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BERGER, L. (1995b). Aspectos biolégicos do envelhecimento. In L. Berger, & D. Mailloux- Poitier, Pessoas idosas: uma abordagem global (pp. Lusodidacta, ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO A. Satide e envelhecimento fisi B. Envelhecimento diferencial C. Processo de senescéncia D. 123-155). Lisboa: Louise Berger I6gico normal . Envelhecimento primario e secundario m ;. Modificagées fisiolégicas F. Doenga, cronicidade e envelhecimento G. Envelhecimento e manutengao da saude H. Niveis de prevengao |. Intervengées preventivas gerais J. Concluséo Para completar 0 estudo iniciado no capitulo an- terior, dedicamos 0 capitulo 9 aos aspectos biolégi- ‘008 do envelhecimento: a senescéncia, 0 envelhe- ‘Cimento diferencial e as principais alteragées fisiol6- gicas. Nao nos detemos nos diferentes problemas de satide, nem nas patologias de que os idosos po- em ser vitimas, que seréo mais detalhadamente descritas na parte dedicada aos cuidados. Em vez disso, num enquacramento geral de sade, explica- Mos 0 papel das enfermeiras, os factores de manu- tengo da saide, bem como os niveis e medidas gerais de prevencéo que visam manter a autonomia funcional A. Satide e envelhecimento fisiolégico normal O ser humano nao envelhece de uma s6 vez, mas antes de uma maneira gradual, @ a velhice pa- rece instalar-se sem que se d& por isso. O proceso ainda nao esta completamente elucidado e compre- endido, apesar das numerosas teorias que tentam explicar 0 envelhecimento biol6gico (capitulo 7). No entanto, nem tudo 0 que se liga & velhice é neces- sariamente nefasto ou desastroso. A sade néo de- ‘aparece automaticamente com a chegada da ve- lhice, que no ¢ sinénimo de doenga ou handicap. De resto, a maior parte dos idosos consideram-se saudaveis. A velhice e a satide sao mais processos evolutivos do que estados. No proceso de envelhecimento so atingidos tados os sistemas importantes do organismo, eo efeito destas mudangas nos contextos ambientais especificos modifica os comportamentos individuais. Trata-se no entanto de processos normais, e néo de sinais de doenca O ser humano tem um poder de adaptac&o ex- traordinario e, apesar de todas as mudangas biol6- gieas que ocorrem no decurso da sua vida, o orga- rnismo 6 0 mesmo em 60 ou 70 %. Mesmo na velhi- ce, consegue manter a hemodinamica ¢ estabilizar 123 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO as Giferentes constantes fisiolégicas, de modo a ‘manter-se de saiide. O ser humano possui uma es- pécie de inteligéncia organica que permite manter a integridade corporal. S4o sobretudo os efeitos do envelhecimento fisiolégico que constituem objecto de ostudos por parte dos investigadores. A deterio- ragao das estruturas e das capacidades funcionais do organismo limita progressivamente a actividade do ser humano, torna-o cada vez menos apto a su- portar 0 stress € arrasta-o inexoravelmente para a morte. Este proceso de deterioracdo tem, no en- tanto, um cardcter diferencial. B. Envelhecimento diferencial Ninguém envelhece da mesma maneira ou ao mesmo ritmo. Segundo Bouriiére, citado por Martin e Junod", as modalidades de senescéncia variam imenso de uma para outra populacdo humana, bem ‘como no interior de uma mesma populacdo. Cha- ma-se a isso “envelhecimento diferencial". No homem, os individuos de um mesmo grupo demogrético apresentam muitas vezes um caminhar varivel no horario de envelhecimento; certos ido- 0 podem mesmo conservar niveis de desempe- nho semelhantes aos de grupos mais jovens®. As modificagses fisiolégicas do envelhecimento humano tém efeitos cumulativos, fazem-se sempre de maneira progressiva, ¢ s4o irreversiveis e final- ‘mente deletérios para todos os seres humanos. AO contrério da doenga,o processo de envelhecimen- to € um fenémeno normal e universal. As altera- GOes causadas pelo envalhecimento desenvolvem- “se a. um ritmo diferente para cada pessoa e depen- dem de factores externos como o estilo de vida, ac- tividades e ambiente, e de factores intemnos como a bagagem genética e o estado de sade. (O envelhecimento dos sistemas fisiélogos inter- ‘nos é também um proceso individual. A involugaio no comeca no mesmo momento, ndo se desenvol- ve ao mesmo ritmo @ no atinge o mesmo grau de degenerescéncia para todos os sistemas organicos. Estas mudangas nao sao exclusivas, mas antes, sinérgicas. O progesso de envelhecimento resulta por um lado de factores internos, mas também de factores externos que determinam a diferenciagéo, como 0 clima, as agress6es fisicas e psicolégicas, as radiagées, 0 estado nutricional, educagao, medi- das de higiene, ete. Nao se deve medir 0 envelhecimento pela idade cronolégica; existe no entanto um efeito especttico do envelhecimento cronolégico, independente das mudangas biolégicas @ ligado principalmente a fac- tores externos. Por isso a relacao entre a idade bio- ldgica e a idade cronolégica nao varia s6 de um indi viduo para outro mas também - numa mesma pes- soa - de um érgao para outro, © envelhecimento organico nao & homogéneo. ‘Alguns tecidos néo envelhecem, outros renovam-se constantemente e outros, finalmente, nao se reno- vam nunca. Sao numerosas as causas do envelhe- cimento diferencial, que se agrupam geralmente em quatro grandes categorias™:; * causas genéticas, como a hereditariedade; * ausénoia de uso, ou mau uso de uma fungao ou de uma aptidao durante o crescimento e ida de adulta, como o envelhecimento acelerado do sistema muscular no sedentério; * factores de risco que agravam a senescéncia, como 0 tabagismo @ os excessos alimentares; +« as doengas intercorrentes que aceleram o en: velhecimento sobretudo depois dos sessenta anos, como um acidente ou um problema de sade importante, Para as entermeiras e estudantes de geronto- logia, o envelhecimento diferencial complica por ve- 208 a colheita de dados, primeira etapa do processo de enfermagam. Certos idosos parecem mais ve- lhtos do que.a sua idade biolégica, enquanto para outros 6 exactamente 0 contrario, Por outro lado, as ‘modificag6es fisiolégicas normais podem mascarar cu dissimular certos sintomas de doenca e dificultar a avaliagdo. Como nado existe denominador comum enire os idosos, cada pessoa tom que ser avaliada cuidadosamente a partir de critérios espectticos li- gados sobretudo & capacidade de adaptagao. Nao conhecemos actualmente a ou as razdes do enve- thecimento diferencial, da mesma manelra que é impossivel identiticar todos os seus factores. C. Processo de senescéncia © envelhecimento foi durante muito tempo per- cebido como um tenémeno patolégico relacionado com o dasgaste do organismo @ as sequelas das "MARTIN, E. 8B. JUNOD, Gérontelogie, Paris, Masson éditeur, 1977, p. 42. *LAGANIERE, 8. dans M. Arcand et R, Hébert, Précispratque ce gériatio, La Fédération dos médocins omripraticiens du Québec, Saint-Hyacinthe, Edisom, 1987, p. 43. S MARTIN, E. ot J.P. JUNOD, op. cit, p. 44. 124 PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL doencas da infaincia e da idade adulta, Mas a senes- éncia no 6 uma doenga e néo se pode comparar com qualquer estado patolégico actualmente conhe- cido®. Esta concepcao errénea da senescéncia como doenga evitavel esté na origem de todas as Pesquisas que visam descobrir a fonte de Juven- tude. Assenescénciaé um processo multifactorial que arrasta uma deterioracao fisiolégica do organis- mo. E um fenémeno normal, universal, intimamente ligado 20 processo de diferenciagao e de crescimen- to. Todo 0 organismo vivo conhece, de acordo com um esquema especitfico e determinado (programa de desenvolvimento), um periodo de crescimento segui- do de um periodo de decrescimento (ou deciino). Mesmo que sejam ainda mal conhecidas as causas precisas da senescéncia, sabe-se quo 0 proceso depende de factores endégenos e exégenos. A senescéncia néo 6, pois, uma doenca, mas ode levar a uma quantidade de afeccbes, porque se caracteriza pela redugdo da reserva fisiolégica Figura 9.1 \ dos érgaios ¢ sistemas. Cedo ou tarde, 0 equillorio homeostatico desreguia-se. Os problemas aparecem principalmente em momentos de stress fisiol6gico, Porque 0 organismo jé nao tem as reservas neces- Sérias para resistir &s agressées e manter as fun- Ges vitais. Segundo Serge Laganiére: “A redugdo fisiolégica inerente a idade vém somar-se as perdas funcionais resultantes da nao utlizagéo e das se- quelas de doencas agudas anteriores ou de atec- 08s cronicas®.” figura 9.1 ilustra esta redugao da reserva fsiolégica dos érgéios: A sonescéncia é um proceso natural endo & sinénimo de senilidade, termo que designa uma degenerescéncia patolégica, de facto muitas vezes associada & velhice, mas que tem origem em distungées organicas®, O sinal mais evidente de sénescéncia 6 a nuicdo da capacidade de adaptacao do organis- mo face &s alterag6es do meio ambiente. Este abai- xamento acentua-se com a idade e com o surgir de afecgdes crénicas, Reduco da reserva fisiolégica dos érgaos com a idade 100% aa Doenga aguda t Limiar de sobrevivéncia’ fisiolégica NX Fungao minima Nao-utilizagao ou doenga crénica | Morte A ep Ielade pg Alteragao devide a idade Fonte: Serge Laganiére “Phisiologie de la sénescence” dans M. Arcand et R, Hébert, Précis pratique do gériatri, Saint= -Hyacinthe, Edisem, 1987, p. 4, “LAGANIERE, S,, 0p. cit, p. 44, * Wid, p. 43. "CORMIER, D. et u., TRUEDEL, Pilules mirages, Montréal, Editions des centres d'accueil du Québec, 1986, p. 10. 128 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO D. Envelhecimento primario e secundario O envelhecimento primério refere-se a0 pro- cesso de senescéncia normal, enquanto que o en- velhecimento secundatio se refere ao eparecimen- to, com aidade, de lesbes patolégicas muitas vezes miltiplas, mas que se mantém potencialmente re- versiveis. No envelhecimento primério (senescén- cia), as qualidades necessarias & vida @ & sobrevi- véncia modificam-se e séo substituldas por outras. No envelhecimento secundatio, a existéncia de le- sdes associadas As diferentes alterages normais contribui para alterar mais ainda a capacidade de adaptagio do individuo. A presenga de doengas do- ‘sempenha um papel determinante no estabelecimen- to da esperanga de vida. A distingao entre envelhecimento primério e en- velhecimento secundério é importante, porque per- mits realizar progressos consideréveis em geronto- logia. Podem-se agora tratar com sucesso proble- mas que se consideravam inevitéveis. No entanto, tanto no plano terapéutico como no de diagnéstico, nem sempre é facil distinguir de maneira precisa o ‘envelhecimento primario do secundétio, ou a senes- ‘céncia da doenga. Certos problemas fisiologicos e ‘ertas doengas que acompanham o envelhecimen- to so muitas vezes confundidos com as manifesta- ‘ges do envelhecimento normal. Por exemplo, em- bora a esclerose das artérias pela perda de elastici- dade e obliteragao gradual dos vasos sanguineos acontega com frequéncia na velhice, no constitul manifestaao comum a todos os idosos nem mani- festagéio do envelhecimento normal. Depende so- bretudo de factores especiticos como a dieta, os erros metabélicos, 0 tabagismo, o modo de vida, etc. Aesclerose arterial e a hipertenséo que a acompa- nha relacionam-se com factores intrinsecos e extrin- 's0c0s, € S40 patologias cua frequéncia aumenta com a idade. Outras afecgdes que fazem parte desta patologia so a osteo-artrite, desmineralizagao 6s- sea (osteoporose), perda de elasticidade do cristai- no e degenerescéncia aucitiva, entre outras. ‘As modificagGes fisiolégicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam de interac- goes complexas entre varios factores intrinse- cos e extrinsecos. Por isso é to dificil determinar quais as mudangas intrinsecas, e por isso inevité- veis, ¢ quais as que resultam de factores externos, portanto reversiveis. Este problema representa uma zona cinzenta no dominio da pesquisa em geron- tologia, E. Modificagées Iégicas Definidas as nogdes de envelhecimento diferen- cial, primArio e secundario, vejamos agora quais so as alleragées anatémicas e fisiolégicas que a senes- céncia produz nas células, tecidos e drgaos. As alteragées anatémicas e fisiolégicas ligadas velhice iniciam-se muitos anos antes da aparicao dos sinais exteriores. \Varias destas alteragGes co- megam a manifestar-se progressivamente a partir dos quarenta anos e continuam até a morte, isto 6, ‘até que o organismo se deixe de poder adaptar. No plano fisiol6gico, o proceso de senescéncia causa 0 envelhecimento das estruturas e do aspec- to geral do corpo, e 0 declinio das tungées organi- ‘cas. Examinemos mais atentamente as mudangas estruturais e as mudancas funcionais que fazem parte do processo de envelhecimento”*9 1. Mudangas estruturais ‘As mudangas estruturais dao-se sobretudo a ni- vel metabélico @ celular, e na repartigéo dos compo- rnentes corporais. Estas alteragdes podem modificar ndo apenas o funcionamento do organismo como ainda a aparéncia corporal a, Células e tecidos (O processo de envelhecimento da-se a todos os niveis de funcionamento: celular, tecidular, orgénico @ sistémico. Eis algumas modificacdes ao nivel ce- lular: © As células tém uma longevidade precisa. Nao se dividem indefinidamente e a sua capacida- de mitética decresce com a idade. 7 BURNSIDE, Irene M., Nursing and the Aged, 2% ed., Now York, MeGraw-Hil, 1981, p. 22-40. * Ebersole, > and P,, HESS, Toward Healthy Aging, 2 ed., St. Louis, The C.V. Mosby Co., 1985, p. 119-116, 168-177 *MISHARA, B.L. et RG, RIEDEL, Le veilissement, Paris, Presses universitaires de France, 1864, p. 29-47. © MURRAY, R., HUELSKOETTER, MM. and D., O'DRISCOLL, The Nursing Process in Later Maturity, Englewooc Cis, New Jersey, Prentice-Hall, 1980, p. 214-238 “YURICK, A.G. et al, The Aged Person and the Nursing Process, New York, Appleton-Century Crofts, 1960, p. 47-56 126 Quadro 9.1 PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL Modificagées fisiolégicas do envelhecimento 1. ALTERAGOES ESTRUTURAIS a, Células e tecidos b. Composicéo global do corpo paso corporal 2. ALTERAGOES FUNCIONAIS a. Sistema cardiovascular Sistema respirat6rio Sistema renal e urinario Sistema gastrintestinal Sistema nervoso e sensorial . Misculos, oss0s e articulagoes Pele e tocido subcuténeo e. Tegumento ‘Sistema endécrino e metabélico Sistema reprodutor Sistema imunitario Fitmos biolégicos e sono * Ao envelhecer as células perdem certos ele- ‘mentos como 0 ADN @ aumentam a percenta- gem de tecidos gordos e fibrosos a custa dos tecidos magros. * As células so organismos vivos: envelhecem ‘© morrem, Nem sempre so capazes de repa- rat.os danos causados pelo seu proprio meta: + As células especializadas perdema pauca e pouco, com as anos, a sua aptidéo para desem- penhar fungdes integradas.e so perlurbadas, nna sua interaccdo com as outras células, pela dejerioracéio do meio exira-celula.. SS + Nas células nervosas, cardiacas ¢ hepéticas iaS Como a estatina. Parece que estes pigmentos do envelhecimento dificultam a ac- ‘go do citoplasma e diminuem a capacidade funcional das células. * O nicleo celular aitera-se, parecendo perder a sua fungéo genética, 0 que impede a multipli- cago celular @ a reparacéo dos tecidos. A perda gradual.de células é importante; o-seu. ‘nimero diminui 30 % entre os 20 ¢ os 70 anos. +A diminuigéo do ndmero.de céiulas activas 6 broporionla ua dminuicto da ulna oxigénio para o + 0 ndmero de globules vormalhos @ o seu con- tetido em hemogiobina diminui gradualmente @ de maneira significativa; estas células tm uma '* O numero de linfécitos de glébulos brancos varia imens da vida e aumenta no ultimo, Os neutréfilos aumentam na velhice e 0s linfécitos.diminuem de maneira acelerada pelos 90 anos. Todos estes factores contribuem para uma diminuit da resisténcia as infecg6es nos idosos. Todas estas modificagdes calulares dificultam a homeostase. Este mecanismo que vela pelo equill- brio dos liquidos e electrélitos, da pressao sangut- nea, da temperatura @ da absorgaio dos alimentos, depende da integridade citoplasmética e da estabil- 127 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO dade do meio interno. Para que o organismo reaja ao stress @ se adapie, a homeostasia tom que ser mantida, No entanto, as modificagbes celulares nao permite ao organismo constituir reservas organi- Gas; 0 corpo consegue funcionar adequadamente em repouso ou no decurso de actividade moderada, mas tem dificuldade em se adaptar 2o stress. proceso de envelhecimento da-se também ao nivel tecidular. A aparigao das rugas ligase & mo- dificagao das gorduras subcuténieas e-a-perde-da elasticidade da pole, Causada por sua ver pelea mento de protefnas fibrosas como a lipafuscina € o io, Dé resto, a aeumutagao destas proteinas roduz apenas na pele, mas também no sis- tema nervoso, musculo cardiaco e outros tecidos. Certos estudos tendem mesmo a demonstrar que o aumento da lipofuscina e do colagénio nos tecidos nervosos arrastaria uma diminuig&o do seu funcio- namento, ou mesmo a sua degenerescéncia. Veri- cam-se iqualmente no interior dos tecidos modifica- oes na concentrago das proteinas de estrutura, das enzimas, das componentes genéticas @ do ADN edo ARN. As alteragées celulares e tecidulares parecem ser regressivas e atroficas. Deste modo as perdas celu- lares no cérebro comeam desde os trinta ¢ pros- seguem de maneira continua até & morte, Calcula- -se quo, a partir dos 25 anos, o ser humano perde ‘quotidianafienté de 50000 a 100000 células cere- brais. No entanto 0 cérebro continua apesar disso a funcionar adequadamente, pois um bom ndmero das suas células parecer desempenhar apenas fungies de suporte @ de reserva. © conjunto dos misculos e 0 tecido muscular atrotiam-se 0 tornam-se menos eldsticos com aida- de, mesmo nas pessoas fisicamente activas. Ao ‘mesmo tempo os ossos encolhem no diametro @ tomam:se mais leves, porosos e frageis porque a ‘sua matriz sofre perdas de calcio. Amassa tecidular do figado, do pancreas e dos rins também diminu Certos caiculos, que permitem isolar a massa mus- cular funcional, isto é, a massa corporal magra (MCM), demonstram com rigor que 0 numero de células comeca a diminuir pela idade de 30 anos e se faz de maneira mais acentuada pelos 50 anos. Esta diminuigdo 6 uniforme e previsivel. Os elemen- tos que compoem a massa corporal modificam-se durante a velhice por causa das perdas ésseas © céllcicas, diminuicao dos tecidos musculares e orga- nicos @ das perdas de peso totais. Mesmo que 0 peso do idoso se mantenha estavel, a proporgao de tecidos gordos aumenta. As gorduras acurulam-se entre as fibras musculares e em torno das visceras, 128 substituindo assim a massa magra do organismo. Para um peso igual, a percentagem de gordura 6, maior nos idosos. b. Composigao global do corpo e peso corporal ‘A composi¢ao global do corpo sofre quatro transformacdes importantes, a ter sempre em conta a0 elaborar um regime alimentar ou preserever uma medicagao: 1 Dos 20 aos 80 anos a massa magra do corpo diminui 17 %. 2 Dos 20 aos 70 anos a proporcéo de gordura aumenta 25%. 3 Entre os 20 € os 80 anos a massa de agua no corpo diminui 17 %, ‘ 4 Entre os 20 e os 80 anos 0 volume plasmatico aumenta 80 %, Estas transforniagdes tém repercussées sobre a distribuigdo das substancias no organismo e pravo- ca modificagdes na repartigao do peso corporal. Mesmo se 0 peso estabiliza entre os 65 @ os 75 anos, ‘qualquer ganho de peso se distribui daqui para a frente de maneira muito diferente do tempo da ju- ais na regiao do 802 lam-se nas ancas @ no abdémen, enquanto que a face 8 0 membros superiores e inferiores ficam emaciados e perdem o tecido celular subcutaneo. A aparéncia corporal modifica-se muito em conse- quéncia destas mudangas.. A figura 9.2 ilustra as modificagées do peso do corpo no decurso da senes- céncia c. Misculos, ossos e articulagdes As alteracbes a nivel do sistema locomotor so ‘as que aparecem mais rapidamente. Nao s6 modif- ‘cam a aparéncia e a estrutura fisica mas também o funcionamento do organism. Atingem os mésculos, ossos e articulagGes, mas também o conjunto de tecidos de suporte. Todos os mtisculos do organismo, @ em espe- cial os do tronco e das extremidades, se atrofiam dom o tempo, o que leva a uma deterioragéo dotonus muscular e a uma perda de poténcia, forca, endu- rance e agliidade. O,peso total dos mésculos dimi- nui para metade entre os 30 e os 70 anos. O-envelhe- cimento dos musculos ¢ o resultado da atrofia das, fibras musculares @ do aumento do tecido gordo no interior dos musculos. Estes perdem muita forga, 0 bretudc antebracos, pernas ¢ dorso, bem como na mandibula nos Jabios. O tremor das maos, dos bragos e da face é um fenémeno corrente nas pes soas de idade ‘Também as articulagSes sofrem mudangas: os ligamentos calciicam-se, ossificam,. as.articulacoes, Thais pequenas porque as superticies ar- ticulares sao erodidas. Enquanto que, ao degene- rar, algumas articulagdes se tornam menos flexiveis, outras, pelo contrério, tornam-se mais flexiveis hiperelésticas. Mesmo conservando a aparéncia exterior, os ossos sofrem também modificacaes. 0. rocesso de reabsorgaa do céicio sofre um dese- qullorio eo tecido ésseo torna-se mais poroso e. mais fragil por uma desmineralizacao constante da massa ¢ da densidade 6ssea. Este fenémeno liga- do & senescéncia e dosignado por “osteoporose” & frequente nas pessoas de idade, mas parece fazer mais vitimas entre as mulheres a partir da meno- pausa. A osteoporose & também um dos factores PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL ‘responsaveis pela perda dos dentes. Esta perda liga- -se com efeito a uma intlamagao e a uma reabsor¢ao or desmineralizacao (similar & osteoporose) do 0sso ‘em torno do dente. Os restantes dentes achatam-se © omaxilar atofia-se, 0 que da a improssao.de.qus 98 denies s40 mais compridos @ mais espacads. Esta reabsorcao Ossea dos maxilares e da mandi- bula acentuia-se cor a queda dos dentes. Reduz- sea distancia entre 0 queixo e o nariz e os dentes migram para traz, modificando com o tempo a fisio- nomia do idoso. A redugao da altura é também um fenémeno a atribuir ao envelhecimento. Na realidade, consiste ‘no encolher da coluna vertebral (de 1,2 a5 cm) cau- ‘sado por um estretamento das vértebras dorso-lom- barés (ostedporose). Este feridmeno, mals marca- do nas mulheres do que nos homens, comeca pelos cinquenta anos @ liga-se & interaccao de diversos factores como a idade, sexo, raca e ambiente. Este encolher da coluna vertebral cria um efeito de des- roporgao, visto os bragos @ as pemas manterem 0 comprimento normal. Por outro lado, proveca um Figura 9.2 Diminuiedo do peso corporal no decurso da senescéncia. Todos os érgéos se atrofiam com a idade, excepto a préstata, @ por vezes 0 coracao na hipertenséo Peso em gramas 101mm 0750790 700 n_HHO_ YOK N00 1200 1200 tad 1500 1400 « n o % Bi « : 0 ) dade Pancreas Bago ins Pulmées Gérebro gad Fonte: Irene M. Burnside, Nursing and the Aged, New York, McGraw-Hill, 1981, p. 36. 129 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO deo da parte superior do axe uma acontuagao Ee curva natural da coluna vertebral. E a “cifose”. Para martaro equillbro, 6 1d6s0 Tem que se inclinar paraa frente de forma a manter o centro de gravida- de. Com 0 tempo, as cartlagens desgastam-se, € as flexes tornam-se permanentes. A cavidade tordcica diminui também de volume e as costelas deslocam-se para baixo e para a frente. Esta redu- cao da caixa tordcica pela osteoporose das coste- fas, associada & atrofia dos musculos respiratérios, diminui a amplitude respiratéria, a largura dos om- bros, e é responsdvel pela posigao inclinada para a frente com a cabega inclinada para traz de muitos idosos. Este enrolar do corpo altera a aparéncia, di- ficulta a mobilidade e acentua ainda mais © enco- Iner do corpo. Nas mulheres, os seios tornam-se pendentes, atrofiam-se, e por vezes os mamilos fi- ‘cam umbilicados. Todas estas mudangas de figura @ de estatura afectam a aparéncia pessoal, o equili- brio, a postura e a marcha e podem ser responsé- veis por problemas respiratérios, mas também car- Giacos e/ou digestivos. d. Pele e tecido subcutaneo A pele é uma das primeiras estruturas a modifi- car-se coma idade. um verdadeiro barémetro poi juntamenté com os cabelos, os pelos e as unhas, forma o envelope externo do corpo e permite cons: tatar de visu o estado de envelhecimento. Ao enve- lhecer, a renovagao da epiderme faz-se mais lenta- mente. Este processo, que se distribui no jovem ‘adulio por um periodo de vinte dias, dura mais de ‘80 dias apés os cinquenta anos. Aderme adelgaca- indo & pele a sua aparéncia caracteristi- ca de papel de seda. O envelhecimento da pele tra- duz-se.inicialmente por uma_perda importante da_ elastina, que confere.a pele a sua tonicidade; a quan- tidade de colagénio ut derme toma-se seca, perde a resisténcia a elas cidade ¢ os capilares da pele attofiam-se. A perda de elasticidade do tecido cuténeo um processo Universal eitreversivel. No entanto, 0 interior da pele ‘conserva 0 tonus e a elasticidade, visto ser o res- ponsavel pela regeneracdo e cura dos tecidos. As glandulas sebéceas, quo fabricam 0 sebo protector, tomam-se menos activas e lubrificam mo. ‘nos apele, o que a torna seca e quebradiga. As gl dulas sudoriparas também so atrofiam © proceso de controlo da temperatura corporal por sudagao. Estes processos de deterioraga ele podem verificar-se pela persisténcia da prega 130 ‘cutanea, Quando se aperta entre dois dedos a pele do antebrago de maneira a formar uma prega, esta prega persiste mesmo depois de acabada a pres- 4, 0 que indica uma perda de elasticidade e de gordura subcutanea. A perda do tecido gordo sub- cutng mais evidentes efeitos do enve- ‘hecimenia, Este fenémeno ¢ comum a todas as pessoas que envelh id is part larmente nos membros superiores e inferiores. Em alguns idosos a gordura subcutanea esta mesmo ausente dos bragos e das pernas. Mesmo quando ‘se verfica um aumento de peso substancial, a maio- ria das mulheres de mais de quarenta e cinco anos podem observa a diminuigao de perda de espessu- ra da prega cutanea no dorso das méos. Nao ha qualquer alteragao na espessura da prega cuténea 4 nivel do pibis, do umbigo ou da cintura. A distr- buigdo da gordura subcutdnea modifica-se: ela de- saparece na face, nos'bracos e nas pernas, e depo- sita-se nas ancas e no abdémen. E um processo invistvel que se da lentamente e que pode por ve- z@s ser mascatado pelo edema das extremidades ou pela obesidade. Com a perda do tecido subcutaneo, as proemi- rnéncias 6sseas tommam-se mais aparentes, especial- mente na parte superior do corpo: os tend6es, veias, iticulacdes das maos, e claviculas tornam-se mais. proeminentes, bem como.as costelas.¢.os jaelhos, As concavidades s PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL culas acentuam-se, Os ossos dos maxilares vém- -se mais, as magas do rosto tornam-se mais salien- tes @ as rbitas afund: has @ 0s lobos das orelhas al aloobras eas. faces descaem O aparecimento das rugas 6 por certo o sinal ex- terior mais revelador da velhice. Quando a pele se relaxa formam-se pregas, rugas e “sacos” (excessos de pele). As rugas, que so pregas permanentes da pele, comegam a desenvolver-se muito cedo. Sé causadas pela tensdo e relaxamento repetitive, dos miusculos, provocando miudancas permanentes. En- {re os principais factores que provocam as rugas figu- rama perda de elasticidads a ainiuga0 do técido subcutdneo, as radidigoes slates ‘eanutricao: ‘Quando causadas pela atrofia do tecido subcutaneo, 2 rugas s40 minisculas, numerosas, paralelas ou ‘entrecruzadas. O pescago é um dos locais onde o pr cesso de envelhecimento 6 mais evidente, As tuges @ ainda nos lobos das orelhas (rugas 0 da de elasticidade dos tecidos, bem como os depési- estéo tambemnaarigem da formagao do duplo queixo, bem como do que vul- garmante 86 chama *bolsas dé = bom lémbrar que, embora todas estas modificagées facam parte do processo de envelhecimento normal, manifesta-se de maneira diferente em cada pessoa, Para além da atrofia ¢ da perda de elasticidade, a pele sotre outras moditicagées, entre as quais +» hipertrofia das células de pigmentagao e apa- reciment rchas colordas na epiderme (lefitigo seni); * embranquecimento @ palidez da pele, causa- dos pela perda de capilares e de melanocitos. (Esta palidez é muitas vezes confundida com 08 sintomas de anemia.); « socura e descamacao da pele, e dificuldade em corar; « hiperplasia vascular com presenga de varico- sidades, angiomas senis benignos (‘cherry’) € estrelas veriosas; ‘© pirpura, equimoses e traumatismos, pela fra- gilidade da derme @ dos vasos; * aumento das manchas pigmentares normais da pele; * presenca do telangiectasia senil(dllatacdo per- ‘manente dos pequenos vasos subcutdneos que se tornam visiveis a olho nu e formam rastos, 6stfelas ou pontos vermeinos sob a pele); + aparacimento de feném ratoge séborieica (manchas pretas si logalizadas & safda das glandul comedéns, infecgdes ou fungos tose"), (dermatot Tegumentos Cenvelhecimento também se observaa nivel dos tegumentos (cabelos, pelos ¢ unhas) e liga-se a factores como a raga, Sexo, genes e hormonas. Ao envelhecer, os pelos tomam-se mais raros @ caem, ‘a pouco e pouco, excepto na cara. Em.cartos locais, como o pubis, as axilas ¢ as extremidades (pés e maos) a perda de pé No en- tanto, tanto os homens como as mulheres verificam trequentemente a aparigao de pelos na face, Nas mulheres, crescem sobretudo no quelxo, e por cima. do lébio superior, enquanto que nos homens cres- ‘cem nas orelhas @ nas narinas. Estes pelos ines- téticos sao duros e abundantes, o que muitas vezes, obriga as mulheres a depilar ou barbear. Além dis- 0, em alguns idosos, 08 pelos das sobrancelhas tornam-se muito espessos duros. Todas estas modificagbes resultam das alteragdes no equilibrio das hofmonas androgénicas @ estrogénicas. Para além dos pelos, também os cabslos sotrem modificagbes muito importantes no decurso do en- velhecimento, Embora a perda de cabelo seja um fenémeno normal, ela vai-se acelerando A medida que se envelhece. A reparticdo dos cabelos e dos pelos atinge o nivel maximo aos 40 anos, e a partir ‘dal comega a involugao do proceso. A calvicie ou rarefacgao gradual do cabelo liga-se a predisposi- Ses genéticas, raciais © hormonais e atinge com mais frequéncia os homens do que as mulheres. Pode comegar a manifestar-se desde os vinte anc ‘Ao envelhecer, os cabelos mudam de aparéncia, rarificam-se, tornam-se menos espessos, menos fortes e com menos volume, e vao acinzentando progressivamente. Esta descoloracao relaciona-se coma diminuigdo da actividade dos melanocitos, que. produzem a melanina, agente da coloracao dos ca: belos. Metade das pessoas de mais de 50 anos tm (8 cabelos brancos ou a branquear. Quando todos ‘98 cabelos fica brancos, diz-se que a pessoa esta “encanecida’ 131 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO Para além dos pelos e dos cabelos, também as unhas se modificam. O crescimento tomna-se mais lento, aparecendo depois na superficie estrias lon- gitudinais e canelados. Estes factores, aliados a uma diminuig&o da circulagao peritérica, provocam 0 espessamento das unhas, que se tornam secas @ quebrasigas. Este fenémeno, mais acentuado nas unhas dos pés, designa-se por “onicogrifose’. Regra geral, todos os sinais exteriores do enve- Ihecimento so mal aceites, porque modificam para ‘sompre a nossa imagem corporal. E a este nivel que a adaptacao se revela mais dificil, porque raramen- te provocam problemas funcionais importantes. 2. Alteragdes funcionais Aposar de serem importantes as mudangas liga- das a estrutura e & aparéncia, o que conta 6 sobre- tude.o bom funcionamento do organism. Ora a re- ducao das células e a perda das reservas fisiolégi cas atinge todos os 6rgaos. Mesmo que nao se ve- rifique ao mesmo ritmo para todos, o resultado é 0 mesmo: as fungées deterioram-se. Certos érgaos sofrem enormes perdas de fun- (go (os rins), enquanto outros parecem ser qua- se totalmente poupados (0 sistema digestivo). Nesta secgao vamos descrever as principais mo- diticagées sofridas pelos diferentes sistemas do organismo, sem nos determos sobre os seus efei- tos na vida quotidiana nem sobre os remédios @ instituir- estes aspectos so tratados mais & tren: te, nos capitulos reterentes as necessidades (capi: tulos 11 @ 24) a. Sistema cardiovascular Na vida corrente, 0 coragéo da pessoa idosa é ‘capaz de funcionar normalmente. No plano anato- mico poucas mudangas se observam, & excepgao de uma ligeira diminuicéo do volume do coracéo, causada pola atrofia das células musculares e acu- mulagao de lipofuscina no tecido cardiaco. O cora- 40 pode &s vezes parecer maior, em consequéncia da diminuigao da caixa torécica A primeira mudanga importante que pode acon tecer ao envelhecer é a diminuigao da capacida- de maxima do coracéo, pela perda de eficdcia € de contractilidade do misculo cardiaco. A presenga de catecolaminas e outros enzimas provoca uma di minuigdo da forga das contraccSes cardiacas que bbaixa de 30 a 40 % entre os 25 € os 65 anos, isto 6, cerca de 1 % por ano. No entanto, esta reducao da capacidade cardiaca nao perturba 0 estado de sau- 132 de do idoso, visto que todas as outras fungGes me- tabdlicas estéo também diminuicas. ritmo cardiaco mantém-se mais ou menos id8ntico, excepto em periodo de repouso, em que o— numero total de batimentos por vezes diminul. O pro= longamento do tempo de contracgao cardiaca re- duz a poténcia do corag&o, que passa a ter de con- ‘sumis uma maior quantidade de energia. A acelera- ‘eGo normal do ritmo cardiaco (‘taquicardia") aquando do estorgo faz-se mais lentamente no idoso, por ferentes factores como a perda de contractilidade, redugao da capacidade cardiaca e diminuigao da estimulagao enzimatica. O coragéo do idoso nao respande tao eficazmente ao esforco, ¢ tem de con- sumir muito mais energia do que o coracéo de uma pessoa jovem. O electrocardiograma nao tem nor- malmente alteragbes nas pessoas idosas. Finalmen- te, 0 coracdo idoso solicitado por um stress ou por lum estorgo particular tem necessidade de um tem- po de recuperagao muito mais longo. A degene- resc&ncia céicica das valvulas do coragao representa uma das patologias cardiacas mais frequentes nos idosos (37 % das pessoas.de mais de 75 anos). Quando a pessoa idosa tem que fazer um esforgo maior, hé 0 risco de aparecimento de problemas como a isquémia, insuficiéncia cardiaca ou arrit- mia. Os vasos sanguineos, e mais especialmente as artérias e arteriolas, perdem a elasticidade ao en- velhecer. As fibras elasticas vasculares tomam-se mais frégeis, fragmentam-se, rigidlficam e caleiticam. ‘A acumulagao de deposits de céicio nas paredes dos vasos sanguineos, 0 aumento das fibras de colagénio, a presenga de ligagdes reticulantes (crossiink’) reduzem a elasticidade dos vasos @ pro- vocam aarteriosclerose (diminuigao e endurecimen- to do didmetro das condutas do sangue). © pullso dos idosos mais nitido e facil de per- ‘ceber, pelo endurecimento da parede arterial. Acon- tece mesmo as artérias ragias torharem-se muito tor- tuosas e por vezes calcificadas, 0 que é motivado pela arteriosclerose ou pela hipertenséo. A pressao arterial do idoso é muitas vezes elevada e revela um aumento da pressdo sistélica ¢ da pressaq diastlica. Os bi6logos néo chegam a acordo quan- to aos limites da normalidade da pressdo arterial dos idosos. Para alguns, toda a pressao que ultrapasse 140mm Hg paraa sistole e 90 mm Hg paraa diastole cconstitui hipertenséo, Para outros, a pressao nor- mal pode chegar aos 210 mm Hg para a sistole e 115 mm Hg para a diastole, e seria mais elevada nas mulheres do que nos homens. No entanto estas elevagdes normais néo deverso ser confundidas com PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL a hipertenséo arterial, em que a presto diastolica sofre o aumento mais importante. A ciminuigao do débito cardiaco e a| ticidade das artérias diminui o aporte todos os érgaos e a todas as gléndulas. A circu- lagdo nas artérias coronérias diminui cerca de 35 % apés 0s 60 anos. Apesar disso, as artérias coro- nérias, 0 cérebro @ os masculos continuam a rece- ber um maior fluxo sanguineo do que o figado 6 os Tins, que sao os érga0s mais atingidos. Quando 0 fluxo sanguineo diminui @ se torna mais lento, as exiremidaces deixam de receber a quantidade de sangue de que necessitam para funcionar adequa- damente. Ora a resisténcia dos vasos peritéricos chegada do sangue aumenta cerca de 1 % por ano. ‘As velas perdem a tonicidade muscular e diminui a eficdcia das valvulas venosas, o que atrasa o retor- Ro venoso 20 coragao e provoca riscos de estase venosa e de edema. A permeabilidade dos capila- res também esta alterada, dificultando 0 processo de nutrigéo e de eliminagdo a nivel dos tecidos. Es: tes fendmenos predispdem & hipéxia dos Sfgaos e das células, bem como a tormacao de trambos. Quanto ao sangue propriamente dito, verfica-se que diversos idosos, @ mais em especial as mulheres, sofrem de anemia ». Sistema respiratorio Qenvelhecimento 6 geralmente acompanhado Por uma diminuigao da capacidade e da eficdcia pulmonar. O desempenho respiratério do idoso em Fepouso nao 6 automaticamente afectado, mas a dispneia aparece muitas vezes por efeito do stress ou da fadiga. As principais modificagdes respirat6- rias resultam de uma perda de elasticidade e permeabilidade dos tecidos que cercam os alvé los e as condutas alveolares, reduzindo a taxa de absorgao do oxigénio no sangue. Os bronquiolos ¢ 0s alvéolos tornam-se menos numerosos mas maio- res. Também a estrutura do pulmao se modifica Mesmo que nao se atrofiem, os pulmées tornam-se. mais rigidos pela perda de elasticidade e aumento {as ligagées reticuladas no tecido pulmonar. A capacidade inspiratéria diminui, em conse- quéncia de factores como a calciticacao da cartila- gem intercostal, ciminuigéo da contractilidade dos misculos inspiratérios, perda de elasticidade do te- ccido pulmonar e enfraquecimento dos misculos do diafragma e intercostals. A capacidade residual (vo- lume de ar que se mantém no sistema respiratorio To fim de uma expiragao normal) aumenta, enquan- to que a capacidade vital (conjunto das possibilida- des expiratorias e inspiratérias de um individuo) di- minui em cerca de 25 %. A capacidade respiratéria total (capacidade residual mais capacidade vital) medida no decurso de uma inspiragao forgada bai- xa de 50 % entre os 20 € os 80 anos Observa:se finalmente uma perda de eficécia da tosse uma diminuigao da actividade das mem- branas brénquicas. As alteracdes anatémicas na estrutura do t6rax e na capacidade muscular difi- cultam a expectoragao das secrecdes e alteram a “limpeza brénquica® por meio da tosse. Por outro lado, o enfisema e certas formas de bronquite sao problemas que surgem muitas vezes durante a ve- thice. ¢. Sistema renal e urinério. ‘Afungo renal deteriora-se com a idade ¢ os rins atrofiam-se. A arteriosclerose das artérias renais di- minui 0 aporte sanguineo aosrrins, assim reduzindo as fungdes renais e o niimero de netrénios em esta- do de funcionar. Mesmo que os rins tenham perdido a sua capacidade de substituir os nefronios, eles continuam a funcionar normalmente. A filtragéo glomerular diminui 46 % entre os 20 € os 80 anos e © aporte sanguineo diminui 53 %, o que constitu um mecanismo de adaptagao normal. Afiltracao tubular diminul também e difculta a “clearance renal" (coe- ficiente de depuragao pelos rins) que 6 reduzida em ‘50% apés os 70 anos. O sistema de evacuagéo dos detritos torna-se assim menos eficaz com a idade, © controlo do equilibria Acido-base e da homeostaso revela-se mais dificil, embora possivel. Varios ou- tros factores, como as mudangas na estrutura da uretra e as perturbagdes da préstata, vém ainda aumentar as dificuldades de eliminagéo. ‘A bexiga do idoso também apresenta sinais de ‘envelhecimento: a capacidade de retengéo diminui~ bem como o tonus vesical, e ha um rotardamenia dos infiuxos nervosos involuntarios responsaveis, pela miagao e pelo esvaziamento vesical. Como 0 esfincter da uretra enfraquece, os idosos queixam- se muitas vezes de micgées involuntarias, de in- continéncia e de micedes requontes durante a noi- te.Aincontinéncia surge mais precocemente nas mu- literes do que nos homens. Por outro lado, as mic- ‘G6es so mais frequentes @ menos abundentes. 4. Sistema gastrintestinal Osistema gastritestinal soire métiplas transfor- mag6es no decurso do envelhecimento, mas estas alteragées nao parecem alterar de facto 0 seu funci- ‘onamento, A digestéo e a mastigagao podem ser afectadas pelo estado dos dentes e dos maxilares, as céries, a falta de pecas e as doencas periodontals. 193 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO sentido do paladar altera-se com a idade: as Papilas gustativas tornam-se menos numerosas. A comida deixa de ter sabor, 0 que pode conduzir & perda de apetite. Verifica-se igualmente uma baixa do olfacto. O reflexo de degluticdo funciona menos bem e acontece muitas vezes os idosos aspirarem alimentos ou saliva para a traqueia. A lingua pode tomar-se atrética ou aténica. A secreego da saliva, vos dim das enzimas e dos sucos © esvaziamento do esétago é mais demorado, pelo enfraquecimento do esfincter esofagico (0 cardia), 0 que obriga a dilatacdo do terco inferior do eséfago, causando descontorto e dores epigastricas apés a refeicao. Se além disso, os alimentos forem engolidos sem serem mastigados, o problema agra- va-se, podendo causar caibras digestivas. Aptialina, 08 écidos géstricos bem como todas as enzimas di- gestivas e pancredticas diminuem. A atrofia gastrica rovoca também a redugao do factor intrinseco, mui- tas vezes responsavel pela anemia. Desde os 40 anos que o nivel de pepsina no estémago comega a diminuir, bem como 0 acido cloridrico, que pade che: gar a baixar em 60 %. Por outro lado, a diminui das lipases géstricas e intestinais torna mais dificil a ingestéio de grandes quantidades de alimentos con tendo lipidos. dificiilia a absorgao das gorduras, pro- voca deficiéncias em vitaminas lipossoliveis, au- ificagées diversas durante 6 envelhecimen- fo. Os problemas relacionam-se com factores como a diminuigao da motiidade gastrintestinal, a deterio- ragéo das superficies de absorcéo intestinais, a ‘modificagao do fluxo sanguineo, redugao da eficd: cia das enzimas digestivas dos macanismos. de. transporte. Parece que a redugao da capacidade de absorcéo intestinal relacionada com uma ma nut- ‘edo poderia ser responsavel por vatias caréncias em Vitaminas e em sais minerais nos idosos. Acliminagao dos sélidos pelo intestine sotre também transtormagoes. A massa fecal ea frequén- cia de eliminagéo tendem a diminuir com a idade. O esfincter interno do intestino grosso perde a tonicidade muscular, provocando problemas de eva~ cuagéo. Pode existir também incontinéncia fecal © 134 fecalomas. A obstipagao & um problema frequente nos idosos. E também causada pela baixa do tonus muscular intestinal e da motiidade, e pela auséncia de lubrificagao do intestino pelas glandulas da mucosa intestinal. Além disso, o regime alimentar dos idosos 6 muitas vezes mal equilibrado. A defici- éncia em fibras provoca uma diminuigéo de volume das fozes © um atraso na evacuacdo. A “diver- ticulose’, ou existéncia de “civerticuios” (saquinhos mucosos cheios de particulas e de sal) ¢ uma dosn- a frequente na velhice. A existéncia de problemas de ordem neurolégica ou mental (confuséo) pode também causar outros problemas de eliminacao in- testinal. e. Sistema nervoso e sensorial O sistema nervoso é fortemente afectado pelo envelhecimento, em particular a nivel do funciona- ‘mento celular ¢ da redugao das unidades de base em estado de funcionar. © processo de envelheci- mento comeca muito cedo (pelos cinquenta anos de vida), @ afecta todas as estruturas nervosas, incluin- do 0 encéfalo @ a espinal medula. As células do sis- que aos 80 anos o ni minuiu em metade em as reservas do encéfalo possam compensar esta doficiéncta, Ha diminuigéo do peso e do volur do.cérebro (5 a 10 %), atrofia das circurivalugoes, aumento do tecido, conjuntivo, redugéio do aporie sanguineo e do consumo de oxigénio pelo c&rebro € aumento progressivo da resisténcia vascular ce- rebral. A diminuicao do nimero de neurénios provo- ‘ca uma redugao das fibras e dos feixes nervosos @ uma baixa da capacidade de transmisséo ou de ro- Ccepeao dos influxos nervosos ao cérebro. O tempo de reaccao aumentae a resposta aos estimulos faz- -se mais lentamente por causa da alteragao dos proprioceptores © da diminuigao do nimero de si- napses, Todas estas moditicagdes do sistema nervoso influenciam a personalidade dos idosos. Elas podem também explicar certas perdas de meméria (Sobre- tudo a curto prazo), 0 alongamento dos tempos de reacgao, 0 despertar mais matinal @ a modificagao de certos comportamentos. A detetioragao da inteli- géncia de forma alguma se relaciona com as modi- ficagées do sistema nervoso. Pelo contrario, ela mantém-se notoriamente estavel durante muitos anos. Quanto ao sistema nervoso periférico, a capa- cidade de conducdo dos influxes nervosos di minui com a idade, e mais particularmente por volta dos 45 anos, por causa da invasdo das fi- e as fibras nervosas serisitivas © motoras que veiculam os influxos sao atingidos e a sua capa- cidade de recober e transmitir as mensagens di- minui. OQ numero de receptores sensoriais nui, pela Secura da pete xlyel e vascularizada. O81 mais duramente atingidos séo os proprioceptores, € 0s que esto ligados a dor e ao tacto. A diminui- a0 dos proprioceptores responsaveis pela posi a0 no espaco arrasta problemas de equilibrio”e de orienta¢&o espacial, bem como na resposta as situagées de urgéncia. A marcha torna-se mais prevaria e as quedas sao mais frequentes. O or- ganismo sofre igualmente alteracbes a nivel da motricidade tina e global. Os movimentos moto- res globais tornam-se mais lentos, os milsculos cansam-se mais rapidamente e os movimentos de motticidade fina tornam-se menos precisos As alteragées no sistema nervoso reflectem-se. em todos os aspectos do comportamento go ser io entanto, as mais importantes parecem quo s@ relacionam com 0 movimento, equill- brio, eficacia do funcionamento mental e fungaes, sensoriais. A maior parte dos idosos sofre graves perdas a6 nivel do‘paladar, do olfacto, do ouvido, da iséo, bem como da percepeao da dor e da tempe- ratura. 1) Paladar e olfacto: Embora 0 niimero de papilas gustativas diminua com a idade e elas se atrofiem 8 percam a sua eficdcia, os idosos conse- ‘guem apesar de tudo identificar os sabores (sobre- tudo o amargo), mesmo até a uma idade avancada. Ha estudos que indicam que apenas cerca de 10%. dos idosos se queixam de jé no distinguir o sabor dés alimentos, Por outro lado, estes problemas pa- racem atingir mais as mulheres do.que.os hamens, ¢ observa-se que as pessoas idosas tém mais ten- déncia a temperar @ adogar os alimentos e as bebi- das. Tambér idade devido, entre outros, a atrofia dos érgaos olfac- tivos e aumento do nimero de pelos nas narinas. A diminuigéo do olfacto e do némero de papilas gustativas provoca uma diminuigéo da sede e, por vezes, perdas de apetite. 2) Ouvido: A maior parte dos idosos sofre moci- ficagdes importantes do ouvido. Estas mudancas subtis comecam muito cedo na vida e fazem-se de maneira muito progressiva. Ligam-se & continua ex- posigao ao batulho, @ a factores genéticos, téxicos ou cifculatorios. A maior parte das perdas auditivas 40 mais selectivas do que absolutas e totais. Nos PESSOAS |DOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL Fotografia 9.2 0 uso de umaprétese audiva toma-se uma necessidade para uma em cada quatro pessoas apos os 60 anos idosos, os principais problemas auditivos relacionam- -se com modificagbes fisiolégicas, como: + degenerescéncia da fibra nervosa de audigao (céclea e 6rgao de Cort); + espessamento do timpano; + redugdo na produgéo de cerémen; + aumento da rigidez dos ossiculos do ouvido mé- dio (otosclerose); «= atrofia do nervo auditivo. ‘Todos estes problemas determinam perdas de audigd® que se tornam mais evidentes por volta dos cinquenta anos e se agravam de forma acen- tuada a partir dos 70. Avalia-se que uma pessoa em cada quatro acima dos 60 anos sofre uma perda de audicao suticientemente importante para ser considerada surda e, seja qual for a idade, a taxa de incidéncia é mais elevada nos homens do que nas mulheres. Assim, 45% dos homens e 35% das mulheres com mais de 75 anos tém dificulda- de em ouvir. 135 PERDA AUDITIVA (db) ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO Figura 9. Perda auditiva dos homens em fungao da idade 0 —— WE PSS pect ecues aio +—— 1000 20 +—— 2000 \—— 3000 40 \— 4000 60 4 8000 30 40 50 60 70 . IDADE (em anos) Fonte: BL. Mishara et R.G. Riedel, Le vieilissement, Pais, Presses universitares de France, 1984, p. 42 O problema mais frequente é a presblactisia. Esta doenga inicia-se pela incapacidade de ouvir Geterminados sons, sobrotudo as altas trequén- cias (sons agudos). Depois tomna-se cada vez mais, diffcil fazer a distingdo entre os sons da voz € os do ambiente. A linguagem torna-se muitas vezes ininteligivel, bem como o tom de voz normal. As consoantes sao menos claramente percebidas do gue as vogais porque se situam numa frequéncia mais elevada. Os sons sao dissociados, @ as pa- lavras confundidas. Numa conversa, a pessoa tem dificuldade em diferenciar os “s" 8 os “ch”, © tom cada vez mais dificuldade em interpretar a infor- ‘magao recebida. Por outro lado, a acumulagéo de cortimen pode intensificar a presbiacusia. Verifi- cou-se que esta doenga aumentava com a idade (ver a figura 9.3) Observa-se igualmente nos idosos o aumento da presenga de acufenos, sensages auditivas anor- mais como campainhas, estalinhos e outros baru- 136 Ihos semelhantes. Este problema 6 devido a degenerescéncia progressiva do nervo auditivo, 3) Visdo: As perdas de visdo do-se de maneira muito progressiva. Comegam habitualmente muito cedo € toram-se mais evidentes entre os 40 e os 50 anos. Nao poupam ninguém. Eis as principais alteragdes do sistema ocular: + Redugdo da acuidade visual e particulares di- ficuldades de adaptago quando a luz é fraca. ’ « Fledugéo da visio peritérica eda visao lateral. Ocampo visual reduz-se @ 0 idoso perde a visdo anoréimica das coisas. Por vezes, o campo pe- filérico toma-se completamente inexistonte, ‘+ Redugao marcada da viséo nocturna por per- da da capacidade de 0 olho reagir rapidamente 2 escuridao. ’ + Rodugao da acomodagao aos clardes e a ili- minagao sdbita, por serem atingidos os meios trangparentes do olho. PESSOAS IDOSAS, UMA ABORDAGEM GLOBAL Figura 9.4 Uso de éculos segundo a idade © o sexo 100 80 60 PERCENTAGEM 40 20 0 20 IDADE (em anos) 60 80 Fonte: B.L, Mishara et R.G, Riedel, Le vielissement, Paris, Prosces univereitaires de France, 1984, p. 40. + Perda do poder de adaptagao do cristalino que permite distinguir ntidamente os objectos pré- ~ ximos. Este fenémeno, que se designa como presbitia ou presbiopia, aparece entre os 40 © 08 50 anos e acentua-se com a idade: O cris- talino continua a renovar-se mas, ao mesmo tempo, a esclerose torna a adaptacao dificil mesmo quando se mantém a capacidade de adaptagao do musculo ciliar. Este problema obriga ao uso de éculos convexos correctores. Aos 40 anos, mais de metade da populagao usa culos, e esta porcentagem é ainda mais ele- vada nas mulheres. Aos 60 anos, nove pessoas em cada dez usam éculos correctores (ver a figura 9.4) «+ Perda de elasticidade da cérnea, que se toma mais esférica, o que causa o astigmatismo. As alteragdes da cémea @ as moditicagbes do cris- talino S40, por vezes, responsaveis por uma mio- pia que pode, temporariamente, melhorar a presbiopia. * Diminuigaéo ou paragem do processo de reabsorcao dos liquidos intra-oculares, poden- do provocar 0 glaucoma. * Diminuigao do diémetro das pupilas, modifican- do a quantidade do luz que chega & retina. As respostas de contracgao e dilatacdo da pupila ‘4s mudangas de luz tornam-se menos eficazes. Depois dos 60 anos toma-se, muitas vezes, ne- cessério duplicar a intensidade luminosa para ver os objectos como aos 20 anos. © Modificacdo da percepeao das cores. O olho. capta mais facilmente as cores vivas, como.o amarelo, vermelho e laranja, ¢ com mais.ci culdade o azul, violeta e verde. A dificuldade de - Perceber as cores esta relacionada com o_ amarelecimento do cristalino. No inicio, todas as cores parecem mais pélidas depois, com a continuagao, os contomos e limites dos objec- tos tornam-se menos precisos. Atendéncia para © daltonismo acentua-se com a velhice, prin: cipalmente nos homens, 137 ASPECTOS BIOLOGICOS DO ENVELHECIMENTO ‘* Mozificagao importante do cristalino e dos m 8 transparentes do olho. Por volta dos 50 ‘anos o cristalino comeca a opacificar-se © do- senvolvem-se as cataratas. Ha diversos facto- res implicados neste proceso: a constante com- presséo do cristalino, o amarelecimento ou des- coloragéo da cérnea que reduz a quantidade de luz que atinge a retina, a perda de eticécia do humor aquoso, @ a presenca de “hialites (depésitos de céicio) no humor vitreo. Todos estes fenémenos diminuem a visdo © a percep- ‘cdo dos objectos. Os principais problemas oculares ligados a ve- Ihice so a presbitia, as perturbagbes das glandulas lacrimais, cataratas, degenerescéncia macular & descolamento da retina. Os olhos nao constituern apenas o érgao da vi- sso, mas sao também elementos importantes da face © da expresso humana. Hé diversas modificacoes internas e externas que nao afectam necessariamen- te a visao, mas podem apesar disso tornar-se pro- blematicas. O envelhecimento causa, por exemplo, adiminuigao das secregées das glandulas lacri- mais ¢ confere ao olno um aspecto bago. Acamada de gordura que forta a érbita desaparece, dando a impressao de que os olhos ficam afundados nas ér- bitas. Também se produzem modificagbes atroficas na elasticidade e no tecido conjuntivo das palpebras {que se relaxam acentuadamente. Por vezes, o des- cair da pélpebra superior, fenémeno semelhante ao que provoca o alongamento dos lobos das orelhas ” @ das faces, é tdo importante que causa problemas de visao. Véem-se aparecer, por exemplo na perite- ria da c6rnea, depésitos esbranquigados, e nota-se igualmente a descoloracao pigmentar da iris. Este fenémeno pode observar-se desde os vinte anos. A medida que progride a infiltragao formada pelos tecidos gordos, ela torna-se também mais espes- sa 6 forma em toro da iris um cfrculo esbranqui- ¢ado ou acinzentado. Este fenémeno, que se de- signa por ‘arco senil’ nao se relaciona apenas com Oenvelhecimento, mas tem também, causas circu- latérias, Em conclusao, apesar de importantes em nume- ro, todas as modificagtes irreversiveis que acaba- mos de descrever nao provocam necessariamente problemas importantes no funcionamento normal do oho. Séo mais de ordem estética e ligam-se & ima- gem fisica da velhice. 4) Percepgéo da dor e da temperatura: Obser- vva-8@ que os iddsos tém dificuldade em perceber certos tipos de dor e so, por vezes, incapazes de determinar a localizagao da dor. Certas doengas gra- ves como a pneumonia, enfarte do miocércio, e do- res abdominais ligadas a apendicite ou & peritonite ‘nao sao sentidas nem reconhecidas, o que cria evi- dentemente um perigo potencial ‘Asdiversas mudancas a nivel do sistema vascular da pele levam a que as sensagées tacteis e as. Que se ligam a percepgao da temperatura (calor Ou frio), da percepgao e da dor local nao sejam” Sentidas, ou s6 0 sejam muito lentamente. Esta’ demora na transmiss&o nervosa constitui um ou- tro risco potencial de lesdes graves e permanen- tes para os idosos. Finalmente, os mecanismos reguladores da temperatura tornam-se menos fidveis ¢ as actividades geradoras de calor sao mais lentas e menos eficazes. 1. Sistema endécrino e metabélico Os efeitos do envelhecimento sobre as gléndu- las endécrinas sao ainda mal conhecides. A dimi- nuigao de produgéo de hormonas néo parece alte- rar de maneira importante @ estrutura e funciona- mento do organismo, mas representa antes uma adaptacao & diminuigéio da massa metabolica acti- va. 1) Metabolismo da glucose: Os idosos parecem ter dificuldade em metabolizar a glucose. Os testes de tolerancia a glucose do resultados similares aos dos diabéticos. Contiando nestes testes, poder-se- via afirmar que 70 % das pessoas de mais de 70 anos so diabéticas, o que é totalmente falso, pelo que nao se pode confiar neles. Por outro lado, cife- rentes factores como uma mais fraca secregao de insulina pelo pancreas ou uma reducao da sensibili- dade periférica responsével pela libertacdo de insu- lina podem explicar a diticuldade do organismo em metabolizar a glucose. Observam-se também niveis elevados de pré-insulina (insulina menos activa), de glucagon, bem como uma diminuiggo da resposta insulinica 2) Actividade da tiréide: Durante 0 envelheci- mento cbserva-se uma ligeira baixa de actividade da tirdide. A taxa de hormonas tiroideias circulantes ‘mantém-se constante, mas a utlizagao perféricada tiroxina diminui de 50 % entre os 20 e os 80 anos. O metabolismo basal e a utlizag&o de oxigenio pelos tecidos diminui com a idade. Nao se encontram, no entanto, sinais marcades de hipotiroidismo nos ido- sos. 3) Actividade corticosuprarenal: © funciona- mento corticosuprarenal é pouca afectado pela ida-

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