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Filiado & CUTIFENAJUFE Impresso Especial sindlas.0F cA ere CORRELO See aor -170 Desafios para a Justiga na aplicacao da nova lei arla a i A cultura solid 6 0 que mais se percebia era realidade de uma nova conjuntura letinoamericana e uma forca civil espontanea, nao alinhada a organizacies politicas 9 » Em Buenos Aires para cumprir a agenda de lancamento dos Pontos de Cultura da capital, fomos surpreendidos pela morte de Néstor Kirchner e mantivemos os ccontatos com a sociedade ((a previstos) acentuados pela dor e a solidariedade no impacto dessa perda. Os Pontos de Cultura, parte do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura, crescem como conceito em toda America Latina (principalmente Uruguai, Argentina, Colombia, Peru, Equador e Bolivi Sem formulas definidas, a nao ser 0 conceito basico de que o Estado nao faz cultura, mas potencializa e respeita o que ja pulsa na sociedade, cada pais defi- ne o seu formato e em qual escala deseja aplicar alguns elementos do Progra- ima. Esses paises ja aplicam politicas culturais com énfase no protagonismo e om forte envalvimento social. Os Pontos sao um impulso organico. Transferido ‘ lancamento (para 26 de novembro), os grupos culturais se juntaram as manifestacdes comoventes de respeito e carinho pelo presidente Néstor e, principalmente, enviavam mensagens de forca para a continuidade de Cristina ‘em suas recentes lutas contra empresas de comunicagio, ruralistas e politicos de oposicao (alguns, até, de outras linhas peronistas). O que mais se percebia era a realidade de umamiova conjuntura latinoamericana e uma forca civil es- pontdnea (nao alinhada a organizacoes pollticas) nas ruas. Ha uma crescente consciéncia de que a cultura pode ser a grande mediadora solidaria na América do Sul quando barreiras econémicas e de mercado falham ee wa, [a EM BRASILIA JOSE ROSA Especialista em pinhole — fotografia sem fentes, com uma lata ou caixa no lugar de cémera —, José Rosa desenvolve hhé dez anos o projeto Fotolata: Arte & Ciéncia. Num trailer que funciona como sala de aula e laboratério. fotoarafico, ele oferéce aulas a interessados em geral,a alunos da rede piiblica e a comunidades carentes no DF e 1 interior do pals. O projeto tem cunho sociale visa desmitficar a complexidade da arte fotogréfica, promover a construcao do conhecimento e a incluséo socal, utlizando a fotografia pinhole como atrativo, G8 Sindjus djuse thie iti Coorenadores caste arte ues de tune Rae porn fare: ‘© Relacdes Sindi jose Geraldo de Sousa Junio ‘dminisracdoe Finangas sarees arene Aevisbo: fa Pula Bebo Co Faiminda Novato da Sha Projeto grSfico e arte: Usha Velasco unas, Calta e Lazer Tagen 15000 elie: oordenadores de Assuntos SpelaTac Ove Fonseca Juncoeeraaliess Maraeogéiaotes Jose Oia Sha Vals es ene Fores (618 Contato comer ulsne 259.61. OPINIAO. José Geraldo ide Sousa Junior Reitor da Universidade de Biaslia, professor da Faculdade de Direito © caordenador do Projeta 0 Direto Achado na Rua Ea educacéo que permite substituir o favor pelo direito. Com ela, pode-se realizar plenamente a condicao republicana pela mediacao da de- mocracia e o exerci- cio da cidadania contra praticas politi cas que se sustentam nos extremos do personalismo e nas relagdes de familia (petabore de ose Geraldo para este ago & aac mmensalmente 3 campatha de "elunarado&u Doo Tanto (vee vinnsindsdorg ti) Conselhos ao governante esde Sdcrates, passando por Platdo, Maquiavel, Erasmo de Roterd,e até D. Pedro Il, com suas ‘exortagGes paternais dirigidas a filha regent, a lte- Tatura organiza uma série de predicacSes que for- ‘mam um impressionante legado de conselhos aos {govermantes . Pedro I, por exemplo, numa de suas cartas a Isabel, aludia ao sentimentointeligente do dever como © melhor guia, mas chamava a atengo para que a princesa observasse que o sistema politico do Brasil funda-se na opinigo nacional, que, muitas vezes, ndo manifestada pela opinio que se apregoa como pi- blicae, pode-se dizer, muito menos a que €cotidiana- mente publicada, Se, em Maquiavel, as notas so para indicar as «coisas pelas quais os homens, e motmente os princi- es, si0 louvados ou censurados, 0s conselhios vo desde aprodigalidade ea parcimdnia & cueldade e & cleméncia, ou Seja, sobre saber se é melhor ser ama- do ou temic ‘At& mesmo nos grandes sistemas religiosos, do confucionismo ao judaismo, passando pelo cistians- ‘mo, pelo isamismo e pelo budismo, é possivel extrair tum guia moral-pratico tendo como centro éticoa con- selho de que o dever do govemante é proteger 0 seu ovo, contrbuir para despertar @ sua consciéncia e fazé-lo na condigdo de que a melhor maneira para um ‘governante administra 0 seu pais é, antes de tudo, ‘governar-se asi préprio. 0 Brasil hoje amadureceu uma experiéncia democratica que jé € a mais longeva em sua histéria republicana.E nela, a partir das mobilizacoes que le- varam & Constitinte de 1988, 0 principio de cidada- ria demarca as elacdes entre povo e governantes, num. processo de partcipacéo ativa que sobrepde 0 poder popular a todos 0s poderes constituds. Nenhum governante se legitimaré, mesmo sufra- gado eleitoralmente, se ndo preservar esse principio, ‘Veja-se, no iltimo periodoeleitoral a forga da incia- tiva popular em fazer vale a exigéncia de honestida- cde com a adacao imediata do citério de “fiche lim- a" para homologar candidaturas, vencendo as hesi- tacBes mais rententes do Legislativo, do udicidrio e 4. | Revista do Sinus © Novemivo de 2010 de grandes veiculos de comunicecéo. Abrir-se, pois, & opinigo sensata e a divergéncia, proporcionada por um povo educado, & uma condicéo. para a boa govemanca — para lembrar o conselho do estadista indiano Keutiya, que viveu 1.800 anos an- tes de Maquiavel Lembrando Maquiavel, é sempre bom guar dar seu conselho o perigo de coligagbes com quem seja mais poderoso, porque na vitéia corre-se orisco de dependéncia 20s seus caprichos. Dat aimportancia da educacéo, se no para asse- gutar 0 melhor preparo para o exercicio da fungao di- rigente, 20 menos para lvré-la de outro perigo nefas- to queé a adulacdo. Cercarse de gente bem-educad, com capacidade citica, & afastay, propde Erasmo, as artimanhas do fingimento ou da mentira cujo fim det- radeiro ¢ assegurar favors. proprio Erasmo, interpretando Diégenes, ima- gina que o que este tinha em mente (quando replcou a perqunta “Qual o animal mais perigoso de todos?" com a resposta”Se te referes a animals sehagens, 0 ti rano; se falas de animats domesticacios, o adulador”) era revel nesse protstipo de depravacio da poltica, a Sua expresséo venenosa que se manifesta como praga. Ea educacdo que permite substituir o favor pelo direit, Com ela, pode-se realizar plenamente a con- dicgo republicana pela mediacao da democracia ou, ‘como na interpretacao pertinente de Antonio Candi- cdo, em prefécio a uma das edicdes de Ratzes do Bra- sil, de Sérgio Buarque de Holanda, 0 exercicio da ci- dadania contra praticas politicas que se sustentam nos extremos do personalismo e nas relacées de fa- rnilia ou de simpatia, Com a educacao, de simples votantes, que per- mitem a continuidade da politica tradicional, os mem- bros ativos da comunidade passam a ser protagonis- tas permanentes da administracao piblica, Além de contribuir para o aprofundamento do exerccio da de- macracia na relacéo entre os cdadios o poder pi biico significa uma possibiidade ampliada para que o bom governante saiba ordenar prioridades de desen- volvimento sustentével e promoverjustica socal AO LEITOR Questao de A pressio realizada pelos ser vidores referente & aprovacéo do Pl 6513/09 teve como re sultado um acordo firmado en tre os presidentes Lula e Pelu 50, no sentido de que o projeto setia votado logo ap6s 0 pro cesso eletoral, Findo o periodo das eleigdes, 0 Congresso vol tou a funcionar normalmente; no entanto, 0 acordo ainda nao foi cumprido. Pio, noticias di: vulgadas por integrantes do governo fazem colocar em xe- que tal compromisso. O que esté em jogoé a au toridade do Poder Judiciario, {que no pode ser submissa aos interesses do Legislativo ‘edo Executivo, Sendo assim, & necessério que a cobran- «2 do acordo em questo parta do presidente do STF utoridade maxima do Poder Judiciario. Afinal, foi um acordo assumido entre dois presidentes. Um acordo que visa nao sb equiparar o salétio dos servidores do Poder Roberto Policarpo Coordenador-geral do Singjus Judicirio ao de careias anslogas, mas evtar que ains- tituigdo em questo sofra um colapso gerado pela eve so em massa de concursados. £, no minimo, njusto que o Plano de Cargos, Carreira Remunerado dos servidores do Poder Judiciéio sea 0 Lunico que para ser aprovado precise passa pelo crivo dos trés poderes. A autonomia financeire do Judiciaro esta contemplada no artigo 99 da Constituicao Federal ref rendada pela Emenda Consitucional 45. No entanto, para cftivarprojtos referentes sua ampliacéo eapertecoa mento de sua estruturafisica e quadro de pessoal, por cexempl,o Poder udicirio precisa colocaro pies na mao ‘e depender da boa vontade dos outros poderes. Para que a isonomia entre os poderes deixe de ser apenas um texto constitucional, oExecutivo eo Legis lativo precisam respeitar e valoizar as demandas do Judicirio. Nao & justo que servidores que desenvol vem funcBes semelhantes a outras carriras publicas ganhem 80% menos. £ preciso que o presidente do STF coloque "os pingos nos is” e faca justica em rela ‘20 aqueles que compiem 0 quadro do Judicidto. € iss0 que esperamos de Peluso ou de qualquer outro ministro que ocupe esse cargo. STFe Palsco do Planalto (ao fun- {do}: sonoma entre os poderes no pode ser apenas um texto constituconal “O que esta em jogo é a autoridade do Poder Judiciario, que nao pode ser submissa aos interesses do Legislativo e ecutivo. Send assim, é necesséric que a cobranca ¢ acordo parta do presidente do ST Revista do indus «Novenixo de 2010 | 5 PCCR Aprova¢ao do reajuste ndo é apenas uma questao de evitar a evasdo de servidores, mas também Momento de #222" = epercutia em toda a imprensa, na FFX segunda semana de navembro, a defesa do reajuste dos servidores feita pela diretor-geral do Supremo Tribunal Federal, Alcides Diniz. Ele rebateu pu- blicamente a critica do ministro do Pla nejamento, Paulo Bernardo, 8 proposta de reajuste de 56% aos servidores do Judicirio, que tramita no Congresso Nacional. Reportagem de Débora San- tos, do GI, informa que o diretor-geral “afirmou que o objetivo é evitar a eva- so de profissionais para outras carrei- ras com melhores seléios" Diniz reagiu @ uma declaragdo do ministro, que chamou de "delirante” © reajuste pretendido, 0 diretor lem- brou também que “a proposta de rea- juste de 56% néo equipara os venci- Imentos do Judicirio aos de outros po- deres, apenas corrige a defasagem” Uma defasagem extremamente preju- dical, como ele destacou: "Na med da em que voce perde valores, nao atrai novos profissionais e perde qua- lidade, Com isso, voce afeta a presta- G0 jurisicional. O Judiciério vat en- trar em colapso.” O que o diretorgeral do Supremo afirmou chamou a atencao, mas nao & ‘uma novidade, “No final de 2009 0 ministro Gilmar Mendes, que na épo- 66 | Revista do Sinus © Nove de 2010 ca era o presidente do STF, também cantou essa pedra”, recorda 0 coor- denador-geral do Sindjus, Roberto Po- licarpo, “e reclamou do fato de que 0 Poder ludiciaro estava perdendo seus melhores quadros para as carreras do Executivo e do Legisativo, que paga- vam melhor", completa, Para Policarpo, o segundo ponto mais grave em todo esse longo e pe- noso esforgo do governo para retar- dara aprovacao do novo plano de car- relra dos servidores do Judiciario e do Ministério Pablico — além da demora e de suas dbvias consequéncias para 0 servidores e seus familiares — é a crise institucional que se desenha no plano de fundo do Estado, no que diz respeito a independéncia e a autono- mia dos trés Poderes da Republica. * Quando suspendemas a greve de mais de quarenta dias pela aprovacao dos Pls 6613 e 6697, foi pela conf anga no acordo feito entre o presidente do STF e o presidente Lula’, lembra Policarpo. "Agora & hora de Peluso cobrar 0 cumprimento desse acordo. Caso contrario, teremos a vista uma crise grave. Nao é apenas uma ques: tao de evitar a evasdo de servidores e ‘assegurat 0 funcionamento da Justi- «2, mas também de resquardar a pid Servidores om greve em dezembro dle 2008: pressio pelos Pts pria autoridade do Poder Judiciétio, que no pode se colocar numa posicéo de sub- misséo”, analisa 0 coordenador. O analista politico Anténio Carlos Queiroz concorda: “Quando 0 Poder Exe- cutivo se recusa a cumprir a determina- «40 dos 6190s de outros Poderes, que tém autonomia administratva efinanceira, en 10 se estabelece um conflto de compe- t8ncias, de quebra de prerrogativas. Iso é extremamente sério",alerta ele. Ecom- pleta: “Ha dois compromissos a cumprir ai: a Constituicao, que determina a auto- nomia administrativa, orcamentaria e fi nanceira dos Poderes,e a palavra do pre sidente da Republica de que precisaria- mos apenas esperar as eleicoes.” MEMORIA Um longo processo No se faz uma reformulagg0 de carrera da noite para o dia. O Sindjus vem mobilzando todos os setores da ‘categoria desde o nico do processo de formulagao do PCR, hi quase dois anos emeio, “Comecou com as discus- Ges setoriais promovidas nos érgios do Judicirio e no Ministero Piblico", relembra Poicarpo. “Foi uma consulta ampla, sequida pelos trabalhos de elaboracao dos dois anteprojetos de lei, Depois disso pas- sainos pela fase seguint, uma fase d= fic, a de pressionar para que os Pls fossem encaminhados 20 Congresso Nacional atempo de implementar 0 re- ajuste dos servidores ainda em 2010", continua o coordenador Esse trabalho politico, de pressao «ede conventcimento, fo feito junto a0 presidente do STR, que na época era o fev do Ss Noten de 2010. | 7 ministro Gilmar Mendes, e 20 procura- dor-geral da Repiiblica, Roberto Gur- gel. "Inflizmente os Pls néo foram en- aminhados. Tivemos que fazer uma longa greve, 0s servidores eo sindica- to tiveram que pressionar muito para ue 05 projetos fossem mandados & Camara. E isso jem dezembro de 2009", recorda Policarpo. Com muita negociacao e muita con- versa, 0 Sindjus conseguiu que os diri- gente do Judiciério se comprometes- ‘em a aprovar 0 PCCR em 2010. E co- brow esse compromisso de todas as for- mas. "A questo agora é lembrar que, além de fazer justca aos servidores & reajustar salérios defasedos 4 tanto tempo, também esti na hora de 0 Judi- ciério se afirmar. Chega de fica de pi tes namao diante dos outros Poderes", finaliza 0 coordenador, IENACAO PARENTAL Violéncia Alvo de nova lei, manipulacdo da crianga ou do adolescente para afasta-los de um parente vita desafio para a Justica Valeria deVelasco eee sofia (oitadal era a bo- neca. J tinhaltoda a roupa estra- salhadafe amarcotada a carinha Tanto puxaram por ela,/que a pobre rasgou- se ao meio,perdendo a estopa amare- lalque Ihe formava o recheio...” ‘Quando escreveu o inocente poemna contando a disputa de duas criancas por uma boneca, 0 “principe dos poetas bra- sileios", Olavo Bilac, jamais suspeitaria ‘que, 92 anos apés sua morte, 0s versos infantis pudessem ilustraro drama de ci- angas e adolescentes submetidos a uma agressdo que acaba de sar do bitores- ‘tito dos consultérias de psicologia e psi- quiatiia para ganhar os tribunais: a cha- mada Sindrome de Alienacao Parental. E exatamente assim ~ resgando-se a0. meio — que vive os pequenos re- féns do abuso emocional a que sao sub- metidos quando o pai, a mae ou outra pessoa que detenha a guarda se empe- nha em destuialigagdo da cianga com ‘0 outro genitor ou parente préximo, como os avis, para afasté-lo do conv- Vio @ que tem direto. ‘Quer mais sore éa vitima indefesa da manipulacéo emocional, batizada de ‘Alienagéo Parental no inicio da década de 80 pelo psiquiata, escitore protes- oF norte-americano Richard Alan Gard ner. Ele a definiu como uma "perturba- 20" que surge principalmente no ami to das disputas pela quarda e custédia das ctiancas,e cuja primeira manifesta- Bo é uma campanha de cifamacio con: tra um dos pais. O problema, analisou, decorte da “combinacdo do ensinamen- to sistematico por parte de um dos pais e das préprias intervencBes da crianca dir- gidas a0 avitamento do progenitor". Denegrir a imagem, desqualificar a conduta ou difcutar a autoridade pa- terna ou materna estao entre os atos classificados como alienago parental na Le 12.318/10, aprovada pelo Congres- s0 quase tiés décadas apbs a discussio aberta por Gardner. corte alienacao parental, de acordo SINAIS DE ALERTA Especialistas recomendam atencéo a condutas que atingem o outro genitor e representam risco de alienacdo parental: = Nao passar recados etelefonemas dele (ou dela) para ofilho crianga ou adolescente. ® Nao falar nunca sobre ele (ou ela), ignorando sua existéncia. = Desqualiicr opines, atitudes e presentes dados por ele. = Esconder au destiir presentes dados por ele a filho. 1 No comunicar fatos importantes na vida do filho, como comemoracies, questdes escolares ou de sade, afetivas, etc «= Tomar decisdes importantes sobre o filho sem consultar.o outro genitor. ® Controlar com rigor excessivo os hordrios de visita. = Nao permitir que a crianca veja o pai (ou a mae) fora dos horarios previamente estabelecidos. = Queixar-se do outro genitor ou criticé-lo frequentemente. emocional com allel leiana p. 22), quando tim dos responsavels pela crianca ou adolescen- te interfere na sua formacao psicol6gica, fazendo com que repudie um parente e piejudicando o vinculo entre eles. sso fere direitos fundamentais da crianga e do adolescente, constitui abuso moral ere- presenta descumprimento das deveres de tutela ou guarda. E mais: desestabiliza 0 equilforio emocional da crianca interfe- findo negativamente e de forma imensu- rvel em seu desenvolvimento. * Obrigar a crianca ou adolescente a tomar partido em confit entre a mae eo pai «= Fazer o filho espionar a vida do ex-cnjuge. = Fozerfalsas acusagbes sobre 0 outro genitor. Revita do Sndjus «Novena | ALIENACAO PARENTAL | Consequéncias graves Autor da Lei 12.318, 0 deputado fe- deral Régis de Olivera explica que, por ser uma violéncia emocional, a aliena- Go parental pode causar distinbios para resto da vida: depressao crénica, trans- Maria: sindrome trazrscos até de suicdio tornos de identidade, sentimento incon- trolavel de culpa e de isolamento, com- portamento hostile dupla personalida- de. As consequéncias se manifestam em graus varidvels, Podem surgir sob a for- ma de problemas escolares e evoluir até ‘0 uso de drogas. “A sindrome traz riscos de depressao e pode levar at6.ao suici- io”, alerta a psicéloga Marilia Lohmann Couri, lembrando que a ruptura afeta todo 0 complexo sistema familiar. specialist em terapia familiar e ha seis anos na direcdo de psicologia da ONG brasiense PrtciPais, Maria apon- ta a desqualificacdo sistemstica do ou- tro genitor entre os principas sinais do proceso de alienacao, e recomenda atencao. "A repetigio das citicas © os motivos ftes para discriminar estdo pre- Sentes em frases tipicas, como ‘seu pai rndo serve para nada’, ou em atos como andar a crianca chamar o padrasto ou madiasta de pai ou mae", exemplifia, Inseguran¢a e agressividade "N3o sei mais em quem acreditar. Ninguém gosta de mim coisa nenhu- ma’, recamava brasiliense Renato (*), 11 anos. A queixa veio apés a resposta dda mée, a servidora publica Miriam*, & sua pergunta: “Por que vocé nunca fala da época em que ficou doente?” Ner- oso, o menino nao se contentou a0 ou vir que ela no via azo para ficar fa- lando no assunto, j& que estava bem. “Se vocé nao fala eu tenho de ficar com ‘a versdo do mau pai, insistia a crianc. 0 quel disse nao aconteceu”,repe- tia @ mae, sem sucesso, “Isso tudo & uma farsa, Como eu vou saber o que é verdade?”,gritava Renato. Averséo do pal, o professor César*, que vé omenino regularmente por acordo de separagdo, era de que Miriam havia ten- tado se matar com uma faca, "No é ver dade. Ese fosse, nunca seria assunto para contar a uma criange", contesta a mae, Angustiado, Renato comecou a se callpar. "Fico achando que tenho algun 10 | Revista do Sinus © Novena de 2010 problema”, dizi. Dividido, demonstrava a insequranca que corrola sua autoesti- ma. "Se ndo confia nos pais endo sabe em quem acreltar ele ndo consegue ter confianga nele mesmo”, avalia Miriam, que trés anos antes hava sido alertada pela psicéloga pata ficar atenta aos in- dicios de alienacéo parental 0 problema jé a fazia softer durante 0 casamento, mas ela ainda néo tinha informacSes para identificd-o.As tenta- tivas de desqualificagao se acirraram _apds a separacao e se estenderam a toda a sua familia, numa ostensiva declara- G0 de ruptura, *Pelos comentirios e per {guntas que meu filho faz, percebo clara- mente que ele (0 ex) tenta incutira ideia de que nao tenho equilbrio, nfo dou conta de resolver os problemas", conta Miriam. *Sei o quanto as tentativas de ‘me depreciarabalam 0 menino, Ee vol- ta muito alterado,aaressvo,nervoso. Isso 6 preocupante, porque nao é uma ca- racteristica dele.” -_DIREITOS EM EM JOGO O que diz a Lei 12.318 Conhecida com a Lei SAP iniciais | de Sindrome de Alienacao Parental), a Lei 12.318 tpifica como ilegais ‘condutas que cologuem em risco os. vinculos e a relacBes afetivas entre as criangase adolescentes @ 0s seus parentes.Ocore allenaczo parental | quando urn dos responsaveis interfe- re na formacéo psicol6gica da crianga ou adolescente, fzendo com que repudieo outro genitor ou integrante do grupo familiar, prejudicando o vinculo entre eles. Medidas No artigo 4°, ale determina que o processo tem tramitacdo priorttia 0 julz pode optar pela aplicacéo de medidas provisérias para preservar a integridade psicolégica da crianca ou adolescente envolvido e assegurcr sua convivéncia com 0 genitor.Assegura a Visitagdo assistda, “ressalvados os casos de iminente risco a integridade | fisica ou psicolégica da crianca”, desde que comprovado por profissional designado pela Justica. Pericia CConstatado indicio da prtica de ato de alienagio parental, o julz poderd, se necessrio, determinar petciapsicoligica ou biopsicossocal. Alei define os critéros para as pericas e d8 prazo de 90 dias para apresentacao dos laudos. | Punicao Aspens para os tos de alenacdo | parental variam entre advertncia, multa, ampliaggo do regime de ears geen fare] genitor alienado, determinacao de acompanhiamento psicolégico efou | biopsicossacial,alteracdo ou inversio dda guarda para quarda compartilhada, fixacio cautelar do domicilio da ctianga ou adolescente e suspensao de autoridade parental. (°) spo ao Estat d rang ed Alec os ees vrais nS pages. De acordo com a nova lei, sao atos de alienacao parental que justificam a abertura de processo: Desqualificr a conduta ou dificultar a autoridade | Amino parental do outro genitor; impedir o contato dele | | com lula eafilha Amand: desir, (ou dela) coma ctianca ou adolescent. ‘Apesar de no haver pesquisas numéricas sobre alienacéo parental no pafs, Mariia Lohmann avalia, com base nos mais de | vinte anos de experiéncia em psicoterapia individual e familiar, | que situacies como a de Miriam representam minoria. “Em no- venta por cento dos casos a alienacao éfeita pela mée. Mas hoje Omitirinformacbes pessoais relevantes, inclusive | ‘em dia existem até avos cometendo esse ato”, revela. ‘escolares, médicas e alteracdes de endereco. | presidente da Associacao de Pais e Maes Separados (Apa- - nn se), Analdino Rodrigues Paulino, engrossa o lado mais numneroso dessa estatistica informal. “Sou pai separado e softi com esse problema durante oito anos e meio”, afimma, O esforco para ga~ rantir odireito de participar da vide das flhas Amanda e Gemina, nna época com 2 e 8 anos de idade, respectivamente, envolveu 22 pprocessos judiciais Além da penosa batalha juridca ele enfrenta- va 0 obstaculo impasta pelos 936 quilimetros que separavam sua casa, em Sao Paulo, do novo domiclio das duas meninas, ican Ree apace levadas para Goidnia pela ex-mulher. Em nenhum momento, no familiares deste ov avis, visando obstruira | __emtanto, cogitou desistr das filha. eeieel dees cats ean etol icles Ful o primeiro caso de quarda compartilhada em estados se- | parados concedida pela Justica", contou Analdino, por telefone, de Boa Vista, em Roraima, aonde foi divulgar a Lei 12,318, a con- vite do Tribunal de Justica do estado. “A lei tramitou rapidamente pegou antes mesmo de ser aprovada, Calu no gosto do Judicié- rio da midia", comemora. Ndo era para menos. A Apase, organi- a0 no-governamental com sede em Sao Paulo e mais de dez mil associados,investiu na tese de que a uniao faz a forca, Prepa- Fou 0 anteprojeto da lei que tipifca as manobras contra a sade das relagdes parentais e procurou 0 deputado paulista Régis de WMdatse pare eal ictatte on Rt cal Olivera, que cuidou de elaborar 0 projeto e apresenté-lo na C3- Pos Uneets Canc Co mara dos Deputados. faniteetlero al cer ave ‘Aluta pela répida aprovacio ficou por conta da combativa rede de organizacdes de pais e maes separados impedidos de partcipar Revita do Sngus © Noverivo de 2010. | 11 | ALIENACAO PARENTAL da vida dos fihos. Todos tinham pres- sa. final filhos nao precisam de auto- rizacGo judicial para crescer. Eo tempo nao espera. Analdino, que percortia os tribunais enquanto as duas fas fazi- ama passagem da infancia para a ado- lescéncia longe dele, sabe de cor 0 ca- tminho dos cortedores entre as salas por ‘onde circulam os parlamentares que de- cidem as leis do pais nas duas ca- EPIDEMIA sas do Congres- Teo ==== so Nacional. Pesquisa DataFolha aponta que ; fa os ae rasa por 20 milhGes iss texendo'o- de ciangase adolescentes so fh Desse sofrem aienagdo parental, ouseja, atingir cad ed subsidios oor era bby. No Brasil ha © lance da lei que nao pega e nds nao podia- mos permitir que s@ isso aconte- cesse", explica Nos", na conta 105 de pals separados, total, estima-se que 80% essa violencia chega 2 16 milhdes de jovens 12 | Revista do Sings «ovembro de 2010 de Analdino, sao os responsaveis pe- Jos vinte milhdes de criancas e ado- lescentes fihos de pais separados no pais. "Uma pesquisa Datafolha, de 2007, mostra que um terco dos 60 milles de brasileros na faixa de zero a 17 anos encontra-se nessa situacao. E desse total, podemos afirmar que 80 por cento, ou seja, 16 milhdes, sofrem algum tipo de alienagdo parental”, estima o presidente da Apase, Os nimeros amparam o trabalho da assaciagdo, que no site usa o slo- gan "Nao enfrente seus problemas sozinho".Inspiram também a ctiacéo, pais afora, de outras organizacdes de defesa da igualdade parental e do di- reito dos pequenos ao equilibrio que ela pode proporcionar (veja na pagi- na ao lado), "Nao podemos cruzar os bracos, 0 homem vem sendo discrimi nado ha décadas nas varas de familia Temos um Judiciério conservador”, jus- tifica Analdino, editor de livros jurii- ‘Assessora juriica do Programa de Protecao as Vitimas de Violéncia, da Secretaria de Justi, Ditetos Humanos e Cidadania do DF, a atvo- ‘gada lata Lobo de Figueiredo concor- da que ale impde um caréter educa tivo co tipfcer a conduta ebusiva, mas levanta uma divida: "Seré que todos os tribunals de Justica do pais terdo técnicos da drea psicossocial capacitados para assessorar 05 ma- cistrados nas delicadas questées que envolvem a alienacao parental?” A advogada ilustra a preocupa- 20 com 0 caso de uma pequena vitima de apenas quatro anos de dade, submetida a uma duplo pro- cesso de alienacéo. Os diplomas de curso superior obtidos em universida- de de renome que 0s dots genitores costentam nao conseguem deté-los na prtica de atos que anova ll penal zat de um lado, a mie, que tem a Justica precisa de bons profissionais 0s que se especializou em mediacao de confltos familiares. 0 esforco coletivo rendeu outros avangos. A Lei 11,698, que regula a ‘quarda compartilhada, de autoria do deputado federal ilde Santiago, do PT mineico, também nasceu de um ante- projeto da Apase. E, em 2009, a Lei 12.013, que manda as escolas presta- rem informacGes sobre os alunos aos dois genitores, estendeu a todo o pals 0 beneficios de medida semelhante adotada no DF, em 2006, com a Lei 3.849, apresentada pelo ex-deputado ‘Augusto Carvalho (PPS) a pedido da ONG ParticiPais. 56 criar leis, no en- tanto, néo basta. “é preciso divulgar, sendo vai continuar tudo do mesmo jeito”, teme a ditetora do ParticPais Maria Lohmann. Ela acredita que, se divulgada, a lei da alienacao parental vei aludar muito, “para que as pesso- as penser:vou com calma, sendo pos- so perder a guarda do meu filho’..” uarda, acumula dendncias de maus tratos e adota atitudes como inventar doencasino periodo de frias para que a menina ndo viaje com o pai, ‘mudar-se constantemente de casa para néo ser encontrada e outros tipos de sabotagens.O pal, por sua vez, ensina a ctianca a espionar a mae e grava a menina em videos induzindo-a a fazer dendncias, drama, segundo lara, da a dimensdo das dificuldades que 2 Justica val enfrentar se nao receber ‘osuporte necessério, “De nada adi- anta aprovar uma lei sem dar subsi- dios e instrumentos para que ela soja aplicada, € preciso assegurar @ presenca de psieélogos capacitados para as demandas que envolvem 0 desenvolvimento psiquico das crian- ase adolescentes, que sao sempre O lado mais frégil nas disputas pa: rentais", avalia. Sea) Creer ear orig espace a que pals € errs Um olhar de cuidador, nado de vinganca Para que o lado mais frégil ndo se ompa, como no poema de Blac, é pre- ciso capacitar o olhar sobre acrianca e © adolescente, pondera a psicbloga So: raya Katia Rodrigues Pereira, “A aliena Zo provoca uma cisso e is vezes agente nao consegue costurar. £ uma cisdo em ‘quea crianca tem de saber como se por- ta com a mfe, como ela é e se porta om 0 pai, @ como ela & ese porta com a sociedade, Sao trés formas de aair para poder se estruturar.E se essas ts for- ‘mas nao combinam entre si, @ desestru turante, & enlouquecedor,a crianca nao conseguesait. Cai num processo depres sivo, de uma tristeza cronica. € uma dor ) lego Paranod é tema de misica \ e poesia, estemunha de juras de amor, cenério do mais bonito por-do- sol da cidade. Serve para amenizar 0 clima seco da capital do pais, para 0 esporte e 0 lazer. também fonte de alimentacao para centenas de fam(- ae} oa ermrtiny coe orentien een Perris ear lias, que pescam para vatiar 0 cardé- pio, Mas esse lugar cheio de mistér- 05 € lendas 6 pouco aproveitado pelo brasiliense, Ou melhor: é mais apro- veitado pelo brasiliense abastado, que tem lancha, jt sky e mora nos terre- nos chamados de ponta-de-picolé ~ no final da rua e na beira da aqua. Mesmo assim, cada vez mais morado- resda capital enfrentam as barrlias de acesso e frequentam as aguas do Paranoa. 0 que faz todos os dias, 85 8h, a produtora de tevé Lia Tavares, 30 anos, Assim que soube que ia morar em uma chacara no Setor de Mansbes do Lago Nor- te (Il), ha dois anos, bem proximo a uma das margens do Lago Para- nod, ela logo mandou fazer um caiaque e aprendeu a remar, A motivacao nao era a pratice esportiva, mas sim o interesse em usar a Aguas como transpor- te para ir ao trabalho. & isso mesmo. Ela $6 pre- cisa atravessar pouco mais de um quilémetro entre uma margem @ou- tra para chegar até a sede da Unido Pleneté- ria, na QL 13 do Lago Norte. Faz 0 trajeto em 15 minutos, Para ir de dro, teria que dar uma volta de 22 quil6metros. Para carregaro caia- que até a margem ela precisa da ajuda do ma- Fido, que a leva de carro até 0 Piscinéo do Lago ie Norte, na altura da MIS. Ena volta, ele também o espera, &s 14h, "Nao ego transito, nao fico estressada, ndo poluo 0 ‘meio ambiente e ainda pratico esport. Foi a saida perfita que encontrei para chegar 20 trabalho. Sem falar que me- dito enquanto destizo nas dquas do Pa- ranoa” conta Lia,Aprodutora leva uma mochila com roupas e sapato para tro- car assim que chega ao trabalho. Os colegas de trabalho ja estao acostumados com 0 espitito aventu- reiro da produtora. Por conta da insis: tncia deles, comprou um colete sal- va-idas. Como sabe nadar, Lia acha- va 0 equipamento desnecessério, Con- tudo, é preciso contar com imprevis- tos, como céimbras ou uma ondula- Go muito grande nas dguas. “E que nna época de chuva o lago fica bastan- te’mexido™, explica Lia, Quando che- gaao trabalho ela geralmente tem um colega esperan- do na beira do lago, para ajuda- laa carregar 0 caiaque. Quando cho- ve fino, Lia usa uma capa. Mas, quando a chuva est muito forte, ela prefere nao arriscar.A produ- tora conta que jé passou susto e demorou 25 mi- nutos pata atravessar por causa da agua “merida”. E jé encontrou capi- varas, patos e peixes. “O que me dei- xa ttste & encontrar sacos plésticos € garrafas boiando. €jé vi cacos de vi- dro nas margens”, afirma. Lia é tao apaixonada pelo Lago que nem mesmo a gravider de sua segun- da filha a impediu de navegar no cai- aque. Ela remou até os sete meses de gestacdo e teve apoio da obstetra. Antes de usar 0 caiaque, ela ia de bicicleta para o trabalho, O espirito aventureiro a acompanha desde a épo- ca de estudante, quando tinha 0 habi- to de selocomover pela cidade em duas todas. Era uma forma de economizar tempo e dinheiro com as passagens SEM APOIO 11 mil 3? Revista do Sus © Novembro de 2010. 21 (0 Distrito Federal tem mais de embarcacbes reaistradas,0 ‘que nos garante a poscgo de maior ota ndutica do pals. Enetanto, no hi nolago um s6 per ou marin piblcos. LAGO PARANOA, Satide, paz e contato com a natureza 0 sol néo apareceu completamente no céu de Bras, mas 0 servidor pblico fe deral Angelo dos Santos, de 34 anos, ja esta pronto para remar nas éguas dolago Para no. Sé0 exatamente 6h15 da manhé de uma terca-feira e comeca mals uma sema- fa de treinamento pare Angelo, que néo falta ds aulas de remo. Detercaa sdbado, 0 horario de treinaré sagrado, "Ele é muito dedicado”, comenta o professor de Remo do Clube Naval, Claudio Pinheiro, 80 muitos alunos que tém uma roti- ‘na semelhante a de Angelo: remam e de- pols vao trabaar. Masel se destaca pela forca e vontade de veneer. £m 1994, quan- do tina apenas 18 anos, teve que ampu- tara pera direta devido a um tumor. Mas 22 | Revista do Sus» Novembio de 2010 isso n3o foi empeclho para que procuras- se um esporte que o ajudasse a manter a forma e também a relaxar. m2006, quando chegoua Brasilia vin- do do Parané, Angelo procurava um espor te que aliassediversao, lazer cuidados com asaiide.A pema esquerda nfo suportaria 0 peso caso ele engordasse. Entdo, por reco mendago médica, eletem que paticar exer ciciosfsicos.“ Como nao tenho a perma di- tela, outro tipo de esporte seria mais dif- cil. Entéooptei pelo remo, justamente pela faclidade de utiizar os bracos e nao tanto pera, ou pelo menos ndo necessariamen- teas das peinas",explica. Ele relembra: “Eu comecel avi gostei muito e estou aqui até hoje. O exerccio é muito rlaxante e estar no lago é maravi- thoso. Saio daqui pronto para trabalhar, bem disposto,e consigo manter a forma.” Angelo explica que o Paranos jé faz parte da sua historia: “Acredito que olago con- ta um pouco da minha historia em Bras Tia, @€ uma histéria muito bonita.” Angelo jd participou de diversas com- petigdesna cidade, mas lamenta ofato da Capital federal nao oferecer o remo para (5 atletas com deficéncia, Ele tem que competir com pessoas sem deficiéncia, os “ duas pernas”, como ele 0s apelida. Mas is30 nao o distanciou das competicdes — ele é se classificou até em terceio lugar Foi na competicao Troféu Brasil de Remo, no Rio de Janeiro, “Foi muito emocionan- Angelo: “Saio pronto para trabalhay, bem disposto, © ‘consigo manter a forma” te estar em outra cidade e tera oportuni- dade de paticipar de uma competicaona- cional, Eu 36 tinha competido em Brasi- lia", conta o atleta Segundo o professor de Angelo, Cla= dio Pinheiro, ele s6 chegou em teceirolu- gar porque os dois primeiros tinham as duas pemas. “le ficou em desvantagem”, considera. Mas 0 servidor ndo se abala. Sorrdente, Angelo se despede de mais um dia de reinamento esaicatregando o bar- 0, como auxilio de duas muletas. Outrapratcante de remo no Lago, Dil: ma Bett diz que nao pretende parar to cedo, “Fazapenas um ano eoito meses que 4 pratico esse esporte, Em novembro de 2008 tive um problema de satde, desen- Voli um tumor maligno na treide, Entdo croncologista disse que eu deveria emagre fazer exerccio e manter uma vida sau- Dilma: "Se existe vida sauds- vel € essa: convivo comas areas, biguas e tartarugas”™ vel Foi af que procurel o remo" conta De terga a sexta, Dima chega ao Clu- be Naval as 6h10 para as aulas e treinos "Eu acho maravilhoso 0 contato com 0 Jago e com a natureza. Se existe vida sau- Diversidade Aével & esta: convivo com as garcas, bi- guas e tartarugas. Na semana passada mesmo eu decidificar deriva porque t- nha uma tartaruga perto do meu remo", recorda ela de espécies 0 fago foi construido com as uas tepresadas do rio Paranoa in- dda no govemo de Jk, para aumentar a umidade do ar na capital. Tem 48 quildmetros quacrados de extens3o, 80 quildmetros de perimetro e pro- fundidade méxima de 38 metros. Uma das aves mais comuns que habitam o lago ¢ o bigua. S30 tam- bém encontrados garcas, gulas-pes- cadoras, matracas, marrecas-pé-ver- rmelho e marrecas-ier. Entre os mamiferos ha lontras, capivaras, cuicas-d'égua, ratos- d'égua, micos-estrela, gambas-de- ‘orelha-branca e ratos-do-campo. Ha ‘também o jacaretinga, uma espécie nativa que prefere as Aguas mais ra- as e com mais vegetacio, Desde 0 ano 2000, apds a des- poluicgo do lago, a pesca é permiti- dae incentivada. A maioria dos pel- xes 580 tilpias, espécie nao nativa, assim como 0 tucunaré e a carpa, sta tltima introduzida especialmen- te para a limpeza das Aguas contra as algas.As espécies nativas so card, Jambarie trafa. Reveta do Sinus © Novembro de 2010 zB LAGO PARANOA Passeio de barco Rees preci Sens Sete enr ry Turismo com viés civico e ambiental Uma iniciatva pioneira tem desper- tad a atengdo daqueles que nao tém recursos financeiros para comprar bar- os, caiaques ou lanchas. Trata-se do catamara Mar de Brasilia. Os registros do diério de bor- do mostram que MALTRATO um total de => 3.063 pessoas Em 2009 foram retiradas navegaram no barco desde que 55t i ele comecou a dels dolago Parana’, funciona, no dia uantidade equvalente2 1° de junho des- ilhd te ano, Metade Sefosamenpihoses fatzm 62% Em média, ‘uma torre com a altura de $80 610 pessoas or més. 600km ‘A proposta é democratizar o acesso 20 lago, despertar a consciéncia ecolégica nas ctiangas e adolescentes, reservar a ‘memoria de Brasil, por meio da hse toria da ciacdo dolago Parana, eofe- Fecer 8 populagdo e a0sturstas a ex: periéncia de ver a capital da Repibli- a por um angulo novo, 24 | Reta do Sndjus« Novembro de 2010 A busca pelo servigo no site de compras Peixe Urbano em 30 de se- tembro passado demonstrou o inte- resse dos brasilienses e turistas em aproveitar o lago Paranod. Em ape- nas um dia a Mar de Brasilia vendeu 1.768 inaressos, validos para os pré- ximos meses. Qs bilhetes custam R$ 25 por pessoa. "Temos um patrimd- nio natural inestimével em nossa ci- dade e precisamos nos aproximar dele”, comentou um dos diretores da empresa, Marcos Vinicius. Darse Lima Junior, sécio da Mar de Brasilia e irmao de Marcos, conta que a ideia surgiu quando a familia, que tem um veleiro, pensou em quantas pessoas nao tinham aquela oportuni- dade. "Comecamos a imaginar uma forma de democratizar isso. € vimos que é importante a conscientizagao ambiental para se preservar 0 meio ambiente”, afima. ‘A Mar de Brasilia é uma empresa que aposta também na responsabili- dade social. 0 programa prevé a in- clusdo de passeios com custos mais em conta para criancas de rede paiblica e idosos atendidos em asilos do Distrito Federal, les recebem informacies so- bre a fauna e flora do lago e nogées sobre preservacao ambiental. As cii- ancas recebem uma carterinha de De- fensor do Lago. Ha também o vis cvico. Os pas- seios turisticos saem no Royal Tulip Brasilia Alvorada (antigo Blue Tree) seguem para a Emida Dom Bosco, 0 Palacio da Alvorada, residéncia oficial do Presidente da Repiblica, e a Ponte JK. Opasseio dura em média uma hora @ quinze minutos. Enquanto isso, os passageiros sdo informados sobre cada monumento, Fotos do inicio da capital e do inicio da criagéo do Iago so projetadas na TV de plasma, 20 som de uma trilha musical. Um pouco da histéria da cidade & revelada aos tristas e moradores. Mar- 0s Vinicius, no meio do passeio, con- ta curiosidades do lago. Entre elas, que ha vestigios de uma vila submersa no Paranod, a Vila Amaury, onde mora- vam antigos operérios da época da construc de Brasilia, de 1959. Amau- ry € 0 nome de um dos engenheiros envolvidos ne aventura da construcao da nova capital. Mas 0 vilarejo era provisério. Os moradores foram avisados pelos en- enheiros que a vila acabaria ~ seria inundada quando fosse formado o lago. A represa no rio Paranod seria inaugurada em breve. E a Agua che- aria com o tempo. Dizem até que al- uns resistentes moradores s6 safram do da vila quando a agua ja estava na cintura. 0 barco passa embaixo da Ponte JK e faz uma pequena parada. O quia repassa informacGes sobre 0 monu- mento, data da construcao, prémio de ponte mais bonita do mundo, valor do investimento e, em seguida, volta a atengdo pata o proprio lago, Ele fala do processo de assoreamento,explica que a balneabilidade do espelho d'agua é de 95% e pede o engajamen- to da criangada na preservacio do meio ambiente, “Nao podemos deixar ninguém jogar lixo na rua, porque a sujeira pode terminar despejada na gua”, ensina Marcus Vinicius $6 em 2009, foram retiradas 55 toneladas de lixo do lago, 0 equiva lente a 4 milhGes de latinhas vazias de refrigerante, Se todas essas lati- nhas fossem empilhadas uma em cima da outra, formariam uma torre cde.600 mil metros, uma montana do Cay iets oes ec roms Peer crea tamanho de 2,6 mil torres de TV uma em cima da outra. Em 2008, 2 quan- tidade de lixo retirada do lago che- gou a 62 toneladas. 0 Distrito Federal possui mais de onze mil embarcacdes registradas, sendo a tercelra maior frota nautica do pals, Entretanto, nao ha em toda a orla do lago um sé pier ou marina pablicos. E muito menos incentivo dos governos para que a populacéo fre- quente o lago. Por isso, servidora publica do Ti bunal Regional Federal Carla de Arat Jo, 41 anos, recorreu & Mar de Brasilia. para passear no lago pela primeira vez Ela critica as poucas opcdes da cidade para que a populacdo acesse o lago e valorize mais a natureza. Durante 0 passeio, os tripulantes assistem ao por- do-sol, considerado um dos mais be- los do Brasil, com a Ponte JK 20 fun- do, e escutam o Bolero de Ravel. Também servidora do TRF Cléa Macedo, 43 anos, amiga de Carla, con- ta que nunca passeou no lago. Ela sou- be do barco pela internet e gostou de ter recebidoinformacGes que nem ima ginava exists, como a construcéo da Torre Digital, um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, “O lago € muito bo- nito, Parece que estamos em outra ci dade, £ um lazer criativo", comenta, ‘A advogada Roberta Lia Marques, 32 anos, ficou encantada em ver a ci- dade sob outro angulo. “Gostei muito ddever os monumentas a partir da pers- pectiva do lago.A cidade fica mais bo nita e maior. Os governos tém investir mais para que aqueles que tém me- nos recs passam apovetar esa maravilha", afirma. Quem frequenta o lago esta preo- cupado com o assoreamento das mar- gens, alvo da ago humana, Constru- Ges irregulares que ferem a legisla- ‘co ambiental insistem em aparecer. ‘A ocupacao desordenada na Bacia do Paranoa é uma das causas do seu as- soreamento, Para se ter uma ideia do problema, a profundidade em alguns pontos do fago ndo passa de 70cm. Revista do Sinus © Novembro de 2010. 25 Paco cut Lazer na vedio dda Etmida Dom Bosco: lugar bonito ¢ muito frequentado, mas “infaestrutura nao ‘em conservacso Os aventureiros das aguas abertas Para onadadore professor de nata- Go Tiago Sato, 28 anos, o Paranod re- presenta uma fonte de renda, além de verso e lazer. "Para a maioria da pes- soas 0 lago é apenas um cart postal. Eu consigo trar proveito dele financei- ramente também, porque dou aulas e treo para competes", expica. Tiago ensina natacao e treina atletas pratica- mente todos os dias semana, Os treinos no lago renderam ao nadador um titulo inédito: ele foi o primeiro brasiliense a atravessar 0 Ca- nal da Mancha, em setembro deste ano,$40 32 quilometros em linha reta. “Treinei no lago. Fiz 0 percurso em nove horas e 51 minutos. Foi um de- safio, mas eu estava preparado”,rela- ta oatleta. Tiago nada em varios pontos do Parana, mas um dos preferidos éo que fica 20 lado do hospital Sarah Kubtis- chek, batizado como “Ecoquebra da 13", porque fica no final da QL 11 inicio da QL 13 do Lago Norte. € um terreno baldio onde ele, amigos e alu- nos praticam nata¢So. equndo ee, esse omelhor ponto para a prtica de na- tacdo em dquas abertas de Brasilia. De segunda a sexta-feira vé-se ppouca gente por I8: um ou outro na- dado, uma pessoa pescando, 8s ve- 7es casais ou pequenos grupos embai- x0 das drvores que chegam até a mar- gem. Mas nos finais de semana 0 lu- {gar fica cheio. Tiago Sato e os amigos tentam conscientizar os frequentado- res para que nao piorem as condicies do local, que & como um terreno aban- donado. Isso ajuda para que muita gente debe lixo espalhado. Uma des iniciativas de um colega donadador, Guilherme Goulart, foi ins- talarlixeras caseras, para que pelo menos ele e os amigos possam retirar 0 lixo com mais faciidade, Outro desa- fio conseguir uma estrutura aquatica pate demarcar essa érea, porque é um. local perigaso para a natacéo, caso 0 nadador nao conte com algum apoio (um acompanhante num caiaque ou bote). O problema sao as lanchas e jet skys piloto pode néo enxergar o na- dador e provocar um acidente. Os treinas de Tiago e dos alunos no sao apenas no lago. L4 eles prefe- rem ir nos finals de semana, "A nata- ‘0 nao surgiu nas piscnas e sim em aguas abertas, 0 contato com a natu- reza ¢ recompensador para qualquer um’, dizo nadador. “Frequento.olago ha mais de dez anos. J vi uma lontra cen Coe ‘com os alunos: Sere _ Excelente para o banho ou ariranha, nao sei bem dizer qual, mas foi hé muito tempo. Jacaré eu ruunca vi, mas nao tenho dividas de que ha, porque um professor de Bio- logia fez seu mestrado sobre os jaca- 1és do Paranod”, completa. “O Brasil tem uma enorme sorte de ter 0 clima que tem, pois em quase 365 dias do ‘ano podemos praticar esporte a0 ar live, Estive hé pouco tempo na Euro- pa e vi como isso seria dificil por 1. Somos felizes e poucos sabem disso,” Segundo a Caesb, a qualidade das Squas do Paranod é controlada semanalmente para detectar possivels poluentes. O lago passa por uma vistora completa a cada dois meses, com coleta de amostras em 34 pontos, O resultado pode ser conferido no site da companhia, que mantém um mapa da qualidade da aqua sempre atualizado. Na tiltima vistori, feita entre 18 e 25 de outubro, quase toda a, area do lago foi classifcada como “excelente” para o bana. Peque- ns treclios receberam 2 classificagao "muito boa" e “satisfatdria” ‘A agua foi considerada “impropria” apenas na area préxima a esta- «fo de tratamento de esgoto da Asa Sul, perto da Ponte das Garcas, Revsta do Sinus © Noventrode 2010. | 27 i | ENQUETE “Eu sou surfista do lago Parana", diz 0 refrdo da N a m banda Natiuts. Parece a rg QIN aire rsenteie hd quem treine bracadas oun a em pranchas de surt E muitos praticam outros 7 esportes no nosso “mar” artificial: nata¢ao, remo, windsurf, stand up, caiaque... Hé também quem prefira ficar na margem e curtir a vista, namorar, passear com as criancas. E vocé, aproveita o lago? Moro perto do Lake Side Pratico windsurf no Gosto de ir 0 Pontéo Eu pratico um esporte vou todas as tardes lagohd dezesseis anos. | -—_—no final da tarde e de 8 vala no lago, chamado 20 lago. Eu nado e Quando tem muitovento, | —_assistr competigbes de kitesurf, hé mais ou menos também mergulho com ele fica até com jeito de natagdo. No Clube Naval trés anos. Infelizmente minha filha na barragem. mar. Sempre vou 20 a para nadar nolago, 6 dé para velejar quando J pratique windsurf e Paranoa para nada, andar é muito gostoso. 0 vento esté favordvel, tive um barquinho, mas de caiaque e também Uma vez fiz um passeio de Temos uma boa temporada com 0s ventos fortes |-—_-naquelas pranchas stand up, arco e adorei Minha de setembro até meados dos ditimos meses ele para remar em pé. ‘mae mora no Lago Norte, de outubro, Faco esse quebrou 0 casco e acabei Inclusive quero comprar —|-—_—perto.da mergem, enés esporte porhigiene mental, deixando-o de lado. ‘uma dessas para mim. também aproveitamos pate me sentir bem. | para pescar Carlos José Fiuza Rodrigo Azevedo ‘andré Sampaio Villas Boas, anaista de Carvalho, técnico | Ludmila Richter Teixeira, da Silva, técnico judicisrio do TRT judiciio do TRT técnica judiciaria do TRT juicidrio do TRF 28 | Revita do Sinus» Novembro de 2010 Tenho um lugar especial para passear com os meus filhos, na beira do lago, perto da Ermida Dom Bosco. Ali eles nadam, a area é mais reservada mais limpa, d8 para ficar bem & vontade.Tento it sempre com as ctiancas para que elas se acostumem a aproveitar o lag. Ueslei Pereira de Lima, Eu adoro a vista do Lago Paranod, é linda. Ful uma frequentadoraassidua do ago, mas agora estou sem tempo. Mesmo assim vou cerca de rs vezes por més curr as Aguas. As ciancas aproveitam muito, minha filha anda de et ski. Mas acho que a ola é pouco explorada, deveria ter mais infraestrutura Sorama Freitas Santiago, ‘técnica judiciaria do TRE ( Fiz remo no lago durante um ano e meio, mas patei por uma lesdo muscular. NBo vejo a hora de poder voltar.O remo acabou fazendo parte da minha vida, é uma delica, Eu saio das aulas renovada. Praticaresporte no lago lava a alma de qualquer pessoa, Marta Patricia Maini analista de sade da PRR Eu frequento 0 ago Paranoa pelo menos trés vvezes por més, Gosto de it a0 clube Asbac para contemplar a vista, a paisagem das aguas, Eume sinto muito bem. Levo meus fihos, a familia adora.Acho que 0 Fago é sempre um ‘timo passe, Francisco das Chagas, tecnico judicidrio dost) Na QL 12 tem um lugar especial onde eu nado e aproveito bastante o ago, Mas eu considero que a orla deveria ser mais cexplorada pelos usuérios comuns e para provas de natagdo, por exemplo. Hoje quem aproveita mais, € quem velja, faz caiaque ou tem barco, Noel Batista Junior, ‘técnico da PRR1 Eu ando de lancha e de jet ski; sao atividades que me deixam muito bem. Frequento sempre a orla nos finais de semana, para ver a vista jogar futebol Sou de Minas Gerais e moro aqui sozinho, entdo aproveito as oportunidades de rever meus amigos e ‘requentar os cubes. Walber Rondon Ribeiro Fitho, tecnico judicidrio dost) Todos 0s dias faco de cito a dez quilémetios de cortida e caminhada e aproveit a vista dolago, que é linda. Comeco em frente ao clube da Assejus, asso perto da ponte JK, retomo pela via interna do Setor de Clubes. GDF esté fazendo calcamento,jardinagem ¢ iuminag3o poral Cleber Segurado Pimentel Lott, técnico da PRR1 iy Eu mergulho no lago ha ddez anos. Jé fui a mais de 40 metros de profundidade na barragem do Parano8, onde & mais fundo e 2 agua mais dara, Procuro mergulhar pelo menos uma vez por més para nao perder a ptitica. A sensacao é muito agraddvele relaxante, vocéesté flutuando, ndo pensa em nada, Afranio Luiz Alves, ‘téenico judiciério do TRE Reva do Sinus © Novembro de 2010. | 29 casa dos 40 anos que procuram COMPORTAMENTO Cada vez mais pessoas entre 40 e 50 anos procuram intercémbio em outros paises em busca de reciclagem profissional e realizacao pessoal Hylda Cavalcanti dolescéncia tardia? Que nada. Os cursos de intercambio em outros palses ~ sejam de longa ou curta du- aco passarem, nos tltimos anos, a ser cad vez mais desmitiicados. An- tes tidos como programas exclusivos para jovens estudantes, agora so pro- curados por gente com idade entre 40 e 50 anos, que ve a experién- cia como uma oportunidade de aprimorar um idioma, re- cclar-se profs: sionalmente até revisar a propria vida. ANIMADOS O nimero de pessoas na ‘ intercambio aumentou em 48% nos itimos dois anos. objetivos também, uma vez que as pessoas na faixa de 40 anos ou mais que procuram esse tipo de viagem, 20 contrario dos jovens,j4 possuem pro- fissao definida — alguns tém inclusive estabilidade no emprego, como 0s ser- vidores pablicos. Embora muitos sejam solteirs edivorciados, também é gran- de o ntmero de pessoas casadas e com filhos. S20 brasleros que costumam ter condigées de reunir recursos suli- lentes para a viagem, por meio de Uma reserva financeira feita com an- tecedéncia, E que conseguem libera- «Go das chefias nos locais onde traba- Tham, com licenca sem vencimento, li cenca remunerada ou férias, depen- dendo da situacéo. ndmero de pessoas na casa dos 40 anos que procuram o intercémbio .© OS Coroas ganharam mundo um crescimento quatro vezes maior quena faa dos 30.anos, --Sbretudo na forma de morar ‘umentou em 48% de 2008 até hoje. Foi o que constatou uma pesquisa re- = jé que as op- onde procure aumentou s6 ‘goes de acomo- dacéo passam 12% por hospeda- gens em casas de familias, alojamen- tos univesitrios ¢ apartamentos co- letivos para grupos de sete a quize alu- ros. uma forma divertida que os qua- rentées mais animados encontraram para conhecer outro pais e, de que- bya, incrementar o currculo. O perfil é diferente dos jovens que se aventuram mundo afora para estu- dar e conhecer culturas diversas, Os 30 | Revita do Ses Novertvo de 2010 | alizada no inicio do ano por um grupo de agéncias de viagens, que tomou como base alunos de insttuigoes vol- tadas para 0 ensino de inglés e espa- nnhol nas regides Sudeste e Centro- Oeste, Entre os interessados na faixa dos 50 anos a procura foi amp! em 25%, enquanto o niimero de alu- nos na casa dos 30 cresceu menos: 112% no mesmo periodo. Com a mudanca de faixa etaria, mudou também o perfil dos cursos procurados, Os mais frequentados $30 ‘05 de imersao em idiomas como in- clés, espanhol e francés, assim como ‘0s de pds-graduacao e os MBAs (/Mas- ter in Business Administration) comu- mente procurados em paises como Canadé, Estados Unidos, Inglaterra, Austrélia, Espanha, Franca e Nova Ze- Jandia. Ha ainda cursos voltados es- pecificamente para executivos ou pe sas que possuem cargos de gestao em seus locais de trabalho, com du- racio entie vinte dias e seis meses. Mas ha também as mais variadas opcoes, como estudos holisticas, gas- tronomia, danca e filosofia, Uma pausa na “vida certinha” Uma situagao peculiar foi vivida pela analista judiciaria do Tribunal Su- perior do Trabalho Shirl Amorim, que Viajou em 2008 para a Espanha, para fazer um curso de 35 dias de espanhol na universidade de Salamanca. Shirli ficou instalada num apartamento alu gado para sete pessoas, todas estu- dantes como ela, da mesma faixa eté- tia. “Tudo foi inusitado. Estavamos acostumados com nossas vidas ce nfras e, de um momento para outro, passamos a conviver com outras pes: 045, dividir desde a cozinha a seca- dora de roupa'”, conta “A troca de cultura é enorme num programa assim, 0 que ajuda qual- quer ser humano a se socializar. Em- bora em Salamanca exista um grupo grande de brasileros fiz amizade com pessoas de diversos pafses, O resul tado foi tao positivo que, quando vol: tel, pulel dois niveis do curso de es- revela a servidora. ‘OMPORTAMENTO Estudos e turismo na dose certa “A vida de quem faz intercambio pode ndo ser facil, mas & muito diver- tida’, brinca a técnica administativa do Ministério Pablico de Sa0 Paulo (MPSP) Rosana Siqueira, recém-chega- da de uma viagem & Franca, De acor cdo com ela, hoje as pessoas procuram um estilo mais bem-numorado de via- jat, muitas vezes em busca de resga- tar um programa que nao fizeram quando eram mais jovens, “seja por falta de opao ou por nao terem tido condicées financeiras”, avalia, Rosa- na aperfeicoou seu francés durante 0 periodo de 40 dias que ficou em Paris —numa viagem de 60 dias, No restan- te do tempo vigjou pelo pais, com um {grupo de amigos. No periodo de real 2acé0 do curso propriamente dito, fi ou hospedada no apartamento de um casal de franceses, Depois, em hotéis e albergues. "Fiz a viagem da minha vida e ainda me aprimorei profisio- nalmente’, disse. “Hoje muitas pessoas conjugem estudos com turismo e lazer, em férias ‘ou em programacoes mais longas nos paises que visitam. A economia mun- dial mudou e as opcoes de mercado também’, afima Severo Portela, que coordena programas de intercémbio hha quase dois anos no CWA Executive Center, empresa paulista voltada para a organizagéo de cursos de idiomas para executivos. “Enquanto em déca- das passadas a pessoa com mais de 40 anos pensava em reduzir as ativi- dades profissionais a partir dessa ida- de, agora estdo em plena ascensdo na carrera. Ent&o elas procuram, a0 con- trério, reciclar-se cada ver mais, em busca de desafios profissionais ou por simples prazer pessoal”, completa. Foi a reuniao de todos esses bene- ficios o que chamou a atencao da ad- = ee ae vogada periambucana Perpétua Sou- 2a, técnica judiciaria do Tribunal de Justica de Pernambuco (TIPE), que [passou oito meses em Nova lorque em. 2007, quando tinha 45 anos. Divor- Gada, ela conseguiu uma licenca sem vvencimento, reuniu coragem para det- xar a filha, entZo com quatro anos, com a mae e se mudou para a casa de um casal americano sexagendrio que morava com umaneta adolescen- te. No periodo de oito meses em que morou nos Estados Unidos, Perpétua fez aulas de inglés pela manha e de danca a tarde, Disse que voltou para 0 Brasil se sentindo “renovada”. “De inicio estranhei. Mas depois ‘me adaptel a cultura e aos meus com- panheitos de moradia. Ao longo des- se periodo, vivi coisas que nem dé para explicardireito”, conta Perpétua. "Conhecl pessoas de varios lugares € aperfeicoei meu inglés num nivel que jamais consequiria se ficasse aqui ‘num cursinho”, avalia ela. “Além dis- 50, fui muito bem orientada e tive ‘acesso a determinadas atividades cul- turais que nao teria se tivesse opta- do por ficar hospedada num hotel. E, ainda por cima, sat de la com a sensacao de que os que me acolhe- ram serdo, daqui por diante, como novos integrantes da minha familia”, acrescentou a advogada, Maduros e bem resolvidos Experiéncia semelhante & de Perpétua foi vivenciada pelo jornalista Ebenézer Nascimento, da assessoria de comunicagao social do Conselho Nacional de Justica (CNJ).Ao fazer 50 anos, em 2005, Ebenézer — conhecido como Benéti — ganhou uma bolsa da Unesco para um cutso de pés-graduagao na Espanha, Voltado para estudos para a paz, resolucao de confltos e desen- volvimento humano. Selecionado para a vaga em meio a varios colegas, ele ficou alojado na universidade de Castellon de La Plana, proxima & cidade de Valencia, durante quatro meses. “Na época, eu era 0 tnico brasileiro no meio de pessoas de varios lugares", conta ele, “Além do curso propriamente dito, ue foi muito enriquecedor, eu também ganhei de varias formas, Porque ao morar num outro pais vocé passa a se familirizar com o idioma", comenta, ao acentuar que, apesar das varias contribuicbes para seu desenvolvimento profissional, a deciséo de viajar teve que ser muito bem pensada —j8 que ele delxou exmulhere filhos no Brasil, “Numa viagem assim, a vida muda completamente. Melhoramos como profissionas , principalmen- te, como seres humanos, porque passamos a ver as coisas com tum olhar diferenciado”, destaca, Segundo a pesquisadora, pedagoga e arte-educadora Ana Liicia Ribeiro, 05 relatos de pessoas mais maduras que passam por viagens desse tipo so sempre intensos, porque, como séo individuos que j passaram por diferentes fases na vida ¢ se consideram realizados em varios aspectos, eles estao mais dis- postos a concliar expectativas profissionais com hobbies e visi- tas a lugares que anseiam ver (ou rever) em outros paises. "Tudo isso conduz a um bom rendimento nos cursos procurados pelos alunos, que sao pessoas muito bem resolvidas”, afirmou. Preparo para viver a vida A mudanca na faixa etéria de quem faz intercdmbio transformou também o interes- | se 20s habitos das familias norte-ameticanas e europeias acostumadas a hospeder estu+ dantes. Tanto que, hoje, algu- ‘mas familias tém se preparado para receber exatamente pes- soas com idade maior, em vez de adolescentes, “f um segmento diferenci- ado, formado por donos de casa sexagenarios, com netos, que vivem sozinhos e preferem 0 contato com pessoas cuja idade oscila entre 40 e 50 anos. E isso ndo quer dizer que sejam, necessariamente, anf trides que nao gostam de di- versio ou de sair de casa, pelo contrério”, explica a agente de viagens Isis Ferreira. ‘Algumas dessas famflias — sobretudo em paises como Ca- nnadé, Austrdlia e Nova Zelandia — tém inclusive se cadastrado junto a agéncias de viagens e niversidedes e procurado fazer treinamentos para conviver | melhor com esse novo segmen- to de estudantes. A pratica tem se revelado tao bem-sucedida, de ambos 0s lados, que jé faz varias pes- soas pensarem em repetira dose. "Neste tipo de viagem, aprendemos a teconhecer as | dliferencas*, avaia Isis. Dife- Tencas que posteriormente ajudam na identifcagdo e so- lucéo de problemas e que le- vam a mais igualdade, maior espirito de equipe e maior preparo para viver a vida, Resa do Sods Nove de 2010 | 33 “OUTROS EUS A maior riqueza do fomem + 6a sua incompletude. 1 Nesse ponto sou abastado. \Palavras que me aceitam como sou eu néo aceito. No aguento ser apenas um ' sujeito que abre portas, que pura valvulas, 1 que olha o relégio, que compra pao és 6 horas da tarde, que vai Id fora, que aponta lapis, que vé a wa etc. etc. Perdoai | Mas eu reciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando barboletas. Manoel de Barros Do alto dos seus 91 anos, © poeta Manoel de Barros ensina que o ser humano incompleto, e que isso nao é defeito; & qualidade. Assim como ele, muitas outras pessoas precisam ser Outras. E sdo, Esta coluna publicara mensalmente historias de gente que conciia 0 servico piblico com as mais diversas atividades, Sao atletas, chefes de cozinha, professores, pintores, magicos, mecénicos, imésicos...A lista nao tem fim, 3 | Revista do Sinus » Novem 2010 * Thais Assungdo ei 66 [E unascino interior do Espirito San- TE. toe desde pequeno escutava mii sica sertaneja, Mas s6 cantava embai- xo do chuveiro”, recorda o servidor aposentado do TSE José Duhz. Aos 18 anos ele comecou a trabalhar no TSE, na nova sede em Brasilia, Com 0 pas- sar dos anos, sem esquecer as cancoes ‘que embalaram sua infénciae adoles- éncia, 0 setvidor foi compartlhando seu gosto musical com os colegas de trabalho. Formou varias duplas e che- {gou a se apresentar em festivais pro movidos pelo tribunal ~ “mas nada projissional”, ressalva Da dificuldade dos amigos para pronunciar 0 sobrenome Duhz (todos falavam Duch) surgiu uma ideia: por que nao adotar 0 “apelido” como um nome artistica? Assim foi feito: hoje 0 cantor se chama Duch, com ch, Ele conta que teve uma grata sur- presa em sua propria casa. Desde pe- quena sua filha Derize cantarolava pe- Jos cantos,e pai, atento, percebeu a vocagao da garota, Aos doze anos ela 8 cantava nas festas familiares, & quando completou vinte resolveu transformar a brincadeira de crianga em coisa séria, Pai e filha formaram uma dupla: Duch e Derize. “Comecamos a cantar com serie- dade para fazer apresentacoes. Parti- cipamos de varios shows e depois re- solvemos gravar 0 nosso primeiro CD. Em sequida comegamos a nos apre- sentar no programa Brasil Caipra, da TV Record. Jé faz dez anos que canta ‘mos profissionalmente” , explica Duch. Apesar de nunca ter feito aula de canto ou de violdo, Duch esta total- mente vontade na nova carreira, “Aprendi a tocar observando as pes- soas, 0 canto eu acho que vem da alma, do coracao mesmo”, explica, Ele quer gravar o segundo CD da cdupla num futuro préximo, mas lamen- ta que a parceita estaja com pouco tempo disponivel —ela esta se dividin- do entre 0 trabalho e a faculdade. Po- rém, como pal compreensivo, ele en- tende a fase pela qual Derize esté pas- sando e acredita que logo voltarao a fotina dos palcos e ensaios: “Mesmo. ‘assim nds ensaiamos sempre, nao dei- xamos a musica de lado. Ha cinco meses fizemos nosso iltimo show. Agora estou aguardando a vida dela se estabilizar para voltarmos 8 ativa.” Duch celebra a aposentadoria por- que agora tem mais tempo para se dedicar a misica, mas sempre volta ao TSE para matar a saudade dos cole- gas e fazer apresentacoes nos even- tos culturais do tribunal. O primeiro CD da dupla Duch e Derize fol lancado ha trés anos e & composto por 14 faixas no estilo ser- tanejo, Duch revela gostar de algumas faixas em especial, como a misica Capa de Revista, mas conta que "cada uma delas me faz lembrar de fases di- ferentes da minha vida”, E completa: “a miisica para mim é uma coisa mui- to forte, Todos os dias ligo o radio de madrugada, as 3h da manha”, conta ele, que dormé muito cedo, "com as galinhas", ¢ ja acorda cantando. Revita do Sinus © Novembro de 2010. 35 djusdf -org-br Ba

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