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s vezes, esqueo o que h por baixo da pele.

Como um lago congelado, que por longos meses diz ser apenas gelo,
Ocultando as escuras profundezas das suas guas,
Esqueo que existe algo muito fundo por baixo das camadas frias.
Lembro quando eu era pequeno.
Quando meu corao se envolvia no tormento do no conhecer-se.
Ou melhor, do receio de saber-se, do receio de ver a si mesmo.
Sentia um desamparo maior que tudo,
Que tomava todos os cantos e todos os pequenos buracos
Que era onipresente e onipotente, subjugando-me em medo
Em receio, em pnico.
Quando o lago racha,
Quando sua superfcie se rompe sem prvio aviso,
Revelando, por fim, suas guas inquietas,
Sinto-me pequeno novamente.
E encarando o lago descoberto,
Novamente visvel, suspiro.
Dizem que eu cresci.
Que agora sou um homem, no mais uma criana,
Mas do outro lado eu vejo meu rosto,
Vejo meu reflexo infantil, rosto pequenino,
Encarando o lago com medo da sua profundeza.
No mudei tanto assim de l para c...
Uma lgrima baila em meus olhos,
A dana de uma confirmao triste.
Ela cai e se junta as guas profundas.
A diferena que eu, agora sei o que h l.
Conheo algo, sem dvida no tudo,
No tive coragem de me arriscar ir mais fundo,
Do que se oculta nas profundezas.
Mas conhecer a razo do sofrer no necessariamente controla-lo.
Por mais que conhecimento seja poder, s vezes ele escapa,
Fica o entendimento, mas o controle se dissolve...
E permaneo eu.
Encarando meu rosto de criana
E contando as lgrimas que derramo.
Logo o gelo voltar.
Logo o lago vai sumir.
Digo a mim mesmo em tom de uma orao:
Logo passa.
A neve volta, um pedao do meu corao adormece,
E com alvio, o sorriso acende.
Continuo a caminhar pelo delicado piso fractal.
No posso me dar o luxo de esperar, tenho que caminhar.

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