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ee Cee LUPICINIO FELICIDADE (Quitandinha Serenades) SE ACASO VOCE CHEGASSE (Ciro Monteiro) ‘VINGANCA (Linda Batista) ELA DISSE-ME ASSIM (Jamelao) NERVOS DE ACO (Paulinho da Viola) tora basics Bras Rete “Sean ‘Feteat, um ne, & da pou cs shar repr ae LaPe ols segunda pn ‘io rata pote Getandiah, eat ge Sama on oye eden of tempor. “Dele Ske stdin rhe fo ‘Seta lo fo fe a oes E"Toptina que dente ar ‘Slepador taba: Yodan ao set, (atada ttn, 2 compar ‘pecs ‘spear com © mae de pe, gue a ade daar Pe SE ACASO VOCE CHEGASSE Sentero, De 78pm, REA VIC. TORS seta ae ho de 1986 ‘teu Embors deed: spiro htt ea Saitmo gompostor Heitor rere Sen sat A a de mtg en ite Sete cate ate oer ta fone Sr sae AS ete Ena Sane ce erty faa ee oS oe ee Saat ete ieee pf orcasr ana EAD SS os Seeman Dircy aoa de Eg Ea ‘Rest tambo, opine Se eee soit mies Sete eee moonanmins “Risen ree Sis itt, Gnade cttadh ev oS ihe ae Hane ERVOS DE AGO dupe Ro fae com, iube a Vio. "SMORBSTSY Se jot e Prat gran no 78 ep Cominett 1 7 de mua de Ser com 0 ange Bo (Feral ex ‘Dire autor de Cass Eg term" Masc Brass Reads SGEMBRAS Late Com ene taba, Lapin Ro- cg insogsron tm oa eso pats oncunithaana: {ela gravee de Pancica a ‘escape leon "en Jingo ae er "Nones de op fo excelente te rede pot Paka. or Vin, eo ns aerprtac e ‘Sonimene arid, - ESSES MOODS, POBRES MO- $05 Uni Rate pine Rodrig Grea fr tat sla RCA par primers ‘erate jhe S19. amc prc a rp con ‘ikon sean de Cone Ea vert Musa Braotse Reon (ce MBRA” La, eine, atari Shor Sun interpreta sie : Tine! Wo cantor fim. VOLTA apie | Rodrigue, 820077, ge" 197%: iment flo te 18 rpm RCA Sei,“ ico e198, co ‘Dirty ator de Baie a es "Pople, com singers «fas: uc oda san, sere ens incom aga ae ero 8 TORRE DE BABEL, (Lupin Rodrigues cout ume Bo 1 Cenitensi ‘a LP 20153, ae [36h fomeliimerrte Lapis Rodrigues Avanio do. Maeno Soot Aion inane : Coninewal °° PPL Had? ae foes Somber pat odor roster, com srasjn 6 Mato Sis. ‘ireln suena de Etre de sac nat ie «ma fue Se meu oops Sehr Ne tach (ho Tove de Babe a hts Ocriadorda dorde-cotovelo Tendo atingido a maturidade na fase cre Pegechaioenh beret raced Sor es poner tetra ete ire eee er a aa eee errr niin ec eters Pa ee a oem ee Ponce tere near rary eee nate etree ts ie ai oe ate ay SC ae eee er ee eerie tear Caracterizados, Este, porém, nio 6-0 caso do eerie eee enn tar Teer mre tetera ets CO eer cnt ene eat ocean Prarie ec meer’ meena teres Peo ae maa ne Rie rn Set tae Srey ee eee eee Bape ate eet era nan emer ae EAP ain ora reps Paseo a re ar Eerie ee Ceres e ae cine arene Caer ae a ee amor traido ou desprerado. Na singclera de Biot eerrartenetrecey eee ee a eee rare hee ire arn ae rere ee ie ppp inegien ogee ernie ned pene ene Eee ey ae ear rey Cree POL ea ee ene Petree ameter ea icy ea en er ee ey Pe ae ieee er Tay ene re eal Pee none eammg nC nm aS Panne enter CAE Aer one mee Pine eats Porte er eee Ee meee aera Leaner rte tec ea Leer cos Pee ee ae ree meee eee emt er ar ee ei Pepe ees aca erect es Enea yr CA ee erences Pen eae Bee nae See eee aan ae erat fom eit oneer| Cra ee eee cece ear ee at Ce ey Peer ae en ern peered ieee eure i ed poe geeripe ynrevt ae ua ree ed oe en epee et Penceernaey ene i Er ee a Peon rrp esr reir aoe Pie nr eee a ae eer reine eta ere ie ee re eer ee es Speer een rua aaa oe Pier ae eer ns faneinantes @ dosmesurades, imagens pertur ere ee ee egy perenne rar Retry Bee eet eS penn sranecrn a Sa er TEA ance a Ie erent a eae ent cree ree Por more) Era ocean) Cee ne Peco erro em eg Peete eer re oe Se eee ey fete nese rea ane Prd arene erated Ren eNcr i ne anid eee ao eM orm ne NE nas on eer re eM Tene ey eee ae Pea eS leer eri niece ear eres hee emerson ad Seine armen ne ei read en se enantio Rone Cee ee omg a nT Cn Bere eer eae Pieri iar earre ered Pacis ranean eine e a ne aS aC ecm eee eee aa as eerie tea mel ry pee RC een arene err reer co eee mr near perenne are eee eee ee cen mer tres Pe eee Oe Tee tse See ste am ce Tea que rn Rey 1 Para aboémia precoce, duas solucdes; escola e exército 4 duas semanas que uma cchuva torrencial eai sobre Porto Alegre. E setembro, més de enchentes, ¢ na Tihota, bairro as margens do arroio Dilivio, as ruas inundadas sAo lagos de éguas turvas por conde eruzam canoas e caiques. No niimero 97 da Travessa Batista hé uum clima de preocupagio geral. © dono dda casa vai da sala para o quarto ¢ vol- ta, num caminhar incessante e nervoso. E pela décima vez pergunta: — Mas, afinal, a Dona Silla nfo che- Ela vem ou no vem? Se demorar mais um pouco. ‘Como em resposta sua _apreensio, cis que aparece, equilibrada na popa de ‘uma canoa, trazida por um barqueiro im- pprovisado, uma senhora abrigada sob um guarda-chuva. E a esperada Dona Jal Garcia, que yem resolver um problema muito familiar para ela: trazer bebés a0 mundo. E mais uma vez saiu-se muito bem. Quarenta e cinco minutos depois ‘ouve-se 0 choro de um guri. A folhinha za parede marca o dia 16 de setembro de 1914. ‘Dona Abigail, a me, estava bem, ¢ Seu Francisco Rodrigues muito feliz com ‘© nascimento do primeiro filho homem, O clima de apreensao de uma hora atrés fora substtuido por alegria e felicitagées aap casal. Seu Chico escolheu para o me- nino — que seria o quarto de uma série de 21 (on dezoito?) — 0 nome de um hheroi da Grande Guerra: Lug Funcionério da Escola de Comércio (anexa a Faculdade de Direito de Porto Alegre), Seu Chico podia garantir para ‘9 filho’ uma inffincia pobre, mas. sem grandes dificuldades, Sempre em contato com futuros bacheréis, valorizava muito © estudo. Por isso, quando Lupicinio fez cinco anos, © pai comprou-the uma car- titha e levou-o para 0 Liceu Porto-Ale- ‘grense. O menino ficou pouco tempo na escola, — Ola, o senor leva sew filho para casa e traz quando ele completar sete ‘anos. J4 faz uma semana que cle esté aqui, mas até agora nfo quis saber de prestar atencdo a aula. $6 quer saber de brigar na classe ¢ cantarolar... Assim no € possivel! E I $e foi Seu Chico puxando 0 filho pela rua e dando-lhe uns cascudos por ser tio moleque, Entendev, porém, q\ Lupicinio era crianga de pouca idade para ser forcado a estudar. Livre da es- cola, Lupe, como ja era chamado, teve leenga para opsr bola com of amigos no ‘“‘campinho”, cantar & vontade ¢ ‘er ow apanhar até cansar. De todas essas atividades, a preferida 4o garotinho era jogar futebol, Mais tar- de “pegaria” times varzeanos ¢ acabarin sendo um importante torcedor do Gré- ‘mio Futebol Portoalegrense, ao compor (© hino do clube: “Até a pé-n6s iremos/ Para o que der ¢-vier/ Mas 0 certo & que nés estaremos/ ‘Com 0 Grémio onde 0 Grémio estiver”. (Aspecto curioso: no Rio Grande do Sul considera-se como clube da gente mais humilde 0 Internacional. Lupe, torcendo para o Grémio, seria uma excego nunca esculpada por seus amigos.) ‘© menino nfo escaparia da escola: aos sete anos comerou 0 curso primétio no Colégio Sao Sebastido (gratuito), anexo a0 Colégio Rosétio (pago), ambos de propriedade dos Trmaos Maristas, locali- zados na Rua do Arvoredo (hoje Fer- nando Machado), Era grande a rivali de entre os meninos pobres do Séo Se- bastifo e os meninos ricos do Rosério. ‘As disputas de futebol eram sempre vencidas pelos pobres, que ainda ganha- ‘vam. a outra contenda mais importante: a briga inevitével depois do_ jogo, rea- lizado no “morrinho” (onde hoje esté a ‘Avenida Borges de Medeiros). Paz mes- mo, s6 na missa da catedral, que cram obrigados a assistir juntos aos domingos, sendo perdiam pontos nos exames. Lapicinio guardou uma lembranca ca- rinhosa dos professores de teoria musi- cal: Irmo Stanislan ¢ Irmo Alfredo. Mas ndo foi além dos rudimentos da ma téria: 0 sinico instrumento que aprendeu a tocar foi a caixa de fésforos. .. ‘Companhia G de bow jempresa, Portoalegrense in sa eee amigos que se reut larmino, na Praga Garibaldi, ¢ ficava be- bendo ¢ cantando até de madrugada, La pelas 11 horas, Lupe enfrentava as recla- ‘magdes de Seu Chico, que vinha do tra- balho noturno na Escola de Comércio (hoje Faculdade de Economia) e passava ppelo boteco a caminho de casa: — Nao quer estudar! Nao quer tra- bbalhar! Vai dar pra vagabundo! Seu Chico realmente nfo aprovava a ‘vida que Lupe comecava a levar e tratou de tomar providéncias. Em 1931, apre- sentou o filho (dezesseis anos incomple- tos) como ‘‘voluntério” ao Exército. Naturalmente, a tigida disciplina mili- tar entrou em choque com o espfrito recocemente boémio do. rapaz: — Foi piiblico e notério que 0 solda- do 417 faltou & instrugio no dia 7 e foi encontrado dormindo, no alojamento de outra unidade, na manha do dia 8. Fica por isto detido durante dez dias, de acor- do com 0 Regulamento Disciplinar do Exércit. ‘0 soldado 417 do Sétimo Batalhio de Cacadores de Porto Alegre nem por isso desistia da musica. Continuava suas ati- vidades carnavalescas, ganhando um con- ‘curso com a marchinha Carnaval, repre- sentando © Cordfio Carnavalesco Predi- letos. Em 1933, jé cabo, Lupe seria trans ferido para Santa Maria. Aproveitaria ara ganhar outro concurso com a mes ‘ma marchinha, s6 que desta vez repre- sentando cordio Rancho Suco. Para o eterno apalxonado Incompr a Lua sempre fol madrinha de sonhos ¢ madrugadas insones. sados? sse garoto & bom, esse ga roto vai longe! (© grupo de artistas e bot- rmios ouviu com respeito a copinido de Noel Rosa. Era 1932, estavam no bar da Praga Garibaldi e o Poeta da Vila falava de Lupicinio Rodrigues, cantor € com- positor do Conjunto Cato. Com dezoito fanos, apesar do regime severo do Exér- ito,” ainda encontrava tempo para os amigos e a misica. ‘Quando eclodiu a Revolugo Consti- tucionalista de Sa0 Paulo, 0 Sétimo Ba- tathfo de Cagadores recebeu ordens de combater os insurretos. Depois de tirar uma fotografia com a farda de cabo — Jembranga que a mie aflita. pe Lapicinio partu, na fungdo de padiole ro da enfermaria. Mas seu principal tra- batho na campanha foi um samba criti- eando 0 rancho, que era 36 charque € farinha. ...O comandante nao gostou da ‘iisica, eantada por todos os. soldados do batalhao: — Se 0 senhor nao gosta de charque, coma farinha, se ndo gosta de farinha, coma chargue, mas no se meta a falar dda comida e vamos acabar com esse ne- a6cio de fazer samba. Estamos conver- — Sim senhor, meu comandante. Os comandantes realmente “implica- vam” com Lupe. Ao voltar da Revolu- 40, foi transferido para Santa Maria. Seu novo comandante, ao ver a farta ca- beleira de Lupe, que fazia cachinhos em volta do quepe, mandou chamé-lo: — Eu sei que o senhor & poeta. Mas esse eabelo comprido néo rima com 0 Exército. Soldado nio pode ter cabelo grande por isso o senhor vai corté-lo. ‘Lupe tentou conversar o comandante acabou conseguindo um acordo: cor- taria s6 a metade. .. ‘oi em Santa Maria, no salaozinho do Clube Unio Familiar, que Lupe culti- vou seus primeiros romances. Foi ali que teve inicio sua histéria de etemo incompreendido _namorado. No Clube Unio Familiar, Lupicfnio conheceu Iné: — Enquanto existirem estrelas no céu para brilhar, s6 tu serés 0 meu amor. E a lua, que esté disposta a nos auxiliar, Id de ser a madrinha do nosso lar Era uma mulata bonita e faceira, que trocou seu antigo namorado pelo amor do rapaz que fazia tho lindos versos. O namoro cresceu forte, definitive. Mas veio a separacdo. Em 1935, Lupe dew baixa do Exétcito © voltow para Porto Alegre com uma idéia fixa: conseguir tum bom emprego e casar com In TTeve sorte. No fim do ano Sew Chico conseguiu-the uma vaga de bedel na Fa- culdade de Direito, Escrevew para a noi va contando a boa noticia ¢ reafirmande 0s planos para o futuro. Tudo cosria bem: em breve Ind veio com a farilia para a capital e, apesar de algumas bri- guinhas, 0 noivedo parecia encaminhar- se inexoravelmente para o casemento. A imagem da mulher amada o acompanita- va onde estivesse, no emprego, no bond, ou na boémia. Ind nao era 0 tinico amor na vida de Lupe. Havia a mésica, os amigos, 0s ba- res, as serenatas. ... Nio raro atravesst- va a madrugada ¢ ia direto para o tra- balho. Ficava dormindo numa sala de aula, até que um colega chamava — 0, Lupe, acorda que esté na hora do expediente! Quando anoitecia, reiniciava a ronda de seus amores. Primeiro, a visita habi- tual & noiva, depois a boémia, o samba. Tudo acabava em discussdes’ com Iné. Ela nio aceitava mais o modo de vida de Lupe © no perdoava sua indeciséo fm optar por uma vida pacata, com lar e filhos. As brigas © as promessas se repetiam, até que Iné tomou a deciséo que a familia, o tempo e as amizades exigiam: rompeu 0 noivado. Apesar do ‘grande amor que sentiam um pelo outro, ela se afastou dele ¢, com uma mégoa profunda que permanéceu no coracéo de ambos, cada um foi cuidar de sua vida, Para Ind, uma vida de funcionéria pé- blica, casada, com filho. Para Lupicinio, a boémia, o samba, uma carreira vito- rosa de compositor ¢ 0 grande amor fracassado que serviria de inspiracéo para a majoria de suas misicas eres Uma triste historia pordois contos Pee ESm mec) PRO ec ier on eee ee Cancun ns Reon as eter none Pee eaten See eect cea aC eS eer ee cay PTE RU OCSU LD Caren en Sans est totem et ae? havia pensado no assunto, resolveu con- Sree mec! ee eRe ees onan! emer meee tinge erg etme aaa! cea xterra? eae cere ec er an ect eee er aT Cai Preece Paserecminn Scere Tess eer eC on er ee ee ety Serr reer Vt emerson Car Se eee rear eee eee ect eee cr a ee eee ner ae eer eee ne Svar ane one va ecm rer ae any ees ec en enc ye Song Biren ume TN Os ty ete renee oy ee Berea sears Rene Canaan nia sendo cantor de projegio nacional, levou Ponte teresa ee ome G Sen cn Se a Oe ter rar ere langando 0 nome de Lupicinio Rodrigues Poe red cece eae eae Erte nee eee ria Rosa, Cadeira vazia, Cassio, Saraiva da saudade, Mas se afasiaria de Lupe a0 eee se eee eres eee i er mre my na Odeon por Francisco Alves. A culps ees er mere mee cette Perec eee cee can Pee eee ner eee Poe eee ne ne Pee ecg ery reser Pee eos enter Neanty eee eee en Sener eT meee ee cee ea en en eee ce coe) Pec re ae n) Poe erected feeene een iy que Lupe fez, para dizer a um amigo que hhavia roubado sua namorads: eee cats tar cee eS CC at Soca Sree ene enn Eee ere reer otnes Ree a ee ED Pet ener eer nes race ee eee tc ey tando como cantor numa ridio de Nite mere ee eer eT nr COR cn are Ota primeira ¢ talvez maior sucesso de Lupi- Rc ae oat eco eee erm Pte cer coca a oC ee cer een eer eT zara a presenga da musica no filme Pret eeme nc eu at ano eran Ciro Monteiro, com sua Inevitével calxa de f6afo- fos, fol um dos ie intérpretes de Lupe. (Nao hé ‘quem desconh ‘cheg ie¢a sua deliciosa criago de Se hegasse,) Em pose de estudio, outro 8. 3 ‘Clube dos Co- ‘Lupictnio era 8. dlretor de amigos, na TY ou com outros parceiras, come o cantor lel des Gongalves, Lupe nunca deixou asi Nem 0 eucaeso conseguiu Umconvite ao suicidio em tempo de samba,tango e bolero rompimento com Iné coin- cidiu com 0 sucesso de Se caso voce chegasse ¢ am- bas as coisas levaram Lu- picinio para o Rio (1939), donde ficou seis meses. — Foi a primeira vez que fui ao Rio. Eu estava muito doente ¢ me meti com uma turma de malandros 1é da Lapa. Era o Germano Augusto, 0 Kid Pepe, Wilson Batista, Ataulfo ‘Alves, aquela turma que tomava mais eachaca do que gua, e foi af que me curei. Freaiientava ‘com eles os bares da Lapa, 0 Café Nice, ‘nfo tinha lugar certo para morar, ¢ assim vivendo. Lé tive alguns romancezinhos com artistas, mas nao vou citar nomes ara nao comprometer ninguém. Esses “romancezinhos” actbavam sem- pre num novo samba, pois a maioria das Tetras de Lupicfnio fala de mulheres en- ganadoras, amores fracassados, traicées. Ora € Maria Rose, que amou a muitos © agora, “vestindo farrapos, calcando ta- mancos", pede “nas portas pedacos de pao”, Ora é a mulher que partiu e agora volta, “procurando em minha porta o *que 0 mundo ndo The deu”. E Lupe apontando a Cadeira vazia diante de sua mesa, concede: “Nao te darei carinho nem afeto, mas pra te abrigar podes ‘ocupar meu teto, pra te alimentar podes “comer meu pio". Mas Amor é wn s6 que a gente tem: Jn sempre volta & sua lembranca, fa- » zendo-o exclamar:, “Eu preciso esquecer ‘a mulher que me fez tanto mal”. (Eu e meu coragio). E se encontra com els. acompanhada de seu marido; por “citime, despeito, amizade ou horror”, ele per- gunta: “Vocé sabe o que & ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher, ¢ depois encontrar este amor, meu se- nhor, a0 lado de um tipo qualquer?” (Nervos de ago.) Homem de muitas mulheres e, talvez por isso mesmo desiludido, diante do iminente casamento de Hamilton Cha- ves, seu jovem amigo, ele adverte (1948) “Esses mocos, pobres mocos, ah, s¢ $0U- bessem 0 que eu sei, ndo amavam, no passavam aquilo que eu jé passei”. E cada nova desilusio, cada nova dor- de-cotovelo transformava-se em novo su- cesso, mais tarde integrados no repert6- rio de Francisco Alves, Orlando Silva e outros grandes cantores. ‘Apesar da qualidade de suas rmisicas, ‘era dificil gravé-las. Vivia em Porto Ale” ‘gre, longe das gravadoras, dos grandes cantores, impossibilitado de “trabalhar” suas composicdes, colocé-las no mercado. A solucao do problema surgiu de uma forma muito comum em nossa misica popular: dar parceria a alguém que nfo faz nada da misica, mas se encarreza de divulgé-la, No caso de Lupicfnio, foi Felisberto Martins, diretor artistico da Odeon, que tomoti a si a co-autoria de alguns sambas de Lupe e comecou a es- palhé-los pelo Rio de Js equivalia, na época, a divul pais inteiro. Como’ diretor arti uma gravadora, Felisberto logo levava ao disco a produgo do gaticho. Lupe s6 veio a conhecer Felisberto Martins anos depois de muitas mésicas gravadas. Ele mesmo, porém, acha que se no fosse esta parceria a maioria de suas misicas nfo teria sido divulgada. Lupleinio Rodrigues considerava J chegou a dizer que tarde, 0 cantor gravaria um Por esta época, quem mais gravava misicas suas era Francisco Alves, pois sitava periodicamente o Rio Grande, “Acabamos de saber que Vinganca, essa magnifica interpretago de Lin Batista, possui o dom de preparar 6 cli ma para a morte. Primeiro uma moca ligou a vitrola e deixou o disco Vinganca tocar até que, influenciada pela misic abriu 0 bico de gés € esperou que a morte terminasse com a tristeza de sua vida. “Agora soubemos que um rapaz, ainda fog, abandonado pela namorada, que fugiu ‘com outro para Pernambuco, © mesmo gesto com a mesma misic Serd que Vinganca provoca o estado de espirito proprio para 0 suicidio? Sea sim for, tetemos 0 préximo carnaval muito desagradével.” (De um jornal da época.) Se levava ao sticidio, 6 diffeilafirmar. © certo € que Vinganca, langada em 1951 pelo Trio de Ouro’e por Linda Batista, constituiu 0 segundo maior su- ‘sso de Lupicinio, desta vez abrindo- Ihe as portas de boates paulistas e cario- ‘eas. Seu nome, j& respeitado nas rodas, musicais, ganhou popularidade, transfor ‘mou-se ém atracéo nacional. Era a gran- de época do samba-cancio, da misica dor-e-cotovel Vinganca, inspirada por Mercedes — ‘a mesma musa de Brasa, ¢ que, a0 des- fazer o caso com Lupe, chegou’ a amea- gélo de morte —, batew recordes de venda, foi gravada em ritmo de fado, bolero © tango ¢ teve até mesmo uma curiosa gravagio em japonés. ‘Nao precisava mais de parceiros. Suas 0 0 melhor intérprete de misloa © Ginico que dava seu recado Integral: disco 86 com misices do posta gaucho, mésicas eram requisitadas por cantores famosos — Isaura Garcia (Nunca), Nora Ney (Aver daninhas), Gilberto Milfont (As aparéncias enganam), Luiz Gonzaga Gardim da saudade) — ¢ ele mesmo oportunidade de gravar na Star (primi: tiva Copacabana) dois dlbuns de seis discos com sues composigdes. A. misica trazia-lhe finalmente com- pensacées materiais. Comprou um auto- mével que logo ganhou o. apelido de “Vinganga”, pois fora esta miisica que the dera'o dinheiro para 0 carro. Lupe, aposentado em 1947 da Faculdade de Direito por motivo de doenca, tinha ago- ta novas possibilidades financeiras. In- vyestiu numa churrascaria — Jardim da Saudade —, a primeira de uma série de restaurantes e bares que iria abrindo e fechando ao correr dos anos. — Essas casas no eram s6 para ga- ‘thar dinheiro. Eram principalmente para reunir os amigos. . Mas 0 tempo de fossa e do samba- ceangdo passou. Lupicinio chegou ainda as paradas de sucesso com Ela disse-me assim Exemplo, ambas na interpreta- io de Jamelao, mas ja ninguém tenta- va sticidio a0 som de seus sambas. A VIDA FAMILIAR DE UM BOEMIO TRANOUILO — Me vende um cachinho. Eu pago ‘$900 por um cachinho seu. Em Santa Maria, era @ brincadeira que 0 Cabo Lupicinio fazia com sua vi- inha; uma menina de trés anos chama- da ‘Cerenita. Quinze anos depois, casou com a menina dos cachos dourados. Nas folgas da boémia, Lupleinio po A mulher Cerenite, por exemplo, gostava de oferecer a visto do. trangillo seit press ‘cotidiana as aves no velho Uma preperecto para © ebogeds a note Uma noite imensa, {que parecia nunca’ mals aceber. E que ficaria interminada. Continua a grande noite do poeta ceriménia era na casa da noiva. Na véspera do ca- samento eu fora comemo- = rar minha ltima noite de solteiro. Cheguei lé de ma- nhizinha ¢ fui dormir até hora do cas6rio. Depois, quem € que diz que eu acordava? Cerenita botou 2 alianga no mew dedo enquanto eu dor- mi. Por isso casei. Ela me lagou porque eu estava dormindo. E assim 0 famoso boémio constituiu familia. J4 fora casado com Juraci; ela estava & morte e ele se casou para lega- lizar a situagdo de uma filha, Teresa, ‘mais tarde adotada por Cerenita. Terese deu cinco netos a Lupe. Com Cerenita Lupe teve um menino. Loiro de olhos verdes. Malher, flho © netos passaram a ver numa casa confortével, cercada de gatos, cachorros, galinhas, —passaros, Pombos, porcos e até mesmo uma vaca, nna chécara de Lupicinio no bairro da Ca- valhada. Ele gostava muito de animais. ‘Nao se cansava, por exemplo, de contar a historia do cavalo que puxava sua charrete ¢ que aprendeu a parar em to- dos os botecos do caminho, mesmo sem ‘ordem do patréo, Fora de casa, Lupicinio continuava 0 boémio de sempre. Depois de suas ati- vidades domésticas — cuidar dos bichos, brincar com o filho e os netos, prepa- rar pratos inigualéveis — ia para a SBACEM, da qual era representante no Rio Grande do Sul. Providenciava gra- vagdes e pagamentos de direitos auto- rais, ouvia as misicas que os compa nheiros traziam ¢ ia jantar com amigos nna Churrascaria Colombo, ponto de en- contro de velhos boémios. Apés a janta, crescia em diregdo & madrugada. Bem ‘mais tarde, todos iam para o Clube dos Cozinheiros do qual Lupicinio era um dos diretores, e Rubens Santos, seu par- ceiro, © administrador. No fim da noite, ainda sorridente ¢ afével, Lupe levava em seu carro os ami- {Bos que nao tinham conducZo. E quando voltava para casa, jd ia se preparando vitavel, diria, eterna queixa — Mas eu pedi pra voeé no chegar tarde, nao pedi? Ela nunca se acostumat de que 0 marido colocar em seu dia-adia, Lupicinio sabia que os amigos sempre estariam em algum lugar, algum bar, para mais uma rodada. E era necessétio que aquele homem simples Numa de suas constantes viagens a Sao Paulo, onde estéve a servico da SBA- CEM, Lupe aproveitou para cuidar de seus direitos au- torais e fazer algumas gra- vacées. Mas era inovitd: vel que o boémio fésse mals uma vez 20 encontro da noite, No Jogral, uma das casas de samba mais conhecidas em Séo Paulo, @ surprésa estava prepara da: 0 proprietério e tam- bém compositor). Carlos Parané. condecorou-o com 2 Ordem do Jogral. E Lupi cinio, emocionado, cantou cantasse o drama dos simples, paixdes impossiveis e fracassados amores em sambas nostélgicos que dessem vontade de chorar ou de beber. E A DOR CONTINUA TV, bossa nova, festivais de misica, i€46, tropicalismo — nenhum desses fendmenos conseguiu exterminar a dor- de-cotovelo. E verdade que 0 radio deu, em alguns centros, a importincia de antigamente. E era 0 rédio o grande divulgador do samba-cancfo, do bolero, da valsa e outros ritmos doloridos. Mui- ta coisa mudou na mtisica popular bra- sileira. E muitos compositores da velha guarda sentiam-se um pouco marginali- zados. Lupicinio, por exemplo: arotada de hoje no pode mais fazer misica de dor-de-cotovelo. O ca ‘marada chega pra namorada e s6 sabe dizer: “Oi, bicho! Como é que 6?” Assim nfo pode ser. Antes, a gente estudava palavras bonitas pra dizer pras namora- das. Agora, nem se olham mais, como vio dizer “Eu te amo” um pro outro? Exagero de Lupe. Esses jovens que utilizavam outro vocabulério para falar de suas paixdes também cantavam as dores de amor — embora com guitarras elétricas, gritos e falsetes. E foram alguns jovens os principai responséveis pela redescoberta do boé- mio, Por exemplo: Gal Costa langou Volta em seu LP India (1973); Caetano Veloso gravou 0 xote Felicidade em 1974. Lupicinio passou a ser convidado para apresentagdes 20 vivo. Agora, ao invés de cantar em cabarés, apresentava-se em shows para estudantes. Lupicinio chegou até mesmo a gravar um disco como cantor. Jamelio, a quem Lupe considerava o melhor intérprete de sua cangio (“o tini- ‘co que mantém integralmente o meu re ‘cado”), apareceria também com um LP 56 de misicas do gaticho. Convidado para inimeras entrevistas, Lupieinio afirmava com seguranga: — A dor-de-cotovelo jamais desapa- receré. J4 vi aparecer 0 charleston, o twist € 0 rock, ¢ munca vi desaparecer a valse ou o Bolero, Em maio de 1974, durante um pro- rama feito especialmente para ele na TV Bandeirantes, em So Paulo, Lupe diria com certa felicidade que seus dois bares em Porto Alegre estavam sendo freqiientados por gente moca. ‘Ao motrer (28 de agosto de 1974), Lupieinio jé tinha seu lugar entre os jor vens. E com honras de poeta. 2 No fim da noite, comeca tudo de novo: eee mane cy Os copos se enchem de amores adormecidos, eae ee ete aN cons Poe rat Ce ae eed Pug | bao | hi it i it fi flat iy ali < rt ial i He wifiatl p HEU lags iss Het i Baan hi ‘t 7 ily ! arn rio 7 iti lt i tos i f ait th Ae iu i it pil f +t fT} HE at | Bali Hn aj fttet ( ir nai jai NERVOS DE ACO ‘Veet sabe © que 6 tor om omer i Pil a ul Ld iy i up i hi it i ili it 4 er fit y gihe

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