conclusie A partir do arrolamento das propriedades das confrarias e hospitais de Coimbra efectuado aquando da sua extinggo e anexagdo ao Hospital Real criado em 1504, procedemos ao estudo das referidas instituigdes com incidéncia particular para a propriedade urbana que detinham. Assim, no conjunto das seis instituigdes estudadas verificémos que as mais antigas, dos séculos XII e XIII, se localizavam no nticleo original da cidade, a Almedina, enquanto as mais recentes, dos séculos XIV e XV, se encontravam ja distribuidas pelo arrabalde, lugar para onde a cidade medieval se estendeu ¢ alicercou as suas estrututras econémicas, Foi af que encontraémos as instituigdes mais recentes assim camo as de maior poder patrimonial. Patriménio que na sua totalidade englobava a propriedade rdstica, composta principalmente por olivais e algumas vinhas, e propriedade urbana onde as casas € os cortinhais imperavam. Apresentando quer uma quer outra, uma grande equidade em termos quantitativos. Verificémos, por seu turno, no caso da propriedade rustica, que esta se encontrava na drea peri-urbana da cidade 0 que vem atestar o carécter vinca- damente urbana destas casas de assisténcia. Analisando, detalhadamente, a propriedade urbana e privilegiando os dois tipos dominantes, as casas € os cortinhais, verificdmos, através da respectiva cartografia, que a propriedade se encontrava concentrada no arrabalde, onde também se tocalizavam as instituig6es proprietarias. As casas, dentro da cintura urbana distribuidas pelas principais ruas, € 0s cortinhais na sua majoria na confluéncia com a 4rea peri-urbana, justificando as suas fungdes de abastecimento a cidade. Procedendo 4 andlise do tipo e da 4rea, tornou-se patente a reduzida dimensao da maiotia das casas, em contraste com a percentagem de cortinhais de considerdvel dimens&o a que deve ter estado ligado o facto de se localizarem no limite da cintura urbana onde 0 espago disponivel seria maior que no interior da cidade. Ainda no respeitante &s casas, verificémos que eram na sua maioria do tipo um piso uma divisdo — casa térrea, e dois pisos com duas ou mais divisées — casa com loja e sobrado, aquelas que compunham o tecido urbano de Coimbra. Concluimos ainda que as excepgies relativas as casas de trés pisos correspondiam aos locais da cidade para onde calculdmos o valor da propriedade mais elevado, entre eles: o Largo de Sansv, a Praga da Cidade e a Porta do Castelo, locais privilegiados na estrutura de qualquer cidade medieval. Contudo, observdmos, curiosamente, que era nos locais de menor valor locativo que as instituigdes possuiam a maior parte das stas casas. Finalmente, apercebemo-nos que a propriedade se encontrava na sua totalidade explorada indirectamente, através do regime de contratos de emprazamento, todos cles em trés vidas, cujas tendas estipuladas em numerdrio eram pagas preferencialmente todos os anos e por inteiro no S. Miguel de Setembco. Maioritarios eram também, os homens oriundos das profissdes dos mesteres, na detengdo dos prazos da propriedade urbana das instituigdes de assisténcia de Coimbra nos finais da Idade Média, Estas confratias e hospitais ndo fugirdo, por certo, a politica de exploragiio e dominio de bens dos demais proprietérios da cidade, mas essa comparagdo aguarda ainda outros estudos para que se possa realizar com todo o proveita para cada um deles e para o tecido urbano em geral. 178 QUADROL COMPOSICAO DA PROPRIEDADE Propriedade Rastica (otal) 8) Contabilizdmos como duas unidades a metade e duas casas. As outras duas metades pertencem & Confrari de $. Marcos, ) ConuabilizAmos como uma unidade a metade de wma casa, assim como a de um pardieiro. NSo é referido a quem pentence a cutra metade da casa, enquanig & do pardciro é pertenca de um particular, Catarina de Cageres. ©) Nio se contabilizou uma casa sobradads, sobre a qual a confrara s6 detém um censo anual de 20 reais (AUC - TVHR 1504, 1,84), 4) Contabilizémos come duas wnidades a metade de duas casas. As outras duas metades pertencem & Confraris de S. Bartolomen. ©) Contabilizdmos como uma unidade a metade de um olival, a outra metade pertence i Confraria de Santa Maria da Vera Cruz, { Coniabilizsmos como uma unidade a metade de um olival, a outra metade pertence i Confearia de S. Bartolomeu. Néo se ‘contabilizou, por sua vez, um outro olival que, segundo o assento do seu prazo, diz ser da capela de D. Lourenge na igreja de ‘Santa Justa de Coimbra cujas rendas sio anexas esta confrania, (AUC - TVHR 1504, f1. 45°). £8) Estes dois cassis siwados em S. Fipo, no termo de Coimbra, cram constituidos deste mode: umn deles por (4 cases, I coral, 2 hherdades, 16 terra, 1 eira, 1 vinhae { ameiro) o outro, mais pequeno, por (5 casas, 2 terra € I vinha). 1) O Hospital dos Mirleus possula, ainds, olugar de Alvoca da Serra sitiado no actual concelho de Seia, 179 QUADROT DIMENSOES E AREAS DE CASAS E SUAS DEPENDENCIAS Dimensées Areas (m?) | Observagées Medievais Metros — Eo hospital de S. ere 99,6 Bartolome. Tem a dois sobrados com escadas de acesso Eicgee 24,38 ao 1° que faz de 1=Seve2 tergas 01 ue zd —} lojas Dois sobrados irasy 3539} comesctmaras, | AUC-TVHR oo uma casa dianteira| 1504, , 6 ve ¢ umas lojas = : Es casa é uma 28.73 das oj gue AUC-TVER esto debaixo. 1504, £1. 6 v” sobrado do hospital de S. Bartolomeu Esta casa 6 uma ene 32,67 daslojasque | AUC-TVHR | a esto debaixo do sobrado do 1504, 1.7 hospital de S. Bartolomeu Um 5445 repartimentono | AUC-TVHR | sobrado,eduas | 1504, 11.7 lojas 25 - 33 3025 Casa térrea AUC- TVHR 1504, fl. 7 v® ; Casa dianteira e coe = 1045 45,98 ‘cémara no AUC-TVHR l=4v 1244 sobrado, ews _ lojas | 40,30 Gon AUC-TVHR - 1504, 1. 7 v® 30,25 Casa tércea AUC-TVHR 1504, f1. 8 ree 38,72 Casatésrea | AUC-TVHR : 1504, f1.8 c=7vetera = 8,06 266 | | 0 | 9 | > | 30] 0 | 0 | 09 | so srentdsopy > THN Hay 'S oner’s ‘opm — | cusuerept ] sarmup5 sto ‘oyuaMaId OP BIE epuTy ‘soye.nu0D sop Osean Savaanidoud Va OYSVEOTEXa Alouavnd 187 QUADRO V RENDIMENTO DAS CASAS — ssn [ae [| Tou [wees [2 iii [2 [| ae [a [| x | za | ws fo St M?® Vera Cruz QUADRO VI RENDIMENTO DOS CORTINHAIS e Hospitais Sie [| Ne QUADRO VIE VALOR DA PROPRIEDADE Renda (reais) Area (m?) Locais Reais / m? Casas | Total | Média | Total | Média Porta do Castelo 1 170 170} 33,88 | 33,88 5 Porta Nova 3 390 130 | 138,54 | 46,18 3 Sobre a Riba 2 200 100 | 58,08 | 29,04 3 Largo de Sanstio 5 1090 | 218 | 252,09 | 50,42 4 Praga da Cidade 1 250 250 | 3539 | 35,39 7 R, Tinge-Rodilhas 3 300* 100 | 166,72 | 55,57 2 R. Pintadores 2 160 80 | 39,86 | 19,93 4 R. Camigarias 4 430 | 1075 | 130,37 | 32,59 3 R. S.Gitio 5 360 72 | 180,66 | 36,13 2 R, Figueira-Velha 2 170 85 | 93,77 | 46,89 2 Amado 5 470 94 | 431,66 | 86,33 1 Montarroio 8 660 | 82,5 | 288,58 | 36,07 2 * No contabilizimos uma casa sobradada cuja renda é paga em azeite ( AUC - TVHR 1504, 11.33 v.°), 189 QuADRO vu CONTIGAD SOCIAL DOS DETENTORES DOs PRAZOS [Conia ‘us| 5. [S#MAVeR : Howplai | aa Me Ye" Ts rourengo| S.Mare | S-Nicolou | Miteos fy | Condigto as.| Cor. | Cas.| Cor. | Cas.| Cor. | cos.} Con. | Cas.| Cor. | Cas. Cor. sonindegto |] - f2frfataf2f-faf-]-]- pa smingeagto |} - fo}oo)af2fap-)-|-f-]- | (nuthers Alfsiaes Gee eee eee eles Anzoleiros, alee Atagueitos Barbeiros Ciriiros Cordosiros, Femdores Feros Lavoeiros cites Ourives Pedreiros Sapusiros 3 Serathei Tanoeiros Teceldes Toul Atmocreves |< | Camicsiros |= Toul : Ata Boicvos Honelios | Tbthadores | - ro | fi ti tity eee Bacharcis) SVs Gee eee eee Hospialeion 4 Ponirs : eben ae goa | | Cavalsir, te Escudeinos aia Tout Tea eee [eee eee ee eee) eres ‘9, j) Havendo detentores dos prazos que nos aparecem mais do que uma vez, na mesma ou nas diferentes confrarias, no ‘mismo cu nos diferentes lipos de propriedade, contabilizémos uma sé vez, ») Contabiiizémos um foreiro que apenas sabemas ser cristio novo, ( AUC - TVHR 1504, fl. 8 ) ©) Contabliémos uma muther que apenas sabemos ser vidva de «Afomss'Eannes albardeiro», ( AUC - TVHR 1504, fl. 10 v8). 4) Contabilizértos uma mulher que apenas sabemos ser vitiva do bacharell Vasco Femnamdez», ( AUC - TVHR 1504, 41). ©) Contabilizémos ume mulher que apenas sabemos ser vidva de «Framcisquo Gongalvez escudeiro», ( AUC - TVHR 1504, 41). 1 Era umbém alveitar do Conde de Cantanhede, ( AUC - TVHR 1504, 1.7). 8) Era cristfo novo, ( AUC - TVHR 1504, f1 68 ). ') Enquadrémos 05 Backareis no pequeno e médio funcionalismo, por possuirem um grau que de certa forma confere algume aptidfo para o desempenho de profissées neste sector. : 4) Era também escudeiro, Contudo 56 © contabilizémos como tabelifo, obedecendo a0 critério adoptado e visto privilegiarmos a funcionalidade em relagio ao estatto social 191 MAPAI LOCALIZACAO DAS CONFRARIAS E HOSPITAIS MONDEGO 1 Largo de Sansio 16 Adro de Su. Justa Confrarase Hoes 2 Prageda Cidade do Quin pas 3 RNova (antiga judiarie) 17 Amado 4 R Tinge-Rodilas 38 R Sobre « Riba S Banolonen 5 Pandone 13 Poranowe SM? YeraCruz (¥) 6 R.Moeds (Chito de Jane Mendes 7 Adega Pada 20 Pagos Reais S.Lowengo ©) & RSGio 21 Pon do Castelo 7 @ 9 REnxurrade 32 Ponte de Peo Seguim 10 Poragem Velho S. Nicolao ® ALR, Carnigacias oa 12 R Alesparias oe 13 R Madanela 14 R Oleis —— Cinur Ubane avait gC ya MAPA L-A. LOCALIZACAO DA PROPRIEDADE URBANA == Cintura Urbans Casa Coninhal Chio Fomo de Pio Lagat V* 'S. Bartolome B B SOM Vera Cruz V : 'S. Lourengo L e SMe M ff} Oo o S. Nicolow x Misleus mid 193 MAPAIT LOCALIZACAO DA PROPRIEDADE RUSTICA Eins Pedrulha Redonda wy ¥ z—> Quarto da Vy Comedoura ¥"y ‘y wa Sto, Anténio cag V.Cabreira avy Cova foMouw - Bordalo: Fry Olival Y Vinha Y Vinha com Olival @ Lagar de Vinho 7: — a Mata o ae w Canaveal 194

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