A conta

Dois casais de amigos. Acabam de jantar num bom restaurante.

Um dos homens faz sinal para o garom.
- Companheiro...
Faz o tradicional gesto de escrever no ar com uma caneta fantasma.
- A conta.
- Deixa comigo diz o outro homem, levando a mo ao bolso de trs para
pegar a carteira. O outro o detm.
- Pare. No se mexa. A conta minha.
- De maneira nenhuma.
- Sim, senhor. Fao questo.
- Que esperana. Pago eu.
- Pago eu e est acabado.
Quando chega o garom, o outro d um pulo e pega a conta da sua mo.
- Epa, d aqui.
- No dou. Eu que pago.
- No banque o idiota. Me d essa conta.
- No dou.
- Quer fazer o favor?
- No amola.
As mulheres se divertem com a discusso. Uma delas sugere:
- Quem sabe a gente racha?
- No. Fui eu que pedi a conta, eu que pago. D aqui.
- No dou.
- Se voc tocar nesta carteira... (...)
O outro olha em volta. Todo o restaurante parou para acompanhar a briga.
- Vocs so testemunhas. Eu tentei transigir e...
O outro aproveita e mergulha para pegar a conta. Os dois se engalfinham.
Caem por cima da mesa. O garom tenta apartar. Vem o gerente.
- Senhores, por favor!
As pessoas erguem-se de suas mesas e se achatam contra as paredes. Os dois
rolam pelo cho. Quando, finalmente so separados, o que pegou a conta do
garom levanta-se com a conta ainda na mo, triunfante. Com a outra mo
pega uma cadeira e ameaa os que o cercam.
- Para trs. Para trs.
O outro est bufando.
- Me d essa conta!
- Vem buscar! (...)
O gerente dirige-se para o telefone. (...)
Os dois entram na cozinha, agarrados. As duas mulheres vo atrs, implorando
para que parem. Eles trocam socos e pontaps. (...)
Chega a polcia.
Lus Fernando Verssimo. Festa da Criana. So Paulo, tica, 2000.

ESTUDO DO TEXTO
1. Qual foi o motivo da briga?

2. Como se comportam as mulheres:

No incio da histria?

No meio da histria?

No fim da histria?

3. Quem chamou a polcia?

4. Na sua opinio, algum pagou a conta? Quem? Justifique a sua

resposta.