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TEORIA UNIFICADA foe etre Sen Reta Matec) Vv Alysson Cesar A.de Freitas Rachid | Marcela Midori Takabayashi Ce Ue Meee rary eee is) Pec Maria Carolina Moraes Fabio Vieira Figueiredo Dole rode ogo} Flavio Cardoso de Oliveira Ree) Re Rec aL ad Bee RSC CMa ah od ree ae Mima nee ir OAB/FGV Direitos Humanos NESTOR SAMPAIO PENTEADO FILHO Professor de Direitos Humanos do Complexo Jurdico Damasio de Jesus, da Facul- dade de Direito de Jaguariina -FAJ e da Academia de Policia Civil de Sto Paulo. Sumério 1. TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS. 1.1 Antecedentes histricos e conceited direitos humanos. 1.2 Dieitos do homem, direitos fundamentais direitos humans. 13 Fundamento e contetido dos direitos humans. 14 Relativiemo x universalismo cultural 1.5 Caracterstcas dos direitos humanos. |L6 Evolugio histrica dos direitos humanos fundamentais 2. 005 PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS.... 2.1 Conceito de prineipios. Espécies 2.2 Dos principio constitucionais fundamentais. 222.1 Principios regentes das relagbesinternacionais do Brasil |REITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUICA EDERAL 3.1 Dos direitos e deveres individuals e coletivos. 3.2Direitos e garantias fundamentas... 33 Alcance e limitabilidade dos direitos fundamentas 3.4 Classificagio dos direitos e garantas fundamentas. 35 Dos direitos e deveres individuais e coletivos. ‘3.6 Breve anslise dos principaisincisos doar. 3°da CF. 4.005 DIREITOS SOCIAIS COMO DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS. 4.1 Introdusio e conceito oat 605, 5.00 DIREITO DE NACIONALIDADE. 6.00 piReiTos poLinicos. colegSo OAB nacional 442 Dos direitos socias em sentido estrito. 421 Dio da seguridad oil ae previdi assisténcia ec 4211 Diteito 8 S866 : 42.12 Direito a previdéncia soc 42.1.3 Direito&assistncia socal... 422 Direito& educacio, a cultura e ao desporto. 4221 Direito a educagio 4222 Direito A cultura = 42.23 Direito ao desporto... 7 4423 Liberdade de comunicacio social (ats. 220 a 224 da CP). 424 Dieito a0 meio ambiente 425 inet referents 8 familia, &erianga, a0 adolescente, 20 oredr de ces ‘especais e a0 idoso. 426 Diretos constitucionais dos indios e dos. sonic. 43 Dieitos trabalhistas aiaiaciae 5:1 Conceito de nacionalidade.. 52 Critérios de atribuigio de nacionalidade previstos na Constituiglo Federal 53 Igualdade entre brasileitos natos e naturalizados. Da perda da nacionalidade. 6.1 Conceito, natureza e especies. 62 Das inelegibilidades. 63 Da privagio dos direitos politicos 644 Dos sistemas eleitorais 65 Dos partidos politicos. DIREITO INTERNACIONAL 00S OIREITOS HUMANOS. BRBRBERBRER 7.1 Antecedenteshistoricos. Surgimento do dieito internacional dos direitos humanos (DIDI) 7.2 Organizacho das Nagbes Unidas (ONU), 73 Tratados internacionais de direitos humans. 73.1 Terminologia 73.2 Formagio dos tratados. 73.3 Estrutura dos tratados... 734 Hierarquia e incorporacio dos tratads internacionais.. 7735 Impactos dos tratados intemacionais sobre direitos humanos na ordem juridca bra sileira. 74 Convengdes tematic e outros documentos ntrnacionais sobre direitos humans 7,41 Declaragio Universal dos Diteitos Humanos (ONU, 1988) 74.2 Canvengio para Prevengio e Repressio do Crime de Genociio (ONU, 1948) ¢ 0 Fstatuto ‘de Roma para o Tribunal Penal Internacional (1998... 743 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politces e Pacto Internacional dos Direitos Econdinicos e Sociais (ONU, 1966) 7.44 Convengio Intemacional sobre a Eliminacio de Todas as Formas de Dis Racial (ONU, 1965), inagio ca or rd 6 6 ox 8 oH om «5 636 636 Direitos Humanos 7.45 Convengio sobre a Eliminacio de Todas as Formas de Discriminagio contra a Mulher (ONU, 1979) or 746 Convengio contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (ONU, 1984) os - 68 7.47 Convengio sobre os Dieitos da Cranga (ONU, 198) os 7-48 Convengio Americana de Diets Humanos ~ Paco de San José da Costa Rica = Sistema Regional (OBA, 196)... 9 748.1 Comissio Interamericana de Dirsitos Humana oo 68 7482 Corte Interamericana de Direitos Humanos. 640 1. TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1.1 Antecedentes histéricos e conceito de direitos humanos Na Europa, a Paz ce Westphalia (1648) encerrou a Guerra dos Trinta Anos ¢ também re- conheceu oficialmente as Provincias Unidas e a Confederagao Suga. Inaugura-se 0 modlerno Sistema Internacional, ao se acatarem consensualmente principios como os de soberania es- talal e de Estado-nacio. Depois, ainda no primeiro mundo e sob influéncia dos iluministas (séculos XVII e XVIID, retoma-se o conceito de cidadao, o qual se acha interligado a ideta de limite ao poder absolu- todo rei. (Os direitos humanos sao consequéncia de diversas fontes, como os costumes de civiliza- «Ges antigas, a produgo jusfilosofica ea disseminagio do cristianismo. Surge, por conseguin- te, a nogio de dignidade humana, que é um valor espiritual inerente ao proprio homem, arias teorias fundamentam os direitos humanos, merecendo destaque a jusnaturalista (ordem suprema e imutével), a positivista (criagio do homemlei) e a moralista (conseiéncia ‘moral do povo). Os direitos humanos sao um conjunto de prerrogativas e garantias inerentes ao homem, cuja finalidade basica 6 0 respeito a sua dignidade, tutelando-o contra os excessos do Estado, estabelecendo um minimo cle condigoes de vida. 1.2 Direitos do homem, direitos fundamentais e direitos humanos “Direitos do homem” é expressio jusnaturalista, significando um rol de direitos naturais, “Direitos fundamentais” 6 expresso voltada para o direito constitucional, compreen- dendo direitos (declaragées) e garantias (instrumentos de proteco) positivados na ordem, juridica interna, Direitos humanos sio prerrogativas (direitos e garantias) inscritas em tratados e costu- ‘mes internacionais, elevando-se &tipificagio no direito internacional puiblico, 607 colegio OAB nacional 1.3 Fundamento e contetido dos direitos humanos Conforme o art. 1° da Declaracio Universal de 1948, o fundamento dos direitos humanos situa-se na dignidade humana, preceito-matriz. de todo o sistema global. Assim, todo ser humano enfeixa tais direitos simplesmente por existir como tal (inerén Com relagio ao seu contetido, os direitos humanos sio indivisiveis, porque nio se sucedem em geragdes, mas se cumulam em dimensdes, ocorrendo uma interatividade entre eles. 1.4 Relativismo x universalismo cultural A corrente relativista alega que os meios culturais e morais de uma sociedade devem ser respeitados, ainda que em prejuizo dos direitos humanos dessa mesma comunidade. A corrente universalista defende a implementagdo global dos direitos humanos. 1.5 Caracteristicas dos direitos humanos 4) historicidade: natureza historia; advindos do Cristianismo; b) universalidade: alcancam todos os seres humanos ©) inexauribilidade: so inesgotaveis e podem ser ampliados; 4) essencialidade: sio inerentes ao ser humano, tendo por base o valor supremo de sua dignidade, © imprescritibilidade: nio se perdem com o passar do tempo; 1 inalienabilidade: nao sio transferiveis a qualquer titulo; 8) irrenunciabilidade: nlo sio renunciaveis, dada a natureza humana; 1) inviolabilidade: nfo podem ser violados por leis infraconstitucionais nem por atos administrativos; i) efetividade: o Estado deve criar mecanismos coercitivos aptos A efetivagdo e validagio deles; }) limitabilidade: ndo sio absolutes, sofrendo restrgBes nos momentos constitucionais de crise ou por direitos superiores (principio da ponderacio); 1) complementaridade: devem ser observados de forma conjunta ¢ interativa com as demais normas, principios ete; D concorréncia: podem ser exercides de forma acumulada ou simultinea; 1m) vedagao do retrocesso: nao devem ser diminuidos no seu aspecto de protecio (nao se pode proteger menos do que ja vem protegendo). 1.6 Evolucao historica dos direitos humanos fundamentais A doutrina classifica os direitos fundamentais, segundo geragoes de direitos (ou dimen shes de direitos) 608 Se Direitos Humanos “Dimensdes de direitos” é expresso mais atual, que se traduz na interatividade ou jun- «io entre os direitos, no havendo encerramento de umas ou outras, mas, sim, uma relagdo interativa entre os direitos. Assim: 2) Direitos fundamentais de 1 geracio ou dimensio: sio as liberdades piiblicas, os di- reitos politicos bisicos, institucionalizados historicamente a partir da Magna Carta de 1215 do rei Jodo Sem Terra e presentes noutros documentos hist6ricos. Representam os direitos civis e politicos do povo;, ) Direitos fundamentais de 2 geracio ou dimensio: decorrentes da 1 Revolugio In- dustrial (fim do século XIX e inicio do século XX), & vista de movimentos sociais que eclodi- ram,e tam 08 direitos socias, culturais e econdmicos do povo; 1) Direitos. fundamentais de 3* geraca0 ou dimensio: decorrentes do pos-Segunda Guerra, direcionam-se a preservacio da qualidade de vida, constituindo-se em interesses di- fusos e coletivos, que transcendem o individuo ou grupos de individuos, representando os direitos de fraternidade ou solidariedade; «) Direitos fundamentais de 4 geracio ou dimensio (direitos dos povosh: sio direitos de preservacio do ser humano limitando a engenharia genética (clonagem, sucessio de filhos ‘gerados por inseminagio artificial etc); protegdo contra a globalizacio desenfreada, direito 8 democracia, direito & eutandsia, a biociéncia e a informatica; ©) Direitos fundamentais de 5! geracao ou dimensao: significam o direito A paz perma~ nente entre os povos. 2. DOS PRINCiPIOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS 2.1 Conceito de principios. Espécies Os princfpios sio as ideias nucleares de um sistema, ao qual do sentido logico e harmo- nioso, possiblitando compreendler a sua organizacao. 2.2 Dos principios constitucionais fundamentais O consituinteestabeleceu que o Brasil adota regime republicano (alternncia no Poder), do tipo federalsta(descentraizacio e repartiglo do poder), baseado na unio indissolivel dos entes federados (indissolubilidade do vinculo federaivo}, pois ndo existe o direto de secessio ou separagi. 'No mesmo sentido, acentuou que os fundamentos (normas-princpios) so a soberania (poder organizacional supremo e independente); a cidadania (diteito politico) a dignidade dda pessoa humana (inerente ao homem). Hi também os valores sociais do trabalho e da livre de obra e capital) e o pluralismo pol ideologicas) E imperioso analisaro principio do pacto federativo referente a separagio dos Poderes (art. 2° da CF), embora seja mais técnico falar em fungies do Estado 1 (equilibrio entre mio ica (coexisténcia democritica de diversas correntes 609 colegao OAB nacional No art. 3° da CF esto previstos os objetivos fundamentais do Estado brasileiro, quais sejam, a construc de uma sociedade livre, usta e solidaria (democracia solidria); a garantia de desenvolvimento nacional (progresso ¢ desenvolvimento sustentével); a erradicagao da pobreza e da marginalizacao, reduzindo as desigualdades sociais e regionais (ages afirmati- vvas para auxilio de necessitados); a promogio do bem comum (igualdade formal de todos diante da lei), sem qualquer tipo de discriminagao. 2.2.1 Principios regentes das relac6es internacionais do Brasil (Oar. 4° da CF trazos principios regentes das relagdes intemacionais do Pais, quai sejam: da independéncia nacional (decorre da soberania); da prevaléncia dos direitos humanos (dig- rnidade do homem); da autodeterminagio dos povos (liberdade de acio dos povos); da nao intervengio (repulsa a interferéncia em assuntos intemnos do Brasil); da igualdade entre os Es- tados (constitucionalizacio do direito intemacional); da defesa da paz; da solugao pacifca dos. conflitos (adogao da diplomacia); do reptidio ao terrorismo e ao racismo (incriminando tais posturas indignas); da cooperagio entre os povos para o progresso da humanidade (equilibrio tentre as nagdes); da concessao de asilo politico (medida pro homiine de acolhimento de estran- _geiro perseguido);e da integragao econdmica (comunidade latino-americana de nacies), 2.3 Dos pi Dentre intimeros, citamos: legalidade (art. 5, Il ~consagracio do primado da lei); isono- ‘mia (art. 5, caput, e 1 igualdade de aptidao, de possibilidades); liberdade (art. 5, IV, VI, IX, XIL, XIII, XIV, XV, XVII e LXI— decisdo e opgao soberanas do homem); seguranca juridica (art. 58, XXXVI ~ garantidor das relagdes humanas); devido processo legal ou due process of law {art. 5, LIV ~garantia contra a ago arbitréria do Estado) ete. 2.4 Dos pi Os principios setoriais ou especiais informam determinados ramos do diteto,tais como (0s do contraditorio e ampla defesa (art. 5¢, LV ~ garantias processuais); os informadores da Administragio Piblica (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiéncia = art. 37, caput, perfazendo-se em direitos de 3 dimensio); do Tribunal do Juri (art. 5, XXXVI} ete 3. DOS DIREITOS HUMANOS . FUNDAMENTAIS NA CONSTITUICAO FEDERAL 3.1 Dos direitos e deveres individuais e coletivos (s direitos hurmanos fundamentais sio “situagGes juridicas, objetivas e subjetivas, defi nidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana” SILVA, José Afonso da. Curso de dit consitcinalpsitca. 15. Sio Paulos Malheizes, 1988, p13. ee 610 Direitos Humanos Os direitos fundlamentais esto delimitados, sobretudo, no art. 5° da CF, rol meramente exemplificativo, na medida em que nao se excluem outros direitos e garantias expressos na Lei ‘Maior, nem aqueles decorrentes dos principios bisicos e do regime democritico (direitos im- plicitos), bem como os que decorram de tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte. 3.2 Direitos e garantias fundamentais (s direitos fundamentais tém como traco principal uma feigdo declarativa, ao passo que a garantias sio instrumentos de sua protesao. 3.3 Alcance e limitabilidade dos direitos fundamentais Aleitura desatenta do at. 5 caput, da CF pode induzia erro, na medida em que se pode pensar que os diteitos fandamentais apenas sio garantdos aos brasleros(natos ou natural Zados) € aos estrangeirs residentes no Pais. Da interpretagi sistemitica e teleoligia da Constituigo, a doutrinae oSTF acrescentam também os estrangeitos nio residentes(turistas,estudantes et) eos apitridas (heimatios) 3.4 Classificagado dos direitos e garantias fundamentais 3s direitos e garantias fundamentais apresentam a seguinte classificagio: Capitulo 1 — Di Deveres Individuais e Coletivos; Capitulo I~ Dos Direitos Sociais; Capitulo IIl- Da Nacionalidade; Capitulo IV - Dos Direitos Politicos e Capitulo V ~ Dos Partidos Politicos 3.5 Dos direitos e deveres individuais e coletivos ACE, no seu at. 5 cau, estipula 0s direitos fundamentais minimos do homem, concer nentes dinviolabilidade da vida, da liberdade, da igualdade, da seguranga eda propriedade, que io inerentes ao ser humano (piso vital minimo). 2) Direito vida: é 0 mais importante de todos, pois dele decorrem outros direitos fun- ddamentais. leanga 0 dreito de permanecer vivo e odireito a uma vida digna (subsisténcia), De outra parte, proibe-se a aplicagio de pena de morte, exceto nas hipoteses de estado de guerra (art. 5, XLVI, a, da CF) 'b) Direito de liberdade: o direito de iberdade consiste na possbilidade de entrosamen- to consciente dos recursos necessérios 3 obtengio da flicidade pessoal ©) Dieito de igualdade tisonomia):0 dieito& igualdade é um coroléio direto da digni- dade da pessoa humana, ao lado do direito de liberdade. ‘Ao lado da igualdade material apresenta-se a igualdade formal, por meio da qual devem ser tratados igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigual dade. esse contexto, o STF apontou que o principio da isonomia tem triplcefinalidade:limi- tar o legislador,imitar a autoridade pablica, bem como o particular (MI'58/DF) [As ages afirmativas affirmatives actions) io medidas de compensagio que a CF empres- ta certos grupos marginalizados historicamente com a finalidade de incut-los na sociedade [As discriminagies negativas sto medidas ilegaise injustficadas, totalmente desarrazoa- dias, em que se desnivelam pessoas sem qualquer tipo de critéro légico e racional out colego OAB nacional 4) Direito a seguranga: ha intimeros conceitos de seguranga, mas nenhum se aproxima tanto da realidade brasileira como o de sensacao. Ou o individuo sente-se seguro, em face da criminalidade diminuta e da eficiéncia do trabalho policial do Estado, ou nio... Seguranca piiblica também é a efetiva e racional ocupagio dos espacos pelo Poder Piblico,inibindo a priori a ago de criminosos. £ a mantenga da orciem, da vida e do patriménio das pessoas. ©) Direito a propriedade: a propriedade, como direito constitucionalmente garantido, abrange todo direito de contetido econémico ou patrimonial (propriedade, usufruto, uso, di- reitos autorais, de crédito et), que deve estar ligado a uma fungio social (utlidade em fun- ‘0 do interesse piiblico) ‘Assim, a propriedade nao pode sofrer nenhuma intervencSo, limitagio ou embarago que ‘jo em consequéncia de um devido processo legal, como ocorre, P.ex., coma desapropriagio para fins de necessidade social. 3.6 Breve anilise dos principais incisos do art. 5° da CF * Direito de igualdade (inciso 1) ACF impée, portanto, tratamento isonémico entre homens e mulheres. Destarte, nio se admite 0 discrimen sexo para desnivelar a mulher ou o homem, pois somente a CF podera ‘excepcionar essa norma principiolégica. * Principio da legalidade (inciso I) ACFestabelece que ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sendio em virtude de lei, de modo que esse imposicio constitucional vincula os 3 Poderes e 0s, particulares. + Proibigio da tortura (inciso II} Ninguém poderé ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; aliés, a tortura é crime tipificado pela Lei n. 9455/97. ‘ Liberdade de manifestacio do pensamento e direito de resposta(incisos IV e V) E livre a manifestagio do pensamento (pesero non pga gabela),proibindo-se o anonimato. Bem por isso, assegurou-se 0 direito de resposta, proporcional ao agravo, além, é evi- dente, da indenizagao por danos resultantes da projegio do pensamento ofensivo. * Liberdade de consciéncia, de religito, de assisténcia religiosa e de conviegio (incisos VI avul) ‘Sto inviolaveis as liberdades de consciéncia (foro intimo), de religido (crenga e culto), de assisténcia rligiosa (prestagao de servigos religiosos nas entidades de internagao coletivas Civis ou militares) e de convicgao politico-filosofica (autodeterminagao) ‘ACF assegura também a liberdade de nio se ter crenga nenhuma (agnosticismo) ou mes- smo de negar sua existéncia (atesmo). ‘Aeescusa de conscigncia vem a sero direito de se recusar a prestarcertas imposigdes le sais contréria & conviegio filséfica ou metafisica do interessado. O exemplo mais comum & (da recusa em realizar o servigo militar obrigat6rio (ar. 143, §§ I"e 2%, da CF), por questio de religiao. * Liberdade de expressio e responsabilizacio por danos decorrentes de excessos (i IXeX) ‘Na democracia, a liberdade de manifestagio artstica,cientifica ou intelectual é fruto da propria liberdade de manifestacio de pensamento e de opiniso, sem qualquer tipo de censura ou licenca prévia. Por derradeiro, se durante a exposicio do pensamento artistic, cultural ou 61 cientifico houver ofensa a intimidade, vida privada, honra ou imagem de pessoas, a CF asse- gura 0 direito a indenizagio por danos materiais e morais consequentes a ofensa proferida (art. 5X). * Inviolabilidade domiciliar (inciso X1) ACF afirma que a casa ¢ 0 asilo inviolével do individuo. Para o direto constitucional, 0 conceito de casa é mais amplo que aquele formulado pelo direito privado. Entende-se que ‘casa € o ambiente de recesso intimo do individuo e de seus familiares, aleangando qualquer ‘compartimento habitado com particularidade ou exclusividade. Entretanto, a CF permite o direito de invaséo domiciliar nas hipdteses de autorizagio do morador,flagrante delito, desastre, para prestar socorro e para cumprimento de mandado judicial, este tiltimo somente durante o dia. Mas 0 que se entencle por dia e noite, em termos Constitucionais? Ha duas correntes: 1) dia & 0 periodo que vai da aurora ao crepiisculo e noite, © inverso; 2) dia € o perfodo que vai das 6 3s 18 horas e noite, o inverso,seja horério normal ou de verdo. Para efeito de tutela constitucional,a segunda corrente éa que melhor concretiza a protecio. * Liberdiade de comunicacio e siglo de correspondéncia (inciso XII) ACF de 1988 protege o sigilo das comunicagbes, quer se trate de correspondéncia (cartas, avisos bancérios etc), de comunicagiestelegraficas (telex, telegrama), cle dados (fscais, banc ios), de telemtica (internet, intranet) e telefénicas (Por meio de aparelhos fixos ou celulares). Entao, em regra, as correspondéncias sao invioliveis, salvo nos casos de decretagio de estado de defesae de sitio (arts. 136e s. da CF), assim como no uso nocivo desse direito (0 STF reconheceu a possibilidade de interceptar carta de presidiério, pois a inviolabilidade de cor- respondéncia nio pode servir de escudo para atividades iicitas ~ HC 70814-5/SP, 1*T, rel. Min, Celso de Mello) ‘ACF excepciona, todavia, na normalidade juridica, a protecio constitucional apenas das comunicagbes telefonicas e mediante a presenca de 4 requisitos indeclindveis: 1) a comunica- a0 deve ser telefGnica; 2) violagio deve destinar-se & producio de provas no inquérito po- licial ow no processo penal; 3) presenca de autorizagio judicial prévia; 4) existéncia de lei disciplinando as hipéteses de escuta autorizada. A Lei n 9296/96 prevéo cabimento de inter- ceptagao telefénica para os delitos apenados com reclusio, presentes indicios fires de auto- ria e raz6es plausiveis para a utilizacao desse tipo de prova, processando-se a excegio em segredo de justca.Interceptagio telefdnica (do contesido da conversa) nio se confunde com registros telefOnicos (ligagbes anteriores armazenadas na companhia telefénica), pois estes indo se acham sob a protecio constitucional do sigilo das comunicagies, mas podem ser tute lados pela protecio da intimidade. ‘Ademais, nenhuma liberdade piblica éabsoluta, sendo claramente acetivel a gravagio de uma conversa telefOnica pela propria vitima de ameagas ou extorsbes, a vista do principio da proporcionalidade, na medida em que a tutela constitucional nao se destina a escorar com- portamentos antijuridicos. * Liberdade de trabalho (inciso XI) ACE assegura a liberdade de trabalho, oficio ou profissio, condicionando-a a restr «es legais do legislador comum, cuidando-se de uma norma constitucional de eficdcia con- tida, de aplicabilidade reduzida pelo legislador ordingrio. + Direito de acesso a informagao (inciso XIV) O dircito & informagio apresenta como outa face o direito de informar atrelado & ativi- dade de jornalismo e a comunicagao social (arts. 220 a 224 da CF). O diteito de receber infor- ‘magdes verdadeiras da imprensa & correlato a liberdade, independentemente de cor, raga, credo ou condigio social 613 colego OAB nacional * Liberdade de locomogao (inciso XV) ACP abriga a liberdade de circulagio dentro das fronteras nacionais, incluindo, por aqui o Presidente da Reptblica, os Governadores e Prefeitos que desejem candidatar se a outros cargos eletivos dlevem renunciar de seus cargos até 6 meses antes do pleito, sob pena de inelegibilidade, Os respectivos vices s6 deverio renunciar se houverem substituido ou sucedido os titulares. Ine- legibilidade reflexa por casamento, parentesco ot afinidade (art. 14, §7)-> sao inelegiveis no terrt6rio da jurisdigSo do titular 0 cénjuge, os parentes consanguineos ou afins, até o se- sgundo grau ou por adogio, do Presidente da Republica, de Governador de Estado ou Terit6- ho, do DE, de Prefeito ou de quem os haa substituido dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se ja titular de mandato eletivo e candidato& reeleigio. Inelegibilidades dos militares {art. 1, $85) > sio restrigdes ao direito de serem votados; militares com menos de 10 anos de servigo devem afastar-se das atividades,e se contarem com mais de 10 anos de servigo sera agregados, passando, se eleitos, para a inatividade. Inelegibilidades legais (art 14,§ 9) —> io outras zestrigies ou impedimentos relatives & capacidade eleitoral passiva, constantes de lei complementar (LC, 64/90 LC n. 81/94) 6.3 Da privacao dos direitos politicos A privagao dos direitos politicos pode ocorrer de forma definitiva ou temporaria Privacio definitiva é a perda dos direitos politicos ao passo que privacao temporaria € a suspensio do direito de volar e ser votado. ‘A perda dos direitos politicos é a privacio definitiva de tais direitos, subtraindo-se do cidadao a sua qualidade de eleitor, impedindo-o de candidatar-se nos pleitos eleitorais. Pode- 4 decorrer de cancelamento de naturalizagao por sentenca definitiva, ou por aquisiglo de outra nacionalidade por naturalizagio voluntaria, por vicio de consentimento em negéci juridico (erro, dolo, fraudle, coagao ete.) ou por recusa de cumprir obrigacio a todos imposta ‘ou prestacao alternativa, nos termos do art. 5 VILL, da CE A suspensio dos direitos politicos importa na privacio temporiria deles e ocorre nas hipoteses de incapacidade civil absoluta (declarada por sentenca em processo de interdi- 0), decortente de alienacio mental posterior; condenagao criminal com transito em julga- do (0 apenado tem seus direitos politicos suspensos enquanto perdurarem os efeitos da sentenga); por improbidade administrativa (imoralidade na condugio dos negocios pibli- cos que lesa 0 eratio). 6.4 Dos sistemas eleitorais Sistemas cleitorais so os procedimentos reguladores das eleigGes ¢ da representagio popular-politica do Estado. ‘A doutrina ensina que os sistemas podem ser: majoritarios, proporcionais ou mistos. 630 ed Direitos Humanos Osistema majoritério prevé que seré eleito aquele que obtiver a maioria dos votos, po- dendo ser por maioria absoluta ou relativa No sistema de maioria absoluta, seré eleito aquele que obtiver o nuimero imediatamente superior & metade dos votos vilidos (ndo se computam os votos nulos e em branco), isto é, metade dos votos validos mais 1. Seo candidato nao alcancar esse nuimero, faz-se um segundo turno entre os 2 candidatos mais votados. O sistema de maioria relativa considera vencedor aquele que alcangar © maior mtimero de votos. O sistema proporcional é aquele em que a re- ppresentagio se dé na mesma proporcio da preferéncia do eleitorado pelos partides politicos. Os sistemas mistos procuram conciliar 0 majoritario e o proporcional. 6.5. Dos partidos politicos importante ressaltar que, embora possuam natureza juridica de pessoa juridica de di- reito privado, os partidos politicos exercem parte da autoridade publica, pois dominam monopdlio das candidaturas, devendo ser registrados no Cart6rio de Titulos e Documentos e apés no Tribunal Superior Fletoral - TSE. A Constituicio Federal consagra o principio da li berdade partidéria, mas tal preceito ndo ¢ absoluto, porque o sistema nao permitea criagio de partidos autoritérios ou antidemocriticos OSTF eo TSE entendem que afidelidade partidaria ¢ principio constitucional implicito que deve ser respeitado, conforme Resolugao TSE n, 22.610, de 25-10-2007, e ADIn 3.999/DE, Aacarretando sua desobediéncia, apés a data ce 27-3-2007, na perda do cargo ou mandato cle- tivo por infidelidade. 7. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 7.1 Antecedentes historicos. Surgimento do direito internacional dos direitos humanos (DIDH) Os direitos humanos s0 fundamentais ao homem justamente pelo fato de ele ser'* hu- ‘mano (indissociabilidade), No século XX, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, os direitos humanos al- ccangam projecio e protesao internacional com a criacio da Organizacio das Nagées Unidas (ONU). Desde os primérdios, até a Carta das Nagdes Unidas, mais de setecentos anos se passa- ram, e diversos documentos foram redigidos em prol dos direitos humanos. Nenhum deles {0 tao significativo e profundo quanto a Declaragao Universal dos Direitos Humanos de 1948, que acabou por criar 0 Sistema Global de Protecio de Direitos Humanos (Sistema Internacio- nal ou Sistema da ONU). © Recentemente, a Secretaria Nacional de Ditetos Humanosaclotow um slag que bem rele a ineréncia dos iritos humans na campanha institcional de divulgagio dos dietosFundamentais dos brisleios: "Dele tos Humanos, basta ser para ter" 631 colegio OAB nacional ‘© mundo assistiu horrorizado as barbéries e genocidios praticados, sobretudo pelos na~ zistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Destarte, sentiu a necessidade de algo que impe- disse a repeticdo desses terriveis acontecimentos. Organizadas e incentivadas pela ONU, 148 rages se reuniram e redigiram a Declarag30 Universal dos Direitos Humanos, que repre- sentou um enorme progresso na defesa dos direitos humanos, direitos dos povos e das na- «bes. Nessa carta de principios, considerada 0 evento-matriz de internacionalizacao de direi- tos humanos, duas ideias despontam com evidéncia: 1) 0 ser humano nio é algo descartivel; 2) anecessidade de universalizagio e protegio dos direitos humanos. parece entao esse novissimo ramo do direito ~o dreito internacional dos direitos humanos mediante a elaboragio de tratados intemnacionais de protesio de direitos humanos, patroci- nados pela ONU. 7.2 Organizacgao das Na¢ées Unidas (ONU) A Organizagio das NacBes Unidas é uma instituigio internacional formada por 192 Es- tados soberanos, fundada apés a Segunda Guerra Mundial para manter a paz. e a seguranca 1no mundo, fomentar relagies cordiais entre as nagGes, promover progresso social, melhores, padrdes de vida e direitos humanos. Seus integrantes sio reunidos em torno da Carta da ONU, um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos membros da comunida- de internacional. Lembre-se de que a ONU é uma associacio internacional pluralista voltada Para 0s aspectos diplomsticos de convivencia entre os povos. sistema global (sistema internacional ou sistema das Nag6es Unidas) de protesio dos direitos humanos tem como 6rgaos mais importantes: a Assembleia Geral (competéncia legis- lativa sobre direitos humanos), o Conselho Econdmico e Social (ECOSOC), com fungao divul- gadora e de pesquisa sobre direitos humanos,¢,finalmente, o Conselho de Seguranga, ao qual compete desenvolver operagies pela paz, bem como decidir em razio de graves violagBes de direitos humanos que cologuem em rico a paz mundial ea implantagio de Tribunais Penais Internacionais ad hoe. Os principais instrumentos normativos do sistema global de protecdo dos direitos humanos sao: o Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos; o Pacto interna~ cional de Direitos Econdmicos, Sociais e Culturais; a Declaragio sobre o Direito ao Desenvol- vimento; a Convengao sobre a Eliminacio de Todas as Formas de Discriminagdo contra a Mather; a Convengao sobre os Direitos da Crianca et Existem também sistemas regionais de protegao de direitos humanos, até mesmo para facilitagaio do acesso de vitimas a tutela internacional. Entende-se por sistemas regionais de protesdo aos direitos humanos os atuais organismos internacionais regionais existentes em vrios continentes, p.ex., na Europa (Corte Europeia de Direitos Humanos); na América (Co- missio Interamericana e Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organizagao dos Es- tados Americanos ~ OEA);e no Africano (Comissio Africana de Direitos Humanos e dos Po- ‘vos). No ambito das Américas, em 30-4-1948, durante a IX Conferéncia Internacional Ameri- cana (Bogota), foi difundida a Carta de criacio da Organizagio dos Estados Americanos (EA), da qual faziam parte 35 Estados das Américas do Norte, Central e do Sul. Em 12-2- 1969, os paises da OEA acolheram a Convencio Americana sobre Direitos Humanos, que & ‘um tratado internacional multilateral, também conhecido por Pacto de San José da Costa Rica, em razao de uma conferéncia ocorrida naquele pais. Tal Convengéo s6 entrou em vigor em 18-7-1978, depois das ratificagbes de Sao Salvador e Peru. O Brasil s6 ratificou a Convengio ‘em 1992, depois do seu processo de democratizacio. 632 Direitos Humanos 7.3 Tratados internacionais de itos humanos 7.3.1 Terminologia Entende-se por tratado internacional, nos termos do art 2, § 12,4, da Convengo de Vie- na de 1969, 0 acordo formal, celebrado por escrito e coneluido pelos sujeitos de direito inter- nacional, com base no direto internacional ptiblco,visando produzir efeitos juridicos para as partes contratantese, em certos casos, para terceiros no partes. 'No ambito da ONU sio produzidos virios documentos juridicos, sobre os mais diversos temas - de direitos politicos da mulher até escravatura, de direito penal intemacional & pre- servagio da diversidade biolgica, de proibicio de armas quimicas a direitos das criangas 7.3.2 Formacao dos tratados Os tratados internacionais, em regra, apresentam o seguinte processo de formacSo: ciagio (ajustes preliminares diplomaticos);assinatura ou adogio (autenticagdo pelo Execulivo ‘ou plenipotencisrio); aprovacio parlamentar ou referendum; ratificagio (concordéncia unilate- ral de aceite definitive do compromisso, concluida com a troca de instrumentos que a con- suibstanciam); ou adesio ou acesso (quando o Estado nio partcipou das negociagies do tra- tado, mas deseja dele fazer parte) 7.3.3 Estrutura dos tratados Na tradigio do direto internacional os tratads apresentam a seguinteestruturao titulo (indica a materia do ajuste;o preambulo (indica as partes contratantes~ Estados ¢ organiza- Ges internacionais; 0s considerandos (intengSes das partes) oartculado (ncleo do tratado Com as causulas de execugao);ofecho (especficagio do locale data da celebragio do acordo); ‘assinatura (do Chefe de Estado ou do Ministro das Relagdes Exteriores ou de agente pleni- Potencisrio}o sel de ace (com as armas das alta parts contratantes~ feito simbslico) 7.34 Hierarquia e incorporago dos tratados internacionais Os tratados internacionais ratificados pelo Brasil podem ter natureza juridica diferente, conforme seu procedimento de ingresso na ordem juridica nacional Em fungao da EC n. 45/2004, no que toca aos tratados e convengies intemacionais que disponham sobre direitos humanos, o Congresso Nacional podera incorporéclos com status ordinrio (art. 49, 1, da CF) ou constitucional (art. 5, § 3°, da CF). Até entio, o STF adotava pposigdo no sentido de que tais tratados eram incorporados ao direito brasileiro com status de norma ordindria Os tratados que veiculam direitos fundamentais, desde que se submetam ao mesmo pro-

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